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Dezembro 2020
ANO B
NATAL DO SENHOR - MISSA DO DIA
Tema da "Missa do Dia"
A liturgia deste dia convida-nos a contemplar
o amor de Deus, manifestado na incarnação de Jesus... Ele é a
"Palavra" que se fez pessoa e veio habitar no meio de nós, a fim de
nos oferecer a vida em plenitude e nos elevar à dignidade de "filhos de
Deus".
A primeira leitura anuncia a chegada do Deus libertador. Ele é o rei que traz a
paz e a salvação, proporcionando ao seu Povo uma era de felicidade sem fim. O
profeta convida, pois, a substituir a tristeza pela alegria, o desalento pela
esperança.
A segunda leitura apresenta, em traços largos, o plano salvador de Deus.
Insiste, sobretudo, que esse projecto alcança o seu ponto mais alto com o envio
de Jesus, a "Palavra" de Deus que os homens devem escutar e acolher.
O Evangelho desenvolve o tema esboçado na segunda leitura e apresenta a
"Palavra" viva de Deus, tornada pessoa em Jesus. Sugere que a missão
do Filho/"Palavra" é completar a criação primeira, eliminando tudo
aquilo que se opõe à vida e criando condições para que nasça o Homem Novo, o
homem da vida em plenitude, o homem que vive uma relação filial com Deus.
LEITURA II - Is 52,7-10
Leitura do Livro de Isaías
Como são belos sobre os montes
os pés do mensageiro que anuncia a paz,
que traz a boa nova, que proclama a salvação
e diz a Sião: «O teu Deus é Rei».
Eis o grito das tuas sentinelas que levantam a voz.
Todas juntam soltam brados de alegria,
porque vêem com os próprios olhos
o Senhor que volta para Sião.
Rompei todas em brados de alegria, ruínas de Jerusalém,
porque o Senhor consola o seu povo,
resgata Jerusalém.
O Senhor descobre o seu santo braço à vista de todas as nações
e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus.
AMBIENTE
Entre 586 e 539 a.C., o Povo de Deus
experimenta a dura prova do Exílio na Babilónia. À frustração pela derrota e
pela humilhação nacional, juntam-se as saudades de Jerusalém e o desespero por
saber a cidade de Deus - orgulho de todo o israelita - reduzida a cinzas. Ao
povo exilado, parece que Deus os abandonou definitivamente e que desistiu de
Judá (alguns perguntam mesmo se Jahwéh será o Deus libertador - como anunciava
a teologia de Israel - ou será um "bluff", incapaz de proteger o seu
Povo e de salvar Judá). Rodeado de inimigos, perdido numa terra estranha,
ameaçado na sua identidade, sem perspectivas de futuro, com a fé abalada, Judá
está desolado e abandonado e não vê saída para a sua triste situação. Quando,
já na fase final do Exílio, as vitórias de Ciro, rei dos Persas, anunciam o fim
da Babilónia, os exilados começam a ver uma pequenina luz ao fundo do túnel;
mas, então, a libertação aparece-lhes como o resultado da acção de um rei
estrangeiro e não como resultado da acção libertadora de Jahwéh... Ora, isso
agrava mais ainda a crise de confiança em Jahwéh por parte dos exilados.
É neste contexto que aparece o testemunho profético do Deutero-Isaías. A sua
mensagem (cf. Is 40-55) é uma mensagem de consolação e de esperança (os
capítulos que recolhem a palavra do Deutero-Isaías são, precisamente,
conhecidos como "Livro da Consolação"); diz que a libertação está
próxima e é obra de Jahwéh.
O nosso texto está integrado na segunda parte do "Livro da
Consolação" (cf. Is 40-55). Aí, o profeta (que na primeira parte - Is
40-48 - havia, sobretudo, anunciado a libertação do cativeiro e um "novo
êxodo" do Povo de Deus, rumo à Terra Prometida) fala da reconstrução e da
restauração de Jerusalém. O profeta garante que Deus não Se esqueceu da sua
cidade em ruínas e vai voltar a fazer dela uma cidade bela e cheia de vida,
como uma noiva em dia de casamento. É neste ambiente que podemos situar a
primeira leitura de hoje.
MENSAGEM
Para revitalizar a esperança dos exilados, o
profeta põe-nos a contemplar um quadro, fictício mas sugestivo quanto ao
significado: à Jerusalém desolada e em ruínas, chega um mensageiro com uma
"boa notícia". Qual é essa "boa notícia" que o mensageiro
traz? Ele anuncia "a paz" ("shalom": paz, bem-estar,
harmonia, felicidade), proclama a "salvação" e promete o
"reinado de Deus". A questão é, portanto, esta: Deus assume-Se como
"rei" de Judá... Ele não reinará à maneira desses reis que conduziram
o Povo por caminhos de egoísmo e de morte, de desgraça em desgraça até à
catástrofe final do Exílio; mas Jahwéh exercerá a realeza de forma a
proporcionar a "salvação" ao seu Povo - isto é, inaugurando uma era
de paz, de bem-estar, de felicidade sem fim.
Num desenvolvimento muito bonito, o profeta/poeta põe as sentinelas da cidade
(alertadas pelo anúncio do "mensageiro") a olhar na direcção em que
deve chegar o Senhor. De repente, soa o grito das sentinelas... Não é, no
entanto, um grito de alarme, mas de alegria contagiante: elas vêem o próprio
Jahwéh regressar ao encontro da sua cidade. Com Deus, Jerusalém voltará a ser
uma cidade bela e harmoniosa, cheia de alegria e de festa. O profeta/poeta
convida as próprias pedras da cidade em ruínas a cantar em coro, porque a
libertação chegou. E a salvação que Deus oferece à sua cidade e ao seu Povo,
será testemunhada por toda a terra, como se o mundo estivesse de olhos postos
na acção vitoriosa de Deus em favor de Judá.
ACTUALIZAÇÃO
Para reflectir este texto, podemos servir-nos
dos seguintes elementos:
• A alegria pela libertação do cativeiro da
Babilónia e pela "salvação" que Deus oferece ao seu Povo anuncia essa
outra libertação, plena e total, que Deus vai oferecer ao seu Povo através de
Jesus. É isso que celebramos hoje: o nascimento de Jesus significa que a
opressão terminou, que chegou a paz definitiva, que o "reinado de
Deus" alcançou a nossa história. Para que essa "boa notícia" se
cumpra é, no entanto, preciso acolher Jesus e aderir ao "Reino" que
Ele veio propor.
• A alegria contagiante das sentinelas e os
brados de contentamento das próprias pedras da cidade convidam-nos a acolher
com alegria e em festa o Deus que veio libertar-nos... Se temos consciência da
opressão que, dia a dia, nos rouba a vida e nos impede de ser livres e felizes,
certamente sentiremos um grande contentamento ao deparar com essa proposta de
liberdade que Jesus veio trazer. É essa alegria que nos anima, neste dia em que
celebramos a
chegada libertadora de Jesus?
• As sentinelas atentas que, nas montanhas em
redor de Jerusalém, identificam a chegada do Deus libertador são um modelo para
nós: convidam-nos a ler atentamente os sinais da presença libertadora de Deus
no mundo e a anunciar a todos os homens que Deus aí está, para reinar sobre nós
e para nos dar a salvação e a paz. Somos sentinelas atentas que descobrem os
sinais do Senhor nos caminhos da história e anunciam o seu "reinado",
ou somos sentinelas negligentes que não vigiam nem alertam e que fazem com que
o Deus libertador seja acolhido com indiferença pelo povo da
"cidade"?
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 97 (98)
Refrão: Todos os confins da terra
viram a salvação do nosso Deus.
Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória.
O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel.
Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai.
Cantai ao Senhor ao som da cítara,
ao som da cítara e da lira;
ao som da tuba e da trombeta,
aclamai o Senhor, nosso Rei.
LEITURA II - Heb 1,1-6
Leitura da Epístola aos Hebreus
Muitas vezes e de muitos modos
falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos Profetas.
Nestes dias, que são os últimos,
falou-nos por seu Filho,
a quem fez herdeiro de todas as coisas
e pelo qual também criou o universo.
Sendo o Filho esplendor da sua glória
e imagem da sua substância,
tudo sustenta com a sua palavra poderosa.
Depois de ter realizado a purificação dos pecados,
sentou-Se à direita da Majestade no alto dos Céus
e ficou tanto acima dos Anjos
quanto mais sublime que o deles
é o nome que recebeu em herança.
A qual dos Anjos, com efeito, disse Deus alguma vez:
«Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei»?
E ainda: «Eu serei para Ele um Pai
e Ele será para Mim um Filho»?
E de novo,
quando introduziu no mundo o seu primogénito, disse:
«Adorem-n'O todos os Anjos de Deus».
AMBIENTE
A Carta aos Hebreus é um escrito de autor
anónimo e cujos destinatários, em concreto, desconhecemos (o título "aos
hebreus" provém das múltiplas referências ao Antigo Testamento e ao ritual
dos "sacrifícios" que a obra apresenta). É possível que se dirija a
uma comunidade cristã constituída maioritariamente por cristãos vindos do
judaísmo; mas nem isso é totalmente seguro, uma vez que o Antigo Testamento era
um património comum, assumido por todos os cristãos - quer os vindos do judaísmo,
quer os vindos do paganismo. Trata-se, em qualquer caso, de cristãos em
situação difícil, expostos a perseguições e que vivem num ambiente hostil à
fé... São também cristãos que facilmente se deixam vencer pelo desalento, que
perderam o fervor inicial e que cedem às seduções de doutrinas não muito
coerentes com a fé recebida dos apóstolos... O objectivo do autor é estimular a
vivência do compromisso cristão e levar os crentes a crescer na fé. Para isso,
expõe o mistério de Cristo (apresentado, sobretudo, como "o
sacerdote" da Nova Aliança) e recorda a fé tradicional da Igreja.
O texto que nos é hoje proposto pertence ao prólogo do sermão. Nesse prólogo, o
pregador apresenta a visão global e as coordenadas fundamentais que ele vai,
depois, desenvolver ao longo da obra.
MENSAGEM
Temos aqui esboçadas, em traços largos, as
coordenadas fundamentais da história da salvação. Deus é o protagonista
principal dessa história...
O texto alude ao projecto salvador de Deus. Esse projecto manifestou-se, numa
primeira fase, através dos porta-vozes de Deus - os profetas; eles transmitiram
aos homens a proposta salvadora e libertadora de Deus.
Veio, depois, uma segunda etapa da história da salvação: "nestes dias que
são os últimos", Deus manifestou-se através do próprio "Filho" -
Jesus Cristo, o "menino de Belém", a Palavra plena, definitiva,
perfeita, através da qual Deus vem ao nosso encontro para nos "dizer"
o caminho da salvação e da vida nova. O nosso texto reflecte então - sem
contudo desenvolver uma lógica muito ordenada - sobre a relação de Jesus com o
Pai, com os homens e com os anjos (o que nos situa no ambiente de uma
comunidade que dava importância excessiva ao culto dos "anjos" e que
lhes concedia um papel preponderante na salvação do homem).
Como é que se define a relação de Jesus com o Pai? Para o autor da Carta aos
Hebreus, Jesus, o "Filho", identifica-Se plenamente com o Pai. Ele é
o esplendor da glória do Pai, a imagem do ser do Pai, a reprodução exacta e
perfeita da substância do Pai: desta forma, o autor da carta afirma que Jesus
procede do Pai e é igual ao Pai. N'Ele manifesta-Se o Pai; quem olha para Ele,
encontra o Pai.
Definida a relação de Jesus com Deus, o autor reflecte sobre a relação de Jesus
com o mundo... O Filho está na origem do universo (e, portanto, também do
homem); por isso, Ele tem um senhorio pleno sobre toda a criação. Essa
soberania expressa-se, inclusive, na incarnação e redenção: Ele veio ao
encontro do homem e purificou-o do pecado: dessa forma, Ele completou a obra
começada pela Palavra criadora, no início. É como "o Senhor" - que
possui soberania sobre os homens e sobre o mundo, que cria e que salva - que os
homens O devem ver e acolher.
A igualdade fundamental do "Filho" com o Pai fá-lo muito superior aos
anjos: os anjos não são "filhos"; mas Jesus é "o Filho"e o
próprio Deus proclamou essa relação de filiação plena, real, perfeita. Não são
os anjos que salvam, mas sim "o Filho".
Sendo a Palavra última e definitiva de Deus, Ele deve ser escutado pelos homens
como o caminho mais seguro para chegar a essa vida nova que o Pai nos quer
propor. É tendo consciência desse facto que devemos acolher o "menino de
Belém".
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, convém dar atenção aos seguintes
dados:
• Celebrar o nascimento de Jesus é, em
primeiro lugar, contemplar o amor de um Deus que nunca abandonou os homens à
sua sorte; por isso, rompeu as distâncias, encontrou forma de dialogar com o
homem e enviou o próprio Filho para conduzir o homem ao encontro da vida
definitiva, da salvação plena. No dia de Natal, nunca será demais insistir
nisto: o Deus em quem acreditamos &eacut
e; o Deus do amor e da relação, que continua a nascer no mundo, a apostar nos
homens, a querer dialogar com eles, e que não desiste de propor aos homens -
apesar da indiferença com que as suas propostas são, às vezes, acolhidas - um
caminho para chegar à felicidade plena.
• Jesus Cristo é a Palavra viva e definitiva
de Deus, que revela aos homens o verdadeiro caminho para chegar à salvação.
Celebrar o seu nascimento é acolher essa Palavra viva de Deus...
"Escutar" essa Palavra é acolher o projecto que Jesus veio apresentar
e fazer dele a nossa referência, o critério fundamental que orienta as nossas
atitudes e as nossas opções. A Palavra viva de Deus (Jesus) é, de facto, a
nossa referência? O que Ele diz orienta e condiciona as minhas atitudes, os
meus valores, as minhas tomadas de posição? Os valores do Evangelho são os meus
valores? Vejo no Evangelho de Jesus a Palavra viva de Deus, a Palavra plena e
definitiva através da qual Deus me diz como chegar à salvação, à vida
definitiva?
ALELUIA - Jo 1,1-18
Aleluia. Aleluia.
Santo é o dia que nos trouxe a luz.
Vinde adorar o Senhor.
Hoje, uma grande luz desceu sobre a terra.
EVANGELHO - Jo 1,1-18
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São João
No princípio era o Verbo
e o Verbo estava com Deus
e o Verbo era Deus.
No princípio, Ele estava com Deus.
Tudo se fez por meio d'Ele
e sem Ele nada foi feito.
N'Ele estava a vida
e a vida era a luz dos homens.
A luz brilha nas trevas
e as trevas não a receberam.
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João.
Veio como testemunha,
para dar testemunho da luz,
a fim de que todos acreditassem por meio dele.
Ele não era a luz,
mas veio para dar testemunho da luz.
O Verbo era a luz verdadeira,
que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem.
Estava no mundo
e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu.
Veio para o que era seu
e os seus não O receberam.
Mas, àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome,
deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram do sangue,
nem da vontade da carne, nem da vontade do homem,
mas de Deus.
E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós.
Nós vimos a sua glória,
glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito,
cheio de graça e de verdade.
João dá testemunho d'Ele, exclamando:
«Era deste que eu dizia:
'O que vem depois de mim passou à minha frente,
porque existia antes de mim'».
Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos
graça sobre graça.
Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés,
a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.
A Deus, nunca ninguém O viu.
O Filho Unigénito, que está no seio do Pai,
é que O deu a conhecer.
AMBIENTE
A Igreja primitiva recorreu, com frequência, a
hinos para celebrar, expressar e anunciar a sua fé. O prólogo ao Evangelho
segundo João (que hoje nos é proposto) é um desses hinos.
Não é certo se este hino foi composto por João, ou se o autor do Quarto
Evangelho usou um primitivo hino cristão conhecido da comunidade joânica,
adaptando-o de forma a que ele servisse de prólogo à sua obra. O que é certo é
que o hino cristológico que chegou até nós expressa, em forma de confissão, a
fé da comunidade joânica em Cristo enquanto Palavra viva de Deus, a sua origem
eterna, a sua procedência divina, a sua influência no mundo e na história,
possibilitando aos homens que O acolhem e escutam tornarem-se "filhos de
Deus". Essas grandes linhas, enunciadas neste prólogo, vão depois ser
desenvolvidas pelo evangelista ao longo da sua obra.
MENSAGEM
O prólogo ao Quarto Evangelho começa com a
expressão "no princípio": dessa forma, João enlaça o seu Evangelho
com o relato da criação (cf. Gn 1,1), oferecendo-nos assim, desde logo, uma
chave de interpretação para o seu escrito... Aquilo que ele vai narrar sobre
Jesus está em relação com a obra criadora de Deus: em Jesus vai acontecer a
definitiva intervenção criadora de Deus no sentido de dar vida ao homem e ao
mundo... A actividade de Jesus, enviado do Pai, consiste em fazer nascer um
homem novo; a sua acção coroa a obra criadora iniciada por Deus "no
princípio".
