SEXTA FEIRA DA 17ª SEMANA DO TC01/08/2014
Salmo 68 (69) 14c “Na vossa imensa bondade, escutai-me Senhor”
Evangelho Mateus 13, 54 – 58
Quando Jesus chegou a sua “terrinha” de Nazaré, acompanhado dos
discípulos, deve ter causado um verdadeiro “rebuliço”, pois a fama de suas
pregações e milagres já tinha chegado por ali, e no sábado, como todo piedoso
judeu, foi á celebração da palavra da comunidade, onde qualquer pessoa adulta
poderia partilhar o ensinamento na hora da reflexão, e Jesus, usando desse
direito, começou a pregar á sua gente fazendo a homilia.
O povinho da terra nunca tinha ouvido uma pregação feita com tanta
sabedoria, que superava o ensinamento dos Mestres da Lei e Fariseus, imaginemos
que na comunidade, algum ministro da palavra pregue melhor do que o padre... E
com o estudo teológico acessível aos leigos, isso hoje não seria novidade.
Aquilo que causa muita admiração, também logo acabará despertando inveja e
ciúmes. Basta que olhemos para os nossos trabalhos pastorais, onde o carisma
das pessoas não deveria jamais perturbar o coração de ninguém, ao contrário,
deveria motivar um hino de louvor, por Deus ter dado a alguém um carisma tão
belo, colocado a serviço da comunidade. Mas logo surgem os questionamentos
maldosos: Como é que ele faz isso? Onde aprendeu? Quem o ensinou, de onde é que
vem todo esse saber? Será que o padre o autorizou? (esta última coloquei por
minha conta) E a admiração, contaminada por sentimentos de inveja, vai logo se
transformando em desconfiança aumentando o questionamento: “Quem ele pensa que
é, para falar assim com a gente? Será que ele não se enxerga? E ainda tem gente
que o aplaude...” Os que não gostam muito do padre, logo vão afirmar que o
sujeito faz parte da sua “panelinha”, ou então, irão inventar alguma coisa para
que o padre “corte a asinha” do tal.
As pessoas, quando enxergam algo de extraordinário no carisma de
alguém, começam a fazer do sujeito uma referência importante, acham que a sua
oração é especial, que um toque de sua mão poderosa pode realizar curas
prodigiosas, e em pouco tempo, a propaganda é tanta, que o tal não pode mais
sair as ruas que é logo procurado para resolver os mais complicados problemas,
inclusive de relacionamento entre as pessoas, apaziguar casais brigados,
aconselhar jovens, e assim a sua palavra se torna poderosa e em consequência
passa a ter poder religioso paralelo, e se na comunidade não houver um espaço
para ele atuar, terão de criar um, pois ele precisa ser o centro das atenções.
Jesus não quis formar um grupo só para ele, para bater de frente
com os Doutores da lei, escribas e fariseus, e como ele pertencia a uma das
famílias do local, a ponto de sua mãe e seus irmãos serem de todos conhecidos,
começaram a vê-lo como um vulgar, que nada de extraordinário tinha feito em
Nazaré, para que merecesse toda aquela fama. Na verdade, Jesus não quis assumir
o papel de “Salvador da Pátria”, diferente de muitos cristãos, que se julgam o
máximo naquilo que fazem, e pensam que sem eles, a comunidade estaria perdida.
Essa rejeição á ele, suas obras e ensinamentos, iria se ampliar e lhe traria
conseqüências muito trágicas na cruz do calvário, tudo porque suas palavras
anunciavam um reino novo, que exigia uma total renovação e mudança de vida.
Na sinagoga de Nazaré foi assim, e nas nossas comunidades, não é
muito diferente. Quem prega mudanças de mentalidade e conduta, vai sempre
arrumar uma bela de uma encrenca. Enfim, o Jesus que há dentro de nós, criado
pelas nossas fantasias, ou fruto de nossas ideologias sociais ou políticas, não
coincide com esse Jesus, Profeta de Nazaré, Ungido de Deus. E o pior, é que
projetamos tudo isso nas pessoas que lideram a comunidade, nos cooperadores,
nos coordenadores, nos ministros, nas catequistas, nos padres e diáconos e
assim vai. Um dia, basta um desentendimento mais sério e o nosso Jesus
idealizado “vai pro espaço” com a pastoral e o movimento.
Quanto mais somos realistas em nossa fé, mais nos adequamos á
comunidade aceitando-a como ela é, quanto mais nos iludimos com o Jesus da
nossa fantasia, mais difícil será vivermos em comunidade, aceitando as pessoas
do jeito que elas são. Daí, como em Nazaré, nenhum milagre acontece, por causa
dessa fé infantil e ilusória...
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