domingo, 30 de maio de 2021

10.º DOMINGO DO TEMPO COMUM-Ano B -Dehonianos

 10º Domingo do Tempo Comum - Ano B

6 Junho 2021

Ano B - 10.º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 10.º Domingo do Tempo Comum

O tema deste 10.º Domingo do Tempo Comum gravita à volta da identidade de Jesus e da comunhão que Ele deseja estabelecer com aqueles que se colocam na disposição de o seguir: fica claro que Jesus não tem qualquer aliança com o Demónio e com o poder do mal e que se quer definir pela sua relação de obediência com Deus Pai, à qual convida todos aqueles que se querem sentir parte da sua família.
No Evangelho, Jesus demonstra que, na sua atividade de libertação do poder do mal, não pode estar a pactuar com o Demónio, mas vem para libertar os homens e as mulheres de todos os tempos. Também nisso está a fazer a vontade de Deus e convida todos a fazer comunidade centrada na sua pessoa e decidida a construir um mundo que se baseie neste desejo de fazer a vontade de Deus.
A primeira leitura traz-nos o diálogo de Deus com as figuras poéticas do primeiro homem e da primeira mulher, depois da queda. Este texto procura chamar-nos ao sentido da existência, deixando claro que todos somos chamados a não pactuar com o mal e a estar de sobreaviso diante das tentações do Maligno.
Na segunda leitura, São Paulo mostra como as tribulações que sofre não abrandam o seu ardor missionário, que se caracteriza pela grande confiança em Deus e na vida eterna que há de conceder; duas grandes atitudes qualificam o ministério de Paulo: a esperança de estar unido com Jesus na ressurreição tal como o está na tribulação terrena e o desejo íntimo de estar em comunhão com os cristãos a quem anuncia o Evangelho de Jesus Cristo.

LEITURA I - Gn 3,9-15

Leitura do Livro do Génesis

Depois de Adão ter comido da árvore,
o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe:
«Onde estás?»
Ele respondeu:
«Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim
e, como estava nu, tive medo e escondi-me».
Disse Deus:
«Quem te deu a conhecer que estavas nu?
Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»
Adão respondeu:
«A mulher que me destes por companheira
deu-me do fruto da árvore e eu comi».
O Senhor Deus perguntou à mulher:
«Que fizeste?»
E a mulher respondeu:
«A serpente enganou-me e eu comi».
Disse então o Senhor Deus à serpente:
«Por teres feito semelhante coisa,
maldita sejas entre todos os animais domésticos
e todos os animais selvagens.
Hás de rastejar e comer do pó da terra
todos os dias da tua vida.
Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a descendência dela.
Ela há de atingir-te na cabeça
e tu a atingirás no calcanhar».

AMBIENTE

Como indica a palavra Génesis (quer dizer «origem»), que intitula o primeiro livro da Sagrada Escritura, este é o livro das origens, não apenas porque narra as origens da criação e do mundo (cf. Gn 1,1: «No princípio, Deus criou...»), mas porque vem de encontro às perguntas existenciais de todos os homens e mulheres: «Quem sou eu? Donde venho? Para onde vou?». Assim, mesmo na divisão clássica em duas partes, o primeiro livro da Bíblia responde à pergunta sobre as origens: primeiro, as origens da criação e do ser humano (cf. Gn 1,1–11,26); depois, as origens de Israel, com os chamados ciclos dos patriarcas (cf. Gn 11,27–50,26).
Sobretudo no que diz respeito à primeira parte, não se deve procurar uma história factual (cada vez mais, as traduções da Bíblia traduzem «'adam» como «homem», em vez de «Adão», mostrando como, naquele primeiro homem, está presente o drama de cada ser humano); deve ler-se aí uma história poético-simbólica, em que a poesia e o símbolo abraçam a realidade, mas ultrapassam-na. O autor sagrado condensa, com certeza, várias tradições que foram sendo transmitidas oralmente e que respondem à pergunta sobre as origens da criação, do ser humano na sua diferenciação e complementaridade homem-mulher, do mal, das várias línguas, etc.
Esta primeira leitura faz parte do segundo relato da criação (cf. Gn 2,4b–3,24), o único a narrar a transgressão, não como um facto histórico, mas como um modo de perceber as origens do mal - que, como veremos, não se encontra em Deus nem no ser humano, mas é externa - e da luta intrínseca dos homens e mulheres contra o autor do mal. Leva-nos até ao relato do encontro de Deus com o homem e a mulher, depois de estes terem comido do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (cf. Gn 3,1-7), transgredindo a ordem que lhes tinha sido expressamente dada de não comer de duas árvores, da árvore do conhecimento do bem e do mal e da árvore da vida (cf. Gn 2,16-17).

