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Setembro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXII Semana - Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: 1 Coríntios 4, 1-5
Irmãos: 1Considerem-nos, pois, servidores de
Cristo e administradores dos mistérios de Deus. 2Ora, o que se requer dos
administradores é que sejam fiéis. 3Quanto a mim, pouco me importa ser julgado
por vós ou por um tribunal humano. Nem eu me julgo a mim mesmo. 4De nada me
acusa a consciência, mas nem por isso me dou por justificado; quem me julga é o
Senhor. 5Por conseguinte, não julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor.
Ele é quem há-de iluminar o que se esconde nas trevas e desvendar os desígnios dos
corações. E então cada um receberá de Deus o louvor que merece.
Na comunidade de Corinto, havia alguns que
contestavam a autoridade de Paulo. O Apóstolo começa por afirmar: somos
"servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus"; nada
mais. Estas palavras lembram-nos o que Jesus disse: «Quando tiverdes feito tudo
o que vos foi ordenado, dizei: 'Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos
fazer'» (Lc 17, 10). Fica assim realçada a identidade do Apóstolo, em relação a
Cristo que o chamou.
Também somos «administradores dos mistérios de Deus», isto é, ecónomos, porque
responsáveis por aquela economia que vê actuar a Deus que dispensa os seus
ministérios, mas também os apóstolos que são chamados a dar o que receberam.
Este segundo aspecto caracteriza o ministério apostólico em relação com os
fiéis, que têm direito a receber aquilo que Deus, por meio dos seus ministros,
dispensa generosamente. Aos servos-administradores requerer-se que sejam fiéis
ao Senhor e ao serviço que lhes é confiado. Paulo sente-se submetido ao juízo
de todos; mas sente-se livre. Mas também se sente objecto do juízo de Deus a
Quem se rendeu de uma vez para sempre. E, sendo assim, não se sente livre, mas
obrigado a cumprir a sua missão.
Evangelho: Lucas 5, 33-39
Naquele tempo, os fariseus e os escribas
33disseram a Jesus: «Os discípulos de João jejuam frequentemente e recitam
orações; o mesmo fazem também os dos fariseus. Os teus, porém, comem e bebem!»
34Jesus respondeu-lhes: «Podeis vós fazer jejuar os companheiros do esposo,
enquanto o esposo está com eles? 35Virão dias em que o Esposo lhes será tirado;
então, nesses dias, hão-de jejuar.» 36Disse-lhes também esta parábola: «Ninguém
recorta um bocado de roupa nova para o deitar em roupa velha; aliás, irá
estragar-se a roupa nova, e também à roupa velha não se ajustará bem o remendo
que vem da nova. 37E ninguém deita vinho novo em odres velhos; se o fizer, o
vinho novo rompe os odres e derrama-se, e os odres ficarão perdidos. 38Mas deve
deitar-se vinho novo em odres novos. 39E ninguém, depois de ter bebido o velho,
quer do novo, pois diz: 'o velho é que é bom!'».
A partir de hoje, a liturgia apresenta-nos
três polémicas de Jesus com os discípulos de João Baptista: uma sobre a prática
do jejum e duas sobre a observância do sábado.
A esmola, a oração e o jejum são três compromissos indeclináveis para os
discípulos de Cristo (cf. Mt 6, 1-18). Mas o que preocupa a Jesus é o modo como
os seus discípulos praticam a esmola, a oração e o jejum. Esta página realça o
espírito com que deve ser praticado o jejum. A alegoria esponsal leva-nos a
considerar Jesus como "o esposo", cuja presença é motivo de alegria e
cuja ausência será motivo de tristeza. A espiritualidade cristã não pode deixar
de dar atenção a estas expressões muito pessoais que podem configurar uma
relação, não só de filhos com o pai, mas também da esposa com o esposo. O
Antigo Testamento desenvolve muito esta alegoria esponsal para iluminar as
relações de Israel com o seu Senhor e a relação de cada crente com Deus.
Este texto distingue também os tempos de Jesus dos tempos da Igreja. A Igreja é
representada pelos convidados que participam da alegria do esposo; mas algumas
vezes é apresentada na imagem da esposa, ou do amigo do esposo que lhe está
próximo e a escuta (cf. Jo 25, 30).
Meditatio
A filosofia grega procurava, sobretudo,
explicar o Universo. A Bíblia, pelo contrário, ensina-nos a estar atentos às
pessoas e às relações interpessoais. A filosofia grega distinguia os quatro
elementos: o ar, a água, o fogo e a terra. A Bíblia, pelo contrário, ensina-nos
a entrar em contacto com o Ser pessoal que criou a matéria: Deus. As leituras
de hoje mostram que Jesus e, depois d´Ele, os apóstolos confirmaram e
aprofundaram essa orientação.
