30/12/2015
Tempo do Natal -
6º dia da Oitava do Natal
Lectio
Primeira leitura: 1 João 2, 12-17
12*Eu vo-lo escrevo, filhinhos: Os vossos pecados
estão-vos perdoados pelo nome de Jesus. 13*Eu vo-lo escrevo, pais: Vós
conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu vo-lo escrevo, jovens: Vós
vencestes o maligno. 14Eu vo-lo escrevi, filhinhos: Vós conhecestes o Pai. Eu
vo-lo escrevi, pais: vós conheceis aquele que existe desde o princípio. Eu
vo-lo escrevi, jovens: Vós sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e
vós vencestes o Maligno. 15*Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém
ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 16*Pois tudo o que há no mundo ..a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida
orgulhoso . não vem do Pai, mas sim do mundo. 17*Ora, o mundo passa e também as
suas concupiscências mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre.
João dirige-se afectuosamente à comunidade
cristã para que seja coerente com o projecto de salvação e com as opções que
fez em relação a Deus e ao mundo. Assim poderá manifestar o seu amor para com
Deus.
Escrevendo aos filhos, exorta-os a reflectir sobre
a situação actual de salvação em que vivem, pois obtiveram o perdão dos pecados
(v. 12) e conheceram o Pai (v. 14ª). Escrevendo aos pais, recorda-lhes que
conheceram Jesus, «aquele que existe desde o princípio» (v. 13), por meio da
Palavra, pelo que se exige deles uma fé madura que não os deixe ser seduzidos
pelo mundo. Aos jovens recorda que aderiram a Jesus e venceram o mal (v. 13), e
que a sua fortaleza espiritual, reforçada pela palavra de Deus, os exclui de
compromissos com as fáceis atracções do mundo (v. 14).
Este projecto de vida espiritual resume-se numa
vida separada da lógica do mundo, entendido como reino do mal que se opõe a
Deus. Deus e mundo são duas realidades opostas. João menciona alguns aspectos
que pertencem à transitoriedade do mundo, inimigo de Deus: «a concupiscência da
carne», isto é, as tendências más que existem no homem decaído e inclinado ao
pecado; «a concupiscência dos olhos», isto é, a cobiça que pode entrar pelos
olhos, tal como a avidez pelos bens terrenos; «o estilo de vida orgulhoso»,
isto é, o orgulho fundado na concepção materialista da vida.
A separação do mundo tem, para os cristãos, uma
razão de ser: vivem no mundo, mas sabem que, enquanto o mundo passa, Deus
permanece (v. 17).
Evangelho: Lucas 2, 36-40
36Quando os pais de Jesus levaram o Menino a
Jerusalém, a fim de o apresentarem ao Senhor, estava no templo uma profetisa,
Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada.
Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37*ficou
viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no
culto noite e dia, com jejuns e orações. 38*Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se
a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de
Jerusalém. 39Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava,
regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40*Entretanto, o menino crescia
e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.
Caixa de texto: Tempo do Natal 30|Dezembro
O texto do evangelho que lemos hoje é a conclusão do episódio da apresentação de Jesus ao templo. Consta de duas partes: o testemunho da profetiza Ana (vv. 36-38) e o regresso da Sagrada Família a Nazaré (vv. 39-40).
O texto do evangelho que lemos hoje é a conclusão do episódio da apresentação de Jesus ao templo. Consta de duas partes: o testemunho da profetiza Ana (vv. 36-38) e o regresso da Sagrada Família a Nazaré (vv. 39-40).
De acordo com a lei dos hebreus, para garantir a
verdade de um facto, exigia-se a deposição de duas testemunhas. Depois do
testemunho de Simeão, vem o de Ana. É outra “pobre de Deus”, típica representante
daqueles que aguardavam a redenção de Israel. Louva o Senhor porque reconheceu
no Menino Jesus, apresentado ao templo, o Messias esperado, e espalhou a
notícia entre aqueles que viviam disponíveis para o evento da salvação (v. 38).
A cena conclui-se com a observação de Lucas sobre o
crescimento de Jesus, em Nazaré: «o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se
de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele» (v. 40). Diz-se muito pouco
sobre a vida oculta de Jesus. Mas, o pouco que se diz, é suficiente para
captarmos o espírito e apreciarmos o ambiente onde viveu o Salvador: os seus
pais eram obedientes e fiéis à Lei, Jesus crescia em sabedoria, cheio como
estava dos dons da graça de que o Pai o cumulava (cf. v. 52; 1 Sam 2, 26).