MENSAGEM

Para compreender a mensagem do nosso texto, é necessário ter presente o seu contexto, que descrevemos no ambiente. O facto de o homem e a mulher terem comido do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, contrariando uma ordem do Senhor Deus em Gn 2,16-17, quebra a harmonia existente entre o ser humano e Deus, e mesmo com a criação. Mesmo assim, isto não quebra a relação de Deus com o homem e a mulher, uma vez que todo o texto se desenrola num diálogo, feito de perguntas de Deus e de respostas do homem e da mulher.
A primeira pergunta do Senhor Deus é fundamental: «Onde estás?» (v. 9). Esta questão não se limita a indagar sobre o lugar onde se situa o homem; assume, por isso, uma dimensão claramente existencial. Através da desobediência, homem e mulher tinham perdido a sua colocação espacial original, perdendo-se na inconsistência de pretender ser como Deus (cf. Gn 2,5.22). Ao interrogá-los, o Senhor Deus conhece bem a dimensão da transgressão como o denota a terceira pergunta (v. 11: «Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?»). As perguntas do Senhor Deus servem muito mais ao homem e à mulher que são interrogados, para se encontrarem consigo mesmos depois de se terem perdido e para refazerem o caminho que os levou a transgredir a ordem estabelecida pelo Senhor Deus. As respostas do homem e da mulher (vv. 12-13) refletem a tendência humana de se desculpabilizar, desresponsabilizar e autojustificar, de encontrar a culpa fora de si; por outro lado, e numa leitura teológica, pode ser a forma encontrada pelo autor sagrado para mostrar que o mal não tem origem em Deus, que criou tudo bem e bom, nem no ser humano, ou seja, que o mal tem origem fora do ser humano; o homem e a mulher fizeram mal, mas foram a isso levados pela serpente que é, de facto, a única a receber a condenação mais dura (vv. 14-15), se tivermos em conta que Gn 2,16-19 é uma explicação da situação atual e real da mulher e do homem.
Ficamo-nos, por último, na sentença divina em relação à serpente. É verdade que esta sentença dura contra a serpente pode espelhar a situação atual deste animal, considerado maldito: os humanos em luta contra as serpentes; a declaração de impureza da serpente, o que a faz ser rejeitada nas prescrições alimentares de Israel (cf. Lv 11,41-44; 20,25). No entanto, já no judaísmo tardio, a serpente começa a ser lida como um símbolo do diabo, que será derrotado pelo Rei-Messias (esta interpretação ganhará força no Novo Testamento, concretamente na releitura de Rm 16,20 ou de Ap 12,9; 20,2). Numa releitura cristã, portanto, esta sentença divina em relação à serpente apresenta-se como profecia da luta de Jesus Cristo, descendente da mulher, contra o mal e contra o seu autor, descendente da antiga serpente simbólica deste relato.

ATUALIZAÇÃO

• O estilo do texto da primeira leitura, de diálogo entre Deus e os personagens deste relato, ajuda a colocar-se na narrativa, escutando as perguntas de Deus ao homem: «Onde estás?» (v. 9), «Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?» (v. 11), e à mulher: «Que fizeste?» (v. 13). Uma vez que todas estas questões têm um sentido existencial, poderá ser bom voltar às origens, poder localizar-nos no espaço de Deus, responder pelas nossas ações e verificar se as nossas respostas diferem das dos personagens deste relato.

• Diz-se que é comum a tendência para desculpabilizar, desresponsabilizar e autojustificar-se; também neste relato se vê um contínuo passar da culpa para os outros personagens. Retomando as questões anteriores, poderá ser hora de assumir as nossas responsabilidades diante de Deus, sabendo que, como dirá o Salmo 129 (130), «no Senhor está a misericórdia e a abundante redenção». A autojustificação não é caminho; o caminho passa pela justificação trazida por Cristo na sua morte de cruz, para nos reconciliar com o Pai.

• A origem última de toda a complicação remonta ao facto de se ter dado ouvidos à serpente: «A serpente enganou-me e eu comi» (v. 13). Se vemos na serpente uma imagem do diabo e do poder do mal, é importante estar de sobreaviso diante da tentação do maligno. Como várias vezes tem ensinado o Papa Francisco: «Não se dialoga com o demónio». Ainda o Papa Francisco: «A vida cristã é uma luta permanente. Requer-se força e coragem para resistir às tentações do demónio e anunciar o Evangelho. [...] Não pensemos que é um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia. Este engano leva-nos a diminuir a vigilância, a descuidar-nos e a ficar mais expostos. O demónio não precisa de nos possuir. Envenena-nos com o ódio, a tristeza, a inveja, os vícios. E assim, enquanto abrandamos a vigilância, ele aproveita para destruir a nossa vida, as nossas famílias e as nossas comunidades, porque, "como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar" (1Pd 5,8)» (Gaudete et Exsultate 158.161).

SALMO RESPONSORIAL - Sl 129 (130)

Refrão: No Senhor está a misericórdia e abundante redenção.

Ou: No Senhor está a misericórdia,
no Senhor está a plenitude da redenção.

Do profundo abismo chamo por Vós, Senhor,
Senhor, escutai a minha voz.
Estejam os vossos ouvidos atentos
à voz da minha súplica.

Se tiverdes em conta os nossos pecados,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão
para Vos servirmos com reverência.

Eu confio no Senhor,
a minha alma confia na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor
mais do que as sentinelas pela aurora.

Porque no Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante redenção.
Ele há de libertar Israel
de todas as suas faltas.

LEITURA II - 2Cor 4,13–5,1

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

Irmãos:
Diz a Escritura: «Acreditei, por isso falei».
Com este mesmo espírito de fé,
também nós acreditamos, e por isso falamos,
sabendo que Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus
também nos há de ressuscitar com Jesus
e nos levará convosco para junto d'Ele.
Tudo isto é por vossa causa,
para que uma graça mais abundante
multiplique as ações de graças de um maior número de cristãos
para glória de Deus.
Por isso, não desanimamos.
Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando,
o homem interior vai-se renovando de dia para dia.
Porque a ligeira aflição dum momento
prepara-nos, para além de toda e qualquer medida,
um peso eterno de glória.
Não olhamos para as coisas visíveis,
olhamos para as invisíveis:
as coisas visíveis são passageiras,
ao passo que as invisíveis são eternas.
Bem sabemos que,
se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita,
recebemos nos Céus uma habitação eterna,
que é obra de Deus
e não é feita pela mão dos homens.

AMBIENTE

A Segunda Carta aos Coríntios é, em grande parte, uma apologia do Apóstolo Paulo em favor do seu ministério apostólico, diante de quem não o reconhece. Numa primeira apologia, em 2Cor 2,14–4,6, Paulo tinha-se baseado muito na autoridade do Antigo Testamento, para provar a verdade da sua atividade apostólica, tão gloriosa a ponto de ofuscar o ministério de Moisés. O nosso texto situa-se na segunda apologia de Paulo (2Cor 4,7–5,10), desta feita baseada não tanto sobre os textos sagrados do Antigo Testamento, mas sobre uma antropologia em perspetiva escatológica, que será bem visível no nosso texto. Esta segunda apologia responde a algumas questões que os seus adversários poderiam colocar-se; uma delas é perceber como é que o ministério apostólico, por ele defendido na primeira apologia, pode ser tão provado e atribulado (cf. 2Cor 4,8-9.17). A resposta apologética de Paulo pautar-se-á por uma estratégia muito particular de ler toda a situação presente, claramente marcada pelas tribulações, à luz do futuro, do mundo que há de vir, das coisas últimas (escatologia). Nesta releitura, Paulo acentuará a comunhão: a comunhão que o une a Jesus Ressuscitado e a comunhão com os crentes, incluídos muito provavelmente também os destinatários desta Carta.

MENSAGEM

Este trecho da Segunda Carta aos Coríntios, sendo parte da apologia de Paulo, mostra a disposição com que Paulo encara o seu ministério que fica marcado, basicamente, por duas grandes atitudes: a fé-confiança que lhe dá força apesar das tribulações; a comunhão a dois níveis, ou seja, com Cristo e com os destinatários da sua pregação apostólica, entre os quais os destinatários desta carta.
A referência de Paulo à atitude de fé (v. 13: «o mesmo espírito de fé») baseia-se na citação da tradução grega do Sl 115: «Acreditei, por isso falei». Isto permite que Paulo faça depender o conteúdo da sua pregação não das suas ideias, mas do conteúdo da fé na ressurreição de Jesus Cristo; além disso, trata-se da fé como atitude de confiança de quem sabe que não está só, mas está unido à morte de Cristo e de quem espera a Ele estar unido também na ressurreição (cf. v. 14). Esta apologia é de conteúdo mais antropológico e, por isso, Paulo dá nota de como se deixa mover pela fé, ao estabelecer um contraste muito nítido entre a realidade presente, que para ele é aparente, e a realidade definitiva que é a vida do mundo que há de vir: a progressiva ruína do «homem exterior» em contraste com a progressiva renovação do «homem interior» (4,16); «a ligeira aflição dum momento» em contraste com «um peso eterno de glória» que se está a preparar (4,17); «as coisas visíveis» e «passageiras» em contraste com «as invisíveis» que são «eternas» (4,18); «esta tenda, que é a nossa morada terrestre», passível de ser destruída, a contrastar com «uma habitação eterna, que é obra de Deus» (5,1). É tudo isto a motivar a ação apostólica de Paulo, acentuando claramente que a tribulação do momento presente não é a palavra definitiva. Nas cartas de Paulo encontramos várias vezes este desprezo em relação à realidade presente e a total confiança e esperança na eternidade em comunhão com Deus (cf. Rm 8,31-39; Fl 3,7-14).
A segunda atitude que enunciámos é de comunhão, a dois níveis: do espírito de união com Cristo e da comunhão com os cristãos a quem dirige a sua pregação. Antes, Paulo já tinha deixado claro que as suas tribulações no desempenho do ministério apostólico eram sinal de estar visivelmente unido à morte de Jesus (cf. 2Cor 4,8-12); manifesta agora a esperança de se unir a ele também na glória da ressurreição (v. 14: «sabendo que Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d'Ele»). A união existencial a Jesus é, portanto, essencial na vida do apóstolo. No entanto, essa comunhão visível com Jesus abre-se à comunhão com os que creem em Cristo: de facto, Paulo espera estar unido a Jesus com os destinatários da carta (v. 14: «convosco»); se Paulo sofre tribulações, fá-lo em favor dos cristãos, para suscitar «as ações de graças de um maior número de cristãos para glória de Deus» (v. 15).

ATUALIZAÇÃO

• A atitude de Paulo diante das tribulações serve de modelo para os cristãos de todos os tempos, como atitude a conservar diante das provas e tribulações, quer derivem do exercício dos diversos ministérios na comunidade eclesial, quer se refiram a tantas outras situações que derivam do próprio "ser cristãos" no mundo contemporâneo. É antes de mais uma atitude de fé e de confiança que tem a eternidade como fim bem visível. A ressurreição de Cristo abriu caminho, para mostrar que a vida humana não se confina à vida terrena, mas é chamada à vida de comunhão com Jesus ressuscitado, sentado à direita do Pai. A fé na vida eterna deve continuar a iluminar o momento presente dos cristãos.

• A comunhão eclesial é certamente uma das marcas distintivas do que significa ser cristãos. Jesus chama a essa comunhão o mandamento novo do amor e reza para que a comunhão eclesial se mantenha e seja imagem da sua comunhão com o Pai. Paulo dá mostras de a viver, porque espera continuar unido aos cristãos, a quem se dirige, também na vida eterna. Além disso, todo o seu ministério apostólico se destina a gerar novos cristãos. Paulo é exemplo do desempenho do ministério como serviço à Igreja, não para a sua glória pessoal, não para se servir, mas verdadeiramente para servir.

ALELUIA - Jo 12,31b-32

Aleluia. Aleluia.

Chegou a hora em que vai ser expulso
o príncipe deste mundo, diz o Senhor;
e quando Eu for levantado da terra,
atrairei todos a Mim.

EVANGELHO - Mc 3,20-35

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Jesus chegou a casa com os seus discípulos.
E de novo acorreu tanta gente,
de modo que nem sequer podiam comer.
Ao saberem disto, os parentes de Jesus
puseram-se a caminho para O deter,
pois diziam: «está fora de Si».
Os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam:
«Está possesso de Belzebu,
e ainda:
«É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios».
Mas Jesus chamou-os e começou a falar-lhes em parábolas:
«Como pode Satanás expulsar Satanás?»
Se um reino estiver dividido contra si mesmo,
tal reino não pode aguentar-se.
E se uma casa estiver dividida contra si mesma,
essa casa não pode aguentar-se.
Portanto, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide,
não pode subsistir: está perdido.
Ninguém pode entrar em casa de um homem forte
e roubar-lhe os bens, sem primeiro o amarrar:
só então poderá saquear a casa.
Em verdade vos digo:
Tudo será perdoado aos filhos dos homens:
os pecados e blasfémias que tiverem proferido;
mas quem blasfemar contra o Espírito Santo
nunca terá perdão: será réu de pecado eterno».
Referia-Se aos que diziam:
«Está possesso dum espírito impuro».
Entretanto, chegaram sua Mãe e seus irmãos,
que, ficando fora, mandaram-n'O chamar.
A multidão estava sentada em volta d'Ele,
quando Lhe disseram:
«Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura».
Mas Jesus respondeu-lhes:
«Quem é minha Mãe e meus irmãos?»
E, olhando para aqueles que estavam à sua volta, disse:
«Eis minha Mãe e meus irmãos.
Quem fizer a vontade de Deus
esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».

AMBIENTE

Em Mc 3,6, tinha terminado a secção das várias controvérsias de Jesus com diversas instituições do mundo judaico. Não quer dizer que tenha terminado o confronto com essas instituições; o nosso texto será uma boa prova desse confronto. Dentro da grande secção de Mc 3,7–8,26, o texto de Mc 3,7–6,6 em que se encontra o nosso texto será dominado pelo contraste entre a rejeição e a aceitação de Jesus como mestre e agente de ações miraculosas: por um lado, o grupo dos doze apóstolos (cf. 3,13-19) e todos os que aceitam e fazem a vontade do Pai (3,33-35); por outro, a dificuldade da família de Jesus (cf. 3,21), dos escribas (cf. 3,22) e dos habitantes de Nazaré (cf. 6,1-6) em aceitar o ministério de Jesus.

