sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A FONTE DO BEM E DO MAL-Diac. José da Cruz

22º DOMINGO DO TEMPO COMUM 30/08/2015
1ª Leitura Deuteronômio 4, 1-2.6-8
Salmo 14/15 “Senhor, quem há de morar em vosso tabernáculo?”
2ª Leitura Tiago 1,17-18.21b-22.27
Evangelho Marcos 7, 1-8.14-15.21-23

"A FONTE DO BEM E DO MAL"
Na relação com Deus, o moralismo exacerbado é algo abominável, nascido no rigorismo de normas e preceitos, sendo um fardo insuportável que as pessoas vão arrastando vida afora, achando que isso as faz merecedoras da Salvação que Deus oferece. Os inventores dessas mil “regrinhas” para se conseguir a salvação, se deleitam em ensinar as pessoas a andarem, naquilo que eles têm a coragem de chamar de “caminhos do Senhor”. A Santa Igreja tem o seu Código de Direito Canônico, que tem como objetivo ajudar o cristão membro da Igreja, a viver santamente desfrutando ao máximo da graça e santidade que Jesus oferece, entretanto, não é a pura observância dos cânones, que irá levar alguém a fazer a experiência de Deus em sua vida.
O problema está em que, com tantas regras e normas, muitas vezes inventadas por lideranças religiosas, pastorais, movimentos e associações, abafa-se na vida do cristão aquilo que é essencial, uma relação com Deus a partir do seu íntimo, isso é, a partir do coração, centro de decisão e da Vida. A pregação de que devemos fugir das coisas do mundo e só buscar as coisas de Deus, é perigosamente alienadora, pois agindo nessa linha, tudo aquilo que é humano, e que não faz parte da esfera do sagrado, torna-se profano e portanto, motivo de condenação ao pecador.
Conheci um deficiente visual, que tocava sanfona no Mercado Municipal, para ganhar uns trocados, e o seu repertório, bastante variado, agradava a todas as idades. No final do dia embolsava as doações e ia embora, todo feliz. Sempre alegre e extrovertido, era alguém feliz e que sabia fazer feliz as pessoas que o rodeavam para ouvir suas músicas ou suas histórias engraçadas. Um dia alguém o levou a uma igreja cristã e depois de algumas participações começou o processo de sua conversão, e daí uma vez convertido, e tendo conhecido Jesus, foi orientado para que não mais tocasse aquelas músicas do mundo, que eram pecaminosas diante de Deus, e assim, o “Ceguinho da Sanfona” como era mais conhecido, mergulhou numa grande tristeza que acabou em depressão, nunca mais o vi.
Os Fariseus eram pessoas muito piedosas e fiéis ao judaísmo, mas entre eles havia os “fanáticos” que observavam rigorosamente todas as leis e normas, e adoravam impor o cumprimento da mesma aos demais. Os discípulos de Jesus andavam muito felizes por tê-lo encontrado, e a alegria era tanta que nem se importavam com certas regras, entre elas a de lavar as mãos antes de tomar refeições, e não o faziam por despeito ou por provocação aos Fariseus, é que realmente o encontro com Jesus de Nazaré despertara neles algo novo e inaudito, que nenhuma religião tinha ainda oferecido, era algo que vinha de dentro, do mais íntimo do seu ser, mas os Judeus do Farisaísmo cobraram de Jesus a observância da lei “Por que os seus discípulos não lavam as mãos antes de comer, como faz um judeu piedoso?”. A novidade maravilhosa que Jesus oferecia, não era mais importante do que o cumprimento da lei.
Como é triste quando na comunidade as pessoas são cobradas por alguns, que se julgam justos e Santos, cobra-se conversão, exige-se coerência de vida, retidão de caráter, testemunho de vida, conduta moral irrepreensível, principalmente desprezar e fugir de tudo o que não é sagrado. Ocorre que as pessoas que não tem esse perfil, ou não são perseverantes acabam deixando a comunidade, uma vez que se sentem constrangidas por ficarem ouvindo “pelas costas” a respeito de sua vida “torta”.
Jesus dá um basta a toda essa hipocrisia e coloca uma relação nova com o Pai, não mais a partir da conduta e aparência exterior, mas sim do coração, fonte do bem e do mal, sendo que o que dele provém é que determina as nossas ações, podendo contaminar com o mal, ou contagiar com o Bem. A partir dessa verdade, ninguém mais poderá ser julgado, uma vez que só Deus tem acesso ao coração humano, onde o seu amor de Pai, manifestado em Jesus, transborda o coração dos que nele crêem, fazendo-o irradiar esse amor por onde andam, pautando todas as suas decisões e atitudes, a ponto de São Paulo dizer, “que o amor é a plenitude da lei.”
E que adianta saber lavar corretamente jarras e copos, ou tomar banho cada vez que se chega da praça, como os fariseus? Não freqüentar certos ambientes ou casas, evitar a companhia de certas pessoas, não ler certas revistas, não assistir certos filmes, mas ter o coração cheio de mágoa, rancor, amargura? E mais ainda, destilar o veneno da intriga, da desconfiança, provocar ou sentir inveja, ciúmes? Toda e qualquer preocupação com ações exteriores, só será edificante se o coração estiver convertido, caso contrário, ressoará em nossos ouvidos a severa advertência do Senhor, com relação ao Farisaísmo desde século “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”. (Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP –E-mail cruzsm@uol.com.br )


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