DIA 25 SÁBADO -Mc 16,15-18
Celebramos hoje com toda a Igreja a
conversão de São Paulo Apóstolo, o grande missionário que levou o Evangelho
para todos os cantos do mundo, fundando, formando e orientando comunidades
cristãs. Sabemos de sua mudança de vida: de perseguidor do Evangelho de Cristo
crucificado a redentor da humanidade.
A questão central abordada no Evangelho
de hoje é a do papel dos discípulos no mundo, após a partida de Jesus ao
encontro do Pai. O texto consta de três cenas: Jesus ressuscitado define a
missão dos discípulos; parte ao encontro do Pai; os discípulos partem ao
encontro do mundo, afim de concretizar a missão que Jesus lhes confiou.
Na primeira cena (vers. 15-18), Jesus
ressuscitado aparece aos discípulos, acorda-os da letargia em que se tinham
instalado e define a missão que, doravante, eles serão chamados a desempenhar
no mundo.
A primeira nota do envio e do mandato
que Jesus dá aos discípulos é a da universalidade. A missão deles destina-se a
“todo o mundo” e não deverá deter-se diante de barreiras rácicas, geográficas
ou culturais. A proposta de salvação que Jesus fez e que os discípulos devem
testemunhar, destina-se a toda a terra.
Depois, Jesus define o conteúdo do
anúncio: o Evangelho. O que é o Evangelho? No Antigo Testamento, essa
palavra está ligada à “boa notícia” da chegada da salvação para o Povo de
Deus. Depois, na boca de Jesus, a palavra “Evangelho” designa o anúncio de que
o “Reino de Deus” chegou à vida dos homens, trazendo-lhes a paz, a libertação,
a felicidade. Para os catequistas das primeiras comunidades cristãs, o
Evangelho é o anúncio de um acontecimento único, capital, fundamental: em Jesus
Cristo, Deus veio ao encontro dos homens, manifestou-lhes o seu amor,
inseriu-os na sua família, convidou-os a integrar a comunidade do Reino,
ofereceu-lhes a vida definitiva. Tal é o único e exclusivo Evangelho que muda o
curso da história e transforma o sentido e os horizontes da existência
humana.
O anúncio do Evangelho obriga os homens
a uma opção. Quem aderir à proposta que Jesus faz, chegará à vida plena e
definitiva (quem acreditar e for batizado será salvo); mas quem recusar essa
proposta, ficará à margem da salvação (quem não acreditar será condenado –
vers. 16).
O anúncio do Evangelho que os discípulos
são chamados a fazer vai atingir não só os homens, mas toda criatura.
Muitas vezes, o homem, guiado por critérios de egoísmo, de cobiça e de lucro,
explora a criação, destrói esse mundo “bom” e harmonioso que Deus criou. Mas a
proposta de salvação que Deus apresenta, destina-se a transformar o coração do
homem, eliminando o egoísmo e a maldade. Ao transformar o coração do homem, o
Evangelho, apresentado por Jesus e anunciado pelos discípulos, vai propor uma
nova relação do homem com todas as outras criaturas – uma relação não mais
marcada pelo egoísmo e pela exploração, mas pelo respeito e pelo amor. Dessa
forma, nascerá uma nova humanidade e uma nova natureza.
A presença da salvação de Deus no mundo
tornar-se-á uma realidade através dos gestos dos discípulos de Jesus.
Comprometidos com Cristo, os discípulos vencerão a injustiça e a opressão,
“expulsarão os demônios em meu nome”, serão arautos da paz e do entendimento
dos homens, “falarão novas línguas”, levarão a esperança e a vida nova a todos
os que sofrem e que são prisioneiros da doença e do sofrimento. Quando
impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados; e, em todos os
momentos, Jesus estará com eles, ajudando-os a vencer as contrariedades e as
oposições.
Na segunda cena (vers. 19), Jesus sobe
ao céu e senta-se à direita de Deus. A elevação de Jesus ao céu (ascensão) é
uma forma de sugerir que, após o cumprimento da sua missão no meio dos homens, Jesus
foi ao encontro do Pai e reentrou-se na comunhão d’Ele.
A intronização de Jesus “à direita de
Deus” mostra, por sua vez, a veracidade da proposta de Jesus. Na concepção dos
povos antigos, aquele que se sentava à direita de Deus era um personagem distinto
que o rei queria honrar de forma especial… Jesus, porque cumpriu com total
fidelidade o projeto de Deus para os homens, é honrado pelo Pai e sentado à sua
direita. A proposta que Jesus apresentou e que os discípulos acolheram
e vão ser chamados a testemunhar no mundo, não é uma aventura sem sentido
e sem saída, mas é o projeto de salvação que Deus quer oferecer aos homens.
Na terceira cena (vers. 20),
descreve-se, resumidamente, a ação missionária dos discípulos: eles partiram a
pregar, ou seja, anunciar, com palavras e gestos concretos, essa
vida nova que Deus ofereceu aos homens através de Jesus por toda a parte,
propondo a todos eles, sem excepção, a proposta salvadora de Deus.
O autor desta catequese assegura aos
discípulos que eles não estão sozinhos ao longo desta missão. Jesus, vivo e
ressuscitado, está com eles, coopera com eles e manifesta-se ao mundo nas
palavras e nos gestos dos discípulos.
A festa da Ascensão de Jesus é,
sobretudo, o momento em que os discípulos tomam consciência da sua missão e do
seu papel no mundo. A Igreja (a comunidade dos discípulos, reunida à volta de
Jesus, animada pelo Espírito) é, essencialmente, uma comunidade missionária,
cuja missão é testemunhar no mundo a proposta de salvação e de libertação que
Jesus veio trazer aos homens.
É um tremendo desafio testemunhar, hoje,
no mundo, os valores do “Reino” (esses valores que, muitas vezes, estão em
contradição com aquilo que o mundo defende e que o mundo considera serem as
prioridades da vida). Com frequência, os discípulos de Jesus são objeto da
irrisão e do escárnio dos homens, porque insistem em testemunhar que a
felicidade está no amor e no dom da vida. Com frequência, os discípulos de
Jesus são apresentados como vítimas de uma máquina de escravidão, que produz
escravos, alienados, vítimas do obscurantismo, porque insistem em testemunhar
que a vida plena está no perdão, no serviço, na entrega da vida.
O confronto com o mundo gera, muitas
vezes, desilusão, sofrimento e frustração nos discípulos. Nos momentos de
decepção e de desilusão, convém recordar-se das Palavras de Jesus: “eu estarei
convosco até ao fim dos tempos”. Esta certeza deve alimentar a coragem com que
testemunhamos aquilo em que acreditamos.
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