domingo, 14 de março de 2021

A CURA DO PARALÍTICO-Dehonianos

 

16 Março 2021

Lectio

Primeira leitura: Ezequiel 47, 1-9.12

Naqueles dias, o Anjo reconduziu-me à entrada do templo. Debaixo do limiar da porta saía água, em direcção ao Oriente, pois a fachada do templo estava voltada para o Oriente. As águas corriam da parte inferior, do lado direito do templo, ao sul do altar. O Anjo fez-me sair pela porta setentrional e contornar o templo por fora, até à porta exterior, que está voltada para o Oriente. As águas corriam do lado direito. Depois saiu na direcção do Oriente com uma corda na mão; mediu mil côvados e mandou-me atravessar: a água chegava-me aos tornozelos. Mediu outros mil côvados e mandou-me atravessar: a água chegava-me aos joelhos. Mediu ainda mil côvados e mandou-me atravessar: a água chegava-me à cintura. Por fim, mediu mais mil côvados: era uma torrente que eu não podia atravessar. As águas tinham aumentado até se perder o pé, formando um rio impossível de transpor. Disse-me então o Anjo: «Viste, filho do homem?» E fez-me voltar para a margem da torrente. Quando cheguei, vi nas margens da torrente uma grande quantidade de árvores, de um e outro lado. O Anjo disse-me: «Esta água corre para a região oriental, desce até Arabá e entra no mar, para que as suas águas se tornem salubres. Em toda a parte aonde chegar esta torrente, todo o ser vivo que nela se move terá novo alento e o peixe será muito abundante. Porque aonde esta água chegar, tornar-se-ão sãs as outras águas e haverá vida por toda a parte aonde chegar esta torrente. À beira da torrente, nas duas margens, crescerá toda a espécie de árvores de fruto: a sua folhagem não murchará, nem acabarão os seus frutos. Todos os meses darão frutos novos, porque as águas vêm do santuário. Os frutos servirão de alimento e as folhas de remédio».

Numa terra árida, como a Palestina, uma nascente era vista como verdadeira bênção de Deus e símbolo do seu poder. Por isso, muitas vezes, construía-se junto dela um templo. O profeta Ezequiel contempla uma fonte que brota dos fundamentos do próprio templo e corre para Oriente, por onde entrara a Glória do Senhor para morar no meio do povo regressado do exílio. A nascente deu origem, primeiro a uma pequena corrente de água, nada comparável aos grandes rios da Mesopotâmia, que os exilados tinham contemplado. Mas, pouco a pouco, a corrente engrossa até se tornar um rio navegável. Ezequiel é convidado a experimentar no seu corpo a grandeza e a força da torrente, bem como a sua fecundidade e eficácia: ela torna verdejante o deserto e salubre o Mar Morto que se enchem de vida. E surge uma época de prosperidade.

Esta visão profética realiza-se em Jesus, verdadeiro templo, de cujo Lado aberto jorra a água viva do Espírito (cf. Jo 7, 38; 19, 34).

Evangelho: João 5, 1-3a.5-16

Naquele tempo, por ocasião de uma festa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém. Existe em Jerusalém, junto à porta das ovelhas, uma piscina, chamada, em hebraico, Betsatá, que tem cinco pórticos. Ali jazia um grande número de enfermos, cegos, coxos e paralíticos. Estava ali também um homem, enfermo havia trinta e oito anos. Ao vê-lo deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, Jesus perguntou-lhe: «Queres ser curado?» O enfermo respondeu-Lhe: «Senhor, não tenho ninguém que me introduza na piscina, quando a água é agitada; enquanto eu vou, outro desce antes de mim». Disse-lhe Jesus: «Levanta-te, toma a tua enxerga e anda». No mesmo instante o homem ficou são, tomou a sua enxerga e começou a caminhar. Ora aquele dia era sábado. Diziam os judeus àquele que tinha sido curado: «Hoje é sábado: não podes levar a tua enxerga». Mas ele respondeu-lhes: «Aquele que me curou disse-me: ‘Toma a tua enxerga e anda’». Perguntaram-lhe então: «Quem é que te disse: ‘Toma a tua enxerga e anda’». Mas o homem que tinha sido curado não sabia quem era, porque Jesus tinha-Se afastado da multidão que estava naquele local. Mais tarde, Jesus encontrou-o no templo e disse-lhe: «Agora estás são. Não voltes a pecar, para que não te suceda coisa pior». O homem foi então dizer aos judeus que era Jesus quem o tinha curado. Desde então os judeus começaram a perseguir Jesus, por fazer isto num dia de sábado.

Jesus, salvação de Deus, passa por entre os doentes e deficientes que se acumulam à volta da piscina, junto à Porta da Ovelhas, em Jerusalém. Dá especial atenção a um homem que ali jaz paralítico há 38 anos e faz-lhe uma pergunta aparentemente óbvia: «Queres ficar são;», Mas a pergunta, e a ordem que se segue, são suficientes para que este homem, que talvez já nada esperava da vida, se reanime, se erga, volte a agarrar na vida com coragem e até dê testemunho de Cristo àqueles que teimavam em permanecer paralisados na interpretação literal da Lei. Enquanto o paralítico quis ser curado, os adversários de Jesus não quiseram deixar-se curar da sua cegueira e rigidez, passando a uma aberta hostilidade.

Ao encontrar, mais tarde, no templo, o doente curado, Jesus dirige-lhes palavras de grande exigência, dando-lhe a entender que o pecado e as suas consequências são algo de pior que 38 anos de paralisia. Há que deixar-se curar completamente dos males do corpo, mas também do mal da alma. É uma opção a fazer livremente cada dia: deixar-se curar e não pecar.

