29/12/2015
Tempo do Natal -
5º dia da Oitava do Natal
Lectio
Primeira
leitura: 1João 2, 3-11
Caríssimos:3*Sabemos
que o conhecemos por isto: se guardamos os seus mandamentos. 4*Quem diz: «Eu
conheço-o», mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso, e a verdade não
está nele; 5*ao passo que quem guarda a sua palavra, nesse é que o amor de Deus
é verdadeiramente perfeito; por isto reconhecemos que estamos nele. 6*Quem diz
que permanece em Deus também deve caminhar como Ele caminhou. 7*Caríssimos, não
vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que já tínheis desde
o princípio: este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. 8*É, contudo, um
mandamento novo o que vos escrevo .o que é verdade nele e em vós. pois as
trevas passaram e a luz verdadeira já brilha. 9*Quem diz que está na luz, mas
tem ódio a seu irmão, ainda está nas trevas. 10Quem ama o seu irmão permanece
na luz e não corre perigo de tropeçar. 11Mas quem tem ódio ao seu irmão está
nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe
cegaram os olhos.
O
caminho para conhecer a Deus e permanecer nele é, pela negativa, «não pecar» (cf
1 Jo 1, 5-2,2) e, pela positiva, guardar os mandamentos, especialmente o do
amor a Deus ( vv. 3-6) e aos irmãos 8vv. 8-11). O conhecimento de Deus
comporta, pois, exigências de vida, ao contrário da gnose, filosofia religiosa
popular do tempo de Jesus, que apenas exigia a libertação do mundo visível.
Opondo-se a essa doutrina, que excluía o pecado e a existência de qualquer
moral, João afirma que o verdadeiro conhecimento de Deus deve ser autenticado
pela observância dos mandamentos. De facto, quem guardar a «sua palavra» (v. 5)
experimenta o amor de Deus e mora nele, porque vive como Jesus viveu, e tem
dentro de si uma realidade interior que o impele a imitar a Cristo, cujo
exemplo de vida é precisamente o amor (v. 6).
Este
mandamento do amor é novo e antigo: «novo», porque gera vida nova e deve sempre
redescobrir-se; «antigo», porque foi ensinado desde o início do anúncio
cristão. O verdadeiro critério de discernimento do espírito de Deus é o amor
fraterno, porque ninguém pode estar na luz de Deus e odiar o próprio irmão.
Evangelho:
Lucas 2, 22-35
22*Quando
se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a
Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23*conforme está escrito na Lei do
Senhor: Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor 24e para oferecerem
em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25*Ora,
vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a
consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26*Tinha-lhe sido revelado
pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor.
27Impelido pelo Espírito, veio ao templo e, quando os pais trouxeram o menino
Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito, 28Simeão tomou-o
nos braços e bendisse a Deus, dizendo: 29*«Agora, Senhor, segundo a vossa
palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, 30*porque meus olhos viram a
Salvação 31que oferecestes a todos os povos, 32*Luz para se revelar às nações e
glória de Israel, vosso povo.» 33Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que
se dizia dele. 34*Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua
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de texto: Tempo do Natal 29|Dezembro
mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35*uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»
mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35*uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»
A
apresentação de Jesus no templo tem como horizonte teológico o quadro da antiga
aliança que dá lugar à nova aliança, pelo reconhecimento do menino Jesus como o
Messias sofredor, o Salvador universal dos povos. A narrativa está cheia de
referências bíblicas (cf. Ml 3; 2 Sam 6; Is 49, 6), e compõe-se de duas partes:
a apresentação da cena (vv. 22-24) e a profecia de Simeão (vv. 25-35).
Maria
e José, obedientes à lei hebraica, entram no templo como membros simples e
pobres do povo de Deus, para oferecerem o primogénito ao Senhor e para
purificação da mãe (cf. Ex 13, 2-16; Lv 12, 1-8). A oferta do Menino revelam
confiança e abandono em Deus, antecipação da verdadeira oferta do Filho ao Pai,
que se realizará no Calvário. O centro da cena é a profecia de Simeão, homem
justo e piedoso que esperava a consolação de Israel (cf. v. 25). Guiado pelo
Espírito, vai ao templo e, reconhecendo em Jesus o Messias esperado, saúda-o
festivamente e faz uma confissão de fé: realizaram-se as antigas profecias; ele
viu o Salvador, a glória de Israel, a luz e salvação de todos os povos. Mas
essa luz terá o reflexo do sofrimento, porque Jesus há-de ser «sinal de
contradição» (v. 34) e a própria Mãe será envolvida o destino de sofrimento do
Filho (v. 35).
Meditatio
A
contemplação do encontro de Simeão com o Menino Jesus, deixa-nos entrever a
alegria imensa de quem vê realizar-se um desejo antigo, próprio e de todo o
povo. Simeão contempla e recebe nos braços o Messias de Israel, Aquele que traz
consolação, salvação, luz e glória a Israel.
