24 de Outubro Evangelho - Lc 12,54-59
Interessante é podermos ler e meditar os
textos bíblicos, também com os seus paralelos, como acontece com Lc 12,54-59 –
semelhante a passagem presente em Mt 16,1-3 – para então percebermos melhor o
contexto.
Jesus, pra variar, estava sob o fogo dos
fariseus e saduceus que reclamavam dele um sinal messiânico (cf. Mt 16,1).
Então Cristo, tão paciente quanto profético, recusou-se em dar um “espetáculo”
visto ser O Sinal, Sacramento do Pai das misericórdias enviado para salvar o
mundo, ou como bem expressou o teólogo São Paulo: «Ele é a imagem de Deus invisível, o
primogênito de toda a criação» (Cl 1,15).
Por isso, num transbordar de misericórdia, Jesus Cristo não se
calou e nem virou as costas para quem exigia um “peixe” Àquele que já havia
multiplicado milagrosamente e distribuído às multidões. Pedir com fé e
humildade é totalmente diferente do que a arrogância espiritual de pretender
colocar Deus “na parede”.
Ano da Fé: tempo propício para descobrirmos o Deus que é maior do
que a “parede” do desespero e orgulho espiritual. Deus único e verdadeiro que
nunca se deixa manipular por uma caricatura de fé que acha ser possível curvar
o Senhor do mundo ao mundo dos meus desejos egoístas e decisões injustas.
Mas, retornando ao Evangelho, encontramos
Jesus que não se cansa do ser humano por amá-lo extraordinariamente. Por isso,
resolveu “dar a vara para pescar” no oceano da Misericórdia Divina: «Sabeis avaliar o aspecto da terra e do céu.
Como é que não sabeis avaliar o tempo presente? Por que não julgais por vós
mesmos o que é justo?» (Lc 12,56). De fato, as pessoas daquele tempo que se depararam com
Jesus de Nazaré, tiveram – no presente de suas vidas – a mesma oportunidade de
conhecer e proclamar: «a
insondável riqueza de Cristo» (Ef 3,8).
Bastava crer e querer. Ou querer crer, para receber do Espírito
Santo o auxílio necessário para se viver pela fé que se manifesta por obras de
amor (cf. Gl 5,6). Mas será que o tempo presente está blindado para semelhantes
experiências de fé? Claro que não! Há fé, existe liberdade!
Neste Ano da Fé, meditemos as verdades presentes no Catecismo da
Igreja Católica que também aponta para a “vara de pesca” necessária à barca de
Pedro, a qual tem como mastro principal a Cruz do Salvador do mundo e
Reconciliador do Pai: «Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a
Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a
verdade revelada por Deus» (CIC, nº 150).
Eis uma verdade de fé fundamental: «Jesus Cristo é o mesmo, ontem hoje e sempre» (Hb 13,8). Por isso, hoje e sempre – até a
volta gloriosa do Senhor Jesus – será preciso crer e decidir-se por esta
Fé-Revelação, a qual precisa ser abraçada no tempo presente de nossas vidas,
até a Eternidade futura chegar. Uma vida de fé, que não se deixa prender pelo
individualismo espiritual, como alertou o Papa Bento XVI: «O cristão não pode
jamais pensar que o crer seja um fato privado» (Porta Fidei, nº 10).
Então, como estranhar no Evangelho de hoje um
contexto de vigilância (cf. Lc 12) tão atento à nossa vida relacional e à reconciliação? «Quando pois, estás indo com teu adversário
apresentar-te diante do magistrado, procura resolver o caso com ele enquanto
ainda a caminho. Senão ele te levará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de
justiça, e o oficial de justiça te jogará na prisão» (Lc 12,58). Reflitamos sobre isso e oremos:
Senhor, tende misericórdia de nós. Dai-nos no tempo presente uma fé
que faça a diferença pelo amor comunicado e por uma esperança transformadora
das nossas atitudes e do mundo inteiro. Virgem Maria, ajudai-nos a crer com e
como a Igreja! Amém.
Padre Fernando Santamaria –
Comunidade Canção Nova
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