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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Batizai-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.– Missionários Claretianos





Domingo, 3 de junho de 2012
Santíssima Trindade (Solenidade)

Santos do Dia: São Carlos Lwanga e Companheiros, Mártires (Memória). Alberto de Como (monge, bispo), Cecílio de Cartago (presbítero), Clotilde da França (rainha, viúva), Davino de Lucca (peregrino), Genésio de Clermont (bispo), Hilário de Carcassone (bispo), Isaac de Córdoba (mártir), João Maria Muzéï (mártir da Uganda), Libardo de Orléans (abade), Luciliano e quatro filhos: Cláudio, Hipácio, Paulo e Dionísio (mártires de Constantinopla), Morando de Cluny (monge), Oliva de Anagni (virgem), Paula de Nicomédia (virgem, mártir), Pergentino e Laurentino (mártires de Arezzo), Urbício de Meung (abade).

Primeira leituraDeuteronômio 4,32-34.39-40
O Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e não há outro além dele. 
Salmo responsorial: 32, 4-6.9.18-20.22
Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança.
Segunda leitura: Romanos 8,14-17
Recebestes um espírito de filhos, no qual todos nós clamamos: Abbá, ó Pai! 
Evangelho: Mateus 28,16-20
Batizai-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.

Conscientes de que o material teológico para uma pregação tradicional sobre a Trindade é muito fácil de encontrar entre as varias dezenas de serviços bíblico-litúrgicos oferecidos atualmente pela internet, nós, fiéis a nosso “carisma”, vamos completar os enfoques tradicionais com algumas perspectivas críticas para as comunidades que não querem simplesmente repetir o de sempre, mas reformular o
 seu conteúdo.
A reflexão teológica poderia centrar-se na própria “Trindade”, ou seja, “o fato de que Deus seja três pessoas”, e a relação da trindade com o monoteísmo. Vejamos:
Jesus era e sempre foi judeu e, como tal, foi absoluta e zelosamente monoteísta. Jesus nunca falou de, nem sequer pode pensar em uma “Trindade” de pessoas em Deus, o que lhe teria soado praticamente uma blasfêmia. Para Jesus, Deus é uno e somente uno e nada mais que uno.
Isto quer dizer algo que muitos cristãos não sabem, e que alguns estranham quando o sabem: que a doutrina da Trindade não é do tempo de Jesus, mas muito posterior. De fato se atribui ao Concilio de Nicéia (325) sua primeira formulação definitiva. Isto quer dizer também que os evangelhos não nos podem falar da trindade diretamente tal como nós a conhecemos e que essas frases citadas – como a do evangelho deste domingo, são inclusões posteriores.
Se a doutrina da Trindade é uma elaboração dos primeiros séculos da Igreja, que somente no século IV começaram a adquirir uma formulação que logo ficaria consagrada oficialmente, isto significa que existe aí um componente de construção teológica, portanto, de “construção humana”. Na forma simplificada, fala-se que Jesus veio do céu para revelar este mistério.
Outro filão importante deste bloco temático é a tremenda marca deixada pela filosofia grega que a doutrina da Trindade transpira: pessoa, substancia, natureza, hipóstase... De alguma maneira, a doutrina da Trindade é a resposta que o cristianismo daquele momento histórico deu a uma sociedade imbuída de filosofia grega; como o cristianismo da época tratava de dialogar diante da pergunta pelo Deus no qual acreditava essa religião recém saída das catacumbas e lutava por conseguir um posto reconhecido na sociedade. Não cabe dúvida de que a doutrina da Trindade é um modelo exemplar do que é a “inculturação” de uma religião em uma cultura alheia. O judeu-cristianismo, que não sabia nada daquelas categorias filosóficas helênicas, acabou expressando-se, reformulando-se a si mesmo em uma linguagem que nada tinha que ver com a linguagem bíblica neotestamentaria. Esta “inculturação” freqüentemente foi colocada como “modelo” do que deveria ser a inculturação da fé cristã em outras culturas. É a “helenização do cristianismo”, tão exemplar por uma parte, como nefasta por outra.
O problema é que aquela filosofia grega hoje somente só é encontrada nos livros de historia; na vida real, ninguém usa mais os princípios daquela filosofia para responder às perguntas atuais. Enquanto o mundo e a cultura deixaram de crer na filosofia grega, a Igreja continua formulando em base nela suas doutrinas e bem como suas fórmulas oficiais. Mais ainda, como intocáveis e ininterpretáveis em não poucos casos como (um exemplo distinto ao da Trindade; a “transubstanciação”, que é “hilemorfismo” aristotélico, pura filosofia grega, que ninguém usa para compreender cosmologicamente a realidade) ... Daí que um elemento central da eucaristia se torne ininteligível para todo cristão de hoje que não partilhe essa filosofia de 25 séculos de idade. No último diálogo teológico que houve a respeito, os censores romanos descartaram qualquer outra explicação – foram apresentadas várias e muito boas – e decidiram que somente a explicação da “transubstanciação” era reconhecida oficialmente como correta. Desde então não houve mais diálogo teológico e pastoral a respeito do tema. O assunto foi colocado no arquivo e guardado.