Estamos perante uma comunidade que se abre ao reino de Deus, no respeito pela
vontade do Pai.
Meditatio
A profetiza Ana, uma anciã com 84 anos,
número bíblico que simboliza a perfeição (resulta de 12x7), pois está no fim
dos seus dias, sugere uma comparação com o ano civil que também está a
terminar. Ana, depois de 7 anos de casamento, permaneceu no templo, servindo a
Deus dia e noite com jejuns e orações. Por isso mereceu a graça do encontro com
o Salvador. O nosso ano civil também está muito velho, e termina com o encontro
do Senhor no Natal. Esse encontro é tanto mais belo e frutuoso quanto tiver
sido cuidada a preparação. Mas, apesar de toda a nossa infidelidade, o Senhor,
na sua infinita bondade e misericórdia, vem até nós, e dá-se a conhecer como
nosso Salvador. Por isso, também nós, como Ana e, afinal, como Maria e todos os
que esperavam a salvação de Israel, podemos entoar hinos de louvor e gratidão
ao Senhor.
Este encontro com o Senhor traz-nos a salvação,
insere-nos numa nova forma de vida, com a qual havemos de ser coerentes, para
manifestarmos o nosso amor a Deus. A vocação cristã, a que fomos chamados,
compromete-nos a viver no mundo a serviço do homem, para testemunhar a Cristo e
levar a todos a sua mensagem de salvação. Vivemos no mundo, mas sem nos confundirmos
com ele, nem cedermos a compromissos com ele. Caso contrário, negamos o
espírito de humildade, de pobreza, de caridade que deve animar a nossa vida de
crentes. Só o coração que se esvaziar do mundo, das suas propostas de vida
transitórias e da avidez pelos seus bens efémeros, podem ser cumulado do amor
do Pai (cf. 1 Jo 2, 15).
O discípulo de Jesus jamais será aceite pelo mundo,
por causa da sua opção de vida, contrária às propostas e interesses mundanos.
Os crentes, por causa da sua eleição e da sua opção de vida por Cristo, são
considerados estranhos e inimigos do mundo. Por isso é que o homem de fé é
odiado e recusado. O mundo recusa os discípulos porque não são seus. Perturbam
a sua paz, desmascaram o seu orgulho, acusam o seu conformismo. Mas, se Cristo
permanece sinal de contradição para quem segue a lógica do amor, também é certo
que tanta oposição se torna critério de autenticidade e de solidez para os
discípulos de Cristo.
Como cristãos e, mais ainda, como religiosos,
estamos “no mundo”, mas não somos “do mundo” (cf. Jo 17, 11-14). As nossas
Constituições dizem-nos que estamos inseridos no mundo, “segundo a nossa
vocação específica” (n. 61), isto é, que devemos conservar e viver a nossa
identidade de oblatos, servindo o Senhor noite e dia, e servindo os homens,
segundo o nosso carisma específico e a missão a que somos chamados. Se assim
não for, condenamo- nos à esterilidade em relação a nós mesmos, à Igreja, ao
mundo, e esvaziamos de significado a nossa missão (cf. ET 52).
A vivência da nossa vocação e missão não está livre
de oposições. Sabemos quantas dificuldades o Pe. Dehon teve que enfrentar
durante a sua longa vida e como elas acabaram por revelar a autenticidade e a
solidez da sua santidade e do seu carisma. Escreve na meditação para o último
dia do ano: «O ano teve, sem dúvida, sofrimentos e tristezas. Seria heróico
agradecer a Deus essas provações que, nos seus desígnios sobre nós, têm a
finalidade de nos purificar e santificar… Bendigamos a Deus e pensemos nas
alegrias eternas que hão-de recompensar as provações actuais» (OSP 4, p. 604).
Oratio
Senhor Jesus, Tu quiseste viver numa família humana
sem aparência, prestígio ou riqueza, a tua experiência humana. A tua vida de
criança foi marcada pela fragilidade e pelo crescimento normal. Trabalhaste
para ganhar o pão de cada dia. Viveste no escondimento e na reflexão silenciosa
a preparação para a vida pública. Assim experimentaste a condição humana e
venceste o orgulho do mundo.
