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Setembro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXIII Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: 1 Coríntios 5, 1-8
Irmãos: 1ouve-se dizer por toda a parte que existe entre vós um caso de
imoralidade, e uma imoralidade como não se encontra nem mesmo entre os pagãos:
um de vós vive com a mulher de seu pai. 2E continuais cheios de orgulho, em vez
de andardes de luto, a fim de que seja retirado do meio de vós o autor de tal
acção. 3Quanto a mim, ausente de corpo mas presente em espírito, já julguei,
como se estivesse presente, aquele que assim procedeu: 4em nome do Senhor Jesus
e com o seu poder, por ocasião de uma assembleia onde eu estarei presente em
espírito, que 5tal homem seja entregue a Satanás para mortificação da sua
carne, a fim de que o seu espírito seja salvo no Dia do Senhor. 6Não é digno o
vosso motivo de orgulho! Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a
massa? 7Purificai-vos do velho fermento, para serdes uma nova massa, já que
sois pães ázimos. Pois Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. 8Celebremos, pois, a
festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção,
mas com os ázimos da pureza e da verdade.
A primeira carta de S. Paulo aos Coríntios pode ser considerada um conjunto de
respostas a questões levantadas por essa comunidade. Para dar uma resposta
unificada a essas questões, o Apóstolo apela para o núcleo da fé cristã, o
mistério pascal de Jesus.
O texto de hoje trata de um caso de imoralidade que não pode passar em claro.
Um cristão de Corinto tinha cometido um grave pecado de incesto unindo-se com a
«mulher de seu pai», provavelmente já viúva. A comunidade não o tinha expulsado
do seu seio, correndo o grave risco de corrupção interna, e com escândalo dos
próprios pagãos, uma vez que as leis romanas proibiam essas uniões conjugais. O
que mais impressiona é que Paulo, em vez de amontoar proibições e recomendações
mais ou menos paternalistas, apela para o evento pascal que, tendo
caracterizado a vida de Jesus, deve também caracterizar a vida de todos os
cristãos e a das respectivas comunidades: «Purificai-vos do velho fermento,
para serdes uma nova massa, já que sois pães ázimos» (v. 7). A imagem é de
fácil compreensão: temos diante de nós o binómio «velho/novo». Com ele, Paulo
quer afastar, não só uma certa preguiça espiritual, mas também e sobretudo a
adesão estática e nostálgica àquilo que foi definitivamente ultrapassado com a
vinda de Cristo. Não se pode ficar parados, nem os cristãos, nem as
comunidades. Há que acertar o passo com Jesus Cristo.
«Pois Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos a festa» (v. 7b-8): é a
motivação pascal oferecida por Paulo a uma comunidade que deve viver a fé em
termos de alegre novidade, em novidade de vida, esquecendo o que está para trás.
Evangelho: Lucas 6, 6-11
Naquele tempo, Jesus 6entrou na sinagoga a um sábado e começou a ensinar.
Encontrava-se ali um homem cuja mão direita estava paralisada. 7Os doutores da
Lei e os fariseus observavam-no, a ver se iria curá-lo ao sábado, para terem um
motivo de acusação contra Ele. 8Conhecendo os seus pensamentos, Jesus disse ao
homem da mão paralisada: «Levanta-te e põe-te de pé, aí no meio.» Ele
levantou-se e ficou de pé. 9Disse-lhes Jesus: «Vou fazer-vos uma pergunta: O
que é preferível, ao sábado: fazer bem ou fazer mal, salvar uma vida ou
perdê-la?» 10Então, olhando-os a todos em volta, disse ao homem: «Estende a tua
mão.» Ele estendeu-a, e a mão ficou sã. 11Os outros encheram-se de furor e
falavam entre si do que poderiam fazer contra Jesus.
Lucas volta à polémica sobre o sábado. A ocasião é-lhe proporcionada por um
milagre de Jesus em favor de um homem paralítico, que desencadeia críticas dos
seus adversários. O choque é ainda mais forte do que fora quando os discípulos
colheram e comeram espigas de trigo, ao sábado. Uma certa mentalidade farisaica
queria, não só parar os discípulos de Jesus, mas também pôr fim à actividade
taumatúrgica do seu Mestre. Jesus não pode aceitar a pretensão dos escribas e
fariseus, e aponta-lhes, não só o criticismo, mas também a perversidade. Jesus
lê o coração do homem: daquele que o escuta e segue, mas também daquele que O
espia e quer apanhar em falso...
Realizado o milagre, Jesus enfrenta os adversários colocando a questão do
seguinte modo: «O que é preferível, ao sábado: fazer bem ou fazer mal, salvar
uma vida ou perdê¬ la?» (v. 9). Jesus está tão seguro da sua certeza que nem
espera a resposta. Cura o doente, e desencadeia uma reacção de fúria contra Si.
A intolerância e a violência dos adversários levam Jesus à morte espiritual,
ainda antes da morte física.
