Terça-feira – 2ª Semana da Quaresma
14 Março 2017
Lectio
Primeira leitura: Isaías 1, 10.16-20
Primeira leitura: Isaías 1, 10.16-20
10*Ouvi a palavra do Senhor, ó príncipes de
Sodoma; escuta a lição do nosso Deus, povo de Gomorra: 16 Lavai-vos,
purificai-vos, tirai da frente dos meus olhos a malícia das vossas acções.
Cessai de fazer o mal, 17*aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo,
socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas. 18 Vinde
agora, entendamo-nos -diz o Senhor. Mesmo que os vossos pecados sejam como
escarlate, tomer-se-êo brancos como a neve. Mesmo que sejam vermelhos como a
púrpura, ficarão brancos como a lã. 19Se fordes dóceis e obedientes, comereis
os bens da terra; 20 se recusardes, se vos revoltardes, sereis devorados pela espada.
É o Senhor quem o declara.»
o capítulo primeiro de Isaías anuncia, de certo
modo, a temática que irá ser desenvolvida nos seguintes capítulos: o amor fiel
de Deus a que o povo responde com a infidelidade (w. 2-9); essa infidelidade
atrai o castigo divino; mas não há culpa que a misericórdia de Deus não possa
perdoar; um pequeno "resto" será salvo, e será raiz de vida nova.
Hoje escutamos um ensinamento profético contra o
ritualismo, no quadro de uma demanda judicial (w. 10.19s.). A referência a Sodoma
e Gomorra estabelece a ligação ao oráculo sobre a infidelidade dos chefes de
Judá e de Jerusalém (w. 4-9), e de todo o povo de Israel, que atrai um castigo
semelhante ao das duas cidades tristemente célebres (cf. Gen 19; Dt 29, 22;
32,32).
Sem fidelidade à Lei divina, a oração é ineficaz
e o culto é inútil, e mesmo perverso. Mas, apesar da sua infidelidade, Israel
continua a ser o destinatário da Palavra de vida, e dons de Deus são
irrevogáveis. Por isso, o profeta insiste na necessidade de mudança, para
acolher o perdão oferecido por Deus. Ainda é possível escolher entre a bênção e
a maldição (w. 19.20).
Evangelho: Mateus 23, 1-12
Naquele tempo, 1Jesus falou assim à multidão e
aos seus discípulos: 2*«Os doutores da Lei e os fariseus instalaram-se na cátedra
de Moisés. 3Fazei, pois, e observai tudo o que eles disserem, mas não imiteis
as suas obras, pois eles dizem e não fazem. 4*Atam fardos pesados e
insuportáveis e colocam-nos aos ombros dos outros, mas eles não põem nem um
dedo para os deslocar. 5*Tudo o que fazem é com o fim de se tornarem notados
pelos homens. Por isso, alargam as filactérias e alongam as orlas dos seus
mantos. 6Gostam de ocupar o primeiro lugar nos banquetes e os primeiros
assentos nas sinagogas. 7Gostam das saudações nas praças públicas e de serem
chamados ‘Mestres’ pelos homens. 8*Quanto a vós, não vos deixeis tratar por
‘Mestres; pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. 9E, na terra, a
ninguém chameis ‘Pai; porque um só é o vosso ‘Pai; aquele que está no Céu.
10Nem permitais que vos tratem por ‘doutores; porque um só é o vosso ‘Doutor;
Cristo. 11 *0 maior de entre vós será o vosso servo. 12Quem se exaltar será
humilhado e quem se humilhar será exaltado.
Jesus, depois dos debates no templo, dirige-se à
multidão e aos discípulos para continuar a diatribe com os escribas e fariseus.
Desmascara-lhes a incoerência (vv. 2- 4), a ostentação e vanglória (vv. 5-7), e
dirige-lhes os sete «Ai de vós» (vv. 13-36) que desembocarão no sentido lamento
sobre Jerusalém (vv. 37-39). Por outro lado, põe de sobreaviso os discípulos
contra o vício da ambição (vv. 8-10), gangrena da comunidade já nos tempos em
que foram redigidos os evangelhos. O formalismo, a busca de prestígio pessoal,
profanam a religião e tornam-na idolátrica.
A conclusão não pode ser deixar de escutar a
Palavra proclamada por chefes incoerentes, mas usar o discernimento para fazer
o que eles dizem, e não fazer o que fazem. Acima de tudo, há que ter o olhar
bem fixo em Jesus, o verdadeiro Mestre, o fiel intérprete do Pai.
Meditatio
A Igreja faz-nos escutar, hoje, palavras fortes
e reconfortantes: «Mesmo que os vossos pecados sejam como escarlate,
tomsr-se-êo brancos como a neve. (Is 1, 18). Estas palavras caiem como bálsamo
sobre a nossa ingratidão, superficialidade e malícia. Deus, na sua paciente
misericórdia continua disposto a perdoar-nos.
Disse que estas palavras caiem como bálsamo
sobre o nosso coração ferido pelo pecado. A palavra de Deus fala-nos de neve.
Como se torna bela uma paisagem coberta de neve! Mas a palavra de Deus vai mais
longe. Os nossos pecados não são apenas cobertos, do modo que a neve cobre a
terra. A sua misericórdia transforma-os em ocasião de graça, em fonte de amor.
Isaías diz-nos que os nossos pecados, ainda que sejam escarlate, tornar-se-ão
brancos como a neve. É essa a extraordinária maravilha que Deus quer operar em
nós, apagando todas as nossas manchas, mesmo as mais horríveis, com um
«detergente» muito especial, o sangue de Cristo, como nos diz o Apocalipse:
«lavaram as suas vestes no sangue do comem» (7, 14).
O sangue de Cristo, derramado por nosso amor, é
a nossa única garantia de purificação e de salvação. Não é a simples
observância exterior dos preceitos, com que, por vezes, nos gloriamos, em vez
de darmos glória ao Senhor. A nossa vida, o nosso culto, como nos recomenda
Isaías, hão-de ser expressão de que conhecemos o amor de Deus e queremos
corresponder de modo generoso e total à sua fidelidade para connosco. Os
sacrifícios e as ofertas nada valem, se o ouvido e o coração, seduzidos pelo pecado,
estão endurecidos e não reconhecem o amor misericordioso e fiel de Deus para
connosco. Só a Palavra de Deus, escutada pelo ouvido, descida ao coração,
guardada com amor, e praticada com simplicidade, nos torna sensíveis ao amor de
Deus e nos leva a corresponder-lhe com sinceridade de coração.
"De acordo com o apelo premente do Senhor à
conversão, procuramos discernir atentamente o pecado nas nossas vidas; teremos
a peito celebrar frequentemente o seu perdão no sacramento da
reconciliação" (Cst. 79). O sacramento da Reconciliação permite-nos um
muito particular acesso ao precioso sangue de Cristo, que nos lava de todo o
pecado, nos renova interiormente e nos torna capazes de corresponder
adequadamente ao amor fiel e misericordioso do nosso Deus.
Oratio
Senhor Jesus, Cordeiro imolado, eis-nos aqui,
manchados pelas nossas culpas.
Derrama sobre nós o teu sangue imaculado, para
que nos purifique, renove e torne capazes de correspondermos ao teu amor fiel e
misericordioso. Tu que amas a santidade e queres realizá-Ia em nós, lava-nos no
teu sangue precioso e transformanos interiormente. Faz-nos mais brancos do que
a neve. Então, tendo experimentado o teu amor, havemos de corresponder-lhe com
uma vida de oblação generosa e total, no louvor, na acção de graças, no
testemunho, para que todos possam escutar as maravilhas da tua misericórdia e
dispor-se a acolhê-Ias, para também serem transformados. Amen.
Contem
platio
platio
Já no Antigo Testamento, Deus pedia ao seu povo
a prática das obras de misericórdia, como condição do perdão e da salvação.
«Corrigi-vos, dizia em Isaías, purificai os vossos pensamentos e os vossos
corações, deixai de me ofender, mas também aprendei a fazer o bem, sede justos,
socorrei os oprimidos, fazei justiça às viúvas e aos órfãos, e então podeis vir
interpelar-me e reclamar de mim o vosso perdão, e então, mesmo que as vossas
almas fossem amarelas como o açafrão, tornarse-iam brancas como a neve; e se
fossem vermelhas como a púrpura, tornar-se-iam brancas como a lã do cordeiro»
(Is 1, 17).
Em que ponto me encontro nesta virtude fecunda e
redentora? Quais são os meus sentimentos a respeito daqueles que me ofendem ou
me ferem, daqueles que me criticam ou me fazem sofrer? Que piedade tenho no
coração por aqueles que penam e que sofrem? – Quero fazer para mim uma lei da
clemência e da misericórdia. A beneficência é o sinal da aliança com Deus:
Elemosyna viri quasi signaculum cum ipso (Eccli. 17,18).
Ajuda os pequenos e os pobres, diz o sábio, e a
tua esmola rezará por ti diante de Deus e afastará de ti todos os perigos
(Eccli 29, 15). /47
Foi com um Coração enternecido de misericórdia
que o Salvador nos visitou: Per viscera misericordiae in qulbus visitavit nos
oriens ex alto (Lc 1, 77). Sejamos bons para com todos, como Ele foi bom para
connosco.
Resoluções. – Senhor, quero ser bom e
benevolente, e perdoar a todos para que também vós me perdoeis: em que ponto me
encontro neste caminho?
Quero revestir-me de misericórdia a vosso
exemplo como S. Paulo me convida (Coi 3, 12). Misericórdia divina, incarnada no
Sagrado Coração de Jesus, cobri o mundo, expandi-vos sobre nós e fazei reinar a
misericórdia no meu coração (leão Dehon, OSP 4, p. 66s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Os vossos pecados tomer-se-êo brancos como a
neve» (Is 1, 18).
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