Em Lucas 9,1-6 encontramos o envio dos doze
apóstolos. Mas, estes, apesar de formarem o núcleo da jovem Igreja, não foram
mandados como precursores de Jesus, já que não tinham ainda identificado como
Messias aquele que os enviara como se pode ver em no versículo 20 do mesmo
capítulo. Agora, Lucas narra que Jesus envia um novo grupo: o dos setenta e
dois discípulos; estes, sim, são enviados “na frente” de Jesus. Sua missão
específica é: Curem os doentes daquela cidade e digam ao povo dali: O Reino de
Deus chegou até vocês. Portanto, são enviados como precursores, como
preparadores da chegada do reino de Deus que eles anunciam na pessoa de Jesus.
Lucas nos
apresenta 72 discípulos enviados. Este número é simbólico e indica a
universalidade da missão. Todo o povo de Deus está chamado a se lançar na
missão de anunciar a Boa do Reino. Esta missão, não é uma tarefa somente do
papa, de bispos, sacerdotes e diáconos. Mas sim, uma obra de todos os
batizados. Portanto, a missão é universal desde a sua origem e compreende
todos.
As
instruções para os dois grupos de missionários são praticamente as mesmas. O
texto especifica que Jesus envia “dois a dois”, pois o anúncio do Evangelho não
é uma tarefa pessoal, mas de uma comunidade. O fato de serem enviados pelos
menos dois também quer mostrar a credibilidade do testemunho, além do fato do
encorajamento que um pode dar ao outro no caso de desânimo diante das
dificuldades.
Em
seguida, Jesus, depois de ter falado em semente e em arado, fala agora de
colheita. Esta é imensa, mas os trabalhadores disponíveis são poucos. E a
situação é a mesma, ontem e hoje. É um trabalho gigantesco, e nunca haverá
trabalhadores suficientes; só o Pai pode chamá-los e enviá-los, por isso, é
necessário rezar a Ele, pedindo que chame mais pessoas. É justamente por causa
da extensão da missão que Jesus chama mais este grupo de ajudantes, e, mesmo
assim, são poucos diante da imensidão da missão que ele tem pela frente e da
qual nos torna participantes.
Jesus faz
o envio: “Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. É a imagem
clássica da fraqueza diante da violência. A missão é uma obra difícil e
perigosa. Aqueles que ele enviou devem cumprir fielmente o seu trabalho, mas
não devem exigir demasiado de si mesmos nem entrar em pânico diante da grandeza
da missão. Devem, sim, ter consciência que não será uma tarefa fácil e que nem
sempre serão recebidos de braços abertos. Devem fazer sua parte com competência
e perseverança, pois, em último caso, a responsabilidade é de Deus, e Ele não
vai deixar cair em ruínas a sua messe, mandando trabalhadores necessários para
isto.
A mensagem
a ser levada é o dom da paz, no sentido mais completo, para as pessoas e às
famílias, e, sobretudo, a mensagem de que é “o Reino de Deus está próximo de
vós”. O reino de Deus é antes de tudo uma pessoa: Jesus. Quem o acolhe encontra
a vida, a alegria, a missão de anunciá-lo. O gesto de bater, sacudir a poeira
dos pés, era um gesto simbólico dos israelitas que, ao ingressar de novo no
próprio país, depois de terem estado em terra pagã, não queriam ter nada em
comum com o modo de vida dos pagãos. Libertar-se da poeira que se grudou aos
pés enquanto estavam em território pagão significava ruptura total com aquele
sistema de vida. Fazendo isso, os discípulos transferem toda responsabilidade
pela rejeição da Palavra àqueles que os acolheram mal e rejeitaram o anúncio do
evangelho. E a paz oferecida não se perde, mas volta a quem oferece.
O estilo
da missão de Jesus e dos discípulos é o oposto daquele dos poderosos que o
mundo de hoje idolatra. Não se baseia sobre a vontade de dominar, a arrogância
ou a ambição, mas sobre a proposta humilde. Os enviados não devem levar nada de
material, mas devem contar com a providência divina e com a hospitalidade
fortemente praticada naquela época; eles devem ser respeitosos, atentos aos
mais fracos; devem curar os doentes; devem fazê-lo gratuitamente sem buscar
outras recompensas. O Evangelho de Jesus é uma mensagem de vida verdadeira para
quem confia somente em Deus. A fé e a missão começam no coração e devem
terminar nos lábios e nas ações. Não podemos deixar que o receio atrapalhe a
nossa missão cristã de anunciar o Reino de Deus que está presente entre nós.
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