quarta-feira, 26 de maio de 2021

Com que autoridade fazes estas coisas?-Dehonianos

 

Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana – Sábado

29 Maio 2021

Tempo Comum – Anos Ímpares – VIII Semana – Sábado

Lectio

Primeira leitura: Ben Sirá 51, 17-27 (gr. 12-20)

Eu te glorificarei, cantarei os teus louvores, e bendirei o nome do Senhor. 13Quando eu era ainda jovem, antes de ter viajado, busquei abertamente a sabedoria na oração. 14Pedi-a a Deus, diante do santuário, e buscá-la-ei até ao fim. 15Na sua flor, como uva sazonada, o meu coração nela se alegrou; os meus pés andaram por caminho recto; desde a minha juventude tenho seguido os seus rastos. 16Apliquei um pouco o meu ouvido, e logo a percebi; encontrei em mim mesmo muita sabedoria. 17Nela fiz grandes progressos. Tributarei glória àquele que me deu a sabedoria, 18porque resolvi pô-la em prática; tive zelo do bem e não serei confundido. 19Lutou minha alma por ela e pus toda a atenção em observar a Lei. Levantei as minhas mãos ao alto e deplorei a minha ignorância acerca dela. 20Dirigi para ela a minha alma, e na pureza a encontrei. Graças a ela, adquiri inteligência desde o princípio; por isso nunca serei abandonado.

Ben Sirá conclui o seu livro com uma oração, que ocupa o capítulo 50, a partir do versículo 29, e se prolonga pelo capítulo 51, até ao versículo 12. É uma digna conclusão para a sua obra sobre a Sabedoria. As últimas palavras da oração são um propósito em ordem ao futuro: «Eu te glorificarei, cantarei os teus louvores, e bendirei o nome do Senho» (v. 12). Logo depois, ao fazer memória da sua caminhada na busca da Sabedoria, o autor tira outra conclusão: «Graças a ela (à Sabedoria), adquiri inteligência desde o princípio; por isso nunca serei abandonado» (v. 20).
Ben Sirá, na alusão às suas viagens, reconhece que houve tempo, provavelmente na juventude, em que andou desorientado. Mas teve tempo para encontrar a sabedoria, na oração: «Pedi-a a Deus, diante do santuário» (v. 14). Não basta a inteligência e o esforço humano para encontrar a sabedoria, porque ela é, sobretudo, um dom de Deus, uma participação na Sua própria Sabedoria. É por isso que a Sabedoria faz caminhar, faz crescer: «Nela fiz grandes progressos» (v. 17). Sendo a Sabedoria um dom divino, o homem sente necessidade de agradecê-la a Deus: «Tributarei glória àquele que me deu a sabedoria, 18porque resolvi pô-la em prática» (vv. 17b-18ª).
Um dom tão precioso como a Sabedoria não se pode desperdiçar. Por isso, Ben Sirá procura transmiti-la às gerações futuras. Hoje, somos nós que recebemos esse dom, sendo chamados a desposar-nos com a Sabedoria, que nos prepara para a vinda de Cristo, «Sabedoria de Deus».

Evangelho: Marcos 11, 27-33

Naquele tempo, Jesus e os discípulos regressaram a Jerusalém e, andando Jesus pelo templo, os sumos sacerdotes, os doutores da Lei e os anciãos aproximaram-se dele 28e perguntaram-lhe: «Com que autoridade fazes estas coisas? Quem te deu autoridade para as fazeres?» 29Jesus respondeu: «Também Eu vos farei uma pergunta; respondei-me e dir-vos-ei, então, com que autoridade faço estas coisas: 30O baptismo de João era do Céu, ou dos homens? Respondei-me.» 31Começaram a discorrer entre si, dizendo: «Se dissermos ‘do Céu’, dirá: ‘Então porque não acreditastes nele?’ 32Se, porém, dissermos ‘dos homens’, tememos a multidão.» Porque todos consideravam João um verdadeiro profeta. 33Por fim, responderam a Jesus: «Não sabemos.»E Jesus disse-lhes: «Nem Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas.»

A atitude «subversiva» de Jesus no templo inquietou os chefes, que resolveram interrogá-lo. Dir-se-ia que se trata de um inquérito à margem do processo oficial. A resposta positiva de Jesus, à pergunta que lhe faziam, equivalia a declarar-se Messias, pois só Messias tem autoridade para tomar tais atitudes. E nada mais seria preciso para um processo oficial contra Ele. Com grande habilidade, Jesus responde com outra pergunta, que lança a confusão entre os seus adversários. Como não tiveram coragem para responder, e se escudaram num lacónico «não sabemos», Jesus despediu-os com uma expressão seca: «Nem Eu vos digo com que autoridade faço estas coisas» (v. 33).
Talvez nos espante esta atitude de Jesus, tão atencioso e compassivo com Bartimeu. Mas o Senhor detesta a arrogância e a má vontade. É puro, mas não ingénuo. Além disso, a sua dureza podia levar os adversários a rever posições ou, pelo menos, a reconhecer que não procuravam a verdade, mas só desembaraçar-se dele.
Jesus dá-nos exemplo de «ética profética». A sua autoridade está na linha da de João Baptista. Se os adversários de Jesus reconhecessem a autoridade de João, a sua resistência a Jesus seria menos grave. Mas não o fizeram. Acabaram por recusar Jesus, mas também por atraiçoar o Baptista, ignorando a confiança que o povo tinha nele, pois o considerava um verdadeiro profeta.

Meditatio

A história da Salvação avança enriquecendo-se progressivamente, até desembocar no Novo Testamento. O Antigo Testamento alude, esboça e anuncia o Novo Testamento, que completa, realiza e leva a pleno cumprimento quanto foi aludido, esboçado, anunciado. A Sabedoria, por exemplo, começa por ser um facto da experiência e do bom senso humano. Mas, progressivamente, assume tons do Divino. Nos fins do Antigo Testamento, é mesmo um atributo divino, propriedade que emana de Deus e investe proveitosamente o mundo. O Sábio percebeu esse progressivo movimento de enriquecimento, e começa a dar-se conta e a comunicar que não se pode viver sem a Sabedoria, que, ao fim e ao cabo, é um dom de Deus. Sem ela, não temos contacto com o divino, e a vida perde sabor. Mas, com ela, tudo tem sentido.
O evangelho apresenta-nos os chefes do povo de Jerusalém que, indispostos, vão interrogar Jesus sobre os milagres que faz. O Senhor contra-ataca, fazendo perguntas que os deixam embaraçados, porque lhes fazem ver que não só não aceitaram o baptismo de João, não procuraram Jesus com pureza de coração, e nem sequer a verdade, mas unicamente os seus interesses mesquinhos. Por isso, acabam por responder: «Não sabemos». Não encontraram a Sabedoria. Pelo contrário, Maria, que sempre gostamos de recordar, particularmente em dia de sábado, é, para nós, modelo da busca da Sabedoria, porque procura a vontade de Deus com simplicidade e pureza de coração. Também ela fez uma pergunta ao anjo, na Anunciação: «Como será isso, se eu não conheço homem?» (Lc 1, 34). A pergunta de Maria não é má. A Virgem apenas pede um esclarecimento. Ouve respostas que não esclarecem tudo, mas lhe dizem que Deus tem um projecto onde Ela entra. E Maria aceita confiadamente participar nele. É o mesmo abandono e disponibilidade que Deus nos pede.
Muitas vezes, os nossos pedidos a Deus, na oração, não obtêm logo resposta. Essa chega-nos na vida, nos acontecimentos
. É por isso que Maria observava o que se passa à sua com Jesus, guardando e meditando tudo no seu coração. Com humildade, paciência e constância, Maria procurava a sabedoria sobre o projecto de Deus, que se revelava pouco a pouco, e ao qual aderia de todo o coração. Assim há-de ser também a nossa atitude.

Oratio

Senhor Jesus, pelas mãos de Maria, tua e minha Mãe, ofereço-Te a minha inteligência para os teus pensamentos; ofereço-Te a minha vontade, para os teus desejos; ofereço- Te os meus sentidos para as tuas obras; ofereço-Te o meu coração, para o teu amor. Faz que, vivendo de Ti, trabalhando por Ti, eu me transforme em Ti. Mãe de Jesus, faz de mim outro Jesus. Amen.

Contemplatio

As qualidades e as condições do reconhecimento. – O nosso reconhecimento (para com Deus) deve ser sobretudo afectuoso, cheio de ternura e de amor. Poderíamos nós amar demasiado aquele que nos ama com um amor tão paternal e que nos cumula com tantos benefícios? O nosso reconhecimento deve ser contínuo. Deve manifestar-se desde o nosso despertar, ao primeiro som dos sinos, que recordam a mensagem do anjo Gabriel a Maria; depois de um empreendimento coroado de sucesso, depois das /545 refeições, ao tomarmos conhecimento de uma notícia feliz e agradável, mesmo no meio da tribulação e das adversidades, a cruz é tão preciosa para nos purificar e nos merecer graças! Façamos de modo a que a nossa vida seja uma acção de graças contínua. Tenho praticado esta virtude até ao presente? O meu espírito tem pensado nisso tão frequentemente como devia? O meu coração está dela penetrado? A minha boca fala dela muitas vezes? Oferece ao meu Deus os sacrifícios de louvor que Ele espera de mim? Sinto retinir as lamentações tão tocantes expressas por Nosso Senhor à Bem-aventurada Margarida Maria: «Não recebo da maior parte senão ingratidões, pelos desprezos, pelas irreverências, pelos sacrilégios e pelas friezas que têm para comigo no sacramento do meu amor… A ingratidão dos homens é-me mais sensível que tudo o que sofri na minha Paixão». (Leão Dehon, OSP4, p. 544s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Eu te glorificarei, cantarei os teus louvores, e bendirei o nome do Senhor» (Sir 51, 12).

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Subsídio litúrgico a cargo de Fernando Fonseca, scj

 

 

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