04º Domingo da Páscoa - Ano B
25 Abril 2021
04º Domingo da Páscoa - Ano B
ANO B
4º DOMINGO DA PÁSCOA
Tema do 4º Domingo da Páscoa
O 4º Domingo da Páscoa é considerado o
"Domingo do Bom Pastor", pois todos os anos a liturgia propõe, neste
domingo, um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é
apresentado como "Bom Pastor". É, portanto, este o tema central que a
Palavra de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.
O Evangelho apresenta Cristo como "o Pastor modelo", que ama de forma
gratuita e desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a vida por
elas. As ovelhas sabem que podem confiar n'Ele de forma incondicional, pois Ele
não busca o próprio bem, mas o bem do seu rebanho. O que é decisivo para
pertencer ao rebanho de Jesus é a disponibilidade para "escutar" as
propostas que Ele faz e segui-l'O no caminho do amor e da entrega.
A primeira leitura afirma que Jesus é o único Salvador, já que "não existe
debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos"
(neste "Domingo do Bom Pastor" dizer que Jesus é o "único
salvador" equivale a dizer que Ele é o único pastor que nos conduz em
direcção à vida verdadeira). Lucas avisa-nos para não nos deixarmos iludir por
outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos apresentam
propostas falsas de salvação.
Na segunda leitura, o autor da primeira Carta de João convida-nos a contemplar
o amor de Deus pelo homem. É porque nos ama com um "amor admirável"
que Deus está apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e
de fragilidade. O objectivo de Deus é integrar-nos na sua família e tornar-nos
"semelhantes" a Ele.
LEITURA I - Act 4,8-12
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Naqueles dias,
Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes:
«Chefes do povo e anciãos,
já que hoje somos interrogados
sobre um benefício feito a um enfermo
e o modo como ele foi curado,
ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel:
É em nome de Jesus Cristo, o Nazareno,
que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos,
é por Ele que este homem
se encontra perfeitamente curado na vossa presença.
Jesus é a pedra que vós, os construtores, desprezastes
e que veio a tornar-se pedra angular.
E em nenhum outro há salvação,
pois não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens,
pelo qual possamos ser salvos».
AMBIENTE
O testemunho sobre Jesus e sobre a libertação
que Ele veio oferecer aos homens, manifestado nos gestos (cura do paralítico, à
entrada do Templo de Jerusalém - cf. Act 3,1-11) e nas palavras de Pedro
(discurso à multidão, à entrada do Templo - cf. Act 3,12-26), provoca a
imediata reacção das autoridades judaicas e a consequente prisão de Pedro e de
João. É a reacção lógica dos que pretendem perpetuar os sistemas de escravidão
e de opressão.
Assim, Pedro e João são presos e conduzidos diante do Sinédrio - a autoridade
que superintendia à organização da vida religiosa, jurídica e económica dos
judeus. Presidido pelo sumo-sacerdote em funções, o Sinédrio era constituído
por 70 membros, oriundos das principais famílias do país. Na época de Jesus, o
Sinédrio era, ao que parece, dominado pelo grupo dos saduceus, os quais negavam
a ressurreição. No Sinédrio havia, também, um grupo significativo de fariseus,
os quais aceitavam a ressurreição... No entanto, os dois grupos vão pôr de lado
as suas divergências particulares para fazerem causa comum contra os discípulos
de Jesus. A pergunta posta aos apóstolos pelos membros do Sinédrio é: "com
que poder ou em nome de quem fizestes isto?" (Act 4,7). O texto que a
nossa primeira leitura nos apresenta é a resposta de Pedro à questão que lhe
foi posta.
É mais do que provável que o episódio assente, em geral, em bases históricas...
O testemunho sobre esse Messias crucificado pouco antes pelas autoridades
constituídas devia aparecer como uma provocação e provocar uma natural reacção
dos líderes judaicos. No entanto, o episódio, tal como nos é apresentado,
sofreu retoques de Lucas, empenhado em demonstrar que a reacção negativa do
"mundo" não pode nem deve calar o testemunho dos discípulos de Jesus.
MENSAGEM
O texto que nos é proposto é, sobretudo, uma
catequese destinada aos crentes, mostrando-lhes como se deve concretizar o testemunho
dos discípulos, encarregados por Jesus de levar a sua proposta libertadora a
todos os homens.
Antes de mais, Lucas observa que Pedro está "cheio do Espírito Santo"
(vers. 8). Os cristãos não estão sozinhos e abandonados quando enfrentam o
mundo para lhes anunciar a salvação. É o Espírito que conduz os discípulos na
sua missão e que orienta o seu testemunho. Cumpre-se, assim, a promessa que
Jesus havia feito aos discípulos: "quando vos levarem às sinagogas, aos
magistrados e às autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de dizer em
vossa defesa, pois o Espírito Santo vos ensinará, no momento próprio, o que
haveis de dizer" (Lc 12,11-12).
"Cheio do Espírito Santo", Pedro - aqui no papel de paradigma do
discípulo que testemunha Jesus e o seu projecto diante do mundo - transforma-se
de réu em acusador... Os dirigentes judaicos, barricados atrás dos seus
preconceitos e interesses pessoais, catalogaram a proposta de Jesus como uma
proposta contrária aos desígnios de Deus e assassinaram Jesus; mas a ressurreição
demonstrou que Jesus veio de Deus e que o projecto que Ele apresentou tem o
selo de garantia de Deus. Citando um salmo (cf. Sal 118,2), Pedro compara a
insensatez dos dirigentes judaicos à cegueira de um construtor que rejeita como
imprestável uma pedra que vem depois a ser aproveitada por outro construtor
como pedra principal num outro edifício (vers. 11). Jesus é a pedra base desse
projecto de vida nova e plena que Deus quer apresentar aos homens. A prova é
esse paralítico, que adquiriu a mobilidade pela acção de Jesus ("é por Ele
que este homem se encontra perfeitamente curado na vossa presença" - vers.
10).
Na realidade, Jesus é a fonte única de onde brota a salvação - não só a
libertação dos males físicos, mas a salvação entendida como totalidade, como
vida definitiva, como realização plena do homem. Jesus (o nome hebraico
"Jesus" significa "Jahwéh salva") é o único canal através
do qual a salvação de Deus atinge os homens (vers. 12). Com esta afirmação
solene e radical, Lucas convida os cristãos a serem testemunhas da salvação,
propondo aos homens Jesus Cristo e levando os homens a aderirem, de forma total
e incondicional, ao projecto de vida que Cristo veio oferecer.
Uma nota, ainda, para registar a forma corajosa e desassombrada como Pedro dá
testemunho de Jesus, mesmo num ambiente hostil e adverso. Lucas sugere que é
desta forma que os discípulos hão-de anunciar Jesus e o seu projecto de
salvação. Nada nem ninguém deverá parar e calar os discípulos, chamados a
colaborar com Jesus no anúncio da salvação.
Em resumo: os discípulos receberam a missão de apresentar, ao mundo e aos
homens, Jesus Cristo, o único Salvador. É o Espírito que os anima nessa missão
e que lhes dá a coragem para enfrentar a oposição dessas forças da opressão que
recusam a proposta libertadora de Jesus.
ACTUALIZAÇÃO
• A catequese que Lucas nos propõe neste
trecho do livro dos Actos dos Apóstolos, apresenta Jesus como o único Salvador,
já que "não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual
possamos ser salvos". Lucas avisa-nos, desta forma, para não nos deixarmos
iludir por outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos
apresentam propostas falsas de salvação. Por vezes, o caminho de salvação que
Jesus nos propõe, está em flagrante contradição com os caminhos de
"salvação" que nos são propostos pelos líderes políticos, pelos
líderes ideológicos, pelos líderes da moda e da opinião pública; e nós temos
que fazer escolhas coerentes com a nossa fé e com o nosso compromisso cristão. Na
hora de optarmos, não esqueçamos que a proposta de Jesus tem o selo de garantia
de Deus; não esqueçamos que o caminho proposto por Jesus (e que, tantas vezes,
à luz da lógica humana, parece um caminho de fracasso e de derrota) é o caminho
que nos conduz ao encontro da vida plena e definitiva, ao encontro do Homem
Novo.
