02º Domingo da Páscoa - Ano B
11 Abril 2021
02º Domingo da Páscoa - Ano B
ANO B
2º DOMINGO DA PÁSCOA
Tema do 2º Domingo da Páscoa
A liturgia deste domingo apresenta-nos
essa comunidade de Homens Novos que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a
Igreja. A sua missão consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da
ressurreição.
Na primeira leitura temos, numa das "fotografia" que Lucas apresenta
da comunidade cristã de Jerusalém, os traços da comunidade ideal: é uma
comunidade formada por pessoas diversas, mas que vivem a mesma fé num só
coração e numa só alma; é uma comunidade que manifesta o seu amor fraterno em
gestos concretos de partilha e de dom e que, dessa forma, testemunha Jesus
ressuscitado.
No Evangelho sobressai a ideia de que Jesus vivo e ressuscitado é o centro da
comunidade cristã; é à volta d'Ele que a comunidade se estrutura e é d'Ele que
ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as
perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu
amor, no seu testemunho) que os homens encontram as provas de que Jesus está
vivo.
A segunda leitura recorda aos membros da comunidade cristã os critérios que
definem a vida cristã autêntica: o verdadeiro crente é aquele que ama Deus, que
adere a Jesus Cristo e à proposta de salvação que, através d'Ele, o Pai faz aos
homens e que vive no amor aos irmãos. Quem vive desta forma, vence o mundo e
passa a integrar a família de Deus.
LEITURA - Act 4,32-35
Leitura dos Actos dos Apóstolos
A multidão dos que haviam abraçado a fé
tinha um só coração e uma só alma;
ninguém chamava seu ao que lhe pertencia,
mas tudo entre eles era comum.
Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus
com grande poder
e gozavam todos de grande simpatia.
Não havia entre eles qualquer necessitado,
porque todos os que possuíam terras ou casas
vendiam-nas e traziam o produto das vendas,
que depunham aos pés dos Apóstolos.
Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.
AMBIENTE
Os "Actos dos Apóstolos" são
uma catequese sobre a "etapa da Igreja", isto é, sobre a forma como
os discípulos assumiram e continuaram o projecto salvador do Pai e o levaram -
após a partida de Jesus deste mundo - a todos os homens.
O livro divide-se em duas partes. Na primeira (cf. Act 1-12), a reflexão
apresenta-nos a difusão do Evangelho dentro das fronteiras palestinas, por
acção de Pedro e dos Doze; a segunda (cf. Act 13-28) apresenta-nos a expansão
do Evangelho fora da Palestina (até Roma), sobretudo por acção de Paulo.
O texto que hoje nos é proposto pertence à primeira parte do Livro dos Actos
dos Apóstolos. Faz parte de um conjunto de três sumários, através dos quais
Lucas descreve aspectos fundamentais da vida da comunidade cristã de Jerusalém.
Um primeiro sumário é dedicado ao tema da unidade e ao impacto que o estilo
cristão de vida provocou no povo da cidade (cf. Act 2,42-47); um segundo
sumário (e que é exactamente o texto que nos é hoje proposto) refere-se
sobretudo à partilha dos bens (cf. Act 4,32-35); o terceiro trata do testemunho
que a Igreja dá através da actividade miraculosa dos apóstolos (cf. Act
5,12-16).
Naturalmente, estes sumários não são um retrato histórico rigoroso da
comunidade cristã de Jerusalém, no início da década de 30 (embora possam ter
algumas bases históricas). Quando Lucas escreve estes relatos (década de 80),
arrefeceu já o entusiasmo inicial dos cristãos: Jesus nunca mais veio para
instaurar definitivamente o "Reino de Deus", e posicionam-se no
horizonte próximo as primeiras grandes perseguições... Há algum desleixo, falta
de entusiasmo, monotonia, divisão e confusão (até porque começam a aparecer
falsos mestres, com doutrinas estranhas e pouco cristãs). Neste contexto, Lucas
recorda o essencial da experiência cristã e traça o quadro daquilo que a
comunidade deve ser.
