28/12/2015
Tempo do Natal - 4º dia da Oitava
do Natal
Lectio
Primeira leitura: 1João 1, 5-2, 2
Caríssimos:5*Eis a mensagem que ouvimos de Jesus e
vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas. 6*Se
dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos, e não
praticamos a verdade. 7*Pelo contrário, se caminhamos na luz, do mesmo modo que
Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu
Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado. 8*Se dizemos que não temos pecado,
enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. 9*Se confessamos os
nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar
de toda a iniquidade. 10Se dizemos que não somos pecadores, fazemo-lo
mentiroso, e a sua palavra não está em nós.
1*Filhinhos meus, escrevo-vos estas coisas para que
não pequeis; mas, se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus
Cristo, o Justo, 2*pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não
somente os nossos, mas também os de todo o mundo.
A festa dos Santos Inocentes, colocada tão
perto do Natal, realça não só o dom do martírio, mas também a grande verdade
que a morte do inocente revela: a maldade do pecador, como Herodes, semeia ódio
e morte, enquanto o amor do justo inocente, como Jesus, traz frutos de vida e
salvação. S. João também nos apresenta o mundo divido em duas partes: a luz, o
mundo de Deus, e as trevas, o mundo de Satanás. Quem caminha na luz e pratica a
verdade (cf. vv. 7-8), vive em comunhão com Deus e com os irmãos, e é
purificado de todo o pecado pelo sangue de Jesus derramado na cruz. Quem, pelo
contrário, caminhas nas trevas e não pratica a verdade (cf. vv. 6.8), engana-se
a si mesmo, não vive em comunhão com Cristo nem com os irmãos, está longe da
salvação. Os verdadeiros crentes reconhecem, diante de Deus, o seu pecado,
confessam-nos e confiam no Senhor «fiel e justo» (v. 9), são salvos. Os maus,
pelo contrário, que não reconhecem os seus pecados, tornam vão o sacrifício de
Cristo, e a sua Palavra de vida não os pode transformar interiormente.
Ao terminar, João exorta os cristãos a recorrerem a
Jesus como advogado junto do Pai (cf. v. 1), porque é Ele que expia os pecados
dos fiéis e os da humanidade inteira. O cristão não deve pecar, mas, se pecar,
o melhor que tem a fazer é reconhecer o seu pecado e confiar na misericórdia
d´Aquele que o pode livrar da pobreza moral e restituí-lo à comunhão com Deus.
Evangelho: Mateus 2, 13-18
13*Depois de os Magos partirem, o anjo do Senhor
apareceu, em sonhos, a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe,
foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o
menino para o matar.» 14*E ele levantou-se, de noite, tomou o menino e sua mãe
e partiu para o Egipto, 15*permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se
cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o meu filho.
16*Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado
e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade
de dois anos para baixo, conforme o tempo que, diligentemente, tinha inquirido
dos magos. 17Cumpriu-se, então, o que o profeta Jeremias dissera: 18*Ouviu-se
uma voz em Ramá, uma lamentação e
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Festa dos Santos Inocentes
um grande pranto: É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem.
um grande pranto: É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem.
Mateus narra uma das provações da família de
Nazaré. Depois de os Magos partirem, advertidos pelo Anjo do Senhor, José e
Maria tiveram de fugir com o Menino para o Egipto, para escaparem ao ódio de
Herodes. Na sua loucura, tinha decidido matar todos os recém- nascidos em Belém
(cf. vv. 14-16). A Sagrada Família vive uma dolorosa perseguição, que a leva a
fugir da sua terra e a lança numa aventura cheia de incertezas.
Mateus sugere que a Sagrada Família não goza de
qualquer privilégio em relação às outras. Jesus é um Deus no meio de nós, mas a
sua glória esconde-se numa aparente derrota. Não O buscam apenas os Magos.
Também Herodes O procura. Mas suas intenções são diferentes: os Magos querem
adorá-lo; Herodes quer matá-lo. Jesus é sinal de contradição desde o seu
nascimento.
Na realidade, a narrativa evangélica evidencia um
outro tema: a aventura humana de Jesus, desde a sua infância, é lida à luz da
história de Moisés e do seu povo. Tanto o nascimento de Moisés, como o de
Jesus, coincidem com a matança de meninos hebreus inocentes (Ex 1, 8-2,10 e Mt
2, 13-14); ambos se dirigem para o Egipto (Ex 3, 10; 4, 19 e Mt 2, 13-14);
ambos realizam a palavra: «do Egipto chamei o meu filho» (Ex 4, 22; Os 11, 1 e
Mt 2, 15). Finalmente a profecia de Raquel que chora os seus filhos (Jer 31,
15) recorda-nos que Jesus permanece o Messias procurado e recusado, em quem se
realizam as promessas de Deus e as esperanças dos homens.
Meditatio
Causa-nos um certo choque celebrar o martírio
dos Inocentes apenas três dias depois do Natal, festa da família, da alegria e
da paz. Mas esta festa ajuda-nos a compreender mais profundamente o Natal de
Cristo.
