quinta-feira, 1 de outubro de 2020

NÓS SOMOS A VINHA DO SENHOR – Maria de Lourdes Cury Macedo

 

         Domingo, 4 de outubro de 2020.

Evangelho de Mt 21, 33-43.

 

         A liturgia deste domingo utiliza novamente a imagem da vinha para falar que Deus esperava frutos de amor, de paz, de justiça e de misericórdia. Jesus usou a imagem da vinha, que não deu uvas boas, mas uvas azedas, impróprias para a produção do vinho, que na tradição bíblica representava o povo de Israel. Vamos lembrar que Jesus está em Jerusalém, vivendo a última etapa do seu ministério marcada pelo confronto direto com as lideranças religiosas. Jesus contou essa parábola especialmente para os sacerdotes e anciãos do povo, inspirado no texto do profeta Isaías 5,1-7.

Isaías, mais ou menos 700 anos antes de Cristo, escreveu esse texto que pode ser considerado um dos mais bonitos do Antigo Testamento.  Nesse texto, ele conta a decepção e a não correspondência por parte de quem se esperava uma resposta de amor. Esse texto de Isaías lembra a vida na roça e fala da frustração do agricultor diante do fracasso no cultivo de parreiras.

A parábola de hoje é uma das mais importantes parábolas do Evangelho. Narra, de certo modo, toda a história da Igreja. Embora reine a injustiça no mundo, o Reino de Deus não virá pela violência, nem pelo ódio.

Nesse Evangelho fica claro que a vinha de que Jesus fala é Israel – o povo de Deus. O dono da vinha é Deus. Os vinhateiros homicidas são os líderes infiéis, os encarregados de trabalhar nela e de fazer com que ela produzisse frutos.  Os servos enviados pelo senhor são os profetas que os líderes da nação perseguiram, apedrejaram e mataram. Os trabalhadores da vinha também rejeitaram o filho de maneira radical. O filho morto fora da vinha é Jesus, assassinado fora dos muros de Jerusalém. O outro povo, que deverá receber a vinha, são os pagãos.

Essa parábola é uma imagem da história de amor pela humanidade, do amor por Israel, que foi eleito por Deus para ser a sua presença entre todos os povos.  O vinho seria a alegria, a festa capaz de alegrar o coração. O vinho e a videira tornaram-se imagem do dom do amor, pelo qual podemos fazer alguma experiência do Divino. 

         Jesus conta que o agricultor pensou e agiu do melhor modo possível para plantar sua vinha: escolheu um terreno numa encosta fértil, pois ela é o lugar mais adequado para o cultivo de videiras; tirou as pedras e escolheu cepas (mudas) da melhor qualidade; levantou ao redor da plantação um muro de pedras para que os animais não entrassem nela e causassem danos (ainda hoje, na Palestina, podem ser vistas parreiras se espalhando pelo chão; daí a necessidade de cerca); ergueu no centro do parreiral uma torre de vigia a fim de que seus frutos não fossem roubados, e até cavou um lagar para pisar as uvas. Investiu ao máximo para que desse bom resultado. Agora era só esperar que produzisse frutos; mas, para sua surpresa, o parreiral deu uvas azedas.

         Percebemos então que este trecho não fala de um agricultor qualquer, desanimado com a roça, mas da frustração de Deus em relação ao seu povo eleito, o povo hebreu, o povo da Bíblia. Esse trecho de Isaías mostra um Deus extremamente zeloso, amoroso, cuidadoso com sua vinha, que é seu povo eleito. O povo de Deus é a vinha do Senhor, do qual cuida com amor e carinho e espera que os dirigentes a tratem da mesma forma.

O que foi que Deus fez para seu povo? Quais os cuidados que teve com ele? Libertou-os da Escravidão do Egito, abriu o mar para eles passarem, alimentou-os no deserto, matou-lhes a sede, conduziu-os à Terra prometida, aquela terra que Deus dera a Abraão. Lá, eles eram gente livres e responsáveis, não mais escravos, e podiam construir uma sociedade justa, fraterna, solidária..., onde o direito fosse a base dessa sociedade. Tudo o que era da parte de Deus, Ele fez, agora tinha que esperar que os homens correspondessem produzindo frutos de qualidade. Mas não aconteceu assim: o direito, a justiça e a fraternidade não ocorreram. Ocorreu o desrespeito e o não cumprimento ao direito; no lugar da justiça só se ouvem os gritos dos injustiçados e oprimidos.