MENSAGEM
Como será, então, essa comunidade ideal,
que nasce do Espírito e do testemunho dos apóstolos?
Em primeiro lugar, é uma comunidade formada por pessoas muito diversas, mas que
abraçaram a mesma fé ("a multidão dos que tinham abraçado a fé" -
vers. 32a). A "fé" é, no Novo Testamento, a adesão a Jesus e ao seu
projecto. Para todos os membros da comunidade, o Senhor Jesus Cristo é a
referência fundamental, o cimento que a todos une num projecto comum.
Em segundo lugar, é uma comunidade unida, onde os crentes têm "um só
coração e uma só alma" (vers. 32a). Da adesão a Jesus resulta,
obrigatoriamente, a comunhão e a união de todos os "irmãos" da
comunidade. A comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade onde cada um puxa
para o seu lado, preocupado em defender apenas os seus interesses pessoais; mas
tem de ser uma comunidade onde todos caminham na mesma direcção, ajudando-se
mutuamente, partilhando os mesmos valores e os mesmos ideais, formando uma
verdadeira família de irmãos que vivem no amor.
Em terceiro lugar, é uma comunidade que partilha os bens. Da comunhão com
Cristo resulta a comunhão dos cristãos entre si; e isso tem implicações
práticas. Em concreto, implica a renúncia a qualquer tipo de egoísmo, de
auto-suficiência, de fechamento em si próprio e uma abertura de coração para a
partilha, para o dom, para o amor. Expressão concreta dessa partilha e desse
dom é a comunhão dos bens: "ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas
tudo entre eles era comum" - vers. 32b). Num desenvolvimento que explicita
este "pôr em comum", Lucas conta que "não havia entre eles
qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas
e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos apóstolos.
Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade" (vers. 34-35). É
uma forma concreta de mostrar que a vida nova de Jesus, assumida pelos crentes,
não é "conversa fiada"; mas é uma efectiva libertação da escravidão
do egoísmo e um compromisso verdadeiro com o amor, com a partilha, com o dom da
vida. Num mundo onde a realização e o êxito se medem pelos bens acumulados e
que não entende a partilha e o dom, a comunidade de Jesus é chamada a dar
exemplo de uma lógica diferente e a propor uma mundo que se baseie nos valores
de Deus.
Finalmente, é uma comunidade que dá testemunho: "os apóstolos davam
testemunho da ressurreição de Jesus com grande poder" (vers. 33). Os
gestos realizados pelos apóstolos infundiam em todos aqueles que os
testemunhavam a inegável certeza da presença de Deus e dos seus dinamismos de
salvação.
A primitiva comunidade cristã, nascida do dom de Jesus e do Espírito, é
verdadeiramente uma comunidade de homens e mulheres novos, que dá testemunho da
salvação e que anuncia a vida plena e definitiva. A fé dos discípulos, a sua
união e, mais do que tudo, essa "ilógica" e "absurda"
partilha dos bens eram a "prova provada" de que Cristo estava vivo e
a actuar no mundo, oferecendo aos homens um mundo novo. A Cristo ressuscitado,
os habitantes de Jerusalém não podiam ver; mas o que eles podiam ver era a
espantosa transformação operada no coração dos discípulos, capazes de superar o
egoísmo, o orgulho e a auto-suficiência e de viver no amor, na partilha, no
dom. Viver de acordo com os valores de Jesus é a melhor forma de anunciar e de
testemunhar que Jesus está vivo.
A comunidade cristã de Jerusalém era, de facto, esta comunidade ideal?
Possivelmente, não (outros textos dos Actos falam-nos de tensões e problemas -
como acontece com qualquer comunidade humana); mas a descrição que Lucas aqui
faz aponta para a meta a que toda a comunidade cristã deve aspirar, confiada na
força do Espírito. Trata-se, portanto, de uma descrição da comunidade ideal,
que pretende servir de modelo à Igreja e às Igrejas de todas as épocas.
