14/05/2016
Páscoa - S. Matias,
Apóstolo
S.
Matias não pertencia ao grupo dos Doze escolhidos por Jesus para seus
companheiros e mensageiros (Mc 3, 14). Mas provavelmente era um dos setenta e
dois discípulos que Jesus enviou em missão (Lc 10, 1ss.). De qualquer modo,
como firma S. Pedro, estava entre aqueles que, após o batismo de Jesus por João
Batista, não tinham deixado de acompanhar os Apóstolos e haviam sido
testemunhas da Ressurreição (At 1, 22-23). Quando após a Ascensão se tornou
necessário escolher um substituto para Judas, Matias foi agregado ao Colégio
Apostólico. O seu nome encontra-se no segundo elenco do Cânon Romano.
Lectio
Primeira
leitura: Atos dos Apóstolos 1, 15-17, 20-26
Por aqueles dias,
Pedro levantou-se no meio dos irmãos - encontravam-se reunidas cerca de cento e
vinte pessoas - e disse: 16«Irmãos,
era necessário que se cumprisse o que o Espírito Santo anunciou na Escritura
pela boca de David a respeito de Judas, que foi o guia dos que prenderam Jesus. 20Está realmente escrito
no Livro dos Salmos:‘Fique deserta a sua habitação e não haja quem nela
resida’. E ainda: ‘Receba outro o seu encargo.’21Portanto, de entre os homens que nos acompanharam durante
todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu no meio de nós, 22a partir do baptismo de João
até ao dia em que nos foi arrebatado para o Alto, é indispensável que um deles
se torne, connosco, testemunha da sua ressurreição.»23Designaram dois: José, de
apelido Barsabas, chamado Justo, e Matias. 24Fizeram, então, a seguinte oração: «Senhor, Tu que
conheces o coração de todos, indica-nos qual destes dois escolheste 25para ocupar, no
ministério apostólico, o lugar abandonado por Judas, que foi para o lugar que
merecia.»26Depois,
tiraram à sorte, e a sorte caiu em Matias, que foi incluído entre os onze
Apóstolos.
Pedro, ao iniciar o
seu ministério, preocupa-se em recompor o número dos apóstolos, - Doze -,
explicando à comunidade as motivações de tal preocupação. Para entrar no
Colégio Apostólico, o candidato deve ter partilhado as experiências do
ministério público de Jesus. Exige-o o testemunho eficaz da Ressurreição do
Senhor. Para o cristão, a fé enxerta-se na história e a história abre-se a Deus
que visita e salva. A oração dos Apóstolos (vv. 24-25) sugere claramente que a
escolha não é obra deles, mas é confiada à vontade e à intervenção do Senhor.
Segunda
leitura: João 15, 9-17
Naquele tempo, Jesus
disse aos seus discípulos: Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a
vós. Permanecei no meu amor. 10Se
guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que
tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor. 11Manifestei-vos estas
coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja
completa. 12É
este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. 13Ninguém tem mais amor do
que quem dá a vida pelos seus amigos.14Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. 15Já não vos chamo servos,
visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós
chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai.16Não fostes vós que me
escolhes-tes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e
fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo
concederá. 17É
isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.
O apóstolo partilha a
missão de Jesus, que o escolhe e envia. Mas, ainda antes disso, Jesus e os seus
discípulos partilham o mesmo amor que Deus, o Pai, lhes deu. O primeiro dever
do apóstolo é permanecer no amor, no amor de Jesus para com ele, e no amor de
Jesus para com o Pai. É viver na comunhão simultaneamente horizontal e
vertical, isto é, com os irmãos na fé e com Deus, meta última do nosso amor. O
discípulo de Jesus, porque se sente amado e partilha com Jesus o amor do Pai,
sabe que tem um mandamento a observar, o mandamento do amor. Este mandamento
não inibe a nossa liberdade, mas exalta-a. O verdadeiro discípulo de Jesus tem
plena consciência de ser seu amigo, e sente-se chamado a viver essa amizade
“até ao fim”, até ao dom de si mesmo.
Meditatio
S. Matias foi
escolhido para ser amigo de Jesus e seu apóstolo. Como aos Onze, que restavam
do Colégio Apostólico, Jesus diz: “És meu amigo, se fizeres o que Eu te mando.”