• Depois de dois mil anos de cristianismo,
parece que nem sempre se nota a presença efectiva de Cristo nesses caminhos em
que se constrói a história do mundo e dos homens. O verniz cristão de que revestimos
a nossa civilização ocidental não tem impedido a corrida aos armamentos, os
genocídios, os actos bárbaros de terrorismo, as guerras religiosas, o
capitalismo selvagem... Os critérios que presidem à construção do mundo estão,
demasiadas vezes, longe dos valores do Evangelho. Porque é que isto acontece?
Podemos dizer que Cristo é, para os cristãos, a referência fundamental? Nós
cristãos fizemos d'Ele, efectivamente, a "pedra angular" sobre a qual
construímos a nossa vida e a história do nosso tempo?
• Através do exemplo de Pedro, Lucas sugere
que o testemunho dos discípulos deve ser desassombrado, mesmo em condições
hostis e adversas. A preocupação dos discípulos não deve ser apresentar um
testemunho politicamente correcto, que não incomode os poderes instituídos e
não traga perseguições à comunidade do Reino; mas deve ser um discurso corajoso
e coerente, que tem como preocupação fundamental apresentar com fidelidade a
proposta de salvação que Jesus veio fazer.
• Os discípulos de Jesus não estão sozinhos,
entregues a si próprios, nessa luta contra as forças que oprimem e escravizam
os homens. O Espírito de Jesus ressuscitado está com eles, ajudando-os,
animando-os, protegendo-os em cada instante desse caminho que Deus lhes mandou
percorrer. Nos momentos de crise, de desânimo, de frustração, os discípulos
devem tomar consciência da presença amorosa de Deus a seu lado e retomar a
esperança.
• Os líderes judaicos são, mais uma vez,
apresentados como modelos de cegueira e de fechamento face aos desafios de Deus.
São "maus pastores", preocupados com os seus interesses pessoais e
corporativos, que impedem que o seu Povo adira às propostas de salvação que
Deus faz. O seu exemplo mostra-nos como a auto-suficiência, os preconceitos, o
comodismo, levam o homem a fechar-se aos desafios de Deus e a recusar os dons
de Deus. Eles são, portanto, modelos a não seguir.
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 117 (118)
Refrão 1: A pedra que os construtores
rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Refrão 2: Aleluia.
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
do que fiar-se nos homens.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
do que fiar-se nos poderosos.
Eu Vos darei graças porque me ouvistes
e fostes o meu Salvador.
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Bendito o que vem em nome do Senhor,
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
Vós sois o meu Deus: eu Vos darei graças.
Vós sois o meu Deus: eu Vos exaltarei.
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
LEITURA II - 1 Jo 3,1-2
Leitura da Primeira Epístola de São João
Caríssimos:
Vede que admirável amor o Pai nos consagrou
em nos chamarmos filhos de Deus.
E somo-lo de facto.
Se o mundo não nos conhece,
é porque não O conheceu a Ele.
Caríssimos, agora somos filhos de Deus
e ainda não se manifestou o que havemos de ser.
Mas sabemos que, na altura em que se manifestar,
seremos semelhantes a Deus,
porque O veremos tal como Ele é.
AMBIENTE
A primeira Carta de João é, como já dissemos
nos domingos anteriores, um escrito polémico, dirigido a comunidades cristãs
nascidas no mundo joânico (trata-se, certamente, de comunidades cristãs de
várias cidades situadas à volta de Éfeso, na parte ocidental da Ásia Menor).
Estamos numa época em que as heresias começavam a perturbar a vida dessas
comunidades, lançando a confusão entre os crentes e ameaçando subverter a
identidade cristã. As principais questões postas pelos hereges eram de ordem
cristológica e ética. Em termos de doutrina cristológica, negavam que o Filho
de Deus tivesse encarnado através de Maria e que tivesse morrido na cruz; na
sua perspectiva, o Cristo celeste apenas veio sobre o homem Jesus na altura do
baptismo, abandonando-o outra vez antes da paixão... Portanto, a humanidade de
Jesus é um facto irrelevante; o que interessa é a mensagem do Cristo celeste,
que Se serviu do homem Jesus para aparecer na terra. Do ponto de vista ético e
moral, estes hereges não cumprem os mandamentos e desprezam especialmente o
mandamento do amor ao irmão. Neste contexto, o autor da carta vai apresentar
aos crentes as grandes coordenadas da vida cristã autêntica.