João apresenta, logo a seguir, a "Palavra" ("Lógos"). A
"Palavra" é - de acordo com o autor do Quarto Evangelho - uma
realidade anterior ao céu e à terra, implicada já na primeira criação. Esta
"Palavra" apresenta-se com as características que o "Livro dos
Provérbios" atribuía à "sabedoria": pré-existência (cf. Prov
8,22-24) e colaboração com Deus na obra da criação (cf. Prov 8,24-30). No
entanto, essa "Palavra" não só estava junto de Deus e colaborava com
Deus, mas "era Deus". Identifica-se totalmente com Deus, com o ser de
Deus, com a obra criadora de Deus. É como que o projecto íntimo de Deus, que se
expressa e se comunica como "Palavra". Deus faz-Se inteligível
através da "Palavra". Essa "Palavra" é geradora de vida
para o homem e para o mundo, concretizando o projecto de Deus.
Essa "Palavra" veio ao encontro dos homens e fez-se "carne"
(pessoa). João identifica claramente a "Palavra" com Jesus, o
"Filho único cheio de amor e de verdade", que veio ao encontro do
homem. Nessa pessoa (Jesus), podemos contemplar o projecto ideal de homem, o
homem que nos é proposto como modelo, a meta final da criação de Deus.
Essa "Palavra" "montou a sua tenda no meio de nós". O verbo
"skênéô" ("montar a tenda") aqui utilizado alude à
"tenda do encontro" que, na caminhada pelo deserto, os israelitas
montavam no meio ou ao lado do acampamento e que era o local onde Deus residia
no meio do seu Povo (cf. Ex 27,21; 28,43; 29,4...). Agora, a "tenda de
Deus", o local onde Ele habita no meio dos homens é o Homem/Jesus. Quem
quiser encontrar Deus e receber d'Ele vida em plenitude ("salvação"),
é para Jesus que se tem de voltar.
A função dessa "Palavra" está ligada ao binómio "vida/luz":
comunicar ao homem a vida em plenitude; ou, por outras palavras, trata-se de acender
a luz que ilumina o caminho do homem, possibilitando-lhe encontrar a vida
verdadeira, a vida plena.
Jesus Cristo vai, no entanto, deparar-Se com a oposição à "vida/luz"
que Ele traz. Ao longo do Evangelho, João irá contando essa história do confronto
da "vida/luz" com o sistema injusto e opressor que pretende manter os
homens prisioneiros do egoísmo e do pecado (e que João identifica c
om a Lei. Os dirigentes judeus que enfrentam Jesus e o condenam à morte são o
rosto visível dessa Lei). Recusar a "vida/luz" significa preferir
continuar a caminhar nas trevas (que se identificam com a mentira, a
escravidão, a opressão), independentemente de Deus; significa recusar chegar a
ser homem pleno, livre, criação acabada e elevada à sua máxima potencialidade.
Mas o acolhimento da "Palavra" implica a participação na vida de
Deus. João diz mesmo que acolher a "Palavra" significa tornar-se
"filho de Deus". Começa, para quem acolhe a
"Palavra"/Jesus, uma nova relação entre o homem e Deus, aqui expressa
em termos de filiação: Deus dá vida em plenitude ao homem, oferecendo-lhe,
assim, uma qualidade de vida que potencia o seu ser e lhe permite crescer até à
dimensão do homem novo, do homem acabado e perfeito. Isto é uma "nova
criação", um novo nascimento, que não provém da carne e do sangue, mas sim
de Deus.
A incarnação de Jesus significa, portanto, que Deus oferece à humanidade a vida
em plenitude. Sempre existiu no homem o anseio da vida plena, conforme o
projecto original de Deus; mas, na prática, esse anseio fica, muitas vezes,
frustrado pelo domínio que o egoísmo, a injustiça, a mentira (o pecado) exercem
sobre o homem. Toda a obra de Jesus consistirá em capacitar o homem para a vida
nova, para a vida plena, a fim de que ele possa realizar em si mesmo o projecto
de Deus: a semelhança com o Pai.
ACTUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar as seguintes linhas:
• A transformação da "Palavra" em
"carne" (em menino do presépio de Belém) é a espantosa aventura de um
Deus que ama até ao inimaginável e que, por amor, aceita revestir-Se da nossa
fragilidade, a fim de nos dar vida em plenitude. Neste dia, somos convidados a
contemplar, numa atitude de serena adoração, esse incrível passo de Deus,
expressão extrema de um amor sem limites.
