Domingo, 3 de junho de 2012
Santíssima Trindade (Solenidade)
Santos do Dia: São Carlos Lwanga e Companheiros, Mártires (Memória). Alberto de Como (monge, bispo), Cecílio de Cartago (presbítero), Clotilde da França (rainha, viúva), Davino de Lucca (peregrino), Genésio de Clermont (bispo), Hilário de Carcassone (bispo), Isaac de Córdoba (mártir), João Maria Muzéï (mártir da Uganda), Libardo de Orléans (abade), Luciliano e quatro filhos: Cláudio, Hipácio, Paulo e Dionísio (mártires de Constantinopla), Morando de Cluny (monge), Oliva de Anagni (virgem), Paula de Nicomédia (virgem, mártir), Pergentino e Laurentino (mártires de Arezzo), Urbício de Meung (abade).
Primeira leitura: Deuteronômio 4,32-34.39-40
O Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e não há outro além dele.
Salmo responsorial: 32, 4-6.9.18-20.22
Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança.
Segunda leitura: Romanos 8,14-17
Recebestes um espírito de filhos, no qual todos nós clamamos: Abbá, ó Pai!
Evangelho: Mateus 28,16-20
Batizai-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
Conscientes de que o material teológico para uma pregação tradicional sobre a Trindade é muito fácil de encontrar entre as varias dezenas de serviços bíblico-litúrgicos oferecidos atualmente pela internet, nós, fiéis a nosso “carisma”, vamos completar os enfoques tradicionais com algumas perspectivas críticas para as comunidades que não querem simplesmente repetir o de sempre, mas reformular o seu conteúdo.
Santos do Dia: São Carlos Lwanga e Companheiros, Mártires (Memória). Alberto de Como (monge, bispo), Cecílio de Cartago (presbítero), Clotilde da França (rainha, viúva), Davino de Lucca (peregrino), Genésio de Clermont (bispo), Hilário de Carcassone (bispo), Isaac de Córdoba (mártir), João Maria Muzéï (mártir da Uganda), Libardo de Orléans (abade), Luciliano e quatro filhos: Cláudio, Hipácio, Paulo e Dionísio (mártires de Constantinopla), Morando de Cluny (monge), Oliva de Anagni (virgem), Paula de Nicomédia (virgem, mártir), Pergentino e Laurentino (mártires de Arezzo), Urbício de Meung (abade).
Primeira leitura: Deuteronômio 4,32-34.39-40
O Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e não há outro além dele.
Salmo responsorial: 32, 4-6.9.18-20.22
Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança.
Segunda leitura: Romanos 8,14-17
Recebestes um espírito de filhos, no qual todos nós clamamos: Abbá, ó Pai!
Evangelho: Mateus 28,16-20
Batizai-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
Conscientes de que o material teológico para uma pregação tradicional sobre a Trindade é muito fácil de encontrar entre as varias dezenas de serviços bíblico-litúrgicos oferecidos atualmente pela internet, nós, fiéis a nosso “carisma”, vamos completar os enfoques tradicionais com algumas perspectivas críticas para as comunidades que não querem simplesmente repetir o de sempre, mas reformular o seu conteúdo.
A reflexão
teológica poderia centrar-se na própria “Trindade”, ou seja, “o fato de que
Deus seja três pessoas”, e a relação da trindade com o monoteísmo. Vejamos:
Jesus era e sempre
foi judeu e, como tal, foi absoluta e zelosamente monoteísta. Jesus nunca falou
de, nem sequer pode pensar em uma “Trindade” de pessoas em Deus, o que lhe
teria soado praticamente uma blasfêmia. Para Jesus, Deus é uno e somente uno e
nada mais que uno.
Isto quer dizer
algo que muitos cristãos não sabem, e que alguns estranham quando o sabem: que
a doutrina da Trindade não é do tempo de Jesus, mas muito posterior. De fato se
atribui ao Concilio de Nicéia (325) sua primeira formulação definitiva. Isto
quer dizer também que os evangelhos não nos podem falar da trindade diretamente
tal como nós a conhecemos e que essas frases citadas – como a do evangelho
deste domingo, são inclusões posteriores.