Dá-nos a graça de acolhermos, com alegria e
gratidão, a nossa fragilidade humana, a nossa história, a nossa família, a
terra onde nascemos. Dá-nos a graça de aceitarmos a nossa fragilidade
espiritual, sem todavia renunciarmos à busca permanente da tua sabedoria e da
tua Palavra.
Dá-nos a graça de sermos coerentes com a opção que
fizemos por Ti, no Baptismo, na profissão religiosa. Que, jamais, a pretexto de
inserção no mundo, nos deixemos confundir com ele, com os seus ideais e
interesses. Que, a pretexto de não-violência, jamais desçamos a compromissos
com o mundo, entendido como conjunto de forças que se opõem a Ti e ao teu
Reino.
Que, tendo-Te aceitado como Salvador e Senhor da
nossa vida, aceitemos também partilhar um destino semelhante ao teu. Amen.
Contemplatio
Ana, filha de Fanuel, mulher venerável, cheia
de anos e de graças, também estava lá. Tinha o costume de rezar longamente
todos os dias no Templo, e esperava como Simeão a vinda do Messias.
Como Simeão, ela reconheceu o menino divino e sua
mãe, e isto foi para ela a mesma alegria e a mesma acção de graças. Exultava e
anunciava a boa nova a todas as pessoas piedosas que esperavam a redenção de
Israel.
E eu, eu recebo Nosso Senhor na sagrada comunhão.
Recebo-o mesmo mais intimamente que Simeão. Vem dar-me a sua graça. Qual é o
meu fervor para o receber? Como é que lhe testemunhei até aqui a minha alegria,
o meu respeito, o meu reconhecimento?
Ana, toda entusiasmada, falava de Jesus a todas as
pessoas: loquebatur de illo omnibus. Quais são as minhas conversas depois das
minhas comunhões? São edificantes, caridosas, sobrenaturais?
Transportado de amor depois das minhas comunhões,
devia estar resolvido a viver glorificando Jesus e a morrer amando-o.
Simeão repete a Maria a profecia de Isaías: «O
Cristo será para a santificação de muitos em Israel, mas será para outros uma
pedra de escândalo» (Is 8,14). É manifesto. Cristo é causa de salvação e de
ressurreição para aqueles que o reconhecem, que o amam e que o servem. É causa
de ruína para aqueles que o rejeitam.
A indiferença não é colocada aqui. Jesus é a vida.
Todas as bênçãos são prometidas àqueles que o seguem e que o amam. É preciso
estar com ele ou com o mundo. Os povos e as famílias, como os particulares,
encontrarão o caminho da paz e dos favores divinos no seguimento de Jesus e no
seu serviço.
Estas palavras do profeta são graves. Há dois
caminhos oferecidos à nossa escolha: de um lado o caminho das bênçãos, com o
seu traçado marcado no Evangelho: «Bem- aventurados os pobres, bem-aventurados
os puros, bem-aventurados os que choram, os que perdoam, os que sofrem
perseguição». Do outro lado, o caminho que afasta de Cristo. Tem este traçado:
amor pelo ouro, pelo luxo, pelo prazer e pelo mundo. – Sois vós quem eu
escolhi, meu Salvador, é o vosso caminho, é o vosso amor, é o vosso Coração,
mesmo que deva encontrar as contradições e as perseguições!
Simeão predisse a Maria a dor e a espada. Ela terá
uma grande parte na paixão de Jesus. Sofrerá, ela também, por nós e pela nossa
salvação. Ó Maria, como queria consolar-vos e partilhar das vossas mágoas para
as aliviar! Até aqui, aumentei-as com as minhas faltas, perdoai-me. Vou-me
esforçar por vos consolar com a minha paciência, com os meus sacrifícios e com
as minhas mortificações.
Com Simeão, alegro-me por possuir muitas vezes
Jesus na sagrada comunhão. Agarro-me ao bom Mestre, que é sempre contradito.
Contentarei o seu divino Coração com as minhas práticas quotidianas de
reparação e de amor (Leão Dehon, OSP 3, p. 127s.)
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem faz a vontade de Deus permanece para sempre»
(1 Jo 2, 17).
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