S. Timóteo nasceu
em Listra. A sua mãe era hebreia e o seu pai era grego. Colaborou
intimamente com S. Paulo na evangelização, mantendo por ele um afeto
filial. O Apóstolo colocou-o à frente da Igreja de Éfeso.
S. Tito, que parece vir do paganismo, tornou-se um cristão de fé sólida e
um evangelizador ativo e fervoroso. Na carta que lhe é dirigida,
aparece-nos como responsável pela Igreja de Creta.
Lectio
Primeira leitura: 2 Timóteo 1, 1-8
Paulo, apóstolo de
Jesus Cristo, por desígnio de Deus, segundo a promessa de vida que há em
Cristo Jesus, 2a Timóteo, meu filho querido: graça, misericórdia e paz de
Deus Pai e de Cristo Jesus, Nosso Senhor. 3Dou graças a Deus, a quem sirvo
em consciência pura, como já o fizeram os meus antepassados, ao recordar-te
constantemente nas minhas orações, noite e dia. 4Ao lembrar-me das tuas
lágrimas, anseio ver-te, para completar a minha alegria, 5pois trago à
memória a tua fé sem fingimento, que se encontrava já na tua avó Loide e na
tua mãe Eunice e que, estou seguro, se encontra também em ti. 6Por isso
recomendo-te que reacendas o dom de Deus que se encontra em ti, pela
imposição das minhas mãos, 7pois Deus não nos concedeu um espírito de
timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso. 8Portanto, não te
envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro,
mas compartilha o meu sofrimento pelo Evangelho, apoiado na força de Deus.
A Segunda Carta a
Timóteo é uma espécie de testamento espiritual do Apóstolo, na véspera do
seu martírio. Trata-se de um escrito da escola paulina, de finais do século
I. Entre expressões de afeto e de estima por Timóteo, Paulo afirma a sua
condição de Apóstolo, vocação e missão a que foi chamado e às quais
correspondeu generosamente. Paulo sublinha também a continuidade entre o
seguimento de Jesus e a fidelidade à lei hebraica, que viveu e pregou. O
mesmo sucede com Timóteo, filho de pai grego, mas iniciado ao cristianismo
pela sua avó e pela sua mãe, ambas hebreias. O autor da carta acentua
também o carisma de pastor de almas personificado em Timóteo, e transmitido
pelo Apóstolo, através da imposição das mãos. Em todo o texto domina o
testemunho dado a Cristo por Paulo nas diversas e difíceis provações por
que passou, e que Timóteo deve continuar, com a graça de Deus.
Evangelho: Lucas 10, 1-9
Naquele tempo,
designou o Senhor outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois,
à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir.
2Disse-lhes:«A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai,
portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe. 3Ide!
Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos. 4Não leveis bolsa, nem
alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho.
5Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta
casa!’ 6E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz;
se não, voltará para vós. 7Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá
houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em
casa. 8Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que
vos for servido, 9curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: ‘O Reino
de Deus já está próximo de vós.’
A obra de Jesus
está internamente aberta e realiza-se através dos discípulos. Os Doze continuam
a ser o fundamento de toda a missão da Igreja. Mas, juntamente com eles, e
depois deles, Jesus escolheu muitos outros. A messe é grande e os
trabalhadores acabam sempre por ser poucos. O nosso texto alude a setenta e
dois, número de plenitude e sinal de todos os missionários posteriores que
anunciam a mensagem do reino na nossa Igreja. Através desses discípulos, a
missão de Jesus alcança todas as fronteiras da história, chegando à sua
plenitude na grande meta da ceifa escatológica.
Meditatio
“Recomendo-te que
reacendas o dom de Deus que se encontra em ti” (v. 6). Para nós, esse dom é
a vocação cristã, primeiro anel de uma corrente de dons que Deus tem para
nos dar. Podemos meditar nesse dom na perspetiva da fraternidade,
sublinhando dois aspectos: a simplicidade fraterna e a fidelidade fraterna.
Quanto à simplicidade fraterna, não havemos de nos julgar mais do que os
outros, alimentar ambições, ser presumidos. Pelo contrário, há que
fazer-nos pequenos com os outros, irmãos entre os irmãos: “Quem quiser ser
grande entre vós, faça-se vosso servo” (Mc 10, 43). A fraternidade cristã
apoia-se numa igualdade fundamental: diante de Deus, todos somos iguais;
diante dos outros, todos somos carenciados. Por isso, ninguém pode
pretender ser mais do que os outros. O nosso modelo é Jesus, que se fez
nosso irmão. Poderia fazer sentir o seu poder, a sua autoridade; mas
preferiu estar no meio de nós como quem serve! “Pois, quem é maior: o que
está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora,
Eu estou no meio de vós como aquele que serve.” (Lc 22, 27).