(cf. v. 14). Os temas do mandamento e o do amor repetem-se, hoje, no evangelho:
“Permanecei no meu amor. Se
guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor.” (vv. 9-10); “É este
o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei.” (v. 12). Esta
insistência no mandamento, a propósito do amor, pode causar-nos estranheza. O
amor, pensamos, só pode ser livre, uma vez que é algo de espontâneo e se
desenvolve por leis próprias. Não são precisos mandamentos para o observar. Mas
o cristão sabe que o verdadeiro amor não é pura espontaneidade, mas dom de
Deus, derramado nos nossos corações. Para Jesus o verdadeiro amor leva a
cumprir a vontade do outro: “Eu tenho guardado os mandamentos do meu Pai, e
permaneço no seu amor” cf. (v. 10). Para amar o Pai, Jesus vive em permanente
adesão à sua vontade. O Pai, e Jesus, querem que também nós amemos. Trata-se de
uma espécie de círculo, que não é vicioso, mas de progresso no amor. A
verdadeira adesão à vontade de Deus realiza-se no amor e, para que o nosso amor
progrida, é preciso que seja adesão à vontade divina. Esta é a lei fundamental
da vida espiritual: para amar, procuramos a vontade de Jesus, a vontade do Pai;
procurando e cumprindo esta vontade, progredimos no amor.
A oblação de amor, a
que somos chamados, como dehonianos, concretiza-se na obediência amorosa à
vontade de Deus. Lemos nas Constituições: “Jesus submeteu-Se amorosamente à
vontade do Pai: disponibilidade particularmente manifesta na sua atenção e
abertura às necessidades e aspirações dos homens."O meu alimento é
fazer a vontade d'Aquele que Me enviou e realizar a sua obra"(Jo
4,34). Queremos, a seu exemplo, pela profissão da obediência, fazer o
sacrifício de nós mesmos a Deus e unir-nos, de uma maneira mais firme, à sua
vontade de salvação”. (Cst 53).
Oratio
Senhor Jesus, quero
ser teu amigo. Não olhes para os meus méritos, mas para a misericórdia do teu
coração. Perdoa o meu pecado e olha-me com predileção. Sei que precisas de
colaboradores livres e alegres. Quero ser um deles. Tenho muito que aprender de
ti e tu tens muito para me ensinar e entregar. Eis-me aqui! Quero ser teu
amigo, um dos teus prediletos, um daqueles a quem confias quanto tens no
coração e, como tu, fazer em tudo a vontade do Pai. Ámen.
Contemplatio
É preciso, diz S.
Pedro, substituir o traidor e escolher um outro apóstolo. Procuremos, portanto,
um discípulo fiel, um discípulo que tenha estado todo o tempo
connosco, desde o começo da vida pública do Salvador até à sua morte. E
escolheram dois, os mais fiéis, os mais zelosos discípulos do
Salvador, José Barsabas, chamado o Justo, e Matias. Este não tinha o sobrenome
de Justo, mas tinha a sua reputação. Ambos tinham seguido assiduamente o
Salvador; não o tinham deixado; tinha escutado e posto em prática os seus
ensinamentos. Eram os mais dedicados, os mais assíduos, os mais fiéis depois
dos doze. Tinham visto tudo, ouvido tudo, meditado tudo… Podiam receber a
imposição das mãos, o sacerdócio, o carácter episcopal e a missão apostólica.
Mas, qual dos dois vão escolher? ... S. Pedro tem a piedosa inspiração de
confiar a escolha a Deus reportando-se à sorte. E a sorte caiu em Matias. É,
portanto, ele o fiel por excelência, o discípulo perfeito, que melhor ensinará
a doutrina de Cristo e que melhor reproduzirá as virtudes do seu divino
Coração. Se quero ter os favores divinos, eis o caminho: seguir fielmente
Jesus, meditar em todos os seus mistérios, do começo até ao fim, deixar-me
compenetrar dos sentimentos do seu Coração sagrado e reproduzir as suas
virtudes. (Leão Dehon, OSP 3, p. 213).
Actio
Repete muitas vezes e
vive hoje a palavra:
“Permanecei no meu
amor” (Jo 15, 9).
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S. Matias, Apóstolo
(14 Maio)
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