ACTUALIZAÇÃO
• A comunidade cristã é uma
"multidão" que abraçou a mesma fé - quer dizer, que aderiu a Jesus,
aos seus valores, à sua proposta de vida. A Igreja não é um grupo unido por uma
ideologia, ou por uma mesma visão do mundo, ou pela simpatia pessoal dos seus
membros; mas é uma comunidade que agrupa pessoas de diferentes raças e
culturas, unidas à volta de Jesus e do seu projecto de vida e que de forma
diversa procuram incarnar a proposta de Jesus na realidade da sua vida
quotidiana. Que lugar e que papel Jesus e as suas propostas ocupam na minha
vida pessoal e na vida da minha comunidade cristã? Jesus é uma referência
distante e pouco real, ou é uma presença constante, que me interroga, que me
questiona e que me aponta caminhos?
• A comunidade cristã é uma família
unida, onde os irmãos têm "um só coração e uma só alma". Tal facto
resulta da adesão a Jesus: seria um absurdo aderir a Jesus e ao seu projecto e,
depois, conduzir a vida de acordo com mecanismos de divisão, de afastamento, de
egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência... A minha comunidade cristã é uma
comunidade de irmãos que vivem no amor, ou é um grupo de pessoas isoladas, em
que cada um procura defender os seus interesses, mesmo que para isso tenha de
magoar e de espezinhar os outros? No que me diz respeito, esforço-me por amar
todos, por respeitar a liberdade e a dignidade de todos, por potenciar os
contributos e as qualidades de todos?
• A comunidade cristã é uma comunidade
de partilha. No centro dessa comunidade está o Cristo do amor, da partilha, do
serviço, do dom da vida... O cristão não pode, portanto, viver fechado no seu
egoísmo, indiferente à sorte dos outros irmãos. Em concreto, o nosso texto fala
na partilha dos bens... Uma comunidade onde alguns esbanjam os bens e onde
outros não têm o suficiente para viver dignamente, será uma comunidade que
testemunha, diante dos homens, esse mundo novo de amor que Jesus veio propor?
Será cristão aquele que, embora indo à igreja, só pensa em acumular bens
materiais, recusando-se a escutar os dramas e sofrimentos dos irmãos mais
pobres? Será cristão aquele que, embora contribuindo com dinheiro para as
necessidades da paróquia, explora os seus operários ou comete injustiças?
• A comunidade cristã é uma comunidade
que testemunha o Senhor ressuscitado. Como? Através do discurso apologético dos
discípulos? Através de palavras elegantes e de discursos bem elaborados,
capazes de seduzir e de manipular as massas? O testemunho mais impressionante e
mais convincente será sempre o testemunho de vida dos discípulos... Se
conseguirmos criar verdadeiras comunidades fraternas, que vivam no amor e na
partilha, que sejam sinais no mundo dessa vida nova que Jesus veio propor,
estaremos a anunciar que Jesus está vivo, que está a actuar em nós e que,
através de nós, Ele continua a apresentar ao mundo uma proposta de vida
verdadeira.
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 117 (118)
Refrão 1: Dai graças ao Senhor, porque
Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Refrão 2: Aclamai o senhor, porque Ele é
bom:
o seu amor é para sempre.
Refrão 3: Aleluia.
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.
A mão do Senhor fez prodígios,
A mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei-de viver,
para anunciar as obras do Senhor.
Com dureza me castigou o Senhor,
mas não me deixou morrer.
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.
LEITURA II - 1 Jo 5,1-6
Leitura da Primeira Epístola de São João
Caríssimos:
Quem acredita que Jesus é o Messias,
nasceu de Deus,
e quem ama Aquele que gerou
ama também Aquele que nasceu d'Ele.
Nós sabemos que amamos os filhos de Deus
quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos,
porque o amor de Deus
consiste em guardar os seus mandamentos.