Um outro elemento, o conceito de “pessoa” = “persona”. Trata-se de um conceito também grego e mais amplamente ocidental, porém que não é universal. Em toda sua concreta riqueza cultural se torna intraduzível em outras culturas, nas quais essa categoria não se enquadra exatamente. Porém, para os ocidentais nos parece a categoria suprema, como “o máximo” que poderíamos atribuir a Deus e também como um mínimo que poderíamos deixar de atribuir-lhe. Assim, frente ao hinduísmo, ao budismo, à espiritualidade “não dual”... a muitos cristãos é impossível aceitar uma ideia de um Deus menos “pessoal”... Porém, se pensarmos bem, Deus não é pessoa... Chamá-lo assim não deixa de ser um “antropocentrismo”. Não deveríamos estar tão seguros ou certos de que “pessoa” seja uma categoria bem aplicada a Deus, um conceito que “lhe caia bem”... Não há nenhuma palavra na qual Deus tenha cabida ... e tampouco cabe na palavra pessoa. Mais que “pessoal”, pode ser que tivéssemos que dizer que Deus é transpessoal, suprapessoal...
Um último elemento de reflexão a respeito da teologia trinitária é a freqüência com que os cristãos entendemos mal a doutrina oficial da Trindade. Na prática, muitos cristãos guardam em sua espiritualidade a imagem de “três pessoas como três deuses”, apesar da proclamação meramente verbal da unicidade de Deus... Transcrevemos abaixo algumas cautelas que Schillebeeckx expressou a respeito.
Teria um outro tema a revisar, ainda sob o prisma da Trindade, e seria o tema do “teísmo”. Falamos de Deus com muita facilidade, como se soubéssemos o que dizemos e como se nessa palavra coubesse Deus, com o seu exato calibre... Não é tema para desenvolver agora, porém pode ser bom apontá-lo: “Deus tampouco é deus”, não é theos, não se ajusta o conceito... Nos últimos séculos, muitos homens e mulheres não agüentaram o mal que se sentiam diante dessa crença de identificar o Mistério da Realidade como theos, essa forma de crer que o chama de “Deus” e tiveram que optar pelo “a-teísmo”para não se sentirem asfixiados. Hoje, a estas alturas dos tempos, certamente muitas pessoas sabem que o “teísmo” não é senão um “modelo”, uma forma de modelar mentalmente esse Mistério da Realidade para a sua compreensão. E por esse mesmo motivo sabemos que não se deve dar mais importância do que considerá-lo simplesmente um modelo. A alternativa já não é teísmo/ateísmo. Agora conhecemos a possibilidade do pós-teísmo.... Podemos continuar crendo no Mistério da realidade, em tudo aquilo que os nossos avós e antepassados modelaram na categoria theos, Deus, sabendo que não é senão um modelo e deixando tudo isso de lado se não nos serve. Se aquelas crenças não podem ser assumidas, enquanto crenças, enquanto modelos úteis. Hoje podemos ser igualmente espirituais e inclusive concretamente cristãos, sem ter que ser teístas ou ateus, mas “pós-teístas”. O tema seria longo... Recomendamos, para os interessados, o livro de John S. Spong, “Um cristianismo novo para o um mundo novo”, coleção “Tempo Axial”.
Concluímos com a lembrança das CEBs brasileiras: “A Trindade é a melhor Comunidade”.
Como conclusão, queremos recordar aquele lema que as Comunidades Eclesiais de Base brasileiras cunharam há unos 20 anos: «A Trindade é a melhor Comunidade”.
Transcrevemos estas citações do livro de Schillebeeckx, “Sou um teólogo feliz” (Sociedad de educación, Atenas, Madri 1994).
“Para mim, a Trindade é o modo de Deus ser pessoa. Todas as exigências do dogma as admito sem correr o risco de falar de três pessoas, de uma espécie de família e, de fato, de um triteísmo, que é bastante popular na fé cristã”.
“Realmente não compreendo a especulação sobre a Trindade. Respeito as especulações de Santo Tomás, por exemplo, porém não dizem nada à minha espiritualidade. Especula-se demais sobre a Trindade. Onde está a utilidade para a fé de todas estas especulações?
Deus é Trindade (isto é dogma!), porém não é três pessoas. Seria triteísmo. Não escrevi nunca sobre este tema porque tenho medo. Não quero fazer especulações. Há uma Trindade na natureza pessoal de Deus. Sou, portanto, muito modesto, quase agnóstico com relação a uma teologia trinitária. Confesso a Trindade, porém é necessário ter uma espécie de reticência a respeito da racionalização das relações das três pessoas.
Não sou contra as especulações, porém não vejo em que possam acrescentar algo em minha vida espiritual. Diria que não acrescentam nada.

Oração
Ó Deus trindade, “a melhor comunidade”, mistério eterno, insondável, do qual apenas podemos balbuciar uma longínqua aproximação. Aviva em nós a tua vida, a que criaste e depositaste em cada uma de tuas criaturas, para que nos sintamos convocados a acrescentar a Vida, envolvidos por essa corrente original e eterna de vida em comunhão contigo mesmo: Trindade santa, Pai, Filho e Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.

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