Se a doutrina da
Trindade é uma elaboração dos primeiros séculos da Igreja, que somente no
século IV começaram a adquirir uma formulação que logo ficaria consagrada
oficialmente, isto significa que existe aí um componente de
construção teológica, portanto, de “construção humana”. Na forma simplificada,
fala-se que Jesus veio do céu para revelar este mistério.
Outro filão
importante deste bloco temático é a tremenda marca deixada pela filosofia grega
que a doutrina da Trindade transpira: pessoa, substancia, natureza,
hipóstase... De alguma maneira, a doutrina da Trindade é a resposta que o
cristianismo daquele momento histórico deu a uma sociedade imbuída de filosofia
grega; como o cristianismo da época tratava de dialogar diante da pergunta pelo
Deus no qual acreditava essa religião recém saída das catacumbas e lutava por
conseguir um posto reconhecido na sociedade. Não cabe dúvida de que a doutrina
da Trindade é um modelo exemplar do que é a “inculturação” de uma religião em
uma cultura alheia. O judeu-cristianismo, que não sabia nada daquelas
categorias filosóficas helênicas, acabou expressando-se, reformulando-se a si
mesmo em uma linguagem que nada tinha que ver com a linguagem bíblica
neotestamentaria. Esta “inculturação” freqüentemente foi colocada como “modelo”
do que deveria ser a inculturação da fé cristã em outras culturas. É a
“helenização do cristianismo”, tão exemplar por uma parte, como nefasta por
outra.
O problema é que
aquela filosofia grega hoje somente só é encontrada nos livros de historia; na
vida real, ninguém usa mais os princípios daquela filosofia para responder às
perguntas atuais. Enquanto o mundo e a cultura deixaram de crer na filosofia
grega, a Igreja continua formulando em base nela suas doutrinas e bem como suas
fórmulas oficiais. Mais ainda, como intocáveis e ininterpretáveis em não poucos
casos como (um exemplo distinto ao da Trindade; a “transubstanciação”, que é
“hilemorfismo” aristotélico, pura filosofia grega, que ninguém usa para
compreender cosmologicamente a realidade) ... Daí que um elemento central da
eucaristia se torne ininteligível para todo cristão de hoje que não partilhe
essa filosofia de 25 séculos de idade. No último diálogo teológico que houve a
respeito, os censores romanos descartaram qualquer outra explicação – foram
apresentadas várias e muito boas – e decidiram que somente a explicação da
“transubstanciação” era reconhecida oficialmente como correta. Desde então não
houve mais diálogo teológico e pastoral a respeito do tema. O assunto foi
colocado no arquivo e guardado.
Um outro elemento,
o conceito de “pessoa” = “persona”. Trata-se de um conceito também grego e mais
amplamente ocidental, porém que não é universal. Em toda sua concreta riqueza
cultural se torna intraduzível em outras culturas, nas quais essa categoria não
se enquadra exatamente. Porém, para os ocidentais nos parece a categoria
suprema, como “o máximo” que poderíamos atribuir a Deus e também como um mínimo
que poderíamos deixar de atribuir-lhe. Assim, frente ao hinduísmo, ao budismo,
à espiritualidade “não dual”... a muitos cristãos é impossível aceitar uma
ideia de um Deus menos “pessoal”... Porém, se pensarmos bem, Deus não é
pessoa... Chamá-lo assim não deixa de ser um “antropocentrismo”. Não deveríamos
estar tão seguros ou certos de que “pessoa” seja uma categoria bem aplicada a
Deus, um conceito que “lhe caia bem”... Não há nenhuma palavra na qual Deus
tenha cabida ... e tampouco cabe na palavra pessoa. Mais que “pessoal”, pode
ser que tivéssemos que dizer que Deus é transpessoal, suprapessoal...
Um último elemento
de reflexão a respeito da teologia trinitária é a freqüência com que os
cristãos entendemos mal a doutrina oficial da Trindade. Na prática, muitos
cristãos guardam em sua espiritualidade a imagem de “três pessoas como três
deuses”, apesar da proclamação meramente verbal da unicidade de Deus...
Transcrevemos abaixo algumas cautelas que Schillebeeckx expressou a respeito.
