O Evangelho de hoje nos
fala sobre a vocação de Mateus, ou seja, sobre Jesus que o chama para ser seu
discípulo. Precisamos perceber que Jesus chama um pecador público. Isto era
algo de extraordinário. Mas, o que significa esta expressão “pecador público“? Significa que alguém era considerado
publicamente pecador, pois todos conheciam a sua conduta de pecado.
Os capítulos depois do Sermão da Montanha, ou seja, os capítulos 8
e 9, narram a atividade de Jesus. Diríamos assim que se trata do programa
de vida que proclamou no Sermão da Montanha como felicidade e paz para o povo é
o que ele realiza com suas atitudes e obras. Dessa maneira, Mateus apresenta a
atividade messiânica de Jesus no seio de seu povo. No meio desta atividade
está situado o texto que a Igreja nos oferece para refletir neste dia. Cabe-nos
perguntar por que o evangelista situa o chamado de Levi neste momento de sua
narrativa.
Talvez a resposta esteja no último versículo que hoje lemos: Aprendam,
pois, o que significa: ‘Eu quero a misericórdia e não o sacrifício’. Porque eu
não vim para chamar justos e sim pecadores, ou seja, o evangelista acha
necessário esclarecer que o centro da missão do Messias é buscar o que estava
perdido, curar os doentes, libertar os cativos, proclamar o ano de graça de
misericórdia do Senhor! (Lc 4, 18-19).
Este é o reino que Jesus vem inaugurar e comunicar com sua vida,
morte e ressurreição. E para ser partícipes e, mais ainda, colaboradores
na expansão deste reino, todos(as), sem exceção, são convidados de uma maneira
ternamente pessoal, rompendo qualquer norma ou preconceito que deixe alguém
fora do âmbito deste reino.
Se olharmos agora para Levi, cobrador de impostos, é, sem dúvida,
uma das pessoas que na época de Jesus sofriam a exclusão. Não eram queridos
pelo povo por causa de seu trabalho ganancioso. Eram considerados impuros por
parte das autoridades religiosas judaicas, e para o império romano não eram
mais que um dos últimos degraus na escada da opressão que exerciam sobre o
povo. Por essa razão, é escandaloso para os judeus e também para os
discípulos de Jesus, que ele chame Mateus para ser seu seguidor! E, como se
isso não bastasse, vai à sua casa e se senta à sua mesa.
Se considerarmos a casa como símbolo da história da pessoa, e
partilharmos sua mesa assim como a sua intimidade, podemos entender que o
evangelista está mostrando que Jesus, quando chama Mateus, o faz dentro de sua
própria história com suas luzes e sombras. A resposta que Jesus dá aos fariseus
revela seu conhecimento da vida de Mateus, que o faz “merecedor” de uma atenção
privilegiada por parte dele: As pessoas que têm saúde não precisam de
médico, mas só as que estão doentes.
Esta maneira de olhar que Jesus tem é, por assim dizê-lo,
revolucionária porque está carregada de compaixão e misericórdia. Por isso, não
julga nem condena o cobrador de impostos, antes é capaz, sendo conhecedor de
sua fraqueza e também de seus erros, de convidá-lo para uma vida diferente que
brota da amizade com Ele.
E aqui podemos nos lembrar das palavras do Evangelho de João,
quando Jesus fala da amizade: ”eu chamo vocês de amigos, porque eu comuniquei a
vocês tudo o que o ouvi de meu Pai” (Jo15,15b).
O Evangelho de hoje nos diz que Jesus viu primeiro. Referindo-se a
Mateus, é vê-lo na sua situação cotidiana: Jesus viu um homem chamado
Mateus, sentado na coletoria de impostos. Mas o olhar de Jesus é capaz de
ir além do que um simples olhar enxerga de um judeu cobrador de impostos. Ele
reconhece em Mateus um filho muito querido de Deus, e isso é o que Ele comunica
primeiro para o cobrador de impostos. Seu olhar sobre Mateus está carregado da
ternura e misericórdia de Deus Pai-Mãe, que cura as feridas e perdoa os
pecados, amando-o incondicionalmente.
Mas Jesus continua e diz para ele: “Segue-me!”. Abre-se diante de
Mateus a possibilidade de um caminho novo, impensável até esse momento. É
convidado a deixar de ser uma engrenagem do império opressor, para passar a ser
íntimo colaborador na construção de um reino de liberdade, justiça e
solidariedade.
Deixemos que Jesus passe e nos olhe no nosso dia-a-dia e, como
Mateus, tenhamos a coragem de acolher esse olhar e a proposta que dele brota.
Sem dúvida, nossa vida passará a ser diferente e poderemos também ser parte
deste círculo aberto, inclusivo e integrador de amigos e amigas de Jesus que
continuam lutando pela sua mesma paixão: o ser humano e a casa em que ele
habita!
Pai,
coloca-me sempre junto àqueles que mais carecem de tua salvação, e liberta-me
de toda espécie de preconceitos que contaminam o meu coração.
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