Quinta Feira da 1ª Semana do TC 14/01/2016
1ª Leitura 1 Samuel 4, 1-11
Salmo 43/44, 27 b “Livrai-nos, pela vossa misericórdia”
Evangelho Mt 1, 40-45
"SENTIU COMPAIXÃO..."
A nossa compreensão da palavra “compaixão”, nunca
será completa, pois, na Sagrada Escritura, “sentir compaixão” é uma virtude
própria de Deus e na maioria das vezes, esse sentimento pelo próximo, que o
nosso coração define como “compaixão” não passa na verdade de um, gesto de
piedade, que também é um atributo Divino, porem em seu sentido mais amplo, que
o coração humano nunca será capaz de alcançar. O evangelho de hoje nos ajuda a
aprofundar o sentido dessa ação de Jesus, presente em momentos significativos,
quando ele se defronta com a miséria humana, motivando-nos a rever se a estamos
aplicando na relação com o próximo, em seu sentido autenticamente cristão.
Pelo conteúdo normativo de Levíticos, Jesus tinha
mil e uma razões para nem sequer se aproximar de um leproso, que pertencia a
classe dos “irrecuperáveis” daquele tempo, na ótica religiosa. A lepra era
incurável e vista como consequência do pecado e assim, o leproso era
considerado um maldito, que além da dor física, sofria também a dor moral da
exclusão, sendo esta bem mais dolorosa porque o colocava à margem da salvação,
banindo-o do convívio social e da comunidade, além de saber que a sua
condenação no pós morte, era tida como certa e definitiva.
Em uma sociedade marcada pelo ateísmo moderno,
onde a fé é subjetiva e Deus é perfeitamente dispensável, esse quadro não é tão
tenebroso, mas no contexto histórico e religioso daquele tempo, esse desprezo
tinha um peso muito maior, o leproso era tido como um lixo, escória da
sociedade, confinado em acampamentos fora da cidade, tendo que mostrar a sua
desgraça e miséria, mantendo uma aparência monstruosa, e quem se aproximasse
dele e o tocasse, estaria violando os preceitos da lei, tornando-se também um
impuro e tendo de isolar-se, até que pudesse oferecer um sacrifício de
expiação, como prescrevia a lei de Moisés, para só então ser reconhecido como
“purificado”
Podemos então compreender a compaixão Divina,
como uma ação coordenada não por normas legalistas, mas por uma lei nova,
ensinada por Jesus: a Lei do amor, que não revoga a Lei antiga, mas lhe dá
plenitude resgatando o seu sentido verdadeiro, que é a defesa e a preservação
da vida humana. O evangelista Marcos faz questão de mostrar, da parte de Jesus
essa “quebra de protocolo”, quando permite que o leproso se aproxime, é verdade
que este o faz movido pelo desespero, infligindo também as normas do Levítico,
e aqui percebe-se que o leproso é um homem diferente, uma vez que crê muito
mais na misericórdia de Jesus, do que no cumprimento da Lei, determinada por
uma instituição que não tem o poder da cura, mas apenas declara que ele está
“impuro”, ao contrário de Jesus, que permite a aproximação, derrubando assim o
preconceito.
Muito mais do que um simples encontro de Jesus
com um leproso, este versículo sintetiza de forma brilhante o amor e a ternura
de Deus pelo ser humano, permitindo uma reaproximação, após a queda do pecado,
é o Deus que se deixa tocar, que se encarna e assume a natureza humana, com
toda sua miserabilidade, o leproso se prostra diante dele, por uma razão muito
simples: primeiro porque reconhece a sua insignificância, e em segundo porque
não vê outra saída para sua dor, senão a de recorrer àquele que é diferente da
instituição religiosa que o havia condenado, no fundo crê que Jesus de Nazaré é
o seu Salvador e libertador, no sentido de ter o poder de resgatar a sua
dignidade perdida, aquele leproso considerado um maldito, é na verdade alguém
que consegue vislumbrar o verdadeiro messianismo de Jesus, em contradição com o
Poder religioso, que o rejeita, mostrando uma fé madura, pois não pede
simplesmente a cura física, mas a “purificação”.
Diante de uma fé assim, tão fiel e humilde, note-se
que o leproso não impõe e nada exige e nem coloca a sua vontade como fator
determinante, mas abandona-se à vontade de Deus: “Senhor, se queres...”. Que
comovedora profissão de fé, para o homem arrogante e presunçoso de nossos
tempos! Homem que a exemplo dos nossos primeiros pais, ousa ocupar o lugar que
é de Deus, marginalizando e excluindo certas categorias sociais consideradas
malditas, abandonadas em presídios de sistemas carcerários, que em quase nada
contribuem para a recuperação de quem errou, de idosos, jovens, adolescentes e
crianças, amontoados em asilos e instituições de caridade, gente que não tem
mais esperança de nada, e que há muito tempo nem é mais contada na “aldeia
global”, que só considera quem produz e consome.
Podemos encontrar com esse leproso no seio de
nossas famílias e comunidades, onde isolamos certas pessoas em “acampamentos”,
consideradas pervertidas, geniosas, temperamentais, desequilibradas, poderíamos
incluir os aidéticos, efeminados, casais em segunda união, dependentes químicos,
prostitutas, mães solteiras, pessoas que, como naquele tempo, sempre temos uma
certa reserva, mantendo a necessária distância por medo de sermos
“contaminados”, e a sua presença em nosso meio, causa asco e mal estar.
Como cristãos, temos que ter essa consciência do
grave pecado da exclusão, e o evangelho nos mostra por onde devemos começar, é
bem verdade que Jesus afrontou as instituições do seu tempo, mas em primeiro
lugar, em sua relação com as pessoas, usou sempre da lei do amor, deixando de
lado normas de conduta e formalismos religiosos, ao tocar no leproso.
Poderíamos começar no nosso dia a dia, acolhendo com gestos cordiais, amizade e
carinho, os “leprosos” que muitas vezes excluímos, por conta de preconceitos e
até intolerância. (Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora Consolata –
Votorantim SP – E-mail cruzsm@uol.com.br)
queria entender melhor o relacionamento da primeira leitura de hoe, com o evangelho.ainda não estou entendendo.pois os filisteus venceram mesmo com a presença marcante da Arca, pelos hebreus..não compreendo..poderiam me ajudar? obrigada
ResponderExcluirqueria entender melhor o relacionamento da primeira leitura de hoe, com o evangelho.ainda não estou entendendo.pois os filisteus venceram mesmo com a presença marcante da Arca, pelos hebreus..não compreendo..poderiam me ajudar? obrigada
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