domingo, 26 de janeiro de 2014

"Um Cristianismo além da Lei" - Diac. José da Cruz


VI  DOMINGO DO TEMPO COMUM 16/02/2014
1ªLeitura Eclesiástico15, 16-21
Salmo 118(119),1 “Felizes aqueles cuja vida é pura, e seguem a Lei do Senhor”
2ª Leitura 1 Cor 2,6-10
Evangelho Mateus 5, 17-37

                                           
Minha equipe de teólogos da comunidade, que são meus colaboradores nas reflexões sobre pó evangelho, andou quebrando a cabeça para compreender esses ensinamentos de Jesus, que com certeza não foram ditos em uma mesma hora, mas ajuntados por alguém, diante de problemas que a comunidade enfrentava. E quando chegou na parte da mutilação dos membros e também arrancar o olho, causador do pecado, a equipe disse em tom de humor, que chegaremos no céu todos mutilados e que vai ser difícil alguém chegar “inteiro”.
Em cada um desses ensinamentos há uma única verdade que Jesus proclama, o desafio de sair da medíocre obediência as Leis, para podermos passar a algo sem medida, e que vai muito além da conduta e do comportamento humano, é um convite para migrarmos do meramente humano para o plenamente Divino, somente possível com a Graça de Deus e a Luz da Fé, que vislumbra uma realidade até então invisível para o homem, presente em Jesus de Nazaré. Sem Jesus, a única referência é o seguimento á Lei de Moisés, atitude que norteava a vida de um homem bom, justo, virtuoso e crente em Deus, claro que a Salvação também tinha um sentido bem restrito, e se conquistava nesta vida. Jesus, ao apresentar o ensinamento desse evangelho, desmonta esse quadro de uma Religião legalista, transformando a relação com Deus em uma realidade transcendente.
Jesus, nascido Judeu e participante do Judaísmo, não é um velho saudosista, preso as lembranças do passado, de tudo aquilo que Deus realizou pelo seu povo, não fica chorando sobre o leite derramado, mas convida os seus discípulos e a todos nós, a olharmos com otimismo para o presente e a fazermos a coisas muito melhores, e como a sua presença entre nós mudou a sorte de toda a humanidade, tem autoridade para dizer, “Eu porém vos digo....”
A Lei de Moisés em sua essência é a Lei de Deus, o seguimento a ela faz a diferença entre a Vida e a morte, entre a bênção e a maldição, o bem ou o mal, diante dessa Lei temos sempre a escolha e o livre arbítrio, o próprio Senhor diz em outro evangelho, que não veio para revogar a Lei, mas para mostrar o seu verdadeiro sentido e aprimoramento, para que a lei atinja a sua plenitude.
Mas só o puro cumprimento da Lei não nos fará feliz e nem realizados, a minha equipe de teólogos da comunidade lembrou-se de um bom exemplo.
“A gente dirige e decide respeitar e obedecer toda sinalização, mas no estresse causado no próprio trânsito, acaba gritando e ofendendo os outros condutores, as vezes os pedestres, dizemos palavrões em nosso veículo, que o outro não escuta, praguejamos, amaldiçoamos, ficamos enlouquecidos ao volante e perdemos a paciência...Seguimos a lei mas não fomos felizes nessa ação, por que ? Faltou ser amoroso, misericordioso e paciencioso com as pessoas e essa atitude não é Lei escrita na pedra, mas no coração do homem, é a Lei do amor na relação com as pessoas.
Por isso, podemos dizer que um bom Cristão segue a doutrina, as normas da Igreja, pratica os preceitos, mas, um Cristão de Verdade vive no amor e na comunhão com Deus e com as pessoas.. Por isso Jesus apresenta-nos essa proposta de darmos um passo além, não permanecendo na mediocridade do dever cumprido, mas testemunhando um amor sem medidas, que não quer apenas não “matar” o outro, mas respeitar a sua vida e a sua dignidade, ser solidário, ter paciência, uma vez que, podemos matar o outro de muitas maneiras, não só com armas de fogo ou arma branca, mas principalmente com a língua, com a nossa conduta em relação ao outro, uma morte dissimulada na frieza, no desprezo e na indiferença, quantos morrem ao nosso lado, vítimas deste nosso pecado....
Ofertar algo a Deus em algum trabalho da comunidade ou em algum empreendimento da nossa Vida de Fé, é coisa muito boa, mas Deus só aceita esse oferecimento se estivermos de bem com as pessoas, não alimentar no coração ódio e rancor ou qualquer ranço contra quem quer que seja, porque se estivermos de bem com Deus e de mal com algum irmão, o amor torna-se uma mentira.
Adulterar uma relação, principalmente a conjugal, é torná-la falsa e sem valor, podemos adulterar essa relação de muitos modos, a traição é apenas uma delas. Mas o adultério pode ocorrer em um olhar, em um desejo ainda que não manifesto, em uma relação desgastada pela indiferença e as vezes pelo desprezo, sempre que não contribuo, para que o amor e a vida em comunhão com o cônjuge cresça, e se torne mais consistente, estou semeando a possibilidade de um adultério.
E finalmente um último ensinamento, o que significa “arrancar um olho”, ou cortar algum membro, que nos é causa de pecado? Note-se que essas afirmações está dentro das exortações sobre a vida conjugal e o pecado do adultério, quando falamos da atração entre um homem e uma mulher, facilmente identificamos com o Erro, e daí falamos que homem e mulher são impulsionados pelo instinto. E em nome do tal de instinto comete-se as maiores barbaridades no campo da afetividade humana, voltada para a sexualidade.
Jesus não escreve mais a Lei nas pedras, mas sim no coração do homem, que agora é livre para tomar suas decisões, para dizer SIM ou NÃO ao fazer suas escolhas, a religião torna-se assim mais intimista, e o ser humano não irá mais agir, com seus sentidos, a partir dos seus instintos, mas sim a partir do Amor de Deus, que experimenta em seu coração, e que irradia em todas as suas ações, nas relações com Deus, consigo mesmo e com o próximo, E assim fazendo, o homem rompe com a religião legalista, pois abrindo-se para a graça de Deus manifestada em Jesus, ele alarga o seu horizonte de compreensão e conhecimento do verdadeiro e Único Amor, capaz de salvá-lo e de fazê-lo imensamente Feliz..

José da Cruz é Diácono da Cruz

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