E os seus mandamentos não são pesados,
porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo.
Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.
Quem é o vencedor do mundo
senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus?
Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo;
não só com a água, mas com a água e o sangue.
É o Espírito que dá testemunho,
porque o Espírito é a verdade.
AMBIENTE
Não é fácil a identificação do autor da
Primeira Carta de João. Ele apresenta-se a si próprio como "o Ancião"
(cf. 2 Jo 1; 3 Jo 1) e como testemunha da "Vida" manifestada em Jesus
(cf. 1 Jo 1,1-3; 4,14); mas não refere o seu nome. A opinião tradicional
atribui a Primeira Carta de João (como também a segunda e a terceira Cartas de
João) ao apóstolo João; no entanto, essa atribuição é problemática. Em qualquer
caso, o autor da carta é alguém que se move no mundo joânico e que conhece bem
a teologia joânica. Pode ser esse "João, o Presbítero" conhecido da
tradição primitiva e que, aparentemente, era uma personagem distinta do
"João, o apóstolo" de Jesus.
Também não há, na Carta, qualquer referência a um destinatário, a pessoas ou a
comunidades concretas. A missiva parece dirigir-se a um grupo de igrejas
ameaçadas pelo mesmo problema (heresias). Trata-se, provavelmente, de igrejas
da Ásia Menor (à volta de Éfeso), como diz a antiga tradição.
O autor não se refere, de forma directa, às circunstâncias que motivaram a
composição da carta. Do tom polémico que atravessa várias passagens, pode
concluir-se que as comunidades às quais a carta se dirige vivem uma crise
grave. A difusão de doutrinas incompatíveis com a revelação cristã ameaça
comprometer a pureza da fé.
Quem são os autores dessas doutrinas heréticas? O autor da Carta chama-lhes
"anti-cristos" (1 Jo 2,18.22; 4,3), "profetas da mentira"
(1 Jo 4,1), "mentirosos" (1 Jo 2,22). Diz que eles "são do
mundo" (1 Jo 4,5) e deixam-se levar pelo espírito do erro (1 Jo 4,6). Até
há pouco tempo pertenciam à comunidade cristã (1 Jo 2,19); mas agora saíram e
procuram desencaminhar os crentes que permaneceram fiéis (cf. 1 Jo 2,26; 3,7).
Em que consistia este "erro"? Os heréticos em causa pretendiam
"conhecer Deus" (1 Jo 2,4), "ver Deus" (1 Jo 3,6), viver em
comunhão com Deus (1 Jo 2,3) e, não obstante, apresentavam uma doutrina e uma
conduta em flagrante contradição com a revelação cristã. Recusavam-se a ver em
Jesus o Messias (cf. 1 Jo 2,22) e o Filho de Deus (cf. 1 Jo 4,15), recusavam a
encarnação (cf. 1 Jo 4,2). Para estes hereges, o Cristo celeste tinha-Se
apropriado do homem Jesus de Nazaré na altura do Baptismo (cf. Jo 1,32-33),
tinha-o utilizado para levar a cabo a revelação e tinha-o abandonado antes da
paixão, porque o Cristo celeste não podia padecer. O comportamento moral destes
hereges não era menos repreensível: pretendiam não ter pecados (cf. 1 Jo
1,8.10) e não guardavam os mandamentos (cf. 1 Jo 2,4), em particular o
mandamento do amor fraterno (cf. 1 Jo 2,9). Tudo indica que estejamos diante de
um desses movimentos pré-gnósticos que irá desembocar, mais tarde, nos grandes
movimentos gnósticos do séc. II.
O objectivo do autor da Carta é, portanto, advertir os cristãos contra as
pretensões destes pregadores heréticos e explicar-lhes os critérios da vida
cristã autêntica. Na confusão causada pelas doutrinas heréticas, o autor da
Carta quer oferecer aos crentes uma certeza: são eles e não esses profetas da
mentira que vivem em comunhão com Deus e que possuem a vida divina.
