Sexta Feira da 1ª Semana do TC 15/01/2016
1ª Leitura 1 Samuel 8, 4-7. 10-22ª
Salmo 88/89 “Cantarei,
eternamente a bondade do Senhor”
Evangelho Marcos 2, 1-12
"NOSSOS PARALÍTICOS..."
Certa ocasião, quando refletíamos esse evangelho
em grupo, alguém perguntou se na casa onde Jesus estava pregando, havia
elevador ou coisa parecida, se olharmos o relato em si mesmo, vamos acabar
fazendo outras perguntas como, “Será que eles não podiam pedir licença para
passar no meio das pessoas e entrar na casa?” e mais ainda... Seria normal que
as pessoas que estavam aglomeradas á entrada, quando vissem o esforço dos
quatro homens, subindo na parede com o paralítico deitado em uma cama,
oferecessem ajuda, buscando uma alternativa mais fácil...
O próprio Jesus, não poderia ter dado um jeito de
sair para atender o paralítico, sem precisar tanto esforço de subir e ainda ter
de abrir um buraco no telhado? Fazer perguntas como essas, é muito importante
para a nossa reflexão, pois vamos e convenhamos, o modo que eles encontraram
para colocar o paralítico á frente de Jesus, não foi o mais fácil, aliás,
correu-se até o risco de um grave acidente.
Hoje em dia a gente sabe que nossos templos
existentes, ou os que estão em construção, devem ter em seu projeto, a
construção de rampas, para facilitar o acesso de nossos irmãos deficientes. Mas
com certeza, não é este o tema do evangelista, ele está querendo dizer alguma
coisa as suas comunidades e aos cristãos do nosso tempo.
Dia desses, alguém bastante estressado dizia-me
que certas pessoas só atrapalham a vida da comunidade, porque são muito
radicais, geniosas, incomodam a rodos, e o tempo todo só arranjam encrencas e
mais encrencas, concluindo, dão muito trabalho,
são sempre do contra, enfim, chatas e duras de engolir, e que sem elas, a
comunidade é uma maravilha, o conselho deveria tomar providência, ou quem sabe,
o padre impor a sua autoridade.
Pessoas com essas características não caminham, e
ainda dificultam a vida de quem quer caminhar: pronto, já começamos a descobrir
os paralíticos e paralíticas de nossas comunidades, irmãos e irmãs que não se
emendam de seus defeitos, nunca mudam o seu jeito de ser, não se convertem e
precisam portanto, ser acolhidas e carregadas. Há irmãos na comunidade que a
gente tem prazer de encontrar, é sempre uma alegria imensa, mas há também
esses, que nos perturbam, incomodam, e a gente não fica a vontade, se estão
conosco em uma reunião da pastoral ou do movimento, a troca de “farpas” será
inevitável...
Há no texto duas coisas que chamam a nossa
atenção, primeiro o esforço desse quarteto, subir pela parede, desfazer o
telhado e descer a cama com cordas. Jesus elogia-lhes a fé, parece até que fez
o milagre como retribuição a tanto esforço. Eles tinham fé em Jesus Cristo,
sabiam que se o levassem diante dele, seria curado, mas por outro lado, embora
o texto não cite isso, a gente percebe que o amavam muito, tiveram com ele
muita paciência, sei lá quantos quilômetros tiveram que andar, carregando
aquela cama que deveria ser pesada, e ainda, ao deparar com a multidão
aglomerada á frente da casa, poderiam ter desistido, já tinham feito a sua
parte. Mas a força do amor e da fé, fez com que não desistissem, e se preciso
fosse, seriam capazes de derrubar a casa.
Os quatro são uma referência para as nossas
comunidades, onde muitas vezes falta-nos o amor e a fé, para carregar nossos
paralíticos e superar os obstáculos, passando por cima dos preconceitos. Nas
comunidades há pessoas amorosas, pacienciosas, que aceitam conviver com todos,
amando-os como eles são, sem exigências, preconceitos ou radicalismo, mas há
também a turma de “nariz empinado”, como aqueles doutores da lei, que não crê
em um Deus que é misericórdia, e que perdoa pecados, seguem normas e preceitos,
até trabalham na comunidade, mas são extremamente exigentes com os
“paralíticos”, acham-se perfeitos e não aceitam a convivência com os
imperfeitos.
Jesus elimina o problema pela raiz, “Filho, teus
pecados te são perdoados...”, a cura física vem em segundo plano, e se a
enfermidade impede que o paralítico se aproxime de Jesus, a comunidade os
carrega, possibilitando que ele também faça a experiência do Deus que perdoa,
ora, se houver na comunidade intolerância, preconceitos, e ranços ocultos, como
é que essas pessoas poderão experimentar o amor, o perdão e a misericórdia? Os
intolerantes têm sempre um olhar extremamente crítico e severo, para com os
paralíticos, e não aceitam que outras pessoas tenham por eles amor e ternura,
manifestada na paciência e tolerância.
Por isso Jesus ordena – levanta-te, toma o teu
leito e vai para casa. Deus nunca faz as coisas pela metade, na obra da
salvação, Jesus não fez simplesmente uma reforma no ser humano, mas o
transforma em uma nova criatura, na graça santificante do Batismo, fazendo com
que deixe de se relacionar com Deus na religião normativa, porque crê no Deus
que é todo amor e misericórdia, que perdoa pecados e os liberta com a sua santa
palavra, em Jesus de Nazaré. (Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora
Ckonsoklata – Votorantim SP – E-mail cruzsm@uol.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário