Dia 29 de janeiro
Mc 3,31-35
Quem faz a vontade de Deus, esse é meu
irmão, minha irmã e minha mãe.
Neste Evangelho, Jesus,
aproveitando o aviso de que sua mãe e familiares queriam falar com ele,
anuncia-nos a prioridade que deve ter o Reino de Deus, inclusive sobre os
vínculos familiares. Não há, aí, nenhum menosprezo por sua mãe, Maria, nem desinteressa
pela sua família. O uso lingüístico hebreu e aramaico aplicava o termo “irmãos”
aos primos e parentes próximos.
Vemos aí um eco daquelas outras palavras
de Cristo: “Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai e sua mãe, sua
mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua própria vida, não
pode ser meu discípulo” (Lc 14,26).
Jesus, ao proclamar familiar seu todo o
que cumpre a vontade de Deus, muito longe de rejeitar a sua própria mãe Maria,
está exaltando-a; porque ela foi a primeira que cumpriu a vontade de Deus na
sua vida, com o seu “faça-se” inicial e definitivo. Cristo, ao abrir o círculo
do parentesco com ele, fundado nos valores do Reino que são superiores aos
laços da carne e do sangue, está afirmando a união perfeita que existe entre
ele e sua mãe, por dois motivos: os vínculos de sangue e a convergência sem
discrepância no espírito do Reino.
A Família de Deus, que tem o seu
fundamento na obediência a Deus, tem prioridade sobre os laços de sangue. Jesus
demonstrou isso também quando seus pais o encontraram no Templo, depois de o
procurarem durante três dias: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo
estar naquilo que é de meu pai?” (Lc 2,49). Em outras palavras, Jesus lhes
falou que a sua condição filial a Deus Pai e a sua obediência a ele deve
prevalecer sobre a autoridade e os laços familiares. “Eis que venho, ó Pai,
para fazer a vossa vontade” (Hb 10,7).
O desapego de Jesus em relação à sua
família natural é “teológico”,mais que afetivo.
O Evangelho relativiza a instituição
familiar no tocante à resposta da pessoa a Deus. O homem e a mulher, a criança
e o jovem, abrem-se mediante a fé a outras relações que superam as meramente
familiares, do mesmo modo que, na sua evolução social, os adolescentes e jovens
se abrem a outras influências extrafamiliares: cultura, estudos, idéias,
amizades...
Isso não contradiz a vocação familiar de
educadora da fé. Que “a família cristã proclame em voz bem alta os valores do
Reino”, como escola de fé que é para a vida (Concilio Vaticano II, LC 35).
Pe. Orlando de Morais foi o primeiro
redentorista brasileiro da Província de S. Paulo. Ele era goiano, nascido na
cidade de Bonfim – GO. Trabalhava no Santuário Nacional de N. Sra. Aparecida.
Um santo homem de Deus. Nunca teve boa saúde. Foi nomeado bispo, mas recusou
por motivo de saúde.
Sua doença se agravou. Dia 07/12/1924,
pressentindo que a morte já estava próxima, arrastou-se até o quarto do
Superior, Pe. Francisco Wand, e pediu-lhe a bênção para morrer. Pe. Francisco
lhe disse: “Nem hoje nem amanhã, que é dia de festa e de muito trabalho. Espere
um pouco”. Nove dias depois, dia 16/12/1924, ele voltou ao quarto do Superior,
pedindo novamente a licença “para viajar”. Pe. Francisco respondeu: “Agora
sim”. Pe. Orlando voltou a seu quarto e entrou em agonia, vindo a falecer horas
depois.
Poucos dias antes da sua morte, Pe.
Francisco, que bem conhecia a virtude do seu súdito, pediu-lhe que, chegando ao
Céu, lhe mandasse um conto de Réis, para pagamento de uma conta urgente da
Basílica. Após o enterro, uma senhora desconhecida apresentou-se no convento,
entregando ao Superior uma rosa feita com cinco notas de duzentos mil Réis
cada.
Felizes os pais do Pe. Orlando, em
Bonfim – GO, que lhe transmitiram a fé e a santidade!
Quem faz a vontade de Deus, esse é meu
irmão, minha irmã e minha mãe.
Padre Queiroz
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