24- DOMINGO - Evangelho
- Lc 1,1-4;4,14-21
Hoje
se cumpriu esta passagem da Escritura.
Este
Evangelho tem duas partes:
1)
Início do Evangelho de Lucas, em que ele declara a sua intenção.
2)
Jesus, citando o profeta Isaías, expõe o programa da sua missão libertadora.
Essa missão é de salvação integral, voltada prefencialmente para os excluídos
da sociedade: pobres, cativos, cegos e oprimidos.
Par
nós, como Igreja, continuarmos essa missão de Jesus a nós confiada, temos de
denunciar qualquer opressão e exploração da pessoa humana. Denunciar e
colaborar na libertação, como fazia Jesus. Temos de praticar e promover a
justiça, combatendo as forças da morte presentes no mundo.
Contudo,
não podemos julgar que o Reino de Deus se limita à libertação temporal, pois
seu conteúdo fundamental é a salvação e a graça de Deus. Só a graça nos traz a
completa libertação.
O
primeiro passo é a nossa conversão para a justiça e o amor aos irmãos. Só se
entende a libertação se ela partir de dentro de nós. Esse é o nosso desafio. Os
pobres só se libertam quando nós nos tornamos pobres, evitando todo
paternalismo. O paternalismo é justamente o rico ajudando o pobre e continuando
no seu mundo de rico.
A
reconstrução da figura original do homem, restabelecida e apresentada a nós na
pessoa de Jesus Cristo, exige transforma “Cristo em minha vida e a minha vida
em Cristo”. Pensar como Jesus pensou, falar como Jesus falou, amar como Jesus
amou, viver como Jesus viveu.
É
magnífico o trabalho dos artistas que restauram imagens, pinturas e afrescos
que foram danificados. Cada um de nós é chamado a ser esse artista em nós
mesmos e nos nossos irmãos. É a imagem de Deus, vocação original do homem, que
é restaurada.
“Vós
sois o corpo de Cristo” (1Cor 12). O amor mútuo, que nos leva à mútua
colaboração, cada um com o seu dom, faz da Comunidade cristã o corpo vivo de
Cristo presente ali no bairro. “Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia o seu
irmão, é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a
Deus, a quem não vê. Este é o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus,
ame também seu irmão” (1Jo 4,20-21).
Os
primeiros cristãos procuraram por em prática essa denúncia de Jesus às
injustiças da sociedade. Por isso muitos foram condenados à morte. Apesar
disso, a Igreja não desiste de continuar essa missão de Jesus.
No
programa, Jesus mistura o vertical e o horizontal, a dedicação ao corpo e a
dedicação à alma. Ele não as separa, pois o próprio Criador não separou,
criando-nos corpo, alma e espírito misturados. Quem ama verdadeiramente a Deus,
ama também o seu próximo, privilegiando os excluídos. E esse amor inclui também
a proteção à natureza, evidentemente.
Neste
Evangelho, Jesus fala que veio proclamar o “ano da graça do Senhor”. Essa
expressão é sinônima de “ano sabático”. O Povo de Deus do Antigo Testamento
celebrava, a cada sete anos, o ano sabático, que não era nada mais que o
descanso semanal do sábado ampliado para um ano todo. “Durante seis anos
semearás a terra e recolherás os seus frutos. No sétimo ano, porém, deixarás de
cultivar a terra, para que se alimentem os pobres, e os animais selvagens comam
o resto” (Ex 23,10-11).
O
“ano da graça do Senhor”, em Isaías (Is 61,1-2), está expresso como “ano do
agrado do Senhor”. Portanto, é viver bem com Deus, obedecendo os seus
mandamentos e fazendo a sua vontade. O livro do Deuteronômio determina que no
ano sabático todas as terras deviam voltar às tribos originais, conforme foi
dividido quando o povo chegou à Terra Santa. Também as dívidas deviam ser
perdoadas e os escravos libertados.
Quando
Jesus falou que veio proclamar o ano da graça do Senhor, ele quis dizer que, de
agora para frente, todos os anos são sabáticos. O ano da graça do Senhor é um
ano sabático permanente, não só para todos os anos, mas para todos os dias do
ano. Esta é a lei do novo Povo de Deus, a Igreja.
Esse
permanente ano da graça do Senhor, custou a morte de Jesus, como oferta total
dele por nós. Amar não é dar coisas ao próximo, mas buscar a sua felicidade,
mesmo que para isso precisemos sacrificar a nossa vida. “Ninguém tem maior amor
do que aquele dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
O
amor só é verdadeiro se inclui, desde o começo, uma doação da vida. O amor, ou
é total, ou não é amor. Amor parcial não existe, é apenas caricatura de amor ou
egoísmo com o nome de amor. Quando vemos um mendigo na rua e lhe damos um
trocado, ou apenas um sorriso, não lhe estamos dando apenas um trocado ou um
sorriso, mas a nossa vida toda a ele, se necessário for.
O
Evangelho mostra também o protagonismo do Espírito Santo na vida, obra e missão
de Jesus. É o Espírito que intervém desde o seu nascimento e batismo. Nós
também fomos ungidos pelo Espírito Santo no Batismo e na Crisma, a fim de atuar
como Cristo atuou, vencendo o mal do mundo e sendo mensageiro da Boa Nova.
Havia,
certa vez, um homem que admirava muito a criação de Deus, mas vivia encabulado
com uma coisa: Por que nunca chegamos até o horizonte? A gente olha, ele está a
um km de nós. Se caminhamos até lá, ele já foi para frente e está a mais um km
de dós. Não entendo, dizia ele. E nas suas orações sempre pedia uma explicação
para Deus.
Um
dia, Deus apareceu para ele em sonho e lhe disse: “É para que você esteja
sempre caminhando! O horizonte faz você ir para frente, por isso que você nunca
o atinge”.
A
continuidade da missão de Jesus na libertação tanto de nós mesmos como dos
nossos irmãos, é como o horizonte. É um trabalho contínuo que só concluiremos
no final da nossa vida, quando nos encontrarmos com Deus.
Maria
Santíssima, a discípula fiel do Senhor, viveu de forma plena esse programa do
seu Filho. Que ela nos ajude a vivê-lo também.
Hoje
se cumpriu esta passagem da Escritura.
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