MENSAGEM

Através da técnica literária da "narrativa em sanduiche", o Evangelho de Marcos encara a difícil temática da identidade e origem de Jesus. Apesar de ser apenas uma técnica literária, vale a pena explicar o que significa a "narrativa em sanduiche", para perceber o conteúdo da mensagem deste texto de Mc 3,20-35. O início e o fim do texto (v. 21) apresentam-nos a atitude da família de Jesus, de ir ao seu encontro por ter ouvido dizer que Ele «está fora de si»; a família volta à cena apenas no v. 31, com a sucessiva conclusão de Jesus a revelar quem é a sua família. Pelo meio (dentro da "sanduiche"), encontramos uma controvérsia com os escribas (vv. 22-30) sobre a origem do poder de Jesus para expulsar os demónios: se, por um lado, os escribas tentam fazer passar a ideia de uma familiaridade de Jesus com o príncipe dos demónios, Belzebu (v. 22), Jesus demonstrará, por meio da parábola do reino dividido (vv. 23-25), que não pode pertencer ao reino de Belzebu-Satanás, que não pode ter com ele qualquer familiaridade, porque um reino dividido não pode levar a melhor contra o inimigo (vv. 26-27).
A verdadeira questão deste texto é sobre a identidade de Jesus, a vários níveis, que passamos a explicitar. Antes de mais, a controvérsia com os escribas termina com uma afirmação solene dos vv. 28-29, contextualizada pelo v. 30. Diante de quem diz que Ele «está possesso de um espírito impuro» (v. 30), Jesus declara que todos «os pecados e blasfémias» serão perdoados (v. 28), mas «quem blasfemar contra o Espírito» não obterá perdão (v. 29); dá assim a entender que a blasfémia contra o Espírito Santo seria negar a verdadeira identidade divina de Jesus, ficando associada aos demónios. Isto está em linha com a pregação apostólica, por exemplo de Paulo, em 1Cor 12,3: «Pela ação do Espírito Santo, ninguém pode dizer: "Jesus é anátema"; ninguém pode dizer: "Jesus é Senhor", a não ser pela ação do Espírito Santo».
Além disso, o texto termina com a afirmação de Jesus a mostrar quem é a sua família, refundando os laços familiares. Jesus não está irmanado por laços de sangue, mas pela atitude diante da «vontade de Deus»: «Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe» (v. 35). A atitude fundamental de Jesus é a obediência à vontade de Deus, seu Pai; é isso que define a sua identidade. Para fazer parte da família de Jesus, é essencial ter a mesma atitude que Ele tem diante da vontade de Deus.
A mensagem do nosso texto revela, portanto, a identidade de Jesus a dois níveis: por um lado, Jesus define-se pela total ligação a Deus e à sua vontade, a ponto de considerar sua família quem estiver nessa mesma atitude; por outro lado, define-se ainda pela total separação e diferenciação do Demónio-Satanás. Aliás a sua missão é, nos termos da parábola (cf. v. 27), entrar em casa do «homem forte» que é o demónio, «amarrá-lo», impedindo-o de continuar a sua ação, e «roubar-lhe os bens», ou seja, retirar do seu poder todos os que eram sua propriedade.

ATUALIZAÇÃO

• O tema principal do texto do Evangelho deste domingo - sobre a identidade de Jesus - mostra que desde os inícios do cristianismo os cristãos sentiram necessidade de responder à pergunta: "Quem é Jesus?". Ainda hoje, na ação pastoral da Igreja, sobretudo nas catequeses, é importante que todos os cristãos conheçam a identidade de Jesus, até mesmo para poderem estabelecer com ele uma relação personalizada.

• Fazer parte da família de Jesus é a vocação fundamental dos cristãos de todos os tempos. Por isso, são chamados a formar comunidade, que está centrada na pessoa de Jesus e que tem como única missão fazer a vontade de Deus em todas as circunstâncias da vida. É a isso que chama o Evangelho quando Jesus apresenta a sua verdadeira família: é quem faz a vontade de Deus e toma lugar ao redor de Jesus.

• O método para estabelecer uma relação de familiaridade com Jesus passa necessariamente por seguir o seu exemplo: é Ele o primeiro a fazer a vontade de Deus, mesmo quando isso acarreta incompreensão e rejeição do seu ministério. O cristão continua no mundo a missão de Jesus e tem como único horizonte fazer a vontade de Deus; esta é uma das petições do Pai Nosso, a oração que Jesus ensina a rezar: «Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu».

• Quando o cristão se decide a seguir Jesus, isso implica necessariamente que renuncie ao mal e ao demónio. Tal como Jesus estabelece uma clara separação entre o seu serviço e o poder de Satanás, desde o primeiro momento da vida cristã, os cristãos são chamados a renunciar a Satanás e a fazer a sua profissão de fé em Deus. Na vida ordinária, isso implica que se tenha claro que algumas práticas de bruxaria, feitiçaria e cartomancia não são práticas próprias de um cristão, mas aprisionam; Jesus vem libertar-nos desse aprisionamento de Satanás e é necessário deixar-se libertar.

A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.

Ao longo dos dias da semana anterior ao 10.º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Ricardo Freire, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
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