29 Agosto 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXI Semana - Sábado
Lectio
Primeira leitