Quarta Feira da 1ª Semana do TC 13/01/2016
1ª Leitura 1 Samuel 3, 1-10
Salmo 39/40 “Então eu disse: fazer a vossa vontade, meu Deus, é o
que me agrada””
Evangelho Marcos 1, 29-39
"A PERIGOSA
FÉ DA MAGIA..."
Gosto muito de ouvir histórias de pessoas que
montaram um pequeno negócio, e após muito esforço foram bem sucedidas,
tornando-se gestores de grandes empresas, agindo sempre com ética e honestidade.
O bom empreendedor é sempre ousado e pensa
“grande”, tendo uma visão audaciosa do futuro, atitude muitas vezes até
criticada e questionada pelos acomodados que pensam “pequeno”. porque têm medo
de arriscar. Se o empreendorismo é fator dos mais importantes no
desenvolvimento de uma nação, de uma empresa ou de qualquer negócio, no reino
de Deus não poderia ser diferente, porém, é preciso ter os pés no chão,
trabalhando a cada dia com vistas à grandiosidade que se vislumbra, pois o
homem de fé, mais do que ser otimista, já vai construindo no hoje da história,
o reino de Deus alicerçado pelo próprio Cristo.
No evangelho de hoje podemos perceber nitidamente essa diferença
no modo de pensar e agir, entre Jesus e os seus discípulos. Enquanto o mestre
pensa em algo grandioso, querendo expandir o projeto recém-iniciado, os
discípulos estão seguros de que já alcançaram o sucesso e demonstram grande
interesse em montar ali, na casa de Simão, uma “Tenda dos Milagres”, pois o
carisma de Jesus já tinha atraído uma grande e imensa clientela, ao curar os
enfermos e expulsar os demônios, por isso aonde ele ia, a multidão maravilhada
com os sinais prodigiosos, o seguia.
Há nesta fé da magia, a perspectiva de um negócio
altamente lucrativo em todos os sentidos, pois Jesus tem o perfil do Messias
esperado, poderia ser ele o salvador da pátria, capaz de dar a grande virada na
história de Israel, e um populismo assim, era tudo que eles queriam para
concretizar a libertação com que sonhavam.
Não conseguiam vislumbrar em Jesus algo além dos
seus ideais humanos, que também eram importantes e tinham o seu valor, mas
Jesus não veio para ser o Rei dos Milagreiros, nem para ser um libertador
político, pensar assim é pensar “pequeno”, ter uma fé com essa expectativa de
um Cristo prodigioso, que interfere com seu poder na vida das pessoas, quando
essas fazem por merecer, realizando milagres e curas inexplicáveis, é
menosprezar toda a obra da Salvação, é fazer da Igreja uma simples tenda dos
milagres, é abusar de certos carismas recebidos, explorando assim a boa fé das
pessoas, e Cristianismo não é isso.
Curas de enfermidades o Cristo as realizou ontem,
e realiza também hoje, mas estas são simples sinais de algo maior, de um
empreendimento mais arrojado, com o qual todos têm de se comprometer,
acreditar, deixar de ser um torcedor para entrar em campo e “suar a camisa” por
aquilo em que se acredita. E como é que podemos, com nossas limitações e
fraquezas, sermos parceiros de Deus nesse projeto tão arrojado, que plenifica e
ao mesmo tempo transcende, qualquer empreendimento humano?
O evangelho responde em seu início, logo que
Jesus sai da sinagoga e vai á casa de Simão, onde os discípulos correm para lhe
falar que a sogra de Pedro estava acamada e com muita febre. Era uma pessoa
debilitada, entregue ao desânimo, que muitas vezes chega à vida de alguém, que
doença seria essa? O comodismo e o desânimo, o egocentrismo, a indiferença na
relação com as pessoas, nas comunidades cristãs há pessoas assim, que precisam
de ajuda, para cair na realidade. Jesus não diz uma só palavra, mas apenas
estende a mão e a ajuda a levantar-se do seu leito. Como é bom quando sentimos
que o outro nos estende a mão, em um grandioso gesto de ajuda...
Como é bom agarrar com firmeza a mão amiga, que
nos permite levantar e dar a volta por cima, diante de tantas situações
difíceis da nossa vida.
Amor que se traduz em gestos de solidariedade, um
toque de mão que transmite segurança, afeto, ânimo e esperança, sem muito
ritual pomposo, sem êxtases arrebatadores. Como resultado desse gesto de ajuda,
a mulher se levanta a febre a deixa e agora se põe a servir a comunidade. É na
oração íntima com Deus Pai, que Jesus de Nazaré fortalece a sua missão,
cumprindo a vontade daquele que o enviou, pois sem a oração, a nossa igreja
seria apenas um Posto de atendimento de serviço religioso ou balcão de
Sacramentos.
É na oração que acontece este colóquio com o Pai,
aonde vai se descortinando para nós a plenitude do Reino, que humildemente
vamos construindo com gestos simples como o de Jesus, capaz de erguer as
pessoas que estão ao nosso lado.
Os discípulos, encantados com o carisma e o Poder
do mestre, querem urgentemente abrir um “pequeno negócio”, um salãozinho de
fundo de quintal, onde eles teriam naturalmente o monopólio sobre Jesus e seus
milagres, mas o Mestre pensa grande, ele não veio para que as pessoas o
buscassem, mas para ir ao encontro delas, curando de suas enfermidades e as
libertando dos males físicos e espirituais, como um sinal da libertação plena.
É esse o Cristo que devemos anunciar como Igreja
missionária, pois qualquer outra imagem diferente da que nos apresenta o
evangelho, seria apenas uma caricatura grotesca, uma cópia falsificada de um
mero “Salvador da pátria”, desses que vez ou outra, o povo gosta de aclamar
como Rei...(Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora Consolata –
Votorantim SP – E-mail cruzsm@uol.com.br)
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