O texto que nos é proposto integra a segunda parte da carta (cf. 1 Jo
2,28-4,6). Aí, o autor lembra aos crentes que são filhos de Deus e exorta-os a
viver no dia a dia de forma coerente com essa filiação. O contexto é sempre o
da polémica contra os "filhos do mal" que não fazem as obras de Deus,
porque não vivem de acordo com os mandamentos.
MENSAGEM
Em jeito de introdução à segunda parte da
carta, o autor recorda aos cristãos que Deus os constituiu seus
"filhos". O fundamento para essa filiação reside no grande amor de
Deus pelos homens (vers. 1a). O título de "filhos de Deus" que os
crentes ostentam não é um título pomposo, mas externo e sem conteúdo; é um
título apropriado, que define a situação daqueles que são amados por Deus com
um amor "admirável" e que receberam de Deus a vida nova.
Evidentemente, a condição de "filhos" implica estar em comunhão com
Deus e viver de forma coerente com as suas propostas. Os "filhos de
Deus" realizam as obras de Deus (um pouco mais à frente, num
desenvolvimento que não aparece na leitura que a liturgia de hoje propõe, o
autor da carta contrapõe aos "filhos de Deus" os "filhos do
diabo" - que são aqueles que rejeitam a vida nova de Deus, não praticam
"a justiça, nem amam o seu irmão" - cf. 1 Jo 3,7-10).
A condição de "filhos de Deus", que fazem as obras de Deus, coloca os
crentes numa posição singular diante do "mundo". Por isso, o
"mundo" irá ignorar ou mesmo perseguir os "filhos de Deus",
recusando a proposta de vida que eles testemunham. Não é nada de novo nem de
surpreendente: o "mundo" também recusou Cristo e a sua proposta de
salvação (vers. 1b).
Apesar de serem já, desde o dia do Baptismo (o dia em que aceitaram essa vida
nova que Deus oferece aos homens), "filhos de Deus", os crentes
continuam a caminho da sua realização definitiva, do dia em que a fragilidade e
a finitude humanas serão definitivamente superadas. Então, manifestar-se-á nos
crentes a vida plena e definitiva, o Homem Novo plenamente realizado. Nesse
dia, os crentes estarão em total comunhão com Deus e serão, então,
"semelhantes a Ele" (vers. 2). A filiação divina é uma realidade que atinge
o crente ao longo da sua peregrinação por esta terra e que implica uma vida de
coerência com as obras e as propostas de Deus; mas só no céu, após a libertação
da condição de debilidade que faz parte da fragilidade humana, o crente
conhecerá a sua realização plena.
ACTUALIZAÇÃO
• Antes de mais, o nosso texto recorda-nos que
Deus nos ama com um amor "admirável" - amor que se traduz no dom
dessa vida nova que faz de nós "filhos de Deus". Neste 4º Domingo da
Páscoa, o Domingo do Bom Pastor, o autor da Primeira Carta de João convida-nos
a contemplar a bondade, a ternura, a misericórdia, o amor de um Deus apostado
em levar o homem a superar a sua condição de debilidade, a fim de chegar à vida
nova e eterna, à plenitudização das suas capacidades, até se tornar "semelhante"
ao próprio Deus. Todos os homens e mulheres caminham pela vida à procura da
felicidade e da vida verdadeira... O autor desta carta garante-nos: para
alcançar a meta da vida definitiva, é preciso escutar o chamamento de Deus,
acolher o seu dom, viver de acordo com essa vida nova que Deus nos oferece. É
aí - e não noutras propostas efémeras, parciais, superficiais - que está o
segredo da realização plena do homem.
• Como é que os "filhos de Deus"
devem responder a este desafio que Deus lhes faz? No texto que nos é hoje
proposto, este problema não é desenvolvido; contudo, a questão é abordada e
reflectida noutras passagens da Primeira Carta de João. Para o autor da carta,
o "filho de Deus" é aquele que responde ao amor de Deus vivendo de
forma coerente com as propostas de Deus (cf. 1 Jo 5,1-3) - isto é, no respeito
pelos mandamentos de Deus. De forma especial, recomenda-se aos crentes que
vivam no amor aos irmãos, a exemplo de Jesus Cristo.