É sempre útil reflectir sobre a novidade trazida por Cristo e testemunhada pelo
Evangelho. A parábola de Lucas sobre a roupa nova e o vinho novo evidencia essa
novidade. Tomemos nota, em primeiro lugar, do estilo paradoxal com que Lucas
narra a primeira parábola. Não fala simplesmente de um pedaço de pano a coser
em roupa velha. Fala, sim, do gesto de alguém que «recor¬ta um bocado de roupa
nova para o deitar em roupa velha». É evidente que Lucas quer estigmatizar a
atitude daqueles que, recusando a novidade do Evangelho, acabam por arruinar o
que é novo sem realizar o que é velho.
"Novo" pode entender-se em referência ao Antigo Testamento: neste
caso, o verdadeiro discípulo de Jesus, desde o princípio entende da sua
experiência de fé intui que apalavra de Jesus chega como cumprimento das
profecias e que a adesão de fé a Jesus o põe na linha de todos quantos, antes
de Jesus Cristo, se abriram à escuta da Palavra de Deus e se deixaram guiar
pelos profetas.
"Novo" pode entender-se em referência aos mestres alternativos que
faziam prosélitos por todos os meios, no tempo de Jesus; neste caso, os
apóstolos e os discípulos encontraram-se na situação de ter que fazer opções
drásticas (cfr. Jo 6, 60-69) para não se deixarem hipnotizar pelos falsos
mestres e por guias cegas e hipócritas (cfr. Mt 23, 15-17).
"Novo", finalmente, pode entender-se em referência a algumas atitudes
que caracterizam a vida dos discípulos de Jesus antes do seu encontro com o
Mestre: neste caso, o discípulo de Jesus adverte a necessidade de deixar-se
agarrar, de se abandonar para receber, de perder para encontrar.
Para aqueles que são chamados à vida religiosa, a profissão dos conselhos
evangélicos é um sinal «que manifesta a todos os crentes os benefícios
celestiais...; testemunha a vida nova e eterna...; preanuncia a futura
ressurreição e a glória do Reino celeste... O estado religioso representa na
Igreja a forma de vida que o Filho de Deus abraçou...; manifesta a elevação do
Reino de Deus acima de todas as coisas terrestres...; demonstra... o infinito
poder do Espírito Santo, admiravelmente operante na Igreja» (Cf. Lumen Gentium,
44).
As nossas Constituições dizem que somos "disc&iac
ute;pulos do Padre Dehon..." (n. 17). Mas há que esclarecer:
"Discípulos", por meio do P. Dehon, de Cristo, porque o único Mestre
é sempre e somente Ele: "Um só é o vosso mestre e todos vós sois
irmãos" (Mt 23, 8). Todavia, o P. Dehon é sempre nosso modelo. A sua
experiência de fé, o modo como abandonou tudo, aderiu e se abandonou a Cristo,
tem para nós um valor constitutivo (Cf. Cst nn. 2-5). É ao seu jeito que queremos
seguir a Cristo, o único Mestre.
Oratio
Senhor, arranca-nos do sulco dos nossos
costumes! A tarefa principal da pessoa que quer amadurecer é paradoxalmente
alcançar a inocência de uma criança. Senhor, dá-me uma mente fresca, inocente,
aberta e capaz de conhecimento infinito.
«Ninguém recor¬ta um bocado de roupa nova para o deitar em roupa velha»!
Senhor, dá-me o sentido do bom gosto, que não me fecha no "velho"
mas, ainda que valorizando-o, sabe colher a novidade da graça, sempre dotada de
originalidade e elegância espiritual. Os discípulos de João jejuam. Os teus,
comem e bebem. Ó Senhor, dá-me aquele sentido de equilíbrio que não me amarra a
normas e práticas decaídas e ultrapassadas, mas, por intuições felizes, leva-me
a fazer opções espontâneas e adequadas a todos os tipos de situação. Amen.
Contemplatio
A Bem Aventurada Margarida Maria mantinha-se
diante de Nosso Senhor como uma tela vazia, tela muito branca, muito bela, bem
purificada neste purgatório de amor. Sobre esta tela, Nosso Senhor como um
hábil pintor, desenhava a imagem do seu Coração. Não era uma pintura morta, mas
uma imagem viva que produzia os traços do divino Mestre; esta alma, iluminada e
purificada pelo Coração de Jesus, era tão semelhante ao seu adorável modelo,
que realizava esta unidade mística que é o último limite de união com o Coração
de Jesus. Nós também, estejamos diante de Nosso Senhor como uma tela bem branca
onde ele há-de imprimir o selo do seu Coração; ele nos há-de purificar,
iluminar, nos há-de elevar enfim a este união perfeita na qual não fazemos mais
do que um só com ele. Então havemos de poder dizer com S. Paulo: «Vivo, non
ego, vivit vero in me Christus. - Já não sou eu, mas Jesus Cristo, o seu
Coração quem vive em mim» (Gal 2, 20). Permaneçamos, portanto, aos pés de Nosso
Senhor com um olhar de ternura, com um esforço de amor, na amargura das nossas
faltas e na alegria do perdão, sob um raio de luz e de bênção (Leão Dehon, OSP
2, p. 187).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus.» (1 Cor 4, 1).
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
ResponderExcluirDEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.