quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Deus fará justiça aos seus escolhidos que gritam por ele - Claretianos

Domingo, 20 de outubro de 2013
29º Domingo do Tempo Comum
Santos do DiaAca de Hexham (monge, bispo), Adelina de Moriton (virgem), Aderaldo de Troyes (fundador do priorado de Villacerf), Aidano de Mayo (bispo), André de Creta (mártir), Barsabas e Companheiros (mártires), Bernardo de Bagnorea ou de Castro (bispo), Bradano e Orora (venerados em Ile de Man), Caprásio de Agen (mártir), Irene (virgem, martirizada perto de Nabautia), Maria Bertila ou Ana Francisca Boscardin (virgem), Marta, Saula e Companheiras (virgens, mártires de Colônia), Máximo de Áquila (mártir), Sindulfo de Rheims (eremita), Vital de Salzburgo (monge, bispo).
Primeira leituraÊxodo 17, 8-13
E, enquanto Moisés conservava a mão levantada, Israel vencia.  
Salmo responsorial120, 1-2. 3-4. 5-6. 7-8
Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor que fez o céu e a terra.  
Segunda leitura
2 Timóteo 3, 14 – 4,2 
O homem de Deus seja perfeito e qualificado para toda boa obra. 
EvangelhoLucas 18, 1-8 
Deus fará justiça aos seus escolhidos que gritam por ele.
Jesus propôs esta parábola para convidar seus discípulos a não desanimar em seu intento de implantar o reinado de Deus no mundo. Para isso deveriam ser constantes na oração, como a viúva o foi em pedir justiça até ser ouvida por aquele juiz que fazia ouvidos moucos à sua súplica. Sua constância e persistência, levou o juiz a fazer justiça à viúva, livrando-se de ser importunado por ela.
Esta parábola do evangelho tem um final feliz, como tantas outras, ainda que não seja comum acontecer sempre na vida. Porque, quanta gente morre sem que se lhe faça justiça, apesar de ter estado a vida inteira suplicando o Deus do céu? Quantos mártires esperaram em vão a intervenção divina no momento final da condenação? Quantos pobres lutam por sobreviver sem que ninguém lhes faça justiça? Quantos crentes se perguntam até quando vai durar o silencio de Deus? Quando Deus vai intervir neste mundo de desordem e injustiça legalizada? Sendo o Deus da paz e do amor, como permite essas guerras tão sangrentas e cruéis, a destruição do meio ambiente? Como tolerar a desigualdade crescente entre países e entre cidadãos?
No meio de tanto sofrimento, ao crente fica cada vez mais difícil orar, entrar em dialogo com esse Deus a quem Jesus chama de “pai”, para pedir-lhe que “venha a nós teu reino”. Da noite escura desse mundo, desde a injustiça estrutural, fica cada dia mais difícil crer nesse Deus apresentado como onipotente e onipresente, justiceiro e vingador do opressor.
Ou talvez tenhamos que cancelar para sempre essa imagem de Deus que vem das páginas evangélicas. Porque, lendo-as, dá a impressão de que Deus não é nem onipotente nem impassível – ou não age como tal – mas como débil, sofredor, “padecente”. O Deus cristão se revela mais dando a vida que impondo uma determinada conduta aos humanos. Marcha na luta reprimida e frustrada de seus pobres, e não à cabeceira dos poderosos.
O cristão, consciente da companhia de Deus em seu caminho para a justiça e a fraternidade, não deve desfalecer, e sim insistir na oração, pedindo força para perseverar até implantar seu reinado em um mundo onde dominam outros senhores. Somente a oração o manterá na esperança.
 Não andamos largados da mão de Deus. Pela oração sabemos que Deus está conosco. E isto deve bastar para continuar insistindo sem desfalecer. O importante é a Constancia, a tenacidade. Moisés teve essa experiência. Enquanto orava, com as mãos elevadas no alto do monte, Josué ganhava a batalha; quando baixava as mãos, isto é, quando deixava de orar, os amalecitas, seus adversários, venciam.
Os companheiros de Moisés, conscientes da eficácia da oração, o ajudaram a não desfalecer, sustentando-lhe os braços para que não deixasse de orar. E assim esteve – com os braços levantados, isto é, orando insistentemente – até que Josué venceu os amalecitas. De modo ingênuo ressalta-se neste texto a importância de permanecer em oração, de insistir diante de Deus.  
Na segunda leitura, Paulo também recomenda a Timóteo ser constante, permanecendo no aprendido nas Sagradas Escrituras, onde se obtém a verdadeira sabedoria que, pela fé em Cristo Jesus, conduz à salvação. O encontro do cristão com Deus deve realizar-se através da Escritura, útil para ensinar, repreeder, corrigir e educar na virtude. Deste modo estaremos equipados para realizar toda obra boa. O Cristão deve proclarar esta palavra, insistindo em tempo e fora de tempo, repreendendo e reprovando a quem não a tenha em conta, exortando a todos, com paciência e com a finalidade de instruir no verdadeiro caminho que nela se manifesta. 
Para a mentalidade moderna, na qual já não imaginamos Deus como alguém que está “aí fora” e “lá em cima”, manipulando os acontecimentos deste mundo, a oração clássica de súplica passou a ter um outro sentido. Ao longo da historia, em dado momento, foi dado menos valor à oração de súplica, como se ela tivesse um caráter egoísta e sua intenção fosse de “manipulação de Deus”, como se fosse “servir-se” dele mais do que servi-lo. Porém, chega um momento em que nos convencemos de estar no mundo sem “um Deus tapa buracos” e vemos menos sentido em recorrer a ele a cada instante. Vamos assumindo o estar no mundo, como se Deus não existisse (Grotius). Ou, como disse Bohoeffer: somos chamados a viver diante de Deus, porém “sem Deus”, isto é, sem precisar lançar mão de Deus; o Deus verdadeiro quer que sejamos adultos, que assumamos nossa responsabilidade. 
A oração continua tendo sentido, obviamente, porém “outro sentido” que o de andar estabelecendo transações (“Eu te dou para que tu me dês”), com o Deus “de cima”, que pode melhorar nossa saúde, ou facilitar alguma dificuldade do caminho removendo obstáculos. A oração é outra coisa, para outra finalidade, e continua sendo bem necessária, como a respiração, porém não para fazer milares. Depois de Copérnico e Newton, já não há milares. 
Com certa ingenuidade, cabe fazer uma oração leve de pedido: que não seja uma “negociação” com Deus, nem que seja colocado de lado (influir, fazer mudar de atitude), mas simplesmente expressar diante dele nossas inquietações, seja como um desabafo pessoal, uma forma “teista” de “falar com o Mistério”, como um modo de colocar nossas preocupações no contexto da vontade de Deus e de consolidar nossa busca de fazer sua vontade. Sobre a oração de pedido e sua necessária consideração, já se escreveu muito e provavelmente a tenhamos estudado também. O que nos toca agora é agir, sempre mais e mais.   
Oração: Ó Deus, Pai de misericórdia, que olhas com entranhas de misericórdia o sofrimento de teus filhos e filhas: confiamos ao teu coração a esperança e a resistência de todos os nossos irmãos e irmãs que reclamam justiça insistentemente e sequer sabem de onde lhes chegará, e te pedimos nos dês um coração como o teu, para que, armados da fé da coragem,  resistamos, resistamos à tentação da desesperanças e permaneçamos firmas junto ao teu projeto de criar um mundo novo, mais digno de ti e das criaturas. Por nosso Senhor Jesus Cristo.




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