21 Março 2021
ANO B
5º DOMINGO DA QUARESMA
Tema do 5º Domingo da Quaresma
Na liturgia do 5º Domingo da Quaresma ecoa,
com insistência, a preocupação de Deus no sentido de apontar ao homem o caminho
da salvação e da vida definitiva. A Palavra de Deus garante-nos que a salvação
passa por uma vida vivida na escuta atenta dos projectos de Deus e na doação
total aos irmãos.
Na primeira leitura, Jahwéh apresenta a Israel a proposta de uma nova Aliança.
Essa Aliança implica que Deus mude o coração do Povo, pois só com um coração
transformado o homem será capaz de pensar, de decidir e de agir de acordo com
as propostas de Deus.
A segunda leitura apresenta-nos Jesus Cristo, o sumo-sacerdote da nova Aliança,
que Se solidariza com os homens e lhes aponta o caminho da salvação. Esse
caminho (e que é o mesmo caminho que Jesus seguiu) passa por viver no diálogo
com Deus, na descoberta dos seus desafios e propostas, na obediência radical
aos seus projectos.
O Evangelho convida-nos a olhar para Jesus, a aprender com Ele, a segui-l'O no
caminho do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos.
O caminho da cruz parece, aos olhos do mundo, um caminho de fracasso e de
morte; mas é desse caminho de amor e de doação que brota a vida verdadeira e
eterna que Deus nos quer oferecer.
LEITURA I - Jer 31, 31-34
Leitura do Livro de Jeremias
Dias virão, diz o Senhor,
em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá
uma aliança nova.
Não será como a aliança que firmei com os seus pais,
no dia em que os tomei pela mão
para os tirar da terra do Egipto,
aliança que eles violaram,
embora Eu exercesse o meu domínio sobre eles, diz o Senhor.
Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel,
naqueles dias, diz o senhor:
Hei-de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma
e gravá-la-ei no seu coração.
Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
Não terão já de se instruir uns aos outros,
nem de dizer cada um a seu irmão:
«Aprendei a conhecer o Senhor».
Todos eles Me conhecerão,
desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor.
Porque vou perdoar os seus pecados
e não mais recordarei as suas faltas.
AMBIENTE
Jeremias, o profeta nascido em Anatot por
volta de 650 a.C., exerceu a sua missão profética desde 627/626 a.C., até
depois da destruição de Jerusalém pelos Babilónios (586 a.C.). O cenário da
actividade do profeta é, em geral, o reino de Judá (e, sobretudo, a cidade de
Jerusalém).
A primeira fase da pregação de Jeremias abrange parte do reinado de Josias.
Este rei - preocupado em defender a identidade política e religiosa do Povo de
Deus - leva a cabo uma impressionante reforma religiosa, destinada a banir do
país os cultos aos deuses estrangeiros. A mensagem de Jeremias, neste período,
traduz-se num constante apelo à conversão, à fidelidade a Jahwéh e à aliança.
No entanto, em 609 a.C., Josias é morto, em combate contra os egípcios. Joaquim
sucede-lhe no trono. A segunda fase da actividade profética de Jeremias abrange
o tempo de reinado de Joaquim (609-597 a.C.).
O reinado de Joaquim é um tempo de desgraça e de pecado para o Povo, e de
incompreensão e sofrimento para Jeremias. Nesta fase, o profeta aparece a
criticar as injustiças sociais (às vezes fomentadas pelo próprio rei) e a
infidelidade religiosa (traduzida, sobretudo, na busca das alianças políticas:
procurar a ajuda dos egípcios significava não confiar em Deus e, em contrapartida,
colocar a esperança do Povo em exércitos estrangeiros). Jeremias está
convencido de que Judá já ultrapassou todas as medidas e que está iminente uma
invasão babilónica que castigará os pecados do Povo de Deus. É, sobretudo, isso
que ele diz aos habitantes de Jerusalém... As previsões funestas de Jeremias
concretizam-se: em 597 a.C., Nabucodonosor invade Judá e deporta para a
Babilónia uma parte da população de Jerusalém.
No trono de Judá fica, então, Sedecias (597-586 a.C.). A terceira fase da
missão profética de Jeremias desenrola-se, precisamente, durante este reinado.
Após alguns anos de calma submissão à Babilónia, Sedecias volta a experimentar
a velha política das alianças com o Egipto. Jeremias não está de acordo que se
confie em exércitos estrangeiros mais do que em Jahwéh... Mas, nem o rei, nem
os notáveis prestam qualquer atenção à opinião do profeta.
Em 587 a.C., Nabucodonosor põe cerco a Jerusalém; no entanto, um exército
egípcio vem em socorro de Judá e os babilónios retiram-se. Nesse momento de
euforia nacional, Jeremias aparece a anunciar o recomeço do cerco e a
destruição de Jerusalém (cf. Jer 32,2-5). Acusado de traição, o profeta é
encarcerado (cf. Jer 37,11-16) e corre, inclusive, perigo de vida (cf. Jer
38,11-13). Enquanto Jeremias continua a pregar a rendição, Nabucodonosor
apossa-se, de facto, de Jerusalém, destrói a cidade e deporta a sua população
para a Babilónia (586 a.C.).
É impossível dizer com segurança o contexto em que apareceu essa mensagem que o
texto que nos é hoje proposto apresenta.
Para alguns comentadores, trata-se de um oráculo que poderia situar-se na
primeira fase da actividade profética de Jeremias (reinado de Josias) e
dirigir-se-ia aos israelitas do Reino do Norte. Seria uma mensagem de
esperança, destinada a animar esse povo que há cerca de cem anos tinha perdido
a independência e estava sob o domínio assírio.
Para outros, contudo, este texto será da época de Sedecias, algures entre a
primeira e a segunda deportação do Povo para a Babilónia (597-586 a.C.). É a
época em que Jeremias descobre perspectivas teológicas novas e começa a
reflectir sobre um tempo novo que Deus irá oferecer ao seu Povo: após a
catástrofe, será possível recomeçar tudo, pois Deus tem em mente fazer uma nova
Aliança com Judá.
MENSAGEM
Deus está disposto a firmar uma nova Aliança
com o seu Povo. Essa Aliança será, contudo, diferente da Aliança do Sinai.
A Aliança do Sinai foi uma Aliança externa, gravada em tábuas de pedra e que o
Povo nunca interiorizou devidamente. Apresentava leis que o Povo devia cumprir;
mas essas leis eram sempre leis externas, que não atingiram o coração do Povo
nem mudaram substancialmente a sua maneira de ser. Por isso, o Povo de Deus
continuou a trilhar caminhos de infidelidade a Deus, de injustiça, de
auto-suficiência, de pecado. O Povo de Deus aderiu à Aliança do Sinai, mas mais
com a boca do que com o coração. Ora, sem uma adesão efectiva, uma adesão do
coração, era impossível manter a fidelidade aos mandamentos e exigências dessa
Aliança.
Constatada a falência da antiga Aliança, Deus vai seguir outro caminho e propor
uma nova Aliança que se fundamente noutras bases... Em concreto, Deus vai
intervir no sentido de gravar as suas leis e preceitos no coração, no íntimo de
cada membro do Povo. Na antropologia semita, o coração é, além da sede dos
sentimentos, a sede dos pensamentos, dos projectos, das decisões e das acções
do homem; é o centro do ser, onde o homem dialoga consigo mesmo, toma as suas
decisões, assume as suas responsabilidades. Portanto, a iniciativa de Deus irá
possibilitar que as exigências da Aliança sejam interiorizadas por cada membro
do Povo de Deus e que estejam presentes nessa sede onde nascem os pensamentos,
onde se definem os valores, onde se decidem as acções. Com um
"coração" assim transformado (isto é, que pensa, que decide e que age
segundo os esquemas e a lógica de Deus), cada crente poderá viver na fidelidade
à Aliança, na obediência aos mandamentos, no respeito pelas leis, no amor a
Jahwéh. Então, Jahwéh será, efectivamente, o Deus de Israel; Israel será,
verdadeiramente, o Povo que vive de acordo com as propostas de Deus e que
testemunha Deus no meio do mundo.
Com esse novo tipo de relação, Jahwéh não será mais um "desconhecido"
para o seu Povo. Entre Deus e Israel será possível o estabelecimento de uma
relação pessoal de proximidade, de intimidade, de familiaridade. A comunhão com
Jahwéh não será uma lição dificilmente aprendida, mas algo de inato e natural,
que brota de um coração em permanente diálogo com Deus.
Na última frase do nosso texto, Deus anuncia o perdão para as faltas do seu
Povo: um perdão total e sem reservas é o primeiro resultado desta nova relação
que se vai estabelecer entre Deus e o seu Povo. Também nisto se manifesta o
"amor eterno" de Deus.
ACTUALIZAÇÃO
• A primeira leitura do 5º Domingo da Quaresma
dá-nos conta da eterna preocupação de Deus com a realização plena do homem.
Nessa linha, Jahwéh propõe-se intervir no sentido de mudar o coração do homem,
tornando-o apto para fazer as escolhas mais correctas. Só com um coração transformado,
o homem será capaz de acolher as propostas de Deus e de conduzir a sua vida de
acordo com esses valores que lhe asseguram a harmonia, a paz, a verdadeira
felicidade. Ao homem pede-se, naturalmente, que acolha o dom de Deus, que se
deixe transformar por Deus, que aceite o desafio de Deus para integrar a
comunidade da nova Aliança. Integrar a comunidade da nova Aliança implica, no
entanto, renunciar a caminhos de fechamento, de auto-suficiência, de recusa, de
indiferença face aos desafios e às propostas de Deus. Estamos dispostos, neste
tempo de Quaresma, a acolher o dom de Deus e a deixar-nos transformar por Ele?
• Fazer parte da comunidade da nova Aliança
não tem a ver com o cumprimento de ritos ou de obrigações externas; mas tem a
ver com a adesão incondicional do coração às propostas de Deus. O que nos faz
membros efectivos da comunidade da nova Aliança não é o ter o nome inscrito no
livro de registos de baptismos da nossa paróquia, ou o ter celebrado o
casamento na igreja, ou o ir à missa ao domingo... Mas é o estar atento aos
projectos de Deus, interiorizar as propostas de Deus, conduzir a vida de acordo
com os valores de Deus, testemunhar a vida de Deus nos gestos simples do dia a
dia, viver em comunhão com Deus.
• O projecto de uma nova Aliança entre Deus e
o seu Povo concretiza-se em Jesus: Ele veio ao mundo para renovar os corações
dos homens, oferecendo-lhes a vida de Deus. As outras duas leituras que nos são
propostas neste 5º Domingo da Quaresma vão dizer-nos como é que Jesus
concretizou este projecto.
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 50 (51)
Refrão: Dai-me, Senhor, um coração puro.
Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa
bondade,
pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas.
Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.
Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos
e os transviados hão-de voltar para Vós.
LEITURA II - Heb 5, 7-9
Leitura da Epístola aos Hebreus
Nos dias da sua vida mortal,
Cristo dirigiu preces e súplicas,
com grandes clamores e lágrimas,
Àquele que O podia livrar da morte
e foi atendido por causa da sua piedade.
Apesar de ser Filho,
aprendeu a obediência no sofrimento
e, tendo atingido a sua plenitude,
tornou-Se para todos os que Lhe obedecem
causa de salvação eterna.
AMBIENTE
A Carta aos Hebreus é um escrito (um sermão)
de autor anónimo e cujos destinatários, em concreto, desconhecemos (o título
"aos hebreus" provém das múltiplas referências ao Antigo Testamento e
ao ritual dos "sacrifícios" que a obra apresenta). É possível que se
dirija a uma comunidade cristã constituída maioritariamente por cristãos vindos
do judaísmo; mas nem isso é totalmente seguro, uma vez que o Antigo Testamento
era um património comum, assumido por todos os cristãos - quer os vindos do
judaísmo, quer os vindos do paganismo. Trata-se, em qualquer caso, de cristãos
em situação difícil, expostos a perseguições e que vivem num ambiente hostil à
fé... São, também, cristãos que facilmente se deixam vencer pelo desalento, que
perderam o fervor inicial e que cedem às seduções de doutrinas não muito
coerentes com a fé recebida dos apóstolos... O objectivo do autor é estimular a
vivência do compromisso cristão e levar os crentes a crescer na fé. Para isso,
ele expõe o mistério de Cristo (apresentado, sobretudo, como "o sacerdote"
da Nova Aliança) e recorda a fé tradicional da Igreja.
O texto que nos é hoje proposto é parte de uma longa reflexão (cf. Heb
3,1-9,28) sobre o sacerdócio de Cristo. Em concreto, a perícopa de Heb 5,1-10
desenvolve o tema do sacerdócio de Cristo por comparação com o sumo-sacerdote
do Antigo Testamento, apresentando uma série de aspectos semelhantes e opostos.
Na perspectiva do autor deste sermão, o sumo-sacerdote deve ser um homem que,
pela sua humanidade e fragilidade, é capaz de entender os pecados dos seus irmãos
("pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele está
cercado de fraqueza" - Heb 5,2); ele oferece sacrifícios, "tanto
pelos seus pecados, como pelos do povo", a fim de refazer a comunhão entre
Deus e o homem (Heb 5,3); e é chamado por Deus a desempenhar esta missão, tal
como aconteceu com o sacerdote Aarão (Heb 5,4).
Estes três elementos estão bem patentes em Cristo, o sumo-sacerdote da nova
Aliança.
MENSAGEM
Cristo, apesar de Filho de Deus, foi um homem
que viveu entre os homens e que experimentou a fragilidade e a debilidade dos
homens. Sofreu, chorou, sentiu angústia e medo diante da morte, como qualquer
homem (o autor alude, provavelmente, à oração de Jesus no Monte das Oliveiras,
pouco antes de ser preso - cf. Mc 14,36). Por isso, Jesus é o sumo-sacerdote,
capaz de compreender as fraquezas e as fragilidades dos homens. A partir dessa
compreensão, Ele será também capaz de dar-lhes remédio.
O sacerdócio de Jesus realizou-se num permanente diálogo com o Pai. Ele
procurou sempre, através de uma oração intensa, discernir e cumprir a vontade
do Pai. Mesmo nos momentos mais duros e difíceis da sua existência terrena, Ele
escutou o Pai, manteve a sua adesão incondicional ao Pai, manifestou a sua
total disponibilidade para cumprir o projecto de salvação que o Pai queria,
através d'Ele, oferecer aos homens. Desta forma, Jesus, na oração e pela oração
que acompanha a sua vida inteira (e especialmente os momentos dramáticos da
paixão e morte), converteu toda a sua existência numa oferenda ao Pai, num
"sacrifício" de doação ao Pai. Ao fazer da sua vida um dom, uma
entrega total, um "sacrifício", Ele realizou o projecto de refazer a
comunhão entre Deus e os homens. Com a sua obediência, Ele ensinou os homens a
viver em comunhão total com Deus, a cumprir os projectos de Deus e a amar os
irmãos até ao dom total da vida; com a sua obediência, Ele eliminou o egoísmo e
o pecado que afastavam os homens de Deus. Sendo, pela sua comunhão total com o
Pai e com os homens, o modelo de Homem Novo, Ele tornou-se, para todos aqueles
que escutaram a sua mensagem e que O seguiram, "fonte de salvação
eterna" (vers. 9).
Jesus Cristo é, portanto, o sumo-sacerdote da nova Aliança. Ele conhece e
entende as fragilidades dos homens e está apto a oferecer-lhes a ajuda necessária
para que possam alcançar a salvação. Cumprindo integralmente o projecto do Pai,
Jesus mostra aos homens que o caminho da salvação está na comunhão com Deus, na
obediência radical aos projectos de Deus e no dom da vida aos irmãos. Jesus é,
assim, um sumo-sacerdote que proporciona eficazmente aos homens a salvação,
levando-os ao encontro de Deus e da vida plena.
ACTUALIZAÇÃO
• Antes de mais, o nosso texto recorda-nos a
solidariedade de Jesus com os homens. Ele veio ao nosso encontro, assumiu a
nossa humanidade, conheceu as nossas fragilidades, partilhou as nossas dores,
medos e incertezas. Ele compreendeu os homens e as suas fraquezas, sem nunca os
acusar nem condenar, sem se demitir da sua condição de irmão dos homens. Desta
forma, tornou-Se capaz de Se compadecer da nossa miséria e de nos trazer a
ajuda necessária para que pudéssemos superar a nossa situação de debilidade. A
Palavra de Deus que hoje nos é proposta garante-nos a solidariedade de Cristo
em todos os instantes da nossa existência. Não estamos sozinhos, frente a
frente com a nossa fragilidade e debilidade; Cristo entende-nos, caminha à
nossa frente, pega-nos ao colo quando não conseguimos caminhar. Sobretudo
Cristo, o irmão que veio ao nosso encontro e que caminha connosco, aponta-nos o
caminho para essa vida plena e definitiva que Deus nos quer oferecer.
• Toda a vida de Cristo cumpriu-se num intenso
diálogo e numa total comunhão com o Pai. Através desse diálogo, Ele pôde
discernir a vontade do Pai e conhecer os seus projectos. Pela oração, Ele
encontrou forças para obedecer, para dizer "sim" e para concretizar
os planos do Pai, mesmo nos momentos mais dramáticos da sua existência terrena.
O caminho da doação total ao Pai não é um caminho impossível para os homens
(Jesus, tornado homem como nós, demonstrou-o); mas é um caminho que os homens
podem percorrer, apesar das suas fragilidades. É esse caminho que Jesus, o
homem como nós, nos aponta. Temos espaço, na nossa vida, para dialogar com o
Pai, para perceber os seus projectos para nós e para o mundo, para escutar os
desafios que Deus nos faz? A nossa vida cumpre-se na indiferença para com Deus
e para com os seus projectos, ou numa procura sincera e empenhada da vontade de
Deus?
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO - Jo 12,26
(escolher um dos 7 refrães)
1. Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor.
2. Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
3. Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
4. Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
5. Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória.
6. Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
7. A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Se alguém Me quiser servir, que Me siga, diz o
Senhor,
e onde Eu estiver, ali estará também o meu povo.
EVANGELHO - Jo 12, 20-33
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São João
Naquele tempo,
alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém
para adorar nos dias da festa,
foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia,
e fizeram-lhe este pedido:
«Senhor, nós queríamos ver Jesus».
Filipe foi dizê-lo a André;
e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus.
Jesus respondeu-lhes:
«Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado.
Em verdade, em verdade vos digo:
Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só;
mas se morrer, dará muito fruto.
Quem ama a sua vida, perdê-la-á,
e quem despreza a sua vida neste mundo
conservá-la-á para a vida eterna.
Se alguém Me quiser servir, que Me siga,
e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo.
E se alguém Me servir, meu Pai o honrará.
Agora a minha alma está perturbada.
E que hei de dizer? Pai, salva-Me desta hora?
Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora.
Pai, glorifica o teu nome».
Veio então uma voz do céu que dizia:
«Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-l'O».
A multidão que estava presente e ouvira
dizia ter sido um trovão.
Outros afirmavam: «Foi um Anjo que Lhe falou».
Disse Jesus:
«Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir;
foi por vossa causa.
Chegou a hora em que este mundo vai ser julgado.
Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo.
E quando Eu for elevado da terra,
atrairei todos a Mim».
Falava deste modo,
para indicar de que morte ia morrer.
AMBIENTE
O Evangelho que a liturgia do 5º Domingo da
Quaresma nos propõe situa-nos em Jerusalém, aparentemente no próprio dia da
entrada solene de Jesus na cidade santa (cf. Jo 12,12-19). As multidões
"que tinham chegado para a Festa" haviam aclamado Jesus como o
rei/messias, encenando um rito de entronização e aclamando Jesus como "o
que vem em nome do Senhor, o rei de Israel" (Jo 12,12-13). De acordo com
João, as pessoas colheram ramos de palma e saíram ao encontro de Jesus um gesto
que está ligado, no folclore religioso judaico, à Festa das Cabanas, a festa
que celebrava o tempo em que os israelitas viveram em tendas, ao longo da
caminhada pelo deserto, após a libertação do Egipto. O autor do Quarto
Evangelho sugere, assim, que está a chegar ao fim o processo de libertação
definitiva do Povo de Deus. Apresenta-se, assim, uma chave de leitura para entender
a morte próxima de Jesus.
No quadro entram "alguns gregos" que "tinham subido a Jerusalém
para adorar" e que queriam ver Jesus. Aqui, "grego" significa,
provavelmente, "não judeu". Podem ser prosélitos (estrangeiros
convertidos ao judaísmo) ou simples simpatizantes do judaísmo.
Os "gregos" dirigem-se a Filipe, natural de Betsaida, uma cidade
situada na tetrarquia de Herodes Filipe, já fora do território judeu
propriamente dito. Curiosamente, "Betsaida" significa "lugar de
pesca" (o que pode aludir à missão dos discípulos - ser "pescadores
de homens" - Mc 1,17). Filipe vai falar com André a propósito do pedido e
os dois apresentam o caso a Jesus.
A história dos "gregos" que querem "ver Jesus" vai servir
de pretexto a João para uma belíssima catequese sobre o que significa "ver
Jesus".
MENSAGEM
Os "gregos" vieram a Jerusalém
"adorar" a Deus no Templo; mas quiseram encontrar-se com Jesus,
conhecer Jesus e o seu projecto, tomar contacto com a salvação que Ele veio
oferecer (queriam "ver Jesus" - vers. 21). Com isto, o autor do
Quarto Evangelho sugere que o Templo e o culto antigo já não são mais os
lugares onde o homem encontra Deus e a salvação; agora, quem estiver
interessado em encontrar a verdadeira libertação deve dirigir-se ao próprio
Jesus. Por outro lado, a salvação/libertação que Jesus veio trazer tem um
alcance universal e destina-se a todos os homens - mesmo àqueles que vivem fora
das fronteiras físicas de Israel ("gregos").
Estes "gregos" não se dirigem directamente a Jesus, mas aos
discípulos. Haverá aqui, talvez, um aceno à responsabilidade missionária da
comunidade de Jesus, encarregada da missão de levar Jesus a todos os povos da
terra. O facto de Filipe falar primeiro com André e só depois os dois irem
contar o que se passa a Jesus reflecte a dificuldade com que as primeiras
comunidades cristãs deram o passo para a evangelização dos pagãos. João quer,
provavelmente, sugerir que a decisão de integrar os pagãos na comunidade de
Jesus não é uma decisão individual, mas uma decisão que a comunidade tomou
depois de haver consultado o Senhor.
Quem vai ao encontro de Jesus, o que é que vai encontrar? Um messias aclamado
pelas multidões, preocupado em gerir a carreira e em manter a todo o custo o
seu clube de fãs, que faz prodígios de equilíbrio para não desagradar às
autoridades constituídas e não arruinar as suas hipóteses de êxito?
No horizonte próximo de Jesus, está apenas a cruz (a "hora"). Ele
está consciente de que vai sofrer uma morte violenta e maldita, e que todos o
vão abandonar como um fracassado. Paradoxalmente, Ele está consciente, também,
que nessa cruz se manifestará a "glória" do Filho do Homem.
A morte de Jesus não é um momento isolado, mas o culminar de um processo de
doação total de Si mesmo, que se iniciou quando "o Verbo Se fez carne e
montou a sua tenda no meio dos homens" (Jo 1,14); é o último acto de uma
vida de entrega total aos projectos de Deus, feita amor até ao extremo. Durante
toda a sua existência terrena, Jesus procurou, em cada palavra e em cada gesto,
tornar o homem livre de todas as opressões, dotá-lo de dignidade, dar-lhe vida
em plenitude. Dessa forma, despoletou o ódio do sistema opressor, interessado
em manter o homem escravo. Sem se assustar com a perspectiva da morte,
cumprindo até ao fim o projecto libertador de Deus em favor do homem, Jesus
levou avante a sua luta pela libertação da humanidade. A sua morte é a
consequência do seu confronto com as forças da morte que dominavam o mundo.
Por outro lado, ao dar a vida por amor, Jesus deixa aos seus discípulos a última
e a suprema lição, a lição final que eles devem aprender. Com a morte de Jesus
na cruz, os discípulos aprendem o amor até ao extremo, o dom total da vida, a
entrega radical aos projectos de Deus e à libertação dos irmãos.
O que é que nasce deste "dom" de Jesus? Nasce uma nova humanidade. É
uma humanidade que Jesus libertou da opressão, da injustiça, dos mecanismos que
geram sofrimento e medo... E é uma humanidade que venceu o egoísmo e que
aprendeu que a vida é para ser dada, sem limites, por amor. Não há dúvida que o
dom da vida dá abundantes frutos de vida. Na cruz de Jesus manifesta-se,
portanto, o projecto libertador de Deus para os homens.
Quem quiser "conhecer" Jesus deve olhar para esse Homem que põe
totalmente a sua vida ao serviço dos projectos de Deus e que morre na cruz para
ensinar aos homens o amor sem limites. Deve aprender essa verdade que, para
Jesus, é evidente: não se pode gerar vida (para si próprio e para os outros),
sem entregar a própria vida. A vida nasce do amor, do amor total, do amor que
se dá até às últimas consequências. Só o amor como dom total é fecundo e
gerador de vida ("em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo
caído na terra não morrer, permanece só; se morrer, produz muito fruto" -
vers. 24). Quem se ama a si mesmo e se fecha num egoísmo estéril, quem se
preocupa apenas com defender os seus interesses e perspectivas, perde a
oportunidade de chegar à vida verdadeira, à salvação. O apego egoísta à própria
vida levará ao medo de agir, à dificuldade em comprometer-se, ao silêncio
perante a injustiça - em suma, a uma vida de medo e de opressão, que é
infecunda e não vale a pena ser vivida. Ao contrário, quem é totalmente livre
do medo, quem se esquece dos seus próprios interesses e seguranças e se
compromete com a luta pela justiça, pelos direitos, pela dignidade e liberdade
do homem, quem ama tanto os outros que entrega a sua vida por eles, esse dará
frutos de vida e viverá uma vida plena, que nem a morte calará. É esta vida que
tem sentido e que leva o homem à realização plena.
Jesus viveu esta dinâmica da vida dada por amor, sem medo de enfrentar o
"mundo" - isto é, sem medo de enfrentar esse sistema de opressão e de
injustiça que pensava poder manter os homens escravos através do medo da morte.
Jesus está livre desse medo e, portanto, está livre para amar totalmente.
Àqueles que querem "ver Jesus" e conhecer o seu projecto, Ele propõe
o mesmo caminho - o caminho do amor e da entrega total. Ser discípulo é
colaborar com Jesus na libertação dos homens que ainda são escravos, mesmo que
isso signifique enfrentar as forças de opressão do "mundo" e
enfrentar a própria morte ("se alguém Me quer servir, siga-Me" -
vers. 26a).
Quem aceitar esta proposta permanece unido a Jesus, entra na comunidade de Deus
(vers. 26b). Poderá ser desprezado pelo "mundo"; mas será honrado por
Deus e acolhido como seu filho (vers. 26c).
O nosso texto termina com a "voz do céu" que glorifica Jesus (vers.
28-32). É uma forma de mostrar que o caminho de Jesus tem o selo de garantia de
Deus. A "voz do céu" assegura que a forma de viver proposta por Jesus
é verdadeira e que Deus garante a sua autenticidade. Confirma-se, desta forma,
aos discípulos que oferecer a vida por amor não é um caminho de fracasso e de
morte, mas um caminho de glorificação e de vida.
ACTUALIZAÇÃO
• A primeira leitura mostrava-nos a
preocupação de Deus no sentido de propor aos homens uma nova Aliança, capaz de
gerar um Homem Novo. Como é que chegamos a essa realidade do Homem Novo, de
coração transformado (isto é, com um coração que pensa, que decide e que age
segundo os esquemas e a lógica de Deus)? O Evangelho responde: é olhando para
Jesus, aprendendo com Ele, seguindo-O no caminho do amor, acolhendo essa vida
que Ele nos propõe. Jesus tem de ser o modelo, a referência, o exemplo de quem
quer aceitar o desafio de Deus e viver na comunidade da nova Aliança. Na
verdade, o que é que Jesus representa, para nós? Uma pequena nota no rodapé da
história humana? Um idealista com boas intenções que fracassou no seu sonho de
um mundo melhor? Um pensador original, mas cujas ideias e perspectivas parecem
desfasadas face às novas realidades do mundo? Ou é o Deus que veio ao encontro
dos homens com um projecto de vida nova, capaz de dar um novo sentido à nossa
vida e de nos encaminhar para a vida plena, para a felicidade sem fim?
• O caminho que Jesus aponta aos homens é o
caminho do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos.
Este caminho pode parecer, por vezes, um caminho de fracasso, de cruz; pode ser
um caminho que nos coloca à margem desses valores que o mundo admira e
consagra; pode parecer um caminho de perdedores e de fracos, reservado a quem
não tem a coragem de se impor, de vencer a todo o custo, de conquistar o
mundo... No entanto, Jesus garante-nos: a vida plena e definitiva nasce do dom
de si mesmo, do serviço simples e humilde prestado aos irmãos (sobretudo aos
pequenos e aos pobres), da disponibilidade para nos esquecermos de nós próprios
e para irmos ao encontro das necessidades dos outros, da capacidade para nos
solidarizarmos com os irmãos que sofrem, da coragem com que enfrentamos tudo
aquilo que gera sofrimento e morte. Estamos dispostos a seguir a proposta de
Jesus?
• Jesus rejeita absolutamente o caminho da
auto-suficiência, do fechamento em si próprio, do egoísmo estéril, dos valores
efémeros. Na lógica de Deus, trata-se de um caminho de perdedores, que produz
vidas vazias e sem sentido, sofrimento e frustração, medo e desilusão. Quem
vive exclusivamente para si próprio, quem se preocupa apenas em defender os
seus interesses e perspectivas, quem se apega excessivamente a uma realização
pessoal cumprida em circuitos fechados, "compra" uma existência
infecunda e que não vale a pena ser vivida. Perde a oportunidade de chegar ao
Homem Novo, à realização plena, à vida verdadeira, à salvação. Talvez nesta
Quaresma Jesus nos peça que dispamos o nosso egoísmo e que nos convertamos ao
amor...
• É através da comunidade dos discípulos que
os homens "vêem Jesus", descobrem o seu projecto, encontram esse
caminho de amor e de doação que conduz à vida nova do Homem Novo, à salvação.
Isto recorda-nos a nossa responsabilidade de testemunhas de Jesus e da sua
salvação no meio dos homens do nosso tempo... Aqueles irmãos que se cruzam
connosco nos caminhos da vida descobrem no nosso testemunho o rosto de Jesus?
Todos aqueles que vêm ao encontro de Jesus à procura da vida plena encontram na
forma como nos doamos, como servimos e como amamos a proposta libertadora que,
através de nós, Jesus quer passar a todos os homens?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5º DOMINGO
DA QUARESMA
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 5º Domingo da Quaresma, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. BILHETE DE EVANGELHO.
Se o grão de trigo quer dar fruto, é preciso que ele passe pela terra onde vai
apodrecer, mas o seu percurso não pára aí, o fruto brotará. Jesus quer dar a
vida, Ele escolhe passar pela morte, dando então a maior prova de amor. Mas a
sua missão não pára aí, a vida brotará: a sua própria vida é a ressurreição; e
a vida da humanidade é a salvação. "Não era necessário que Cristo sofresse
tudo isto para entrar na sua glória?", dirá Ele aos discípulos no caminho
de Emaús. Se queremos que os outros vivam, é preciso que passemos por um certo
número de renúncias, de esquecimentos de nós próprios, e isto através do
serviço, do acolhimento, do perdão. Mas a nossa relação com os outros não pára
aí, a alegria brota nos rostos e no nosso próprio rosto. A morte é uma passagem
obrigatória para aquele que ama e quer amar até ao fim.
3. À ECUTA DA PALAVRA.
"Queremos ver Jesus"... Em resposta ao pedido dos Gregos, Jesus
anuncia a sua próxima "glorificação", isto é, a sua morte. Estranha
associação esta, da morte com a glória! Mas Jesus explica: "Se o grão de
trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito
fruto". Sabemos que, na realidade, o grão enterrado na terra sofre uma
profunda transformação. O seu invólucro exterior deve rebentar e acabar por
desaparecer para que o germe, até então escondido, possa crescer e produzir
novos grãos. Na morte de Jesus acontece a "explosão" da Ressurreição.
Os discípulos reconhecem em Jesus a presença imediata de Deus. Então, Ele será
glorificado. A "glória" é o "peso", no sentido de
"densidade", de um ser. A verdadeira glória, a verdadeira densidade
do ser de Jesus, é que a sua humanidade é o lugar da incarnação do Filho eterno
do Pai. Porque estamos ainda no tempo da germinação secreta, não vemos ainda
esta glória do Senhor. Mas acolhendo o testemunho dos apóstolos que
"comeram e beberam com Ele depois da sua ressurreição de entre os
mortos", podemos deixar-nos atrair por Jesus, acolher e ver "já"
pela fé o seu mistério de glória, e testemunhar assim, no coração do mundo, que
Ele, o Filho do homem, é verdadeiramente o Filho de Deus, vencedor da morte.
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Redescobrir a "caridade"... A palavra "caridade", por
vezes, parece não ter muito sentido hoje, devido a deformações e incompreensões
da própria palavra. A encíclica de Bento XVI "Deus é caridade"
ajuda-nos a recuperar o seu sentido genuíno. É preciso redescobrir o verdadeiro
sentido evangélico e amar os nossos irmãos: pela escuta, pelo serviço, pela
partilha, pela atenção aos mais pobres!
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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