Meditatio

As leituras de hoje falam-nos ambas de água que cura. O Evangelho diz-nos que Jesus é o verdadeiro médico e o verdadeiro remédio para os nossos males. A água é apenas símbolo da sua graça.

Os Padres da Igreja reconheceram no templo, de que nos fala a visão de Ezequiel, o verdadeiro Templo que é Jesus de Lado aberto e Coração trespassado na cruz, donde jorram sangue e água, símbolos do Espírito que dá a vida. Ezequiel contempla o templo, de cujo lado direito, brota a água prodigiosa que leva a vida e a fecundidade ao deserto e ao próprio Mar Morto. Este mar tem água. Mas é uma água que não permite a vida, porque saturada de sal. Pelo contrário, a água que vem do Templo, é viva e gera vida, porque é pura.

É a transformação que o Espírito de Deus realiza em nós e nas nossas comunidades, quando O acolhemos e nos abrimos à sua acção. Em cada um de nós, e nas nossas comunidades, há um «Mar Morto», um espaço de amargura, de preconceitos, de egoísmo que tornam difíceis as nossas relações e estéril o nosso apostolado. Só o Espírito Santo nos pode transformar. No baptismo recebemos o Espírito Santo, como uma pequena fonte, que há-de ir crescendo, à medida que nos abrimos a Ele e colaboramos na sua acção, até se tornar em nós uma torrente capaz de transformar a nossa vida e de tornar fecundo o nosso apo
stolado.

o Evangelho fala-nos do paralítico que, havia 38 anos, esperava junto à piscina uma oportunidade para entrar nela e ser curado. Como ele, muitos dos nossos irmãos jazem impotentes nas margens da esperança, desiludidos de tudo, talvez até da religião e, por isso, incapazes de mergulharem na vida. São estes homens e mulheres do nosso tempo que Cristo vem procurar, onde quer que estejam, paralisados pelo sofrimento, pelo pecado e pelas circunstâncias da vida. Também a eles, Jesus pergunta: «Queres ficar são;». Parece uma pergunta desnecessária. Mas Jesus sabe que é a resposta pessoal que renova e faz sentir a cada um a sua dignidade humana, a sua liberdade e responsabilidade. Perante a resposta do paralítico, Jesus diz-lhe simplesmente: «Levanta-te, toma a tua enxerga e anda». O poder da Palavra de Deus dispensa os ritualismos ou o uso de águas medicinais. A Palavra de Deus cura, rompe cadeias, liberta. Liberta o corpo e liberta o espírito, porque há paralisias bem piores do que as corporais, que tolhem o coração no pecado. A Igreja, por vontade de Cristo, dispõe da Palavra e da graça que brotaram do seu Lado aberto na cruz, para as distribuir aos homens, sobretudo no Baptismo, na Eucaristia e nos outros sacramentos.

Abramo-nos ao dom do Espírito Santo, invoquemo-I' O e demos-Lhe lugar nos nossos diálogos comunitários. Experimentemos os seus saborosos frutos: a caridade, a paz, a alegria, a bondade, a benevolência, a mansidão, etc. Não só pessoalmente, mas também comunitariamente.

Estamos convencidos de que a realidade escatológica dos "novos céus' e da "nova terra", onde "habita a justiça" (2 Pe 3, 13), obra do Espírito que tudo renova, pode ser uma realidade actual, antecipada, a nível pessoal, mas também a nível comunitário.

Tudo depende se damos ou não a Deus a possibilidade de realizar em nós a profecia de Ezequiel: "Dar-vos-ei um coração novd' (36, 26); Jesus manso e humilde de coração, dá-me o Teu coração (cf. n. 3)! "Infundirei em vós um espírito novd' (36, 26): "Vem, Espírito Santo ... " (cf. nn. 3.11.23.42.57).

Oratio

Vem, Senhor Jesus! Vem procurar o homem que jaz deprimido e doente, desesperado pelo pecado, que o domina e que lhe tolhe todo o movimento. Vem também procurar-me a mim. Aproxima-te de todos e de cada um de nós, para que possamos ouvir a tua pergunta: «Queres ficar são;». Vem mergulhar-nos no profundo abismo do teu amor misericordioso, capaz de tudo renovar, recriar e tornar fecundo. Renova em cada um de nós a graça do baptismo, para que a viva fielmente, em conformidade com os dons recebidos. Dá a água das lágrimas da penitência para que seja purificado. Então, liberto do pecado que me paralisa, poderei caminhar na tua presença e correr ao encontro dos meus irmãos para lhes anunciar o teu amor que redime e salva. Amen.

Contemplatio

E saiu sangue e água, diz S. João. O ferro ao retirar-se deixou jorrar uma dupla fonte de sangue e de água, na qual os Padres da Igreja viram o símbolo desta outra maravilha de amor, os sacramentos, canais preciosos da graça da salvação. - Rio de água que, no santo baptismo e no banho da penitência, lava a alma da mácula original; rio de sangue que cai todas as manhãs nos cálices dos altares, para se expandir pelo mundo fora, consolar a Igreja sofredora do Purgatório e reanimar a Igreja que combate sobre a terra; rio refrescante, onde o coração, ressequído pelos trabalhos e pelas tentações, vai saciar-se de piedade, de caridade e de santa alegria.

Senhor, concedei-me beber desta água e deste sangue, para não mais tenha esta sede doentia das coisas do mundo que me tortura, e que eu seja inebriado pelo vosso amor (Leão Dehon, OSP 3, p. 367s.).

Actio

Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Dá-me, Senhor, a alegria da selvação. (SI 50, 14a):

 

3 comentários:

  1. DEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
    Santa Maria, Rio Grande do Sul.

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  2. José Maria Nascimento16 de março de 2021 às 11:10

    Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!

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