Saulo, cidadão
romano por privilégio da sua cidade natal, Tarso, era um judeu convicto,
formado na escola de Gamaliel, em Jerusalém. Opôs-se decididamente à nova
fé que começava a propagar-se na Palestina e arredores. Clamou pela morte
de Estêvão, e tomou parte nela, guardando as capas dos que apedrejavam o
protomártir. Perseguiu violentamente os crentes em Jesus Cristo. O seu nome
causava terror nas comunidades cristãs. Ao dirigir-se para Damasco para
prender os cristãos que lá encontrasse e conduzi-los a Jerusalém, encontrou
Jesus ressuscitado. Esse encontro mudou-lhe para sempre a vida, com a sua
forma de crer e de pensar. Jesus ressuscitado, que ele perseguia, tornou-se
o centro da sua espiritualidade e da sua teologia. Em Antioquia, Saulo faz
a sua primeira experiência de vida cristã. Tornado apóstolo do Evangelho,
com o nome de Paulo, Antioquia será também o ponto de partida para as suas
viagens missionárias. Funda diversas comunidades na Ásia e na Europa.
Escreve-lhes cartas que testemunham o seu amor a Jesus Cristo e à Igreja, e
nos dão elementos importantes da sua teologia. Como apóstolo verdadeiro e
autêntico, Paulo tem sempre o cuidado de voltar a Jerusalém para se confrontar
com os outros apóstolos e não correr em vão.
Há muitos séculos que a festa da conversão de S. Paulo foi fixada no dia 25
de Janeiro, talvez por causa da data da transladação do seu corpo, que
atualmente repousa na Basílica de S. Paulo Fora dos Muros, em Roma.
Lectio
Primeira Leitura:
Act 22, 3-16
Naqueles dias,
Paulo disse ao povo: “Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui
educado nesta cidade, instruído aos pés de Gamaliel, em todo o rigor da Lei
dos nossos pais e cheio de zelo pelas coisas de Deus, como todos vós sois
agora. 4Persegui de morte esta «Via», algemando e entregando à prisão
homens e mulheres, 5como o podem testemunhar o Sumo Sacerdote e todos os
anciãos. Recebi até, da parte deles, cartas para os irmãos de Damasco, onde
ia para prender os que lá se encontrassem e trazê-los agrilhoados a
Jerusalém, a fim de serem castigados. 6Ia a caminho, e já próximo de
Damasco, quando, por volta do meio dia, uma intensa luz, vinda do Céu, me
rodeou com a sua claridade. 7Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia:
‘Saulo, Saulo, porque me persegues?’ 8Respondi: ‘Quem és Tu, Senhor?’ Ele
disse-me, então: ‘Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues.’ 9Os meus
companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz de quem me falava. 10E
prossegui: ‘Que hei-de fazer, Senhor?’ O Senhor respondeu-me: ‘Ergue-te,
vai a Damasco, e lá te dirão o que se determinou que fizesses.’ 11Mas, como
eu não via, devido ao brilho daquela luz, fui levado pela mão dos meus
companheiros e cheguei a Damasco. 12Ora um certo Ananias, homem piedoso e
cumpridor da Lei, muito respeitado por todos os judeus da cidade, 13foi
procurar-me e disse: ‘Saulo, meu irmão, recupera a vista.’ E, no mesmo
instante, comecei a vê-lo. 14Ele prosseguiu: ‘O Deus dos nossos pais
predestinou-te para conheceres a sua vontade, para veres o Justo e para ouvires
as palavras da sua boca, 15porque serás testemunha diante de todos os
homens, acerca do que viste e ouviste. 16E agora, porque esperas?
Levanta-te, recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o
seu nome.
Este é um dos três
relatos com que Lucas enriquece a história da primitiva comunidade cristã.
Sem se preocupar com o rigor histórico, - alguns pormenores são mesmo
improváveis -, o autor do livros dos Atos pretende personificar em Paulo a
justificação do cristianismo e a falta de razão do judaísmo.
O evento de Damasco articula-se em três momentos: um diálogo de
reconhecimento mútuo entre Jesus Ressuscitado e Saulo de Tarso; a conversão
de Saulo revelada na pergunta: “Que hei de fazer, Senhor?”; a missão: quem
conheceu a vontade de Deus e viu o Justo recebendo a palavra da sua boca,
torna-se testemunha do que viu e ouviu. Doravante, para Paulo, a única
forma de vida é ser missionário.
Evangelho: Marcos 16, 15-18
Naquele tempo,
Jesus apareceu aos Onze e disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o
Evangelho a toda a criatura. 16Quem acreditar e for batizado será salvo;
mas, quem não acreditar será condenado. 17Estes sinais acompanharão aqueles
que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão línguas novas,
18apanharão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não
sofrerão nenhum mal; hão de impor as mãos aos doentes e eles ficarão
curados.»
Paulo não
pertenceu ao grupo dos Doze. Mas a Liturgia aplica-lhe também as palavras
de Jesus aos Doze, no momento em que subia ao céu: “Ide pelo mundo inteiro,
proclamai o Evangelho a toda a criatura” (v. 15). Paulo, depois da sua
experiência de fé e de comunidade, torna-se verdadeiro apóstolo de Jesus.
Desde sempre a Igreja entendeu que o mandato missionário do Ressuscitado se
dirigia também a ele. Paulo submete-se e obedece.