• O autor da carta avisa também os cristãos
para o inevitável choque com a incompreensão do "mundo"... Viver como
"filho de Deus" implica fazer opções que, muitas vezes, estão em
contradição com os valores que o mundo considera prioritários; por isso, os
discípulos são objecto do desprezo, da irrisão, dos ataques daqueles que não
estão dispostos a conduzir a sua vida de acordo com os valores de Deus. Jesus
Cristo conheceu e enfrentou a mesma realidade; mas a sua história mostra que
viver como "filho de Deus" não é um caminho de fracasso, mas um
caminho de vida plena e eterna. Os cristãos não devem, por isso, ter medo de
percorrer o mesmo caminho.
ALELUIA - Jo 10,14
Aleluia. Aleluia.
Eu sou o bom pastor, diz o Senhor:
conheço as minhas ovelhas
e as minhas ovelhas conhecem-Me.
EVANGELHO - Jo 10,11-18
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São João
Naquele tempo, disse Jesus.
«Eu sou o Bom Pastor.
O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.
O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas,
logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge,
enquanto o lobo as arrebata e dispersa.
O mercenário não se preocupa com as ovelhas.
Eu sou o Bom Pastor:
conheço as minhas ovelhas
e as minhas ovelhas conhecem-Me,
do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai;
Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas.
Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil
e preciso de as reunir;
elas ouvirão a minha voz
e haverá um só rebanho e um só Pastor.
Por isso o Pai Me ama:
porque dou a minha vida, para poder retomá-la.
Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente.
Tenho o poder de a dar e de a retomar:
foi este o mandamento que recebi de meu Pai».
AMBIENTE
O capítulo 10 do 4º Evangelho é dedicado à
catequese do "Bom Pastor". O autor utiliza esta imagem para propor
uma catequese sobre a missão de Jesus: a obra do "Messias" consiste em
conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas de onde brota
a vida em plenitude.
A imagem do "Bom Pastor" não foi inventada pelo autor do 4º
Evangelho. Literariamente falando, este discurso simbólico está construído com
materiais provenientes do Antigo Testamento. Em especial, este discurso tem
presente Ez 34 (onde se encontra a chave para compreender a metáfora do
"pastor" e do "rebanho"). Falando aos exilados da
Babilónia, Ezequiel constata que os líderes de Israel foram, ao longo da
história, maus "pastores", que conduziram o Povo por caminhos de
morte e de desgraça; mas - diz Ezequiel - o próprio Deus vai agora assumir a
condução do seu Povo; Ele porá à frente do seu Povo um "Bom Pastor"
(o "Messias"), que o livrará da escravidão e o conduzirá à vida. A
catequese que o 4º Evangelho nos oferece sobre o "Bom Pastor" sugere
que a promessa de Deus - veiculada por Ezequiel - se cumpre em Jesus.
O contexto em que João coloca o "discurso do Bom Pastor" (cf. Jo 10)
é um contexto de polémica entre Jesus e alguns líderes judaicos, principalmente
fariseus (cf. Jo 9,40; 10,19-21.24.31-39). Depois de ver a pressão que os
líderes judaicos colocaram sobre o cego de nascença para que ele não abraçasse
a luz (cf. Jo 9,1-41), Jesus denuncia a forma como esses líderes tratam o Povo:
eles estão apenas interessados em proteger os seus interesses pessoais e usam o
Povo em benefício próprios; são, pois, "ladrões e salteadores" (Jo
10,1.8.10), que se apossam de algo que não lhes pertence e roubam ao seu Povo
qualquer possibilidade de vida e de libertação.
MENSAGEM
O nosso texto começa com uma afirmação
lapidar, posta na boca de Jesus: "Eu sou o Bom Pastor". O adjectivo
"bom" deve, neste contexto, entender-se no sentido de
"modelo", de "ideal": "Eu sou o modelo de pastor, o
pastor ideal". E Jesus explica, logo de seguida, que o "pastor
modelo" é aquele que é capaz de se entregar a si mesmo para dar a vida às
suas ovelhas (vers. 11).
