Conversão de S. Paulo
25 Janeiro 2021
Saulo, cidadão romano por privilégio da
sua cidade natal, Tarso, era um judeu convicto, formado na escola de Gamaliel,
em Jerusalém. Opôs-se decididamente à nova fé que começava a propagar-se na
Palestina e arredores. Clamou pela morte de Estêvão, e tomou parte nela,
guardando as capas dos que apedrejavam o protomártir. Perseguiu violentamente
os crentes em Jesus Cristo. O seu nome causava terror nas comunidades cristãs.
Ao dirigir-se para Damasco para prender os cristãos que lá encontrasse e
conduzi-los a Jerusalém, encontrou Jesus ressuscitado. Esse encontro mudou-lhe
para sempre a vida, com a sua forma de crer e de pensar. Jesus ressuscitado,
que ele perseguia, tornou-se o centro da sua espiritualidade e da sua teologia.
Em Antioquia, Saulo faz a sua primeira experiência de vida cristã. Tornado
apóstolo do Evangelho, com o nome de Paulo, Antioquia será também o ponto de
partida para as suas viagens missionárias. Funda diversas comunidades na Ásia e
na Europa. Escreve-lhes cartas que testemunham o seu amor a Jesus Cristo e à
Igreja, e nos dão elementos importantes da sua teologia. Como apóstolo
verdadeiro e autêntico, Paulo tem sempre o cuidado de voltar a Jerusalém para
se confrontar com os outros apóstolos e não correr em vão.
Há muitos séculos que a festa da
conversão de S. Paulo foi fixada no dia 25 de Janeiro, talvez por causa da data
da transladação do seu corpo, que atualmente repousa na Basílica de S. Paulo
Fora dos Muros, em Roma.
Lectio
Primeira Leitura: Act 22, 3-16
Naqueles dias, Paulo disse ao povo:
"Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui educado nesta cidade,
instruído aos pés de Gamaliel, em todo o rigor da Lei dos nossos pais e cheio
de zelo pelas coisas de Deus, como todos vós sois agora. 4Persegui de morte
esta «Via», algemando e entregando à prisão homens e mulheres, 5como o podem
testemunhar o Sumo Sacerdote e todos os anciãos. Recebi até, da parte deles,
cartas para os irmãos de Damasco, onde ia para prender os que lá se
encontrassem e trazê-los agrilhoados a Jerusalém, a fim de serem castigados.
6Ia a caminho, e já próximo de Damasco, quando, por volta do meio dia, uma
intensa luz, vinda do Céu, me rodeou com a sua claridade. 7Caí por terra e ouvi
uma voz que me dizia: 'Saulo, Saulo, porque me persegues?' 8Respondi: 'Quem és
Tu, Senhor?' Ele disse-me, então: 'Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu
persegues.' 9Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz de quem me
falava. 10E prossegui: 'Que hei-de fazer, Senhor?' O Senhor respondeu-me:
'Ergue-te, vai a Damasco, e lá te dirão o que se determinou que fizesses.'
11Mas, como eu não via, devido ao brilho daquela luz, fui levado pela mão dos
meus companheiros e cheguei a Damasco. 12Ora um certo Ananias, homem piedoso e cumpridor
da Lei, muito respeitado por todos os judeus da cidade, 13foi procurar-me e
disse: 'Saulo, meu irmão, recupera a vista.' E, no mesmo instante, comecei a
vê-lo. 14Ele prosseguiu: 'O Deus dos nossos pais predestinou-te para conheceres
a sua vontade, para veres o Justo e para ouvires as palavras da sua boca,
15porque serás testemunha diante de todos os homens, acerca do que viste e
ouviste. 16E agora, porque esperas? Levanta-te, recebe o batismo e purifica-te
dos teus pecados, invocando o seu nome.
Este é um dos três relatos com que Lucas
enriquece a história da primitiva comunidade cristã. Sem se preocupar com o
rigor histórico, - alguns pormenores são mesmo improváveis -, o autor do livros
dos Atos pretende personificar em Paulo a justificação do cristianismo e a
falta de razão do judaísmo.
O evento de Damasco articula-se em três momentos: um diálogo de reconhecimento
mútuo entre Jesus Ressuscitado e Saulo de Tarso; a conversão de Saulo revelada
na pergunta: "Que hei de fazer, Senhor?"; a missão: quem conheceu a
vontade de Deus e viu o Justo recebendo a palavra da sua boca, torna-se
testemunha do que viu e ouviu. Doravante, para Paulo, a única forma de vida é
ser missionário.
Evangelho: Marcos 16, 15-18
Naquele tempo, Jesus apareceu aos Onze e
disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura.
16Quem acreditar e for batizado será salvo; mas, quem não acreditar será
condenado. 17Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em meu nome
expulsarão demónios, falarão línguas novas, 18apanharão serpentes com as mãos
e, se beberem algum veneno mortal, não sofrerão nenhum mal; hão de impor as
mãos aos doentes e eles ficarão curados.»
Paulo não pertenceu ao grupo dos Doze.
Mas a Liturgia aplica-lhe também as palavras de Jesus aos Doze, no momento em
que subia ao céu: "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a
criatura" (v. 15). Paulo, depois da sua experiência de fé e de comunidade,
torna-se verdadeiro apóstolo de Jesus. Desde sempre a Igreja entendeu que o
mandato missionário do Ressuscitado se dirigia também a ele. Paulo submete-se e
obedece.