Deus quer salvar a humanidade com a colaboração da própria humanidade.
Jesus precisa de missionários-testemunhas. A salvação é fruto da pregação e
realiza-se pelo ato de fé de quem a escuta: “Quem acreditar e for batizado
será salvo” (v. 16). Deus, que nos criou sem nós, não nos salva sem a nossa
colaboração.
Os sinais e prodígios que acompanham a pregação dos apóstolos manifestam a
presença consoladora de Deus no meio de nós.
Meditatio
Em S. Paulo
revela-se verdadeiramente o poder de Deus. Inimigo acérrimo do nome de
Cristo, Saulo encontra-se com o Senhor no caminho de Damasco, acolhe-o na
fé e torna-se seu Apóstolo entusiasta, com uma fecundidade extraordinária,
que ainda não terminou. O seu itinerário de fé é símbolo do nosso.
Acreditar implica, antes de mais, encontrar pessoalmente Jesus de Nazaré,
Deus feito homem. O cristão não se acredita numa doutrina, num sistema, mas
numa pessoa, a pessoa humano-divina de Jesus. Ter fé é aderir vitalmente a
Jesus, de tal modo que já não se pode viver sem Ele.
Realizado o encontro, passa-se ao diálogo, uma vez que a fé é encontro e
adesão entre pessoas inteligentes e livres. A quem se dispõe ao diálogo,
Deus revela a Si mesmo, revela a sua vontade e os seus projetos. Este
diálogo vital leva aqueles que o realizam a uma forma de vida cada vez mais
elevada.
Mas a fé cristã também é obediência, submissão, abandono total da criatura
ao Criador. Obedecer não significa abdicar da própria liberdade ou dos
próprios direitos. Significa, sim, perceber a imensa distância que existe
entre si o interlocutor e, ao mesmo tempo, intuir que a adesão à vontade
divina leva à total satisfação e realização de si mesmo.
Finalmente, a fé cristã é também missão. Não se pode privatizar um bem que,
por sua natureza, é comunitário. Quem recebeu de Cristo o dom da salvação
em Cristo, sente-se intimamente obrigado a fazer dele um dom para os
outros.
O Apóstolo Paulo é nosso guia em tempos de aprofundamento espiritual e de
renovação apostólica. Como ele, o apóstolo dos tempos novos deve procurar,
em primeiro lugar, a inteligência do Mistério de Cristo num apego
inquebrantável ao seu Amor (cf. Ef 3, 4; Rm 8, 35; Fl 3, 8-10). É apóstolo,
em primeiro lugar, pelo testemunho da visão de Cristo (At 26, 1) e
tornando-se no Espírito imagem viva do Salvador morto e ressuscitado. É a
caridade do Senhor que vive nele e que o impele em direção aos homens para
lhes anunciar o Evangelho de Deus, o Evangelho que todos podem ler na sua
vida e nos seus escritos. Ensina-nos o serviço ardente e inteligente em
favor do Reino. Vivendo de Cristo, a ponto de ser identificado com Ele pela
graça (Gl 2, 20), lembra-nos que o serviço apostólico enraíza numa
verdadeira consagração a Deus e dá à nossa oblação capacidade para se manifestar
e aprofundar no trabalho generoso para que a humanidade se torne «uma
oblação agradável santificada pelo Espírito Santo (XV Capítulo Geral, DOC
VII, n. 167).
Oratio
Apóstolo S. Paulo,
na tua juventude, deixaste-te levar por um zelo ardente mas errado em favor
da unidade do povo de Deus. Por isso, perseguiste duramente os cristãos.
Deus converteu-te e introduziu-te na Igreja, Corpo de Cristo, onde deve
integrar-se quem quiser viver na verdadeira fé. Mas a tua adesão a Cristo e
a tua integração na Igreja não te fizerem esquecer o teu povo, pelo qual
sentias uma dor profunda e permanente. Que a minha alegria de estar em
Cristo não me faça esquecer a situação do antigo Povo de Deus, nem a dos
cristãos divididos, que tardam em chegar à unidade que Deus quer. Ámen.
Contemplatio
S. Paulo
recolhe-se alguns dias, depois começa a pregar a divindade de Jesus Cristo.
Será um dos mais poderosos apóstolos pela palavra e pelo sofrimento.
«Escolhi-o, dizia Nosso Senhor, para levar o meu nome diante das nações e
dos reis e dos filhos de Israel, e hei de mostrar-lhe quanto terá de sofrer
pelo meu nome». A sua conversão e a sua vocação são devidas à misericórdia
do Coração de Jesus. O Coração de Jesus ama as almas ardentes, zelosas,
dedicadas. Mas a oração de Santo Estêvão contribuiu para estas grandes
graças. Santo Estêvão rezava pelos seus perseguidores, entre os quais S.
Paulo era o mais ardente. Se soubermos rezar e sofrer pelas almas,
obteremos grandes graças, ilustres conversões, vocações poderosas.
Ofereçamos as nossas orações, as nossas cruzes, os nossos sofrimentos ao
Coração de Jesus para que envie à sua Igreja, nestes tempos difíceis,
apóstolos poderosos em palavras e em obras (L. Dehon, OSP 3, p. 90s.).
Actio
Repete muitas
vezes e vive hoje a palavra:
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário