10- Quinta - Evangelho - Lc 6,27-38
Dentre as perguntas mais difíceis de responder figuram estas: Será que no nosso dia a dia podemos dizer se o cristão tem inimigo? E se sim como pode ter inimigos se é discípulo de Jesus? Eis perguntas difíceis de responder quando Jesus nos convida a viver este Evangelho, pois esta é uma das missões mais sublimes do cristão. O Evangelho não pede para suportar ou conviver, nos é pedido para amar. Dom supremo e maior deixado por Jesus para que possamos buscar diariamente nossa santificação. Amar como Jesus amou. Quantas vezes fomos feridos na face e oferecemos a outra? Que situação difícil de enfrentar! Nosso desejo primeiro não é oferecer a outra, mas meter a mão na face do outro! Não é verdade?
Muitas vezes esse Evangelho nos faz ver um cristão passivo
exteriormente, que não reage a insultos, a difamações e até aos maus tratos,
porém, não é verdade meus irmãos, muito pelo contrário: este Evangelho nos faz
altamente ativos espiritualmente, pois mexe com o nosso “EU”, exercitando os
dons espirituais e as virtudes existentes dentro de cada um de nós, nos fazendo
perfeitos como nosso Pai celeste é perfeito.
Não julgueis, e não sereis julgados;
não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; Penso que se conseguirmos viver este versículo,
já estamos num estágio de vivência cristã admirável. Esta mensagem mostra
claramente o amor radical de Jesus e seu Pai, e que deve ser como um sinal dos
cristãos. É um amor tão desmedido, que põe à prova os discípulos e nós também,
pois é o amor incondicional, sem limites, o amor aos inimigos, que não pode ser
compreendido nos padrões terrenos e que só acontece se estiver muito bem alicerçado
na fé.
As expressões “amar”, “fazer o bem”, “dar”, aparece por três vezes no
texto. “Amar, fazer o bem e emprestar”, é apenas uma boa política, um bom
negócio. Para sermos bons cristãos, considerados filhos de Deus, é preciso
mais, pois Sua medida, são nossas atitudes. Assim, como julgarmos, seremos
julgados; como condenarmos, seremos condenados, mas também, como perdoarmos
seremos perdoados. É neste contexto, onde Jesus nos chama à generosidade, que
Ele chama também a Deus de PAI, pela primeira vez em sua vida pública, embora,
no v. 35, esteja subentendido esse parentesco.
O Pai é nosso exemplo. Ser como Ele, é ser generoso, pois Ele não julga,
não condena, perdoa as ofensas e dá sem medir custos. E nos ama com tanta
intensidade, que jamais poderá ser superado. Estejam certos de que nunca
poderemos retribuir tanta generosidade. Que todos unidos, façamos um esforço de
fazer este mundo melhor através da palavra de Deus que é a verdadeira chave
para abrir as portas do coração da humanidade. E como conseguiremos isso? Onde
está o grande segredo desta chave? “Sede misericordiosos, como também nosso Pai
celeste é misericordioso.”
Jesus nos chama a um ideal mais pleno, mais radical: AMAR O INIMIGO. Não
há nada mais evangélico do que esta máxima de Lucas, certamente difícil de ser
colocada em prática. Este ideal pressupõe naturalmente um uso da liberdade
muito maduro: ser livre para amar não como eu quero, mas como Deus quer que nos
amemos. Sem condições.
A partir da Ressurreição de Cristo e através dela o homem pode realizar
este ideal, pois aí está a ESPERANÇA para tudo o que fazemos(Cf. 1Cor 15,
45-49). Amar a partir da Ressurreição é, na linguagem paulina e lucana, possuir
uma carne nova, um corpo novo, é viver na força do Espírito que nos confere a
graça para realizarmos este ideal evangélico do AMOR RADICAL, sem condições.
Amar quem nos ama, quem nos elogia, quem nos prestigia, é muito fácil.
Todo jogo dos interesses passa por este tipo de relação. Mas amar quem nos
prejudica, quem nos amaldiçoa, quem não corresponde às nossas expectativas, é
mais difícil e impossível sem a graça de Deus. Por isso, antes de tudo, temos
que viver o Intróito da Missa deste Domingo para depois vivermos o que nos pede
Jesus no Evangelho de Lucas: “Domine, in tua misericórdia Speravi”. Esperar na
misericórdia, nos diz o Salmista, é exultar pela Salvação, é cantar por tudo o
que se nos acontece. O Salmo de Meditação após a Primeira Leitura (Sm
26,2.7-9.12-13.22-23) no-lo faz conhecer, atestar, confirmar. Misericórdia e
Graça são as prerrogativas do nosso Deus.
É com esta Esperança do Salmo 102 que conseguimos ser plenamente livres
para amar sem condições; é com este amor que somos verdadeiramente livres para
imitarmos Aquele que nos amou de forma irrestrita e irrevogavelmente nos
salvou. Jesus não só pregou o amor, mas Amou os seus que estavam no mundo, e os
amou até o fim.
Assim o Cristo instaurou a Nova Criação para nós, e a Nova Criação é
este ideal para o qual somos hoje convocados: amar criativamente, como Deus
quer. Criar um mundo novo a partir deste Amor incondicional, radical,
universal. Como Cristo se torna o Novo Adão, também nós nos tornamos, com o
nosso amor. Esta é a Vida Nova e a beleza do Cristianismo que não existe em
nenhum outro lugar. Peçamos a graça de buscar viver fraternalmente a alegria do
Ressuscitado em nossas vidas!
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