A fraternidade, a simplicidade fraterna manifestam-se também como afeto
fraterno. Os sentimentos recíprocos entre Paulo e Timóteo manifestam essa
igualdade de afeto solidário, e não meramente jurídica: “Ao lembrar-me das
tuas lágrimas, anseio ver-te, para completar a minha alegria” (v. 4).
Timóteo tinha chorado quando Paulo partiu. Paulo deseja estar com os irmãos
que se amam. Por vezes chama a Timóteo “irmão”, mas aqui chama-o “filho
querido”, porque o gerou para a graça de Cristo pela pregação e pelo
Batismo.
A fraternidade inclui outro aspeto ainda mais realista e exigente: a
fidelidade fraterna. Trata-se da solidariedade uns para com os outros,
especialmente em momentos de crise e de sofrimento: “Vós sois os que
permaneceram sempre junto de mim nas minhas provações,” (Lc 22, 28), diz
Jesus aos seus discípulos. É isto que faz perdurar e crescer a
fraternidade. Irmão é aquele que ajuda o seu irmão. Jesus fez-se nosso
irmão para nos ajudar e ajudou, mesmo à custa de muito sofrimento. Ao
fazer-se nosso irmão, também quis precisar da nossa ajuda e ser ajudado por
nós. Por isso, congratula-se com os apóstolos que permaneceram junto d´Ele
nas suas tribulações.
Paulo pede a Timóteo que ponha em prática, na solidariedade fraterna, essa
fidelidade: “Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem de
mim, seu prisioneiro, mas compartilha o meu sofrimento pelo Evangelho,
apoiado na força de Deus.” (v. 8).
Havemos de sentir esta solidariedade, de modo particular, para com aqueles
que têm maiores responsabilidades na Igreja. Se Jesus se fez nosso irmão, é
porque quis ensinar-nos a viver esse espírito de fraternidade, sem o não é
possível caminhar no amor.
Oratio
Senhor, bem sabes
que a nossa solidariedade para com os irmãos, muitas vezes, dá lugar ao
desejo de sermos os primeiros. Mesmo nas atividades pastorais, em vez de
partilharmos com simplicidade e alegria as responsabilidades, muitas vezes
queremos impor as nossas decisões e os nossos pontos de vista. Dá-nos um
coração manso e humilde como o teu. Ajuda-nos a pôr no centro o teu
Evangelho, e não as nossas convicções. Põe ordem e clareza nas motivações
do nosso agir, para vencermos o nosso orgulho, mesmo quando mascarado de
“boas intenções”. Dá-nos a alegria de nos reconhecermos pequenos. Sê a
nossa única força, e nada nos meterá medo. Ámen.
Contemplatio
Ó Jesus, que nos
dissestes para aprendermos do vosso coração a sermos mansos e humildes,
tornai o nosso coração semelhante ao vosso! Como é manso e humilde o Menino
divino de Belém e de Nazaré! É o seu carácter próprio, é o estilo da sua
vida. Na sua vida pública, é manso e bom para com todos. Isaías tinha-o
descrito (42, 1), e Jesus deleitava-se a reler este quadro na sinagoga:
«Eis o meu Filho bem amado, que não gosta das querelas, dos gritos, do
barulho das praças, não quebra a cana rachada e não extingue a mexa que
ainda fumega…». Jeremias tinha-o apresentado como um cordeiro cheio de
mansidão… S. João chama-o o Cordeiro que é sacrificado desde a origem do
mundo. Quando entra em Jerusalém sobre a sua modesta montada, é o Rei de
mansidão predito por Isaías e Zacarias (Mt 21). Na sua paixão, a sua
mansidão traduz-se pelo seu silêncio e pela sua paciência. A mansidão, diz
S. Paulo, é fruto do Espírito Santo, com as virtudes que se lhe assemelham:
a paz, a benignidade, a bondade (Gal 5, 22). A caridade é mansa,
benevolente, amável, S. Paulo repete a todas as Igrejas: aos Efésios, aos
Gálatas, aos Coríntios. Recomenda a Timóteo para ser manso para com todos,
paciente e modesto, como convém a um bom servidor de Deus (2Tim 2, 24). O
homem manso será bem-aventurado, porque Deus o abençoará, mas também porque
ganhará facilmente os corações e não terá inimigos. (L. Dehon, OSP 4, p.
36s.).
Actio
Repete muitas
vezes e vive hoje a palavra:
“Reacende o dom de Deus que há em ti” (cf. 2 Tm 1, 6).
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S. Timóteo e S.
Tito, Bispos (26 Janeiro)
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Obrigado!!!
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