Padre
Queiroz
Este
é o meu Filho amado.
Hoje
celebramos com alegria a festa da Transfiguração do Senhor. Ela aconteceu para
animar os Apóstolos, cuja fé estava bastante abalada, devido à frustração deles
em relação a Jesus como o Messias. Junto com o povo, eles também esperavam um
Messias triunfante e vencedor, mas perceberam as coisas estavam caminhando na
direção contrária: Jesus sendo cada vez mais rejeitado, perseguido e
humanamente vencido. Se continuasse assim, não haveria nenhum Apóstolo ao pé da
cruz. Vemos esta diferença de visão do Messias naquela cena em que Pedro se
coloca na frente de Jesus e quer forçá-lo a voltar para trás (Mt 16,21-27).
Portanto,
a Transfiguração aconteceu mais em função dos discípulos do que de Jesus. Foi
por isso que ele escolheu os três Apóstolos que depois presenciariam a sua
agonia no Getsêmani (Mt 26,37).
Cristo
apresentou, como em um micro-filme, uma antecipação da sua glória como
ressuscitado, que será também a glória de todos os seus discípulos e discípulas
fiéis.
O
centro da cena são as palavras de Deus Pai: “Este é o meu Filho amado. Escutai
o que ele diz!” Aí está também a identidade de Jesus: o Filho amado de Deus
Pai.
No
prefácio desta festa encontramos um resumo do seu objetivo: “Perante
testemunhas escolhidas, Jesus manifestou sua glória e fez resplandecer seu
corpo, igual ao nosso, para que os discípulos não se escandalizassem da cruz.
Deste modo, como cabeça da Igreja, manifestou o esplendor que refulgiria em
todos os cristãos”.
O
Evangelho de hoje revela-nos a chave da fé. A voz do Pai convida-nos a escutar
Jesus, seu Filho amado, e subir com ele a montanha, seja do calvário, seja da
transfiguração. E também a estarmos com ele na planície, como o nosso caminho,
verdade e vida. Afinal, só ele tem palavras de vida eterna.
Na
Bíblia, o monte e o deserto têm um sentido teológico. Significam a nosso
seguimento incondicional de Cristo (monte) e a vida de oração, penitência e
silêncio que devemos assumir (deserto). Abraão subiu com o filho Isaac o monte
Moriá; João Batista foi para o deserto. Foi no monte que Jesus nos deu as
bem-aventuranças. Subir a montanha com Cristo é caminhar na obscuridade da fé.
É deixar as nossas seguranças, renunciar e morrer para si mesmo, optando pela
vida que nasce da morte.
Hoje,
com tanto barulho, é difícil escutar o outro e até o nosso interior, no qual
Deus nos fala. Muitos até se acostumam a viver no barulho e não suportam o
silêncio. Tem sempre ao seu lado uma TV, um rádio, um aparelho de som...
Entretanto, a paz é fruto do deserto e da montanha.
A
transfiguração é uma meta possível para quem escuta Jesus. Transfiguração quer
dizer transformação pessoal, por meio da conversão, a fim de caminhar com
Cristo na entrega total a Deus e aos irmãos e irmãs, especialmente aos mais
necessitados. Que o povo nos veja como pessoas transfiguradas, tão
transfiguradas que nos tornemos luz para eles.
Certa
vez, um príncipe se transformou em um burro. Coitado! E continuou vivendo no
reino, como burro. Uma princesa ficou sabendo, foi lá e começou a amar aquele
burro, dar-lhe carinho e afeto. Resultado: ele voltou a ser príncipe. O amor
dela o transformou, fê-lo recuperar a dignidade que havia perdido. Na verdade,
o amor da princesa não foi ao burro, mas ao príncipe escondido dentro dele. O
mundo nos desfigura, mas Deus nos manda agentes de transfiguração que, através
do amor, nos levam a nos levantarmos, sacudir a poeira e dar volta por cima.
Aquela
princesa acreditava na força transfiguradora do amor. Que nós também
acreditemos, pois o amor é capaz de nos levar a ver um príncipe em um burro.
Assim, um dia seremos definitivamente transfigurados.
Maria
Santíssima nunca foi desfigurada pelo pecado. E ela é, depois de Jesus, a maior
agente de transfiguração do mundo. Santa Maria, rogai por nós!
Este
é o meu Filho amado.
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