11- Segunda - Evangelho
- Mc 1,14-20
Convertei-vos
e crede no Evangelho!
Na
liturgia, começamos hoje a primeira semana do tempo comum. O Evangelho tem duas
partes: um apelo à conversão feito por Jesus, e o chamado de quatro discípulos.
“Depois
que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galiléia.” Na Palestina, o Estado
da Galiléia é o mais distante de Jerusalém. Mostra que Jesus não queria ser
preso nem morrer.
“O
tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo.” Portanto, a conversão
tem de ser agora, não pode ser adiada. O tempo já se cumpriu, quer dizer, já
venceu o prazo. O original está em grego, e esta língua tem duas palavras para
designar o tempo: 1ª) “Krónos”: o tempo do calendário. 2ª) “Kairós”: o tempo da
graça, de favor de Deus e de oportunidade de salvação. “Exorto-vos a não
receberdes em vão a graça de Deus, pois ele diz: ‘No momento favorável, eu te
ouvi, no dia da salvação, eu te socorri’. É agora o momento favorável, é agora
o dia da salvação” (2Cor 6,2).
“O
Reino de Deus está próximo” porque o próprio Jesus é a Boa Nova do Reino. Na
sua pessoa, na sua mensagem e na sua obra está já presente a salvação que o
Reino de Deus traz ao homem. O Reino de Deus não é mais algo do futuro, mas
está presente e começa a se realizar, isto é, está à porta de cada um de nós.
Por
isso, “convertei-vos e crede no Evangelho!” Evangelho significa Boa Nova. É o
conjunto de tudo que Jesus ensinou. Conversão, palavra muito usada no trânsito,
significa mudança de direção. Devemos mudar a direção da nossa vida, mudar o
nosso comportamento, transformando-o radicalmente.
“Crede
no Evangelho!” Deus veio até os homens para reconciliá-los. Não lhes traz mais
mandamentos, mas lhes pede a fé em suas palavras.
Os
quatro primeiros discípulos que Jesus chamou são duas duplas de irmãos. Os
quatro são pescadores. “Deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus.”
“Deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo
Jesus”. Para seguirmos a Jesus, precisamos deixar tudo: bens materiais,
família, trabalho... Chama a nossa atenção a resposta pronta, imediata e
incondicional deles. O discípulo – dirá Jesus mais tarde – precisa renunciar a
tudo: famílias, bens...
Jesus
os instruirá de forma dinâmica, isto é, não numa sala de aula, mas durante a
vida normal que vão viver juntos. É assim que nasce a Igreja.
Jesus
já conhecia esses quatro: Pedro, André, Tiago e João, pois era por ali que João
Batista pregava e ministrava o batismo de penitência. Jesus sabia que não eram
pessoas ociosas, mas gente trabalhadora e responsável; e eram generosos para se
entregarem por um ideal. Os quatro não sabiam o que era esse Reino de Deus para
o qual foram chamados, mas confiavam em Jesus que os convidava. Nós também, quando
abraçamos uma missão ou vocação (vida sacerdotal, matrimônio...) nunca
conhecemos direito o futuro, mas confiamos em Deus que nos convida. Fé é
exatamente isso: caminhar como se visse o invisível. Os quatro passaram a viver
apoiados na fé.
Não
adianta alguém dizer que tem fé, se não tem boas obras. São estas que mostram a
nossa fé. Ter fé é seguir um caminho novo, traçado não por nós, mas por Deus
para nós. Eu não conheço o caminho, mas creio que dará certo, porque foi Deus
que me chamou e ele conhece o caminho. Quando recebemos um sacramento – por
exemplo, a ordenação sacerdotal, o matrimônio – é certo que Deus nos chama para
aquilo, porque o sacramento é o sinal visível da graça e da ação de Deus.
A
fé cristã começa quando alguém toma um caminho novo na vida, por causa de Deus,
de Jesus Cristo, da Santa Igreja. Tomar um caminho novo é exatamente o sentido
da palavra conversão.
Antes
de subir para o céu, Jesus disse aos seus discípulos: “Assim está escrito: o
Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, e no seu nome será
anunciada a conversão, para o perdão dos pecados, a todas as nações...” (Lc
24,46-47). Para recebermos o perdão dos nossos pecados, temos de nos converter.
A
nossa conversão deve ser para a Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo. Para a
Igreja que ele fundou: una, santa, católica e apostólica.
Certa
vez, um professor estava aplicando uma prova aos seus alunos, os quais, em
silêncio, tentavam responder as perguntas com certa ansiedade.
Faltavam
uns quinze minutos para o encerramento, quando um aluno levantou o braço e
disse ao professor: “Professor, pode me dar uma folha em branco?” O professor
levou a folha até a sua carteira e perguntou por que mais uma folha em branco.
Ele respondeu: “Eu tentei responder as questões, rabisquei tudo, fiz uma
confusão e quero começar outra vez”.
Apesar
do pouco tempo que faltava, o professor confiou no rapaz e lhe deu a folha em
branco, torcendo para o aluno.
Nós,
pela vida afora, vamos corrigindo aqui, apagando ali... Mas pode acontecer, em
determinado momento, de precisarmos de uma folha em branco e mudar a nossa vida
radicalmente, porque não dá mais para fazermos pequenos retoques. Apesar do
pouco tempo que nos resta, o professor, que é Cristo, confia em nós e nos dá a
folha em branco, torcendo depois para que acertemos. Por isso, se for
necessário, não vamos ter medo de pedir a folha em branco, fazendo uma reforma
mais radical da nossa vida. A palavra conversão significa justamente isso.
Os
nossos atos têm suas raízes, isto é, eles são manifestações de algo mais
profundo em nosso interior, como um iceberg. Como disse Jesus a Nicodemos: “Se
alguém não nascer de novo, não poderá ver o Reino de Deus” (Jo 3,3). Como
aquele professor, Jesus está ao nosso lado, torcendo por nós e pronto para nos ajudar.
Maria
Santíssima tinha o coração todo voltado para Jesus e para a sua Igreja. Pedimos
a ela que interceda por nós, a fim de recebermos a graça da conversão.
Convertei-vos
e crede no Evangelho!
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