domingo, 11 de dezembro de 2016

Que fostes ver ao deserto?-Dehonianos

03ª semana do Advento – Quinta-feira - Anos Pares
15 Dezembro 2016
Tempo do Advento Terceira Semana – Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Isaías 54, 1-10
1 *Exulta de alegria, estéril, tu que não tinhas filhos, entoa cânticos de júbilo, tu que não davas à luz, porque os filhos da desamparada são mais numerosos do que os da mulher casada. É o Senhor quem o diz. 2Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas, 3porque vais aumentar por todos os lados. Os teus descendentes possuirão as nações, e povoarão cidades desertas. 4Não tenhas medo, porque não voltarás a ser humilhada. Não te envergonhes, porque não voltarás a ser desonrada. Esquecer-te-ás da vergonha do teu estado de solteira, e não te lembrarás do opróbrio da tua viuvez. 5Com efeito, o teu criador é que é o teu esposo, o seu nome é Senhor do universo. O teu redentor é o Santo de Israel, chama-se Deus de toda a terra. 60 Senhor chamou-te novamente como a uma mulher abandonada e angustiada. Na verdade, como se pode repudiar a esposa da juventude? É o teu Deus quem o diz. 7Por um curto momento Eu te abandonei, mas, com grande amor, volto a unir-me contigo. 8Num acesso de ira, e por um instante, escondi de ti a minha face, mas Eu tenho por ti um amor eterno. É o Senhor teu redentor quem o diz. 9*Vou agir como no tempo de Noé: jurei que nunca mais o dilúvio se abateria sobre a terra. Do mesmo modo, juro nunca mais me irritar contra ti, nem te ameaçar. 10Ainda que os montes sejam abalados e tremam as colinas, o meu amor por ti nunca mais será abalado, e a minha aliança de paz nunca mais vacilará. Quem o diz é o Senhor, que tanto te ama.
Isaías apresenta Sião, isto é, a comunidade de fiéis gerada pela morte do Servo do Senhor (Is 53), como aquela que experimenta a renovação da Aliança, o reflorir de um amor conjugal e o reatar da relação íntima e amorosa, que liga Deus ao seu povo redimido.
O profeta revisita a história do povo eleito, servindo-se da imagem do amor esponsal entre Deus e Sião. O exílio é comparado à viuvez e ao repúdio (v. 4), e a tragédia que caiu sobre Jerusalém, à esterilidade de uma mulher ansiosa por ter numerosos filhos (v. 1). Mas o Senhor inverte a sorte do seu povo. Jerusalém, com o regresso dos exilados, e o repovoamento da cidade, experimenta a vitalidade de um amor que parecia irremediavelmente perdido. A fecundidade miraculosa é sinal da bênção do esposo divino que, na verdade, nunca rejeitou a sua esposa, mesmo nos momentos dolorosos e pesados em que o povo de Sião se sentiu esquecido e castigado por Deus. Como, depois do Dilúvio, Deus se comprometeu com Noé a uma aliança eterna (cf. Gn 9, 9ss.), assim, agora, se compromete com uma aliança incondicionada e eterna em favor do povo dos exilados. Essa aliança fundar-se-á, não na infidelidade de Sião, mas na fidelidade indefectível de Deus (w. 9-10).