Deus quer salvar a humanidade com a colaboração da própria humanidade. Jesus
precisa de missionários-testemunhas. A salvação é fruto da pregação e
realiza-se pelo ato de fé de quem a escuta: "Quem acreditar e for batizado
será salvo" (v. 16). Deus, que nos criou sem nós, não nos salva sem a
nossa colaboração.
Os sinais e prodígios que acompanham a pregação dos apóstolos manifestam a
presença consoladora de Deus no meio de nós.
Meditatio
Em S. Paulo revela-se verdadeiramente o
poder de Deus. Inimigo acérrimo do nome de Cristo, Saulo encontra-se com o
Senhor no caminho de Damasco, acolhe-o na fé e torna-se seu Apóstolo
entusiasta, com uma fecundidade extraordinária, que ainda não terminou. O seu
itinerário de fé é símbolo do nosso.
Acreditar implica, antes de mais, encontrar pessoalmente Jesus de Nazaré, Deus
feito homem. O cristão não se acredita numa doutrina, num sistema, mas numa
pessoa, a pessoa humano-divina de Jesus. Ter fé é aderir vitalmente a Jesus, de
tal modo que já não se pode viver sem Ele.
Realizado o encontro, passa-se ao diálogo, uma vez que a fé é encontro e adesão
entre pessoas inteligentes e livres. A quem se dispõe ao diálogo, Deus revela a
Si mesmo, revela a sua vontade e os seus projetos. Este diálogo vital leva
aqueles que o realizam a uma forma de vida cada vez mais elevada.
Mas a fé cristã também é obediência, submissão, abandono total da criatura ao
Criador. Obedecer não significa abdicar da própria liberdade ou dos próprios
direitos. Significa, sim, perceber a imensa distância que existe entre si o
interlocutor e, ao mesmo tempo, intuir que a adesão à vontade divina leva à
total satisfação e realização de si mesmo.
Finalmente, a fé cristã é também missão. Não se pode privatizar um bem que, por
sua natureza, é comunitário. Quem recebeu de Cristo o dom da salvação em
Cristo, sente-se intimamente obrigado a fazer dele um dom para os outros.
O Apóstolo Paulo é nosso guia em tempos de aprofundamento espiritual e de
renovação apostólica. Como ele, o apóstolo dos tempos novos deve procurar, em
primeiro lugar, a inteligência do Mistério de Cristo num apego inquebrantável
ao seu Amor (cf. Ef 3, 4; Rm 8, 35; Fl 3, 8-10). É apóstolo, em primeiro lugar,
pelo testemunho da visão de Cristo (At 26, 1) e tornando-se no Espírito imagem
viva do Salvador morto e ressuscitado. É a caridade do Senhor que vive nele e
que o impele em direção aos homens para lhes anunciar o Evangelho de Deus, o
Evangelho que todos podem ler na sua vida e nos seus escritos. Ensina-nos o
serviço ardente e inteligente em favor do Reino. Vivendo de Cristo, a ponto de
ser identificado com Ele pela graça (Gl 2, 20), lembra-nos que o serviço
apostólico enraíza numa verdadeira consagração a Deus e dá à nossa oblação
capacidade para se manifestar e aprofundar no trabalho generoso para que a
humanidade se torne «uma oblação agradável santificada pelo Espírito Santo (XV
Capítulo Geral, DOC VII, n. 167).
Oratio
Apóstolo S. Paulo, na tua juventude,
deixaste-te levar por um zelo ardente mas errado em favor da unidade do povo de
Deus. Por isso, perseguiste duramente os cristãos. Deus converteu-te e
introduziu-te na Igreja, Corpo de Cristo, onde deve integrar-se quem quiser
viver na verdadeira fé. Mas a tua adesão a Cristo e a tua integração na Igreja
não te fizerem esquecer o teu povo, pelo qual sentias uma dor profunda e
permanente. Que a minha alegria de estar em Cristo não me faça esquecer a
situação do antigo Povo de Deus, nem a dos cristãos divididos, que tardam em chegar
à unidade que Deus quer. Ámen.
Contemplatio
S. Paulo recolhe-se alguns dias, depois
começa a pregar a divindade de Jesus Cristo. Será um dos mais poderosos
apóstolos pela palavra e pelo sofrimento. «Escolhi-o, dizia Nosso Senhor, para
levar o meu nome diante das nações e dos reis e dos filhos de Israel, e hei de
mostrar-lhe quanto terá de sofrer pelo meu nome». A sua conversão e a sua
vocação são devidas à misericórdia do Coração de Jesus. O Coração de Jesus ama
as almas ardentes, zelosas, dedicadas. Mas a oração de Santo Estêvão contribuiu
para estas grandes graças. Santo Estêvão rezava pelos seus perseguidores, entre
os quais S. Paulo era o mais ardente. Se soubermos rezar e sofrer pelas almas,
obteremos grandes graças, ilustres conversões, vocações poderosas. Ofereçamos
as nossas orações, as nossas cruzes, os nossos sofrimentos ao Coração de Jesus
para que envie à sua Igreja, nestes tempos difíceis, apóstolos poderosos em
palavras e em obras (L. Dehon, OSP 3, p. 90s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a
palavra:
"Que hei de fazer, Senhor?" (At 22, 10).
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
ResponderExcluir