MENSAGEM
Quais são, então, os critérios da vida
cristã autêntica, que distinguem os verdadeiros crentes dos profetas da
mentira?
Antes de mais, os verdadeiros crentes são aqueles que amam a Deus e que amam,
também, Jesus Cristo, o Filho que nasceu de Deus (vers. 1). Jesus de Nazaré é,
ao contrário do que diziam os hereges, Filho de Deus desde a encarnação e
durante toda a sua existência terrena. A sua paixão e morte também fazem parte
do projecto salvador de Deus (Jesus veio apresentar aos homens um projecto de
salvação, "não só pela água, mas com a água e o sangue" - vers. 6).
No entanto, amar a Deus significa cumprir os seus mandamentos. Quando amamos
alguém, procuramos realizar obras que agradem àquele a quem amamos... Não se
pode dizer que se ama a Deus se não se cumprem os seus mandamentos... E o
mandamento de Deus é que amemos os nossos irmãos. Todo aquele que se considera
filho de Deus e que pertence à família de Deus deve amar os irmãos que são
membros da mesma família. Quem não ama os irmãos, não pode pretender amar a
Deus e fazer parte da família de Deus (vers. 2-3).
Quando o crente ama a Deus, acredita que Jesus é o Filho de Deus e vive de
acordo com os mandamentos de Deus (sobretudo com o mandamento do amor aos
irmãos), vence o mundo. Amar Deus, amar Jesus e amar os irmãos significa
construir a própria vida numa dinâmica de amor; e significa, portanto, derrotar
o egoísmo, o ódio, a injustiça que caracterizam a dinâmica do mundo (vers.
4-5).
Esta vida nova que permite aos crentes vencer o mundo é oferecida aos homens
através de Jesus Cristo. A vida nova que Jesus veio oferecer chega aos homens
pela "água" (Baptismo - isto é, pela adesão a Cristo e à sua
proposta) e pelo "sangue" (alusão à vida de Jesus, feita dom na cruz
por amor). O Espírito Santo atesta a validade e a verdade dessa proposta
trazida por Jesus Cristo, por mandato de Deus Pai (vers. 6).
Quando o homem responde positivamente ao desafio que Deus lhe faz (Baptismo),
oferece a sua vida como um dom de amor para os irmãos (a exemplo de Cristo) e
cumpre os mandamentos de Deus, vence o mundo, torna-se filho de Deus e membro
da família de Deus.
ACTUALIZAÇÃO
• Na perspectiva do autor da Primeira
Carta de João, o projecto de salvação que Deus apresentou ao homem passa por
Jesus - o Jesus que encarnou na nossa história, que nos revelou os caminhos do
Pai, que com a sua morte mostrou aos homens o amor do Pai e que nos ensinou a
amar até ao extremo do dom total da vida. Também na paixão e morte de Jesus se
nos revela o caminho para nos tornarmos "filhos de Deus": o processo
passa por seguir o caminho de Jesus e por fazer da nossa vida um dom total de
amor a Deus e aos nossos irmãos. Que é que Jesus significa para nós? Ele foi
apenas um "homem bom" que a morte derrubou? Ou Ele é o Filho de Deus
que veio ao nosso encontro para nos propor o caminho do amor total, a fim de
chegarmos à vida definitiva? O caminho do amor, do dom, do serviço, da entrega
que Cristo nos propôs é uma proposta que assumimos e procuramos viver?
• Amar a Deus e aderir a Jesus implica,
na perspectiva do autor da Primeira Carta de João, o amor aos irmãos. Quem não
ama os irmãos, não cumpre os mandamentos de Deus e não segue Jesus. É preciso
que a nossa existência - a exemplo de Jesus - seja cumprida no amor a todos os
que caminham pela vida ao nosso lado, especialmente aos mais pobres, aos mais
humildes, aos marginalizados, aos abandonados, aos sem voz. O amor total e sem
fronteiras, o amor que nos leva a oferecer integralmente a nossa vida aos
irmãos, o amor que se revela nos gestos simples de serviço, de perdão, de
solidariedade, de doação, está no nosso programa de vida?