Evangelho: Lucas 7, 24-30
24*Depois de os mensageiros de João Baptista se terem retirado, Jesus começou a dizer à multidão acerca dele: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? 25Que fostes ver, então? Um homem vestido com roupas finas? Os que usam trajes sumptuosos vivem regaladamente e estão nos palácios dos reis. 26*Que fostes ver, então? Um profeta? Sim, Eu vo-to digo, e mais do que um profeta. 27É aquele de quem está escrito: ‘Vou mandar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de ti. ‘ 28*Digo-vos: Entre os nascidos de mulher não há profeta maior do que João; mas, o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que ele.» 29E todo o povo que o escutou, bem como os cobradores de impostos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o baptismo de João. 30*Mas, não se deixando baptizar por ele, os fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito.
Jesus, depois de despedir os embaixadores, faz perguntas sobre João Baptista que visam recolher o consenso dos ouvintes. Quer levá-los a reconhecer em João, não um simples profeta, mas aquele que abriu caminho a Cristo. João é o verdadeiro profeta que busca a Deus no deserto, na penitência, com fé firme, que não aceita compromissos com o mundo, que não quer dar nas vistas (vv. 24-25). Mas esta interpretação da figura de João não atinge o significado mais profundo da sua missão. Por isso, Jesus aponta-o como o mensageiro de que falou Malaquias (MI 3, 1), o precursor do Messias, aquele que aponta uma etapa radicalmente nova da história da salvação, quando pede o reconhecimento da necessidade de conversão.
O elogio de João torna-se uma reprimenda para quem se julga justo e não precisar de conversão. As palavras finais do evangelista são muito severas: «não se deixando baptizar por ele, os fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito (v. 30).
Meditatio
O profeta Isaías leva-nos, hoje, a meditar sobre o amor esponsal de Deus pelo seu povo, por cada um de nós, e sobre a importância que a «provação» pode ter numa caminhada de fé. Somos convidados a reconhecer-nos na figura feminina de Sião, que se sentia como uma mulher «abandona e aflitéP>, que agora experimenta a alegria de se sentir amada por um esposo fiel, que não repudia a companheira da sua juventude, mas a ama ainda mais ternamente. A provação da fé abre ao acolhimento de uma comunhão ainda mais profunda, simbolizada na união do homem e da mulher. Abre também a uma confiança mais forte na fidelidade de Deus.
Porque é que «o mais pequeno do Reino de Deus é maior do que e/~>, João Baptista? A resposta é a nova criação. O Reino de Deus trazido por Cristo é uma mudança radical. Quem entra nele, recebe uma vida nova, não já a nível humano, mas a vida dos filhos de Deus. É esta a maravilha que nos espera. O Filho torna-nos participantes da sua filiação. Trata-se de um dom gratuito de Deus, que recebemos contra todas as nossas expectativas e capacidades humanas. O profeta proclamava: «Exulta de alegria, estéril, tu que não tinhas filhos, entoa cânticos de júbilo, tu que não davas à luz, porque os filhos da desamparada são mais numerosos do que os da mulher casada. É o Senhor quem o di», A fecundidade natural na nova criação transfigura-se: a imaculada Conceição de Maria é o começo de um mundo novo. O Filho de Maria é o Filho de Deus.
O evangelho incita-nos ao testemunho de todas estas realidades por meio da meditação da figura de João Baptista, testemunha de Cristo. A sua figura indica-nos a firmeza, a coragem e a perseverança com que havemos de dar esse testemunho.
Jesus termina alertando-nos para o perigo de não fazermos da escuta da palavra de Deus uma verdadeira ocasião de conversão. Sem essa conversão, não é possível experimentar o amor esponsal de Deus pelo seu povo, o amor esponsal de Cristo pela sua Igreja, isto é aquela rela&ccedi
l;ão íntima entre Deus e o Seu povo, entre Cristo e a Sua Igreja, aquela relação a que todos somos chamados (cf .. 2 Cor 11, 2; Ef 5, 21-32; Apoc 19, 7-8; 22, 17.20). A união entre nós e Cristo é mais profunda e íntima do que a que existe entre dois esposos que "formam uma só carne’ (Ef 5, 31). Com Cristo somos uma só vida (cf. Gal 2, 20). A nossa reparação "como resposta ao amor de Cristo por nós" (Cst. 23) tem esta força, este sentido profundo. Para além de todo o devocionismo sentimental, Cristo é, de verdade, para nós, um esposo de sangue: "Amou-me e entregou-Se por mini’ (Gal 2, 20); "vemos no Lado aberto do Crucificado o sinal do amor que, na doação total de Si mesmo, recria o homem segundo Deus" (Cst. 21).
Oratio
Senhor, quero, hoje, cantar a tua fidelidade, o teu amor invencível, a tua ilimitada ternura. Tu és um Deus próximo, um Deus cujos caminhos são verdade! Tu és o Esposo de Sião, o redentor de Israel! Tu inclinaste-te sobre a nossa pobreza e enriqueceste-nos com o dom de Ti mesmo! Tu curvaste-te sobre o nosso pecado e curaste-nos! Tu afastaste a nossa vergonha e revestiste-nos de Ti!
Tu abriste-nos as portas do Reino, onde o mais pequeno é imensamente grande, porque é teu filho. Por ele, fez-se homem e morreu na cruz o teu Filho unigénito.
Por nosso amor, na plenitude dos tempos, abristes o céu, e enviaste-nos o teu Filho, que se fez nosso companheiro de viagem, nosso irmão e nosso Senhor! Glória e louvor a Ti, pelos séculos dos séculos! Amen.
Contemplatio
A mortificação é uma condição para a vida sobrenatural, e Deus já a tinha louvado desde a antiga Lei: «A sabedoria não se encontra naqueles que vivem em aeüass», diz Job (28, 13).
Nosso Senhor deu, Ele mesmo, o exemplo da mortificação: Cristo não se comprazeu em a si mesmo, diz S. Paulo, mas realizou o que fora dito no Salmo 68: tomei sobre mim, meu Deus, para os expiar, os pecados cometidos contra vós (Rm 15, 3).
Não devia Ele, de acordo com a sua missão, reparar os pecados dos homens e indicar aos discípulos um remédio contra os perigos da sensualidade? Foi por nosso amor que praticou a mortificação; é por uma justa correspondência ao seu amor que a devemos praticar, conforme o conselho de S. Paulo: «Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso cortx» (2 Cor 4, 10).
Pela mortificação, vivemos à semelhança, ou, melhor, vivemos n ‘ Ele, e prolongamos em nós a sua vida de vítima para glória de Deus e salvação das almas. «Exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus» (Rm 12, 1): E ainda: «Por causa de ti, estamos expostos à morte o dia inteiro,fomos tratados como ovelhas destinadas ao mstedoaro (Rm 8, 36).
É um remédio necessário contra o pecado da sensualidade. É uma morte que dá a vida: «É que, se viverdes de acordo com a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis» (Rm 8, 13).
S. Agostinho diz-nos isso em duas palavras: Morrei para viver – Morere ut vivas (De verbo Apost.). E resume algures as regras da mortificação em duas palavras recolhidas na filosofia: Sustine et abstine: sofrei tudo o que se apresentar; abstei-vos de tudo o que possa deleitar-vos os sentidos à custa do espírito. Morrei para o mundo e para vós mesmos, para viverdes em Jesus e com Jesus.
Destruí em vós o amor próprio, para reinar em vós a caridade, o amor de Deus, que é a verdadeira vida da alma. (Pe. Dehon, OSP 4, p. 558s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Amei-te com um amor eteno (Is 54, 8).


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