05- Sábado - Evangelho - Lc 6,1-5
A observância da lei do
sábado era a maior instituição do judaísmo, e para isso tinham sido criadas
leis extremamente rígidas e pormenorizadas, que proibiam qualquer atividade que
se assemelhasse a um trabalho. Por exemplo, os especialistas interpretavam o
gesto de debulhar espigas de trigo como colheita e, portanto, como violação do
repouso sabático (6,1-2; Êxodo 34,21). Jesus responde à acusação dos
adversários recorrendo a um exemplo tirado da Escritura (1 Samuel 21,1-6):
fugindo do rei Saul, Davi e seus homens entraram no santuário e comeram os pães
oferecidos a Deus (os doze pães, renovados a cada sábado, e que só os
sacerdotes do santuário podiam comer- veja Levítico 24,5-9). Esse precedente
celebrado na própria Escritura, diz Jesus, mostra que a lei positiva está
subordinada ao bem do homem, e que a necessidade de sobreviver está acima de
qualquer lei.
É a segunda vez que Jesus
se arroga um direito: o Filho do homem, que tem poder para perdoar pecados
(5,24), também é “o senhor do sábado” (6,5). Em outras palavras, Jesus está
introduzindo uma nova ordem humano-religiosa, onde as instituições, estruturas,
leis e costumes devem estar sempre a serviço do homem, podendo ser abolidos e
cair para segundo plano em qualquer circunstância em que uma necessidade
urgente o exigir.
“Sábado” provém do
hebraico “Shabath”, que significa “repouso, cessão”. Assim, o sábado bíblico
nada mais é que um dia de descanso observado a cada sete dias. Ele na Bíblia se
prende ao ritmo sagrado da semana, que se encerra com um dia de repouso e de
culto a Deus (cf. Os 2,13; 2Rs 4,23; Is 1,13; Ex 20,8; 23,12; 34,21). O sábado
deveria ser observado por diversas razões: por questões humanitárias (cf. Ex
23,12; Dt 5,12-14), por ser sinal de distinção com relação aos outros povos
(cf. Ez 20,12.30; Ex 31,13-17), por ser um dia que não poderia ser profanado
pelo trabalho (Ez 22,8) e por ser legislação sacerdotal, já que Deus teria
descansado no 7º dia (cf. Gn 1,1-2.4a; Ex 30,8-11; 31,17). O sábado era um dia
festivo (cf. Os 2,13; Is 1,13), no qual não podia haver compras, vendas ou
trabalhos no campo (cf. Am 8,5; Ex 34,21). Era também proibido acender fogo (Ex
35,3), recolher lenha (Nm 15,32) e preparar alimentos (Ex 16,23). Até mesmo a
guarda do palácio era reduzida (2Rs 11,5-9)… Os fiéis iam ao santuário (Is
1,12s), após uma convocação santa (Lv 23,3), ofereciam sacrifícios (Nm 28,9-10)
e renovavam o pão da proposição (Lv 24,8; 1Cr 9,32) ou simplesmente aguardavam
a visita de um profeta (2Rs 4,23). Após o exílio babilônico, a observância do
sábado foi radicalizada: Neemias agiu com energia para garanti-lo (Ne
13,15-22), as viagens foram proibidas (Is 58,13) assim como o transporte de
cargas (Jr 17,19-27). Na época macabéia, a observância era tão cega que muitos
se deixaram matar sem oferecer resistência (1Mc 2,37-38; 2Mc 6,11-12; 15,1-2).
Finalmente, na época de Jesus, os fariseus elaboraram verdadeira “casuística”
quanto ao sábado: 39 tipos de trabalho eram proibidos (entre eles colher
espigas [Mt 12,2], carregar fardos [Jo 5,10], etc). Os médicos somente podiam
atender os doentes em perigo iminente de morte (motivo pelo qual se opuseram a
Jesus, que curava aos sábados – cf. Mt 12,9-13; Mc 3,1-5; Lc 6,6-10; 13,10-17;
14,1-6; Jo 5,1-16; 9,14-16)… os essênios chegaram ao absurdo de proibirem a
defecação no sábado!