• O autor da Primeira Carta de João
ensina, ainda, que o amor a Deus e a adesão a Cristo "vencem o
mundo". Os cristãos não se conformam com a lógica de egoísmo, de ódio, de
injustiça, de violência que governa o mundo; a esta lógica, eles contrapõem a
lógica do amor, a lógica de Jesus. O amor é um dinamismo que vence tudo aquilo
que oprime o homem e que o impede de chegar à vida verdadeira e definitiva, à
felicidade total. Ainda que o amor pareça, por vezes, significar fragilidade,
debilidade, fracasso, frente à violência dos poderosos e dos senhores do mundo,
a verdade é que o amor terá sempre a última e definitiva palavra. Só ele
assegura a vida verdadeira e eterna, só ele é caminho para o mundo novo e
melhor com que os homens sonham.
ALELUIA - Jo 20,29
Aleluia. Aleluia.
Disse o Senhor a Tomé:
«Porque Me viste, acreditaste;
felizes os que acreditam sem terem visto».
EVANGELHO - Jo 20,19-31
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da
semana,
estando fechadas as portas da casa
onde os discípulos se encontravam,
com medo dos judeus,
veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.
Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo:
«A paz esteja convosco.
Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:
«Recebei o Espírito Santo:
àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados;
e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,
não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos:
«Vimos o Senhor».
Mas ele respondeu-lhes:
«Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,
se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado,
não acreditarei».
Oito dias depois,
estavam os discípulos outra vez em casa,
e Tomé com eles.
Veio Jesus, estando as portas fechadas,
apresentou-Se no meio deles e disse:
«A paz esteja convosco».
Depois disse a Tomé:
«Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;
aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;
e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe:
«Meu Senhor e meu Deus!»
Disse-lhe Jesus:
«Porque Me viste acreditaste:
felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos,
que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos
para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,
e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
AMBIENTE
Continuamos na segunda parte do Quarto
Evangelho, onde nos é apresentada a comunidade da Nova Aliança. A indicação de
que estamos no "primeiro dia da semana" faz, outra vez, referência ao
tempo novo, a esse tempo que se segue à morte/ressurreição de Jesus, ao tempo
da nova criação.
A comunidade criada a partir da acção criadora e vivificadora de Jesus está
reunida no cenáculo, em Jerusalém. Está desamparada e insegura, cercada por um
ambiente hostil. O medo vem do facto de não terem, ainda, feito a experiência
de Cristo ressuscitado.
João apresenta, aqui, uma catequese sobre a presença de Jesus, vivo e
ressuscitado, no meio dos discípulos em caminhada pela história. Não lhe
interessa tanto fazer uma descrição jornalística das aparições de Jesus
ressuscitado aos discípulos; interessa-lhe, sobretudo, afirmar aos cristãos de
todas as épocas que Cristo continua vivo e presente, acompanhando a sua Igreja.
De resto, cada crente pode fazer a experiência do encontro com o
"Senhor" ressuscitado, sempre que celebra a fé com a sua comunidade.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto divide-se em
duas partes bem distintas. Na primeira parte (vers. 19-23), descreve-se uma
"aparição" de Jesus aos discípulos. Depois de sugerir a situação de
insegurança e de fragilidade em que a comunidade estava (o "anoitecer",
as "portas fechadas", o "medo"), o autor deste texto
apresenta Jesus "no centro" da comunidade (vers. 19b). Ao aparecer
"no meio deles", Jesus assume-Se como ponto de referência, factor de
unidade, videira à volta da qual se enxertam os ramos. A comunidade está
reunida à volta dele, pois Ele é o centro onde todos vão beber essa vida que
lhes permite vencer o "medo" e a hostilidade do mundo.