Contemplámos o Menino do presépio, que, como
sabemos não é um menino qualquer. Pretende tornar-se rei de todos os corações;
por isso, não pode deixar de encontrar resistência e oposição. Apresenta-se
como Luz do mundo, mas as trevas não se deixam iluminar, sem luta, sem
sofrimento. A festa dos Inocentes mostra-nos que essa luta começa muito cedo.
Essa luta começa dentro de nós, como vemos na
primeira leitura. Porque somos pecadores, estamos de algum modo do lado de
Herodes, recusamos o Salvador e precisamos de conversão para acolher a luz que
nos perturba. «Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a
verdade não está em nós», escreve S. João. Hoje começa a obra da nossa salvação
e a primeira coisa a fazer é reconhecer que precisamos de ser salvos.
O evangelho narra precisamente a fuga da Sagrada
Família para o Egipto e a matança dos Inocentes. Mateus, partindo dos dados
históricos, recompõe-os, lendo-os na fé e transfigurando-os à luz do mistério
que encerram: o Menino Jesus, que se entrega nas mãos dos homens, não é alguém
que foge do inimigo por medo, mas é o verdadeiro vencedor, porque é na sua
obediência livre que revela ao homem o rosto do Pai e o amor gratuito com que
se entregou a nós. Se o mundo recusa a Cristo, o derrotado não é Cristo, mas o
mesmo mundo. Se a recusa de Cristo e a sua marginalização são momentos de
humilhação que revelam a sua fraqueza humana, são também o início do seu
triunfo, por causa da glorificação que dará ao Pai.
Também nós podemos recusar Cristo e ser culpados de
pecado, renegando o amor de Deus. Mas acreditamos que, apesar de tudo, os
nossos pecados não são um obstáculo permanente à comunhão com Deus, graças à
sua misericórdia a que podemos recorrer.
Sigamos o convite do Pe. Dehon: «Sigamos os
pastores e vamos ao presépio beber uma vida nova, uma força nova para doravante
seguirmos com coração a direcção da graça… Lancemos um olhar também para as
pequenas vítimas imoladas por Herodes, os santos Inocentes. Deixemo-nos imolar
pela espada do sacrifício, da obediência e da abnegação» (OSP 4, p. 598-599).
Oratio
Senhor Jesus, que por nós Te fizeste homem, que por nós morreste e ressuscitaste, Tu és o nosso único advogado junto do Pai quando pecamos e nos afastamos de Ti. Muitas vezes quebramos a Aliança contigo, e outras tantas a restabeleceste, sem Te cansar, manifestando a riqueza da tua bondade e do teu perdão. Não deixes de ser o nosso defensor. Sê também o defensor da nossa humanidade que massacra tantos inocentes, crianças, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres.
Tu, que experimentaste a situação dos refugiados,
tem compaixão dos milhões de homens e mulheres que, ainda nos nossos dias, têm
que abandonar as suas terras, os seus países, para escaparam às diferentes
formas de perseguição, às guerras, aos massacres, aos genocídios.
Pela tua Incarnação, pela tua Morte e Ressurreição,
concede ao nosso mundo a graça de encontrar o caminho da justiça e da paz.
Amen.
Contemplatio
Jesus menino quis distribuir as suas
primeiras palmas a crianças. É um ramo de mártires em flores que ele colheu
para si, quase no dia seguinte ao seu nascimento.
O Coração de Jesus ama as crianças. Ele devia
manifestá-lo solenemente mais tarde ao chamar para junto de si numerosas
crianças para as abençoar, apesar da repugnância dos seus apóstolos. «Deixai
vir a mim as criancinhas, devia dizer-lhes. Eu amo as crianças e aqueles que se
lhes assemelham, e amaldiçoo aqueles que as escandalizam.
Mas o Coração de Jesus tem modos de amor que a
natureza não compreende sem o socorro da graça. Jesus menino sabe que a palma
do martírio será uma das maios belas recompensas do seu céu. Ele entrevê
antecipadamente esta guarda de honra cantada por S. João, e que estará vestida
de branco com uma palma na mão e que há-de seguir por toda a parte o Cordeiro
divino, o Rei dos mártires no céu. Ele quer inserir aí crianças, porque as ama,
e permite a perseguição de Herodes e o massacre dos inocentes de Belém. É o
primeiro grupo de santos do Novo Testamento, que vai esperar no Limbo a
ressurreição de Jesus e a abertura do céu. As gotas de sangue da Circuncisão e
as lágrimas do presépio fizeram germinar e florir este ramo de mártires.
Oh! Como nós devemos amar sobrenaturalmente as
crianças! Como as devemos amar para as formar na virtude e sobretudo para lhes
ensinar a conhecer o Sagrado Coração de Jesus! (Pe. Dehon, OSP 2, p. 223).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«O sangue de Jesus purifica-nos de todo o pecado»
(1 Jo 1, 7).
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