Já no Novo Testamento, os
discípulos observaram o sábado para pregar o evangelho nas sinagogas (At 13,14;
16,13; 17,2; 18,4) logo se deram conta que a Nova Lei havia superado a Antiga.
São Paulo sempre lutou contra a infiltração de idéias judaizantes, sobretudo
quando escreve “que ninguém vos critique por questões de alimentos ou bebidas
ou de festas, luas novas e sábados. Tudo isto não é mais do que a sombra do que
devia vir. A realidade é Cristo.” (Cl 2,16-17; v.tb. 2Cor 5,17). Os cristãos,
então, passaram a realizar seus cultos no dia seguinte ao sábado, isto é, no
domingo, dia em que o Senhor Jesus ressuscitou (aliás “domingo” vem de “domini
dies”, isto é, “Dia do Senhor”). Diversas são as provas bíblicas da observância
do domingo: Jo 20,22-23.26; At 2,2; At 20,7-16; 1Cor 16,1-2; Ap 1,10. Repare-se
bem que esse era o dia em que os cristãos se reuniam! Dessa forma, a
perspectiva cristã sempre enxergou o antigo sábado dos judeus como uma figura,
da mesma forma que outras instituições do AT.
“Pelo repouso do sábado
os israelitas comemoravam o repouso (figurado) de Deus após haver criado o
mundo e o homem. Ora, com a ressurreição de Cristo, a primeira criação tornou-se
prenúncio e figura da segunda criação ou da nova criação do gênero humano que
se deu quando Cristo venceu a morte e apareceu como novo Adão. Era justo,
portanto, ou mesmo necessário, que os cristãos passassem a observar, como Dia
do Senhor ou como sétimo dia e dia de repouso (sábado), o dia da ressurreição
de Cristo” (d. Estevão Bettencourt, “Diálogo Ecumênico, p.250). A própria carta
aos Hebreus acentua a índole figurativa do sábado, afirmando que o repouso do
sétimo dia era apenas uma imagem do verdadeiro repouso que fluiremos na
presença de Deus (cf. Hb 4,3-11). E você cristão católico, ainda tem dúvida do
porque deves observar os domingos e festas de guarda?
Finalmente Cristo se
auto-declarou como “Senhor do Sábado” (tendo, portanto, poder sobre ele); Jesus
ressuscitou num domingo; o Espírito Santo veio sobre a Igreja num domingo; os
apóstolos se reuniam aos domingos; os cristãos antes do Período Constantiniano
(séc. IV) se reuniam aos domingos; os cristão pós-Constantinianos também se
reuniam aos domingos; todos os cristãos atuais (católicos, ortodoxos e
protestantes – com exceção dos adventistas e batistas do 7º dia) ainda observam
o domingo… Como duvidar que o domingo não foi instituído divinamente? Temos
todos os testemunhos que precisávamos: Bíblia, Tradição e Magistério; temos a
palavra final: Domingo é o Dia do Senhor!
Faço minhas as palavras
do Pe. Arthur Betti: “Vale mais um domingo, dia em que Cristo ressuscitou, do
que todos os sábados sem ressurreição, sem a verdadeira libertação”! Que a vitória
de Cristo sobre o sábado e a morte seja também a minha e a tua sobre o pecado e
consequentemente sobre a morte para que com Cristo ressuscitemos eternamente!
Pai, torna-me sensato na
prática das exigências religiosas, para eu buscar, em primeiro lugar, o que
realmente é do teu agrado e está a serviço da vida, cuja fonte és Tu.
Muito linda, esclarecedora, catequetica. Explicação perfeita. Parabéns!
ResponderExcluirLourdes