A esta comunidade fechada, com medo, mergulhada nas trevas de um mundo hostil,
Jesus transmite duplamente a paz (vers. 19 e 21: é o "shalom"
hebraico, no sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança, vida
plena). Assegura-se, assim, aos discípulos que Jesus venceu aquilo que os
assustava (a morte, a opressão, a hostilidade do mundo); e que, doravante, os
discípulos não têm qualquer razão para ter medo.
Depois (vers. 20a), Jesus revela a sua "identidade": nas mãos e no
lado trespassado, estão os sinais do seu amor e da sua entrega. É nesses sinais
de amor e de doação que a comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu
meio. A permanência desses "sinais" indica a permanência do amor de
Jesus: Ele será sempre o Messias que ama e do qual brotarão a água e o sangue
que constituem e alimentam a comunidade.
Em seguida (vers. 22), Jesus "soprou" sobre os discípulos reunidos à
sua volta. O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Gn 2,7 (quando se
diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-lhe a vida de Deus).
Com o "sopro" de Gn 2,7, o homem tornou-se um ser vivente; com este
"sopro", Jesus transmite aos discípulos a vida nova que fará deles
homens novos. Agora, os discípulos possuem o Espírito, a vida de Deus, para
poderem - como Jesus - dar-se generosamente aos outros. É este Espírito que
constitui e anima a comunidade de Jesus.
Na segunda parte (vers. 24-29), apresenta-se uma catequese sobre a fé. Como é
que se chega à fé em Cristo ressuscitado?
João responde: podemos fazer a experiência da fé em Cristo vivo e ressuscitado
na comunidade dos crentes, que é o lugar natural onde se manifesta e irradia o
amor de Jesus. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está
fora) e que não faz caso do testemunho da comunidade, nem percebe os sinais de
vida nova que nela se manifestam. Em lugar de integrar-se e participar da mesma
experiência, pretende obter (apenas para si próprio) uma demonstração
particular de Deus.
Tomé acaba, no entanto, por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da
comunidade. Porquê? Porque no "dia do Senhor" volta a estar com a sua
comunidade. É uma alusão clara ao domingo, ao dia em que a comunidade é
convocada para celebrar a Eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o
perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que
se descobre Jesus ressuscitado.
A experiência de Tomé não é exclusiva das primeiras testemunhas; mas todos os
cristãos de todos os tempos podem fazer esta mesma experiência.
ACTUALIZAÇÃO
• Antes de mais, a catequese que João
nos apresenta garante-nos a presença de Cristo no meio da sua comunidade em
marcha pela história. Os discípulos de Jesus vivem no mundo, numa situação de
fragilidade e de debilidade; experimentam, como os outros homens e mulheres, o
sofrimento, o desalento, a frustração, o desânimo; têm medo quando o mundo
escolhe caminhos de guerra e de violência; sofrem quando são atingidos pela
injustiça, pela opressão, pelo ódio do mundo; conhecem a perseguição, a
incompreensão e a morte... Mas são sempre animados pela esperança, pois sabem
que Jesus está presente, oferecendo-lhes a sua paz e apontando-lhes o horizonte
da vida definitiva. O cristão é sempre animado pela esperança que brota da
presença a seu lado de Cristo ressuscitado. Não devemos, nunca, esquecer esta
realidade.
• A presença de Cristo ao lado dos seus
discípulos é sempre uma presença renovadora e transformadora. É esse Espírito
que Jesus oferece continuamente aos seus, que faz deles homens e mulheres
novos, capazes de amar até ao fim, ao jeito de Jesus; é esse Espírito que Jesus
oferece aos seus, que faz deles testemunhas do amor de Deus e que lhes dá a
coragem e a generosidade para continuarem no mundo a obra de Jesus.
• A comunidade cristã gira em torno de
Jesus é construída à volta de Jesus e é de Jesus que recebe vida, amor e paz.