Depois da afirmação geral, Jesus põe em paralelo duas figuras de pastor: o
"pastor mercenário" e o "verdadeiro pastor" (vers. 12-13).
Aquilo que distingue o "verdadeiro pastor" do "pastor
mercenário" é a diferente atitude diante do "lobo". O
"lobo" representa, nesta "parábola", tudo aquilo que põe em
perigo a vida das ovelhas: os interesses dos poderosos, a opressão, a
injustiça, a violência, o ódio do mundo.
O "pastor mercenário" é o pastor contratado por dinheiro. O rebanho
não é dele e ele não ama as ovelhas que lhe foram confiadas. Limita-se a
cumprir o seu contrato, fugindo de tudo aquilo que o pode pôr em perigo a ele
próprio e aos seus interesses pessoais. Limita-se a cumprir determinadas
obrigações, sem que o seu coração esteja com o rebanho. Ele tem uma função de
enquadrar o rebanho e de o dirigir, mas a sua acção é sempre ditada por uma
lógica de egoísmo e de interesse. Por isso, quando sente que há perigo,
abandona o rebanho à sua sorte, a fim de salvaguardar os seus interesses
egoístas e a sua posição.
O verdadeiro pastor é aquele que presta o seu serviço por amor e não por dinheiro.
Ele não está apenas interessado em cumprir o contrato, mas em fazer com que as
ovelhas tenham vida e se sintam felizes. A sua prioridade é o bem das ovelhas
que lhe foram confiadas. Por isso, ele arrisca tudo em benefício do rebanho e
está, até, disposto a dar a própria vida por essas ovelhas que ama. Nele as
ovelhas podem confiar, pois sabem que ele não defende interesses pessoais mas
os interesses do seu rebanho.
Ora, Jesus é o modelo do verdadeiro pastor (vers. 14-15). Ele conhece cada uma
das suas ovelhas, tem com cada uma relação pessoal e única, ama cada uma,
conhece os seus sofrimentos, dramas, sonhos e esperanças. Esta relação que
Jesus, o verdadeiro pastor, tem com as suas ovelhas é tão especial, que Ele até
a compara à relação de amor e de intimidade que tem com o próprio Deus, seu
Pai. É este amor, pessoal e íntimo, que leva Jesus a pôr a própria vida ao
serviço das suas ovelhas, e até a oferecer a própria vida para que todas elas
tenham vida e vida em abundância. Quando as ovelhas estão em perigo, Ele não as
abandona, mas é capaz de dar a vida por elas. Nenhum risco, dificuldade ou
sofrimento O faz desanimar. A sua atitude de defesa intransigente do rebanho é
ditada por um amor sem limites, que vai até ao dom da vida.
Depois de definir desta forma a sua missão e a sua atitude para com o rebanho,
Jesus explica quem são as suas ovelhas e quem pode fazer parte do seu rebanho.
Ao dizer "tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de
as reunir" (vers. 16a), Jesus deixa claro que a sua missão não se encerra
nas fronteiras limitadas do Povo judeu, mas é uma missão universal, que se
destina a dar vida a todos os povos da terra. A comunidade de Jesus não está
encerrada numa determinada instituição nacional ou cultural. O que é decisivo,
para integrar a comunidade de Jesus, é acolher a sua proposta, aderir ao
projecto que Ele apresenta, segui-l'O. Nascerá, então, uma comunidade única,
cuja referência é Jesus e que caminhará com Jesus ao encontro da vida eterna e
verdadeira ("elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só
pastor" - vers. 16b).
Finalmente, Jesus explica que a sua missão se insere no projecto do Pai para
dar vida aos homens (vers. 17-18). Jesus assume esse projecto do Pai e dedica
toda a sua vida terrena a cumprir essa missão que o Pai lhe confiou. O que O
move não é o seu interesse pessoal, mas o cumprimento da vontade do Pai. Ao
cumprir o projecto de amor do Pai em favor dos homens, Ele está a realizar a
sua condição de Filho.
Ao dar a sua vida, Jesus está consciente de que não perde nada. Quem gasta a
vida ao serviço do projecto de Deus, não perde a vida, mas está a construir
para si e para o mundo a vida eterna e verdadeira. O seu dom não termina em
fracasso, mas em glorificação. Para quem ama, não há morte, pois o amor gera
vida verdadeira e definitiva.
A entrega de Jesus não é um acidente ou uma inevitável fatalidade, mas um gesto
livre de alguém que ama o Pai e ama os homens e escolhe o amor até às últimas
consequências. O dom de Jesus é um dom livre, gratuito e generoso. Na decisão
de Jesus em oferecer livremente a vida por amor, manifesta-se o seu amor pelo
Pai e pelos homens.
ACTUALIZAÇÃO
• Todos nós temos as nossas figuras de
referência, os nossos heróis, os nossos mestres, os nossos modelos. É a uma
figura desse tipo que, utilizando a imagem do Evangelho do 4º Domingo da
Páscoa, poderíamos chamar o nosso "pastor"... É Ele que nos aponta
caminhos, que nos dá segurança, que está ao nosso lado nos momentos de
fragilidade, que condiciona as nossas opções, que é para nós uma espécie de
modelo de vida. O Evangelho deste domingo diz-nos que, para o cristão, o
"Pastor" por excelência é Cristo. É n'Ele que devemos confiar, é à
volta d'Ele que nos devemos juntar, são as suas indicações e propostas que devemos
seguir. O nosso "Pastor" é, de facto, Cristo, ou temos outros
"pastores" que nos arrastam e que são as referências fundamentais à
volta das quais construimos a nossa existência? O que é que nos conduz e
condiciona as nossas opções: Jesus Cristo? As directrizes do chefe do
departamento? A conta bancária? A voz da opinião pública? A perspectiva do
presidente do partido? O comodismo e a instalação? O êxito e o triunfo
profissional a qualquer custo? O herói mais giro da telenovela? O programa de
maior audiência da estação televisiva de maior audiência?
• Reparemos na forma como Cristo desempenha a
sua missão de "Pastor": Ele não actua por interesse (como acontece
com outros pastores, que apenas procuram explorar o rebanho e usá-lo em
benefício próprio), mas por amor; Ele não foge quando as ovelhas estão em
perigo, mas defende-as, preocupa-Se com elas e até é capaz de dar a vida por
elas; Ele mantém com cada uma das ovelhas uma relação única, especial, pessoal,
conhece os seus sofrimentos, dramas, sonhos e esperanças. As
"qualidades" de Cristo, o Bom Pastor, aqui enumeradas, devem
fazer-nos perceber que podemos confiar integral e incondicionalmente n'Ele e
entregar, sem receio, a nossa vida nas suas mãos. Por outro lado, este
"jeito" de actuar de Cristo deve ser uma referência para aqueles que
têm responsabilidades na condução e animação do Povo de Deus: aqueles que
receberam de Deus a missão de presidir a um grupo, de animar uma comunidade,
exercem a sua missão no dom total, no amor incondicional, no serviço
desinteressado, a exemplo de Cristo?
• No "rebanho" de Jesus, não se
entra por convite especial, nem há um número restrito de vagas a partir do qual
mais ninguém pode entrar... A proposta de salvação que Jesus faz destina-se a
todos os homens e mulheres, sem excepção. O que é decisivo para entrar a fazer
parte do rebanho de Deus é "escutar a voz" de Cristo, aceitar as suas
indicações, tornar-se seu discípulo... Isso significa, concretamente, seguir
Jesus, aderir ao projecto de salvação que Ele veio apresentar, percorrer o
mesmo caminho que Ele percorreu, na entrega total aos projectos de Deus e na
doação total aos irmãos. Atrevemo-nos a seguir o nosso "Pastor"
(Cristo) no caminho exigente do dom da vida, ou estamos convencidos que esse
caminho é apenas um caminho de derrota e de fracasso, que não leva aonde nós
pretendemos ir?
• O nosso texto acentua a identificação total
de Jesus com a vontade do Pai e a sua disponibilidade para colocar toda a sua
vida ao serviço do projecto de Deus. Garante-nos também que é dessa entrega
livre, consciente, assumida, que resulta vida eterna, verdadeira e definitiva.
