quarta-feira, 13 de março de 2013

" Um de Vós vai me trair..." -Diac. José da Cruz


QUARTA FEIRA SANTA 04/04/2012
1ª Leitura Isaias 50, 4-9a
Salmo 68 (69) 14cb
Evangelho Mateus  26, 14 - 25

                                                  " Um de Vós vai me trair..." -Diac. José da Cruz
É o mesmo relato de ontem, mas agora do jeito de MATEUS. No evangelho de ontem, quando Jesus vai anunciar que será traído, o texto fala que ele está angustiado e perturbado em seu espírito, lembram-se? Podem conferir o texto de João.... Pois no evangelho de hoje, essa angústia e aflição muda de lado, são os discípulos que ficam angustiados e aflitos, e começam a indagar "Senhor, por acaso serei eu?". E Pedro, logo ele, dá uma cutucada a João, que estava perto do Mestre, quer saber quem é o desavergonhado, quem sabe, para tomar uma providência...
O Jesus de Mateus, que escreve para a comunidade Cristão Judaica, é firme e não demonstra nenhuma perturbação quando anuncia a traição. É que Mateus apresenta um Jesus fiel á missão, e que  cumpre toda  a Vontade do Pai, com firmeza e determinação. Entretanto, há algo que o leitor fica se perguntando, "Se ele cumpre a vontade do Pai, porque demonstrou sua indignação ao dizer "Ai daquele que irá trair o Filho do Homem, melhor seria que não tivesse nascido....".Ora, se era vontade do Pai, então Judas estava fazendo o seu papel, e estava, por assim dizer "Colaborando" para que tudo acontecesse, conforme o previsto....Jesus até poderia tratá-lo bem, era preciso que alguém o traísse para que ele fosse condenado á morte, e Judas aceitou o papel de traidor....
Esta seria uma leitura ingênua desse evangelho, pois facilmente podemos cair no fatalismo, "Deus quis assim....foi feita sua vontade". Coitado do nosso Deus, quantas desgraças e tragédias jogamos em suas costas....Aliás, tem gente que se safa de situações apertadas jogando a culpa em Deus ou no Diabo.
Com toda certeza, muitas vezes Jesus conversou com Judas, expôs sua missão, exortou-o a não entrar pelo caminho errado, disse-lhe do perigo que corria, ao  confundir o seu Messianismo com alguma ideologia política e ali á mesa, deu-lhe a última dica...uma oportunidade para Judas pensar no assunto, rever a sua atitude, quem sabe, usar o seu livre arbítrio e mudar de vida, por fidelidade a Jesus, mesmo que não compreendesse bem o seu messianismo, pois Pedro também não entendia, mas o aceitou como ele era.
Portanto, não se trata do anuncio de uma fatalidade, mas um jogo de palavras, mostrando que a questão estava em aberto e Judas ainda poderia dar outro rumo á sua vida. Assim  que Judas saiu de cena, rompendo portanto com a comunidade, Pedro, querendo amenizar o mal entendido, e melhorar o clima do jantar, já no Horto das Oliveiras, quando Jesus anuncia que ele será motivo de queda para todos eles, vai  apresentar-se como diferente, o melhor e o mais fiel de todos, "Para mim jamais serás motivo de queda, Senhor". Com essas palavras Pedro estava dizendo que Jesus podia contar com ele sempre...Pobre Pedro, que ducha de água fria levou na cabeça, quando Jesus diz que  ele irá negá-lo por três vezes, antes que o galo cantasse...
Nossas mãos não tocam no mesmo prato, o pão com Jesus, mas tocam em Jesus que é o Pão da Eucaristia, somos tão íntimos dele como Judas o era, e todos os discípulos. Seria um erro pensarmos que o nosso pecado é bem menor que o de Judas e de Pedro, na própria comunidade caímos em contradição, quem dirá quando estamos fora dela. E por que agirmos dessa maneira, ao estilo de Pedro ou de Judas? Por que diferente de Jesus de Mateus, buscamos a nossa vontade, que coincide com a vontade de Pedro e de Judas: vencer pelo caminho mais fácil, chegar á glória da ressurreição, sem ter de passar pelo triste trajeto do calvário, que nos assusta e amedronta....

"Nós vos adoramos Senhor Jesus, e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo"

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