Teria um outro tema a revisar, ainda sob o prisma da Trindade, e seria o
tema do “teísmo”. Falamos de Deus com muita facilidade, como se soubéssemos o
que dizemos e como se nessa palavra coubesse Deus, com o seu exato calibre...
Não é tema para desenvolver agora, porém pode ser bom apontá-lo: “Deus tampouco
é deus”, não é theos, não se ajusta o
conceito... Nos últimos séculos, muitos homens e mulheres não agüentaram o mal
que se sentiam diante dessa crença de identificar o Mistério da Realidade como theos, essa forma de crer que o chama de
“Deus” e tiveram que optar pelo “a-teísmo”para não se sentirem asfixiados. Hoje,
a estas alturas dos tempos, certamente muitas pessoas sabem que o “teísmo” não
é senão um “modelo”, uma forma de modelar mentalmente esse Mistério da
Realidade para a sua compreensão. E por esse mesmo motivo sabemos que não se
deve dar mais importância do que considerá-lo simplesmente um modelo. A
alternativa já não é teísmo/ateísmo. Agora conhecemos a possibilidade do
pós-teísmo.... Podemos continuar crendo no Mistério da realidade, em tudo
aquilo que os nossos avós e antepassados modelaram na categoria theos, Deus, sabendo que não é senão um
modelo e deixando tudo isso de lado se não nos serve. Se aquelas crenças não
podem ser assumidas, enquanto crenças, enquanto modelos úteis. Hoje podemos ser
igualmente espirituais e inclusive concretamente cristãos, sem ter que ser
teístas ou ateus, mas “pós-teístas”. O tema seria longo... Recomendamos, para
os interessados, o livro de John S. Spong, “Um cristianismo novo para o um mundo novo”, coleção “Tempo
Axial”.
Concluímos com a
lembrança das CEBs brasileiras: “A Trindade é a melhor Comunidade”.
Como conclusão,
queremos recordar aquele lema que as Comunidades Eclesiais de Base brasileiras
cunharam há unos 20 anos: «A Trindade é a melhor Comunidade”.
Transcrevemos estas
citações do livro de Schillebeeckx, “Sou um teólogo feliz” (Sociedad de
educación, Atenas, Madri 1994).
“Para mim, a
Trindade é o modo de Deus ser pessoa. Todas as exigências do dogma as admito
sem correr o risco de falar de três pessoas, de uma espécie de família e, de
fato, de um triteísmo, que é bastante popular na fé cristã”.
“Realmente não
compreendo a especulação sobre a Trindade. Respeito as especulações de Santo
Tomás, por exemplo, porém não dizem nada à minha espiritualidade. Especula-se
demais sobre a Trindade. Onde está a utilidade para a fé de todas estas
especulações?
Deus é Trindade
(isto é dogma!), porém não é três pessoas. Seria triteísmo. Não escrevi nunca
sobre este tema porque tenho medo. Não quero fazer especulações. Há uma
Trindade na natureza pessoal de Deus. Sou, portanto, muito modesto, quase
agnóstico com relação a uma teologia trinitária. Confesso a Trindade, porém é
necessário ter uma espécie de reticência a respeito da racionalização das
relações das três pessoas.
Não sou contra as especulações, porém não vejo em que possam acrescentar
algo em minha vida espiritual. Diria que não acrescentam nada.
Oração
Ó Deus trindade, “a melhor comunidade”, mistério eterno, insondável, do qual apenas podemos balbuciar uma longínqua aproximação. Aviva em nós a tua vida, a que criaste e depositaste em cada uma de tuas criaturas, para que nos sintamos convocados a acrescentar a Vida, envolvidos por essa corrente original e eterna de vida em comunhão contigo mesmo: Trindade santa, Pai, Filho e Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.
Oração
Ó Deus trindade, “a melhor comunidade”, mistério eterno, insondável, do qual apenas podemos balbuciar uma longínqua aproximação. Aviva em nós a tua vida, a que criaste e depositaste em cada uma de tuas criaturas, para que nos sintamos convocados a acrescentar a Vida, envolvidos por essa corrente original e eterna de vida em comunhão contigo mesmo: Trindade santa, Pai, Filho e Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.
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