• Acolher a "Palavra" é deixar que
Jesus nos transforme, nos dê a vida plena, a fim de nos tornarmos,
verdadeiramente, "filhos de Deus". O presépio que hoje contemplamos é
apenas um quadro bonito e terno, ou uma interpelação a acolher a
"Palavra", de forma a crescermos até à dimensão do homem novo?
• Hoje, como ontem, a "Palavra"
continua a confrontar-se com os sistemas geradores de morte e a procurar
eliminar, na origem, tudo o que rouba a vida e a felicidade do homem. Sensíveis
à "Palavra", embarcados na mesma aventura de Jesus - a
"Palavra" viva de Deus - como nos situamos diante de tudo aquilo que
rouba a vida do homem? Podemos pactuar com a mentira, o oportunismo, a
violência, a exploração dos pobres, a miséria, as limitações aos direitos e à
dignidade do homem?
• Jesus (esse menino do presépio) é para nós a
"Palavra" suprema que dá sentido à nossa vida, ou deixamos que outras
"palavras" nos condicionem e nos induzam a procurar a felicidade em
caminhos de egoísmo, de alienação, de comodismo, de pecado? Quais são essas
"palavras" que às vezes nos seduzem e nos afastam da
"Palavra" eterna de Deus que ecoa no Evangelho que Jesus veio propor?
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DIA DE NATAL
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Dia de Natal, procurar meditar a
Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia,
por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da
Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PALAVRA DE VIDA.
É na noite que é belo acreditar na luz... Era a noite para este casal em viagem
e, para mais, no momento em que a mulher devia dar à luz. Nunca há lugar para
aqueles que incomodam. É então, na obscuridade de um estábulo, que a luz
aparece para iluminar não somente este lugar bem sombrio, mas o mundo inteiro
tantas vezes tão mergulhado na noite da dúvida e da violência. Era a noite para
estes pastores em cuja palavra havia tanta dificuldade em acreditar, por estar
muitas vezes longe da verdade. Ora, é a eles que a boa nova é anunciada para
que ela não cesse de seguida de se transmitir de geração em geração. Uma luz
rasga então a noite da Judeia, é a luz da glória do Senhor e o anúncio da paz
sobre a terra aos homens que Deus ama. Não espanta que esta criança acabada de
nascer proclame mais tarde: «Eu sou a luz do mundo». Esperar é levantar os
olhos quando ainda é noite, para descobrir a luz mais forte que a noite.
3. UM PONTO DE ATENÇÃO.
Valorizar o Glória a Deus. Pôr em realce o hino de Natal, o Glória a Deus,
tomando tempo para cantá-lo com uma melodia que seja bem conhecida da assembleia.
Outros elementos poderão intervir para dar à celebração um ar de festa: por
exemplo, um acolhimento mais caloroso que o habitual, uma bonita decoração
floral, a iluminação do presépio, um gesto de paz afectuoso, intenções de
oração plenas de esperança, uma oração de louvor mais desenvolvida, etc. Esta
pode ser feita quando os fiéis estiverem reagrupados à volta do presépio.
Convém ter em atenção que, na missa da manhã de Natal, muitos não participaram
na missa da noite. É, pois, a celebração do nascimento de Jesus que os reúne.
Pode-se escolher, entre todos os textos que as três missas de Natal propõem,
aqueles que são mais acessíveis e evocadores. Por exemplo, o Evangelho da
noite, completado com o da aurora, pode convir mais que o Evangelho do dia.
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
A presença de Deus diz-se e mostra-se. A presença de Deus mostra-se através de
sinais de tolerância, de acolhimento, de partilha, que podemos facilmente ter à
nossa volta. A presença de Deus fala através da ternura para com os mais
pobres, os excluídos, os doentes, todos os que sofrem, as pessoas sós, em
particular nestes dias de festa. A presença de Deus traduzir-se-á ainda através
de toda a solicitude concedida gratuitamente àqueles que procuram, que duvidam,
que têm necessidade de ser acompanhados na sua procura. A presença de Deus
exprimir-se-á muitas vezes através do humilde testemunho da nossa vida habitada
pelo seu amor: se Ele me enche com a sua alegria, se Ele me faz viver, se Ele
me leva a ajudar os outros, é porque Ele está bem vivo!
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt
DEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.