Sem Jesus, estaremos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em
plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar
o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaremos
divididos, em conflito, e não seremos uma comunidade de irmãos... Na nossa
comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro? É para Ele que tudo tende e é
d'Ele que tudo parte?
• A comunidade tem de ser o lugar onde
fazemos, verdadeiramente, a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. É
nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade (no
"lado trespassado" e nas chagas de Jesus, expressões do seu amor),
que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo. É isso que a
nossa comunidade testemunha? Quem procura Cristo ressuscitado, encontra-O em
nós? O amor de Jesus - amor total, universal e sem medida - transparece nos
nossos gestos?
• Não é em experiências pessoais,
íntimas, fechadas, egoístas, que encontramos Jesus ressuscitado; mas
encontramo-l'O no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido,
no amor que une os irmãos em comunidade de vida. O que é que significa, para
mim, a Eucaristia?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2º
DOMINGO DE PÁSCOA
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA
SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 2º Domingo de Páscoa, procurar meditar
a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada
dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da
Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus...
2. BILHETE DE EVANGELHO.
Apenas Jesus viveu a sua passagem da morte à vida. Os seus discípulos vão
passar do medo à alegria e à paz, basta-lhes uma palavra - "a paz esteja
convosco" - e verem as chagas ainda visíveis no Ressuscitado. Basta-lhes
um sopro, o do Espírito de Cristo, para se tornarem embaixadores da
reconciliação. Tomé vai passar da dúvida à fé, basta-lhe ver e tocar o que
Cristo lhe oferece, então ele crê. "Há muitos outros sinais"
cumpridos pelo Ressuscitado, precisa o evangelista, mas os que aqui são referidos
são-no para que nós mesmos passemos do questionamento à afirmação - "Ele
ressuscitou verdadeiramente!" - e para que O reconheçamos hoje, porque Ele
não cessa de fazer sinal ainda e sempre.
3. À ECUTA DA PALAVRA.
"Meu Senhor e meu Deus!" Há a "fé do carvoeiro". Ela não
coloca qualquer questão. Ela é, muitas vezes, em si mesma, muito sólida, não se
deixa levar por qualquer dúvida. E há uma fé "inquieta", que não fica
em repouso, que procura compreender. A dúvida, então, faz parte desta fé.
Certamente, pode haver dúvidas destrutivas, aquela que nasce, por exemplo, de
uma inveja, porque se desconfia da infidelidade do outro. Tal não é a dúvida de
Tomé. Ele gostaria de acreditar no que lhe dizem os companheiros. Mas esta
história da ressurreição de Jesus parece-lhe de tal modo fora da experiência
humana mais comum e mais constante, que ele pede, de qualquer modo, um
complemento de informação e para ver de mais perto. Não recusa crer, ele quer
compreender melhor. A sua dúvida não é fechada, exprime um desejo de ser apoiada
na fé. "Deixa de ser incrédulo, sê crente". Mais do que uma
reprovação, Jesus dirige-lhe um convite a ter uma confiança maior, total.
Então, o Tomé da dúvida torna-se o Tomé que proclama a sua fé como nenhum dos
seus discípulos o fez. Ele grita: "Meu Senhor e meu Deus!" A Igreja
não abandonará jamais esta profissão de fé. Hoje ainda, ela termina grande
parte das orações dirigidas ao Pai, dizendo: "Por Jesus Cristo, vosso
Filho, nosso Deus e Senhor". São as próprias palavras de Tomé que alimentam
a fé e a oração da Igreja. Então, bem-aventurado Tomé!
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Com Tomé... Ao longo da semana que se segue, a partir do grande encontro que
Cristo teve connosco na celebração deste domingo, esforcemo-nos em Lhe dizer,
como Tomé, a nossa fé. Somos chamados a um diálogo do coração... Mas daí
jorrará uma verdadeira felicidade, que poderemos então partilhar à nossa volta.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt
Eu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
ResponderExcluirObrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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