As
palavras «impelido pelo Espírito, veio ao templo» podem trazer inspiração para
a nossa vida. Simeão é um homem dócil ao Espírito Santo e, por isso, pode ter a
alegria de encontrar o Messias, tomá-lo nos braços e bendizer a Deus. Homem
justo e temente a Deus, observava, não os mandamentos, mas também as
inspirações de Deus. Estava atento à voz do Espírito para, em todas as
circunstâncias, fazer a vontade de Deus. Assim caminhava na luz, para conhecer
a Jesus, como ensina S. João. Coube-lhe a honra de oferecer a Deus aquele
menino. Fê-lo certamente com o arrebate que notamos no seu hino. Mas estava
ainda longe de compreender plenamente o alcance do seu gesto. Escreve o Pe.
Dehon: «Enquanto que o velho Simeão o oferece assim, Deus não vê nas mãos do
sacerdote senão o Coração do seu Filho, que se oferece a si mesmo, este Coração
animado de uma generosidade infinita, este Coração tão grande pelo amor, que é
pequeno fisicamente. O santo ancião não compreende toda a excelência deste dom
que ele faz a Deus da parte dos homens; adivinha-o um pouco, entrevê-o
profeticamente. O Coração de Jesus compreende todo o valor desta oferenda, é ao
mesmo tempo o doador e o dom, o Sacerdote e a oblação» (OSP 3, p. 218).
Cristo
entregava-se para glória e alegria do Pai e para salvação da humanidade. Amar a
exemplo de Cristo, significa entregar-se, esquecer-nos de nós mesmos, procurar
os interesses dos outros até ao sacrifício dos próprios interesses. A atitude
evangélica de quem se coloca na verdade é o dom de si mesmo a Deus e aos
irmãos. A vida cristã é amor que se dá a todos com generosidade.
O
fundamento deste amor é a própria Trindade, a comunhão que une o Pai e o Filho.
Isto
faz-nos compreender que o amor cristão não se limita à comunidade cristã, em
que cada um de nós vive, porque o amor fundado sobre o amor do Pai e vivido em
plenitude entre os irmãos na fé é um elemento de dinamismo apostólico. Com
quanto maior profundidade se viver a fé e o amor, mais nos sentimos impelidos
ao testemunho. Onde reinar esse amor recíproco, os discípulos tornam-se sinal
histórico e concreto de Deus-Amor no mundo.
Oratio
Senhor
Jesus, a tua vida escondida, e confundida com a da gente comum, é para nós um
exemplo de simplicidade e de pobreza. Como qualquer primogénito do teu povo,
quiseste ser apresentado ao templo e oferecido a Deus, para cumprires a Lei.
Fizeste-te reconhecer como Salvador universal por Simeão, um homem justo e
aberto à novidade do Espírito. É aos simples e aos humildes que Te costumas
revelar, e não aos sábios e orgulhosos.
Nós
Te pedimos que, apesar da nossa miséria e da nossa incapacidade em nos darmos
conta da passagem do teu Espírito na nossa vida, nos dês a graça de Te
reconhecermos como nossa luz e como luz do mundo.
Nós
Te louvamos e bendizemos, com o velho Simeão, pela realização das tuas
promessas. Ajuda-nos a viver tudo quanto nos ensinaste, especialmente o amor
fraterno. E que toda a nossa vida seja oblação ao Pai, em favor da humanidade,
pela qual Tu próprio Te ofereceste. Amen.
Contemplatio
Simeão,
homem justo e temente a Deus, esperava a consolação de Israel. O Espírito
Santo, que estava nele, tinha-lhe dito que não morreria sem ver o Cristo do
Senhor. Ele esperava, era a sua vida, e a sua confiança era inabalável.
Mas
será que eu peço e espero o reino de Nosso Senhor? Quão depressa fico sem
coragem! Uma decepção, uma oração aparentemente infrutífera, uma demora da
Providência, e deixo-me abater. Rezar, esperar, ter confiança, isto é a vida
cristã.
É
um dia de alegria para Simeão. Naquele dia, os seus pressentimentos
realizam-se. Vem ao Templo, encontra uma criança com a sua mãe. É o redentor! O
vidente compreendeu- o.
E
quando recebe Jesus nos seus trémulos braços, não consegue conter as lágrimas:
«Agora posso morrer, diz, vi a salvação...» A terra já não tem encanto para
ele. Os seus olhos já não se interessariam por mais nada. Viu o Senhor, irá
esperá-lo no silêncio dos limbos.
Oh!
Porque é que não sei esperar e perseverar na oração? Alegrias profundas viriam
recompensar-me e encorajar-me.
Como
Simeão é belo quando, com os olhos banhados de lágrimas, ergue com os seus
trémulos braços o menino Jesus para o céu, cantando o seu Nunc dimittis! Viu o
Senhor, é ter vivido muito, é viver muito ainda. «Agora, diz, podeis, Senhor,
deixar ir em paz o vosso servo... O túmulo não me assusta, certo como estou de
já não estar muito tempo separado de vós... Permiti que vá anunciar aos vossos
santos que já não têm muito tempo que esperar por vós, porque os meus olhos
viram a salvação que preparastes para os povos, a luz que deve iluminar as
nações e a glória de Israel vosso povo» (Leão Dehon, OSP 3, p. 126).
Actio
Repete
frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem
ama o seu irmão permanece na luz» (1 Jo 2, 10).
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