SEXTA FEIRA DA 17ª SEMANA DO TC 03/08/2012
1ª Leitura Jeremias 26, 1-9
Salmo 68 (69) 14c “Na vossa imensa bondade, escutai-me Senhor” - DIÁC. JOSÉ DA CRUZ
Evangelho Mateus 13, 54 – 58
Quando Jesus chegou a sua “terrinha” de Nazaré,
acompanhado dos discípulos, deve ter causado um verdadeiro “rebuliço”, pois a
fama de suas pregações e milagres já tinha chegado por ali, e no sábado, como
todo piedoso judeu, foi á celebração da palavra da comunidade, onde qualquer
pessoa adulta poderia partilhar o ensinamento na hora da reflexão, e Jesus,
usando desse direito, começou a pregar á sua gente fazendo a homilia.
O povinho da terra nunca tinha ouvido uma pregação
feita com tanta sabedoria, que superava o ensinamento dos Mestres da Lei e
Fariseus, imaginemos que na comunidade, algum ministro da palavra pregue melhor
do que o padre... E com o estudo teológico acessível aos leigos, isso hoje não
seria novidade. Aquilo que causa muita admiração, também logo acabará
despertando inveja e ciúmes. Basta que olhemos para os nossos trabalhos
pastorais, onde o carisma das pessoas não deveria jamais perturbar o coração de
ninguém, ao contrário, deveria motivar um hino de louvor, por Deus ter dado a
alguém um carisma tão belo, colocado a serviço da comunidade. Mas logo surgem
os questionamentos maldosos: Como é que ele faz isso? Onde aprendeu? Quem o
ensinou, de onde é que vem todo esse saber? Será que o padre o autorizou? (esta
última coloquei por minha conta) E a admiração, contaminada por sentimentos de
inveja, vai logo se transformando em desconfiança aumentando o questionamento:
“Quem ele pensa que é, para falar assim com a gente? Será que ele não se
enxerga? E ainda tem gente que o aplaude...” Os que não gostam muito do padre,
logo vão afirmar que o sujeito faz parte da sua “panelinha”, ou então, irão
inventar alguma coisa para que o padre “corte a asinha” do tal.
As pessoas, quando enxergam algo de extraordinário
no carisma de alguém, começam a fazer do sujeito uma referência importante,
acham que a sua oração é especial, que um toque de sua mão poderosa pode
realizar curas prodigiosas, e em pouco tempo, a propaganda é tanta, que o tal
não pode mais sair as ruas que é logo procurado para resolver os mais
complicados problemas, inclusive de relacionamento entre as pessoas, apaziguar casais
brigados, aconselhar jovens, e assim a sua palavra se torna poderosa e em
consequência passa a ter poder religioso paralelo, e se na comunidade não
houver um espaço para ele atuar, terão de criar um, pois ele precisa ser o
centro das atenções.
Jesus não quis formar um grupo só para ele, para
bater de frente com os Doutores da lei, escribas e fariseus, e como ele
pertencia a uma das famílias do local, a ponto de sua mãe e seus irmãos serem
de todos conhecidos, começaram a vê-lo como um vulgar, que nada de
extraordinário tinha feito em Nazaré, para que merecesse toda aquela fama. Na
verdade, Jesus não quis assumir o papel de “Salvador da Pátria”, diferente de
muitos cristãos, que se julgam o máximo naquilo que fazem, e pensam que sem
eles, a comunidade estaria perdida. Essa rejeição á ele, suas obras e
ensinamentos, iria se ampliar e lhe traria conseqüências muito trágicas na cruz
do calvário, tudo porque suas palavras anunciavam um reino novo, que exigia uma
total renovação e mudança de vida.
Na sinagoga de Nazaré foi assim, e nas nossas
comunidades, não é muito diferente. Quem prega mudanças de mentalidade e
conduta, vai sempre arrumar uma bela de uma encrenca. Enfim, o Jesus que há
dentro de nós, criado pelas nossas fantasias, ou fruto de nossas ideologias
sociais ou políticas, não coincide com esse Jesus, Profeta de Nazaré, Ungido de
Deus. E o pior, é que projetamos tudo isso nas pessoas que lideram a
comunidade, nos cooperadores, nos coordenadores, nos ministros, nas
catequistas, nos padres e diáconos e assim vai. Um dia, basta um
desentendimento mais sério e o nosso Jesus idealizado “vai pro espaço” com a
pastoral e o movimento.
Quanto mais somos realistas em nossa fé, mais nos
adequamos á comunidade aceitando-a como ela é, quanto mais nos iludimos com o
Jesus da nossa fantasia, mais difícil será vivermos em comunidade, aceitando as
pessoas do jeito que elas são. Daí, como em Nazaré, nenhum milagre acontece,
por causa dessa fé infantil e ilusória...
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