Meditatio
Os cristãos correm o risco de se deixar iludir. Os da comunidade de Corinto
pensavam ter atingido o cume da perfeição e orgulhavam-se disso, não se dando
conta de que havia entre eles «uma imoralidade como não se encontra nem mesmo
entre os pagãos» (v. 1). Havia, pois, temas a esclarecer, nomeadamente no que
se refere à liberdade humana. Até que ponto obriga a própria lei divina? Todas
as leis valem o mesmo? Há espaço para interpretações libertadoras? Como
harmonizar no dia a dia autoridade e liberdade, norma escrita e
autodeterminação? As páginas evangélicas sobre a observância do sábado oferecem-nos
alguns raios de luz.
Toda a lei quer ser considerada com dom de Deus ao seu povo, e a todo o homem e
mulher que queira dar ouvidos à Palavra, portadora de vida. Se conseguirmos
considerar a lei, toda a lei, como dom, teremos diante de nós um caminho de liberdade
genuína, autêntica. A lei, toda a lei, é-nos oferecida como luz para os nossos
passos, como lâmpada para o nosso caminho. Devemos confessar que precisamos de
uma luz capaz de iluminar mesmo o mais recôndito da nossa vida, capaz de
orientar as nossas opções no devir da história.
A lei, toda a lei, é-nos oferecida como pedagogo, isto, como instituição capaz
de nos educar no exercício da liberdade: a liberdade psicológica, pela qual
afirmamos a nossa dignidade diante de toda a tentativa de instrumentalização; a
liberdade evangélica, pela qual reconhecemos o primado de Deus e a prioridade
de Cristo em todas as nossas opções.
«Cristo...pela sua morte e ressurreição, abriu-nos ao dom do Espírito e à
liberdade dos Filhos de Deus (cf. Rom 8,21). Ele é para nós o Primeiro e o
Último, Aquele que vive (cf. Apoc 1,17-18)» (Cst 11). O Espírito de Cristo é um
Espírito de amor e "onde está o Espírito há liberdade" (2 Cor 3, 17).
Os preciosos frutos do Espírito (cf. Gal 5, 22) tornam o homem verdadeiramente
livre, inclusivamente de si mesmo, pe
lo "auto-domínio", quando, nos seus pensamentos, desejos, afectos,
palavras, acções não se deixa guiar pelo seu eu, pelo egoísmo, mas pelo
Espírito de Deus.
Oratio
Senhor Jesus, ver-Te actuar segundo a lei do amor, mesmo na certeza de que os
teus adversários iriam reagir negativamente, é para mim uma lufada de ar
fresco! Que alegria observar a tua certeza, apoiada apenas no teu amor
libertador, em contraste com a mesquinhez dos fariseus, apenas preocupados em
mostrar a sua impecável observância! Que luz perceber uma nova lei que respeita
a liberdade, uma autoridade solícita em promover a responsabilidade dos outros!
Que conforto ver Paulo sacudir a comunidade de Corinto, para que substitua o
velho fermento pelo novo, o da sinceridade e da verdade!
Ó Senhor, liberta-nos da cegueira dos fariseus que, por amor da lei, chegaram a
matar-te e, em defesa das suas tradições não tinha escrúpulos em espezinhar o
próximo. Amen.
Contemplatio
Deus conhece-se, ama-se, goza a perfeição das suas perfeições infinitas, nada
lhe falta, não tem necessidade de nenhum ser fora dele. Mas como a bondade é
difusiva por natureza, Deus quis expandir-se para fora pela efusão da sua
bondade. As criaturas inanimadas são como que o vestígio do seu Ser. As criaturas
dotadas apenas da vida vegetal ou animal já são um reflexo da vida divina. Mas,
só as criaturas inteligentes, os anjos e os homens, são verdadeiramente a
imagem e a semelhança de Deus. Pela sua vida, inteligência e vontade, o homem é
a imagem da santa Trindade; cada uma das três pessoas divinas imprimiu na sua
alma o seu traço característico; vivendo, a nossa alma reproduz a vida divina e
o poder do Pai; sendo inteligente, ela imita a inteligência do Verbo; amando,
ela exprime o amor do Espírito Santo. O homem tem semelhança com família com
Deus.
Deus é espírito; a nossa alma é espírito. - Deus é um na natureza e triplo nas
pessoas; a nossa alma é una segundo a natureza e múltipla nas suas faculdades.
- Deus é eterno; o homem é imortal. - Deus é livre; o homem é livre. Por esta
liberdade, nós merecemos o céu; e por isso Deus comunica-nos, na medida do
possível, a mais incomunicável das suas perfeições, a sua qualidade de ser e de
ter por si mesmo tudo o que Ele é e tudo o que tem.
Deus colocou todas as criaturas ao nosso serviço, mas fez ainda mais ao nos dar
a sua própria semelhança e ao se nos dar a si mesmo, para fazer a nossa
felicidade pelo seu conhecimento e pelo seu amor. Porque as nossas faculdades
naturais, a nossa inteligência, a nossa razão, já nos permitem conhecer a Deus
como nosso Criador e amá-lo como nosso remunerador, fora mesmo da revelação e
dos dons sobrenaturais (Leão Dehon, OSP 2, pp.189-190).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Cristo, nossa Páscoa, foi imolado» (1 Cor 5, 7).
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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