Alexandre Soledade
Hoje nós comemoramos com alegria a Apresentação de Nossa Senhora.
Conforme antiga tradição, Maria, quando criança, foi apresentada pelos pais, S.
Joaquim e Sant’Ana, a Deus, na sinagoga. Havia esse costume entre as famílias
hebréias mais devotas, de apresentar a Deus todos os seus filhos e filhas.
Quando, mais tarde, Maria e José apresentaram Jesus no Templo,
certamente ela se lembrou que também foi apresentada por seus pais, e
consagrada a Deus.
Houve, portanto, uma continuidade: de S. Joaquim e Sant’Ana para Maria,
e de Maria para Jesus. Os pais geralmente são assim, eles continuam nos seus
filhos aquilo que receberam de seus pais. Por isso que há o provérbio: Tal pai
tal filho. Ou: Filho de peixe peixinho é.
É essa continuidade na educação religiosa dos filhos que vai fazendo
continuar, nas novas gerações, a fé e a vida cristã legítima, que vem desde o
tempo dos Apóstolos. A caminhada das famílias cristãs é idêntica à caminhada de
S. Joaquim e Sant’Ana para Maria e de Maria para Jesus. A gente desenvolve mais
tarde os valores que recebeu em casa na infância.
Jesus falou sobre isso: “Por acaso se colhem uvas de espinheiros ou
figos de urtigas? Assim, toda árvore boa produz frutos bons e toda árvore má
produz frutos maus. Uma árvore boa não pode dar frutos maus nem uma árvore má
dar frutos bons. E toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada
ao fogo” (Mt 7,16-19).
É interessante também observar a caminhada de Maria na santidade. Foi um
crescimento constante. Começou com a concepção imaculada e terminou com a
Assunção, sendo assumida por Deus em corpo e alma.
E no Evangelho de hoje, próprio da festa da Apresentação de Nossa
Senhora, Jesus aproveita uma oportunidade para nos dar um ensinamento
fundamental sobre a Santa Igreja: Somos a sua família. Não só família de Jesus,
de Deus, mas família entre nós, os batizados.
Como uma criança que já nasce dentro de uma família, nós, pelo batismo,
nascemos dentro da Família de Jesus.
“Quem faz a vontade de meu Pai, esse é meu irmão, minha irmã e minha
mãe.” Não basta a pertença material à Igreja; precisamos fazer a vontade de
Deus.
Santo Agostinho, comentando este Evangelho de hoje, diz: “Não sei qual
dignidade de Maria é a maior: Ser a mãe de Jesus na carne ou ser a sua
discípula na fé”.
Existe uma cena, acontecida no Calvário, que é intimamente ligada a
esta, ou melhor, que esclarece o sentido desta narrada no Evangelho de hoje:
Jesus estava na cruz e, vendo sua mãe e João Evangelista, disse à mãe: “Mulher,
eis o teu filho! Depois disse ao discípulo: Eis a tua mãe!” (Jo 19,26-27). Nós
sabemos que S. João ali representava toda a Igreja. Por isso a tradição da
Igreja, desde o tempo dos Apóstolos, entende que Jesus, naquele para a sua Mãe
a missão de ser a nossa Mãe na fé. Santa Mãe Maria, que sejamos dignos filhos
vossos, e assim façamos valer o provérbio: Tal mãe tal filho.
Um dia apareceu uma senhora aqui na sacristia da Basílica, procurando um
padre. Ela estava com uma vela do tamanhozinho dela. Eu achei engraçado pq vi
certa semelhança entre a vela e aquela mãe de família: As duas iluminam, as
duas aquecem, as duas servem. E, para fazer isso, as duas se consomem.
Inclusive as duas tem lágrimas. Quantas vezes você vê uma mãe com o rosto cheio
de rugas e os filhos todos bonitos, de rostos lisinhos. Ela está se consumindo,
se desgastando para que os outros tenham mais vida. Quando você ver uma vela
soltando lágrimas, lembre-se também de Nossa Senhora, de Jesus e de todas as
pessoas que amam. Porque o amor sempre custa lágrimas. Mas voltemos à senhora.
Ela me disse: “Padre, eu estou com pressa. O meu ônibus já está quase saindo lá
na rodoviária. Eu queria rezar muita coisa aqui pra N.Sra., mas não tenho
tempo. Por isso comprei esta vela. O senhor acende pra mim?” Claro que sim,
disse eu. Deixe comigo e vá com Deus. E pode ter certeza que N.Sra. também vai
com a sra. Fui lá na capela das velas e acendi a vela dela. Engraçado, não? A
vela do tamanhozinho dela. Quer dizer que a vela era ela. Aquela senhora,
viajando no ônibus, certamente foi pensando: Eu estou aqui, mas eu não saí do
santuário. Estou lá rezando, naquela vela. Eu pergunto a você: esta oração é
válida? Claro que é! Nós gostamos de usar símbolos, e Deus também gosta. A
Bíblia é todinha cheia de símbolos.
Quem faz a vontade de meu Pai, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
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