O exemplo de Cristo convida-nos a aderir, com a mesma liberdade mas também com
a mesma disponibilidade, às propostas de Deus e ao cumprimento do projecto de
Deus para nós e para o mundo. Esse caminho é, garantidamente, um caminho de
vida eterna e de realização plena do homem.
• Nas nossas comunidades cristãs, temos
pessoas que presidem e que animam. Podemos aceitar, sem problemas, que elas
receberam essa missão de Cristo e da Igreja, apesar dos seus limites e
imperfeições; mas convém igualmente ter presente que o nosso único
"Pastor", aquele que somos convidados a escutar e a seguir sem
condições, é Cristo. Os outros "pastores" têm uma missão válida, se a
receberam de Cristo; e a sua actuação nunca pode ser diferente do jeito de
actuar de Cristo.
• Para que distingamos a "voz" de
Jesus de outros apelos, de propostas enganadoras, de "cantos de
sereia" que não conduzem à vida plena, é preciso um permanente diálogo
íntimo com "o Pastor", um confronto permanente com a sua Palavra e a
participação activa nos sacramentos onde se nos comunica essa vida que "o
Pastor" nos oferece.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 4º DOMINGO
DE PÁSCOA
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 4º Domingo de Páscoa, procurar meditar
a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada
dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da
Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus...
2. BILHETE DE EVANGELHO.
O que distingue um mercenário de um pastor é a relação que eles têm com as suas
ovelhas. Para o pastor, cada ovelha é única aos seus olhos e cada uma reconhece
o seu pastor. Ele está pronto a tudo para que as suas ovelhas vivam, indo mesmo
ao ponto de arriscar a sua própria vida. Enfim, ele cuida mesmo das que não são
do seu rebanho. Mas Jesus, que se compara a este bom pastor, dá o significado
desta relação, que é reflexo da sua relação com o Pai: "conheço as minhas
ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e
Eu conheço o Pai". Neste domingo em que os cristãos são convidados a rezar
pelas vocações, que a sua oração seja dirigida, em primeiro lugar, para o único
Pastor, Jesus Cristo, depois que se peça para que Ele dê à sua Igreja pastores
que procurem conhecer cada vez melhor os homens, amá-los, e que tenham o
cuidado daqueles que não são ainda da Igreja.
3. À ESCUTA DA PALAVRA.
"Eu sou o Bom Pastor". Jesus retoma uma imagem tradicional na Bíblia
para designar os chefes do povo judeu. Porque estes pastores são muitas vezes
maus pastores, é o próprio Deus que pastoreará o seu rebanho. E o salmista
gritará: "O Senhor é meu pastor!" Jesus atribui a Si próprio este
título e esta missão, que confia em seguida a Pedro. Por seu lado, este recorre
ao vocabulário pastoral para designar a função dos "anciãos", dos "presbíteros",
na comunidade cristã. Estamos, de facto, muito longe da estrutura
"sacerdotal", sobre a qual estava fundada toda a vida cultual do povo
judeu. O serviço do templo estava reservado à tribo de Levi e às famílias
sacerdotais. Ora, na Igreja, o "pastor" não é um homem do
"sagrado", "separado" do resto do povo. O próprio Jesus não
era uma "especialista do sagrado"! O pastor só tem sentido se ligado
a um rebanho. Ele "conhece as suas ovelhas e as suas ovelhas
conhecem-no". Elas "contam verdadeiramente para ele". Ele ama as
ovelhas e cuida delas. Vigia-as. Condu-las a boas pastagens, dando-lhes o bom
alimento da Palavra de Deus. Ele vai ao ponto de dar a sua vida pelas suas
ovelhas. Nunca se deve cessar de pedir ao Senhor que suscite sempre bons
pastores para a sua Igreja!
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Discernir em Igreja... Não é fácil saber em que ponto estamos realmente, em
matéria de vocação: o discernimento nunca se faz só, seja para um acompanhador
espiritual, seja num pequeno grupo que saberia praticar esta entreajuda
fraterna que permita a cada um fazer o ponto da situação sobre aquilo que o
Senhor espera dele. Não seria a ocasião, nesta semana, para se pensar em fazer
um tal encontro?
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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