SEGUNDA FEIRA DA 22ª SEMANA DO TC 03/09/2012
1ª Leitura 1Cor 2, 1-5
Salmo 118 (119), 97 a “Ah, quanto amo, Senhor, a vossa Lei”
Evangelho Lucas 4, 16-30
“A
PALAVRA ENCARNADA” –
Diac. José da Cruz
Ao visitar Nazaré, cidade onde havia
se criado, Jesus foi participar de uma celebração na sua comunidade, onde
sempre fazia uma leitura e depois ajudava o povo a refletir, como fazem hoje
nossos ministros leigos, que celebram a Palavra.
Podemos até imaginar a alegria do
chefe da sinagoga quando viu Jesus chegar, ele era muito querido na comunidade,
não só por ser uma pessoa simples, mas porque falava muito bem e demonstrava
uma sabedoria superior aos sacerdotes, escribas e fariseus, sua catequese era
bem prática e logo cativava. Por isso, ao vê-lo entrar na comunidade, o chefe
da sinagoga foi logo pedindo para que ele fizesse uma leitura, porque parece
que, como acontece me nossas comunidades, naquele dia o leitor escalado não
apareceu. Jesus escolheu o livro do profeta Isaias que era o seu preferido,
porque já o havia lido várias vezes e tinha a nítida impressão de que o texto
falava dele.
Conforme Lucas que escreveu este
evangelho de maneira ordenada e após muito estudo, por este tempo Jesus estava
iniciando o seu ministério, já havia sido batizado e enfrentara com muita
coragem o diabo, que no deserto tentou desviá-lo da sua missão.
A verdade é que Jesus tinha uma
grande vontade de sair pelo mundo, ajudando as pessoas e falando de uma coisa
que sentia em seu coração, foi com certeza por isso que naquele dia voltou à
comunidade, e quando já no ambão, começou a ler o profeta Isaias, na passagem
onde diz “O Espírito do senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a
unção para levar a Boa notícia aos pobres, anunciar a libertação aos cativos e
aos cegos e anunciar um ano de graças do Senhor”, seu coração começou a bater
mais forte, percebeu que Deus não apenas falava para ele, mas falava dele, da
sua vida, da sua história e da sua missão. Ele já havia sentido muito forte a
presença desse Espírito de Deus no dia do seu batismo, e no confronto com o
diabo no deserto, sentiu toda a força que o espírito lhe dava.
Nessa celebração as coisas ficaram
muitas claras para ele: a libertação com que tanto sonhava junto com seu povo,
ia muito além de uma libertação política, a palavra tinha a força de libertar o
homem também e principalmente do mal que havia no coração, e que impedia de
amar a Deus e aos irmãos. A opressão e a escravidão do seu povo era
conseqüência de todo esse mal que havia dentro de cada homem, não só dos
opressores. Precisava dizer isso aos pobres, aos cegos e oprimidos, que um
tempo novo estava começando, com essa verdade que o Pai revelara através do
profeta.
Todos olhavam fixamente para ele à
espera da homilia, o mesmo espírito que o havia ungido acabara de transformá-lo
na palavra Viva de Deus e por isso, sentando-se como faziam os grandes Mestres,
disse: “Hoje se cumpriu essa passagem que acabastes de ouvir”
Também nós cristãos freqüentamos a
celebração da palavra em nossas comunidades onde as leituras, mais do que falar
para nós falam de nós, pois a história de Jesus é a nossa história, também nós
recebemos a graça de Deus em nosso batismo, também nós recebemos a unção do
Espírito Santo, não para termos ataques de histeria e entrarmos em transe, mas
para termos a mesma coragem de Jesus para cumprir a nossa missão, anunciar a
boa notícia aos pobres, oferecer a palavra libertadora a quem está cego e
cativo, e falar de um tempo novo onde Deus manifesta todo o seu amor ao homem
que o busca.
Para que haja essa interação entre
nós e a palavra, é necessário que nossas celebrações sejam bem participadas e
preparadas, de maneira bem organizada pensando em todos os detalhes e aí
podemos apreender com o escriba Esdras que na primeira leitura nos oferece um
ótimo roteiro para celebração da palavra de Deus, onde a assembléia, tocada
pela palavra, corresponde com gestos que manifestam o que está no coração,
diferente da liturgia do “oba-oba”, muito usada para se atrair multidões, e que
ás vezes, com tantos gestos e movimentos, acaba ficando vazia justamente por
não ser uma manifestação espontânea do que se tem no coração tocado pela
palavra de Deus.
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