Jesus contou esta parábola aproveitando um fato da vida do povo para falar do conflito, da falta de entendimento, do confronto, que estava havendo entre Jesus, que é o Mestre da justiça, e os chefes dos sacerdotes que representavam o poder religioso, político e econômico. Na parábola de hoje, eles são os vinhateiros. Além de não produzirem frutos de justiça e direito, ainda impediam que os mensageiros do proprietário (os profetas) despertassem no povo esses frutos. O profeta Jeremias foi ferido, Isaías foi morto, Zacarias foi lapidado, João Batista foi decapitado. Esses são os criados enviados por Deus, que o povo judeu desprezou, injuriou e matou alguns.

         Jesus perguntou aos ouvintes da parábola, isto é, aos chefes dos sacerdotes e anciãos do Sinédrio, o que o dono da vinha deveria fazer com aqueles empregados maus, que mataram os mensageiros e até mesmo o filho do proprietário. E a resposta que dão é a sentença contra eles próprios (v 41). Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”.

         Aqui nós podemos ver que o povo, que Deus preparou com todo cuidado, zelo, amor, dedicação, não aceitou Deus, nem seu filho. Não aceitou, mas os pagãos aceitaram e receberam a Boa Nova de Jesus.      Na conclusão da parábola, Jesus diz: “O Reino de Deus será tirado de vocês e será entregue a um povo que produzirá seus frutos”.

         O povo escolhido tornou-se     indigno. O Reino de Deus irá constituir-se principalmente de outros povos, que corresponderão melhor à grande bondade de Deus. Deus queria salvar os homens em um povo. Rejeitaram os profetas e até o Filho de Deus, foram maus lavradores.

Hoje, esse Evangelho quer nos ensinar, lembrar a todos os cristãos de todos os tempos, que existe para todos nós o perigo de repetir o mesmo erro dos príncipes dos sacerdotes e dos guias espirituais do povo de Israel. Essa parábola é dirigida para nós também, que temos o dever e o compromisso de construir uma sociedade fraterna, justa, solidária.   Cada um de nós deve se considerar um operário da vinha. Somos chamados a produzir bons frutos, não uvas amargas do egoísmo, da rivalidade agressiva, da competição desleal, da intolerância e da violência.

Precisamos olhar para Jesus e assumir, como Ele, a condição de servo. Ele, que é o herdeiro da vinha, se fez servo obediente ao Pai. Jesus é o caminho que devemos seguir, não só as lideranças, mas todos nós cristãos que queremos ser discípulos missionários de Jesus. Se não soubermos produzir bons frutos, teremos o mesmo fim dos agricultores da parábola. Jesus não fala que vai destruir a vinha, mas substituirá os trabalhadores.

         Nós já paramos para pensar quais são os frutos que produzimos? Será que não participamos das missas, celebrações, encontros, somente com palavras e gestos desligados da vida? Não somos semelhantes ao povo de Israel, videira que não produziu frutos doces, que não fez o que Deus pediu? Amamos e respeitamos nossos irmãos? Estamos tendo coerência de vida com o compromisso assumido com Deus e com o Reino? Cuidamos da natureza bela que Deus criou para nós? Vivemos o mandamento do amor?

         Pensem bem nisso. Jesus te ama. Amemos também.

 

         Abraços em Cristo!

         Maria de Lourdes

 

 

 

 

6 comentários:

  1. Bela reflexão... O que estamos fazendo com nossa fé, nossos aprendizado, com nossos filhos ... Será qna nossa vinha é doce ou será queimada por ser azeda

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  2. Muito bom, que aula
    Telma- Belem do Pará

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  3. Muito intensa a palavra de Deus! Estamos de fato preparados para assumirmos a vinha que Deus nos preparou???
    Excelente reflexão

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  4. Obrigada por gostarem da Palavra, ela nos ensina, nos corrige, nos conforta.
    Tudo pela maior honra e glória do Senhor!
    Maria de Lourdes

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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