SÁBADO DA 4ª SEMANA DO TC
06/02/2016
1ª Leitura 1 Reis 3, 4-13
Salmo 118/119, 12b
“Ensinai-me vossas leis”
Evangelho Marcos 6, 30-34
"A
SÓS COM O SENHOR..."
Sempre ouço uma crítica contundente em nossa
Igreja, de que, “no dia em que Jesus voltar, não vai nos encontrar unidos, mas
reunidos”. Há de fato um excesso de reuniões, as vezes sem pauta e nem assunto
determinado, e o que é pior, sem horário para terminar, onde patina-se em
assuntos pessoais e troca-se muitas “farpas”. Seria necessário refletirmos
sobre a qualidade de nossas reuniões, avaliando-se os resultados. Lembro-me da
primeira vez em que fui convocado para uma reunião na igreja, isso já faz
tempo. Senti-me muito importante, hoje confesso que o entusiasmo já não é tanto
justamente porque ás vezes o clima de uma reunião torna-se tenso.
Pelo jeito os discípulos também gostavam de uma
reunião, haviam sido enviados em missão, e no evangelho de hoje voltam para
Jesus, querendo fazer uma reunião de avaliação, mas ao que parece, o Mestre não
era muito chegado em reunião, porque assim que eles começaram a expor o
relatório de tudo o que tinham feito, Jesus os convidou a irem para um lugar á
parte: “Vamos descansar um pouco em um lugar á parte!” –
Prestemos
atenção nesse verbo, “descansar”, que tem muitos significados: descontrair,
fazer algo diferente, jogar um pouco de conversa fora, dar boas risadas de
coisas engraçadas que aconteceram na missão, rir dos próprios erros e enganos
“Imagine Senhor, que eu por engano bati na porta de um ateu, e quando comecei a
falar em teu nome, pensei que o home ia ter um “saracotico”!, Fico imaginando o
grupo todo caindo na risada com aquele Missionário distraído, e Jesus
exclamando bem humorado “Mas você é uma anta mesmo !”, e tome mais risada e até
o sisudo Pedro, quase se engasga de tanto rir, e me dirão os extremamente
conservadores, que isso não está no evangelho. E nem precisaria...O riso e o
bom humor faz parte do ser humano e Jesus era Homem cem por cento, como bem
definiu o Concílio de Calcedônia em 451. O leitor tire suas conclusões...
Modéstia á parte, nossas reuniões de diáconos da
diocese de Sorocaba, são um pouco assim, as vezes o Dirigente tem que dar um
“breque” para acalmar os faladores e piadistas, e não pensem que os mais idosos
não gostam, até eles fazem rodinhas para contar suas anedotas ou coisas
engraçadas do seu ministério. Faz muito bem a alma, ao coração e à nossa
“psique”, esses momentos de pura alegria por estarmos juntos, pois não se
conhece arma mais poderosa do que o isolamento, para destruir por completo uma
vocação, agente de pastoral que se isola dos demais, catequistas, ministros,
padres e diáconos. Começou a ficar sozinho, está dando “sopa” para a derrota e
o fracasso na sua vocação, daí vêm certas tristezas, angústias e desvios de
conduta, por falta de apoio.
Na correria dos trabalhos pastorais e
ministérios, é preciso parar de vez em quando, e aqui há outro sentido
belíssimo nessa reflexão, pois, descansar com o Senhor, significa abastecer-se,
na intimidade da oração, no mistério da Eucaristia, onde Deus é um frágil pedacinho
de pão, na palma da minha mão, ou ainda como Maria, irmã de Marta, sentar-se
confortavelmente aos pés do Senhor, para ouvir a sua palavra. De que me adianta
não ter tempo para mais nada, nem para mim mesmo, nem para os amigos, nem para
a família, nem para comer, por conta de uma agenda lotadíssima de compromissos,
se vou aos poucos me distanciando daquilo que é essencial?
O ativismo exacerbado das atividades pastorais e
ministeriais começa a nos fazer sentir que somos Donos do reino e da igreja
colocando-nos no centro das atenções, quando na verdade apenas trabalhamos para
o Mestre Jesus. É ele quem nos envia,
quem nos confia a missão, é portanto ele, que no “intervalo” do jogo, como
fazem os técnicos de futebol, irá nos dar as instruções, fazer as correções
necessárias, mostrando-nos a melhor estratégia para sermos bem sucedidos na
missão.
Não tenho nenhuma dúvida, de que sem essa
intimidade dos bastidores, com Nosso Senhor, retirados em um lugar á parte, sem
essa descontração com o grupo todo, que solidifica a amizade e o carinho entre
os membros, qualificando as relações pessoais, corre-se o risco de estressar-se
diante do volume de trabalho a ser feito na comunidade e na evangelização.
Fora da
Igreja, a multidão que temos que servir é muito grande, as pessoas buscam
desesperadamente algo que o cristianismo tem de sobra, que é a esperança,
presente na palavra da qual somos portadores, mas é perigoso esse “corre-corre”
nos tornar insensíveis a dor, ao sofrimento e as necessidades das pessoas,
tornando-nos profissionais da palavra, realizando trabalhos belíssimos e ações
arrojadas, mas não movidos por essa COMPAIXÃO, que Jesus tem pelas pessoas que
o procuram, mas apenas levados por nossos interesses mesquinhos, pela nossa
vaidade, prepotência e arrogância, manifestando de vez em quando o nosso mau
humor e azedume naquilo que fazemos.
E agentes
de Pastoral ou ministros da igreja, com essa característica, longe de atrair as
pessoas, como o Mestre fazia, as vezes é melhor manter a devida distância,
porque nunca se sabe em que hora que o “Rei ou a Rainha da Cocada”, vai dar o
seu terrível “coice”, que magoa, machuca e gera tantas divisões e intrigas na
comunidade, perdendo de vista a compaixão, vivida por Jesus. Compaixão que o
levou a interromper o descanso, para atender os que o procuravam. (Diácono José
da Cruz – Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP –E-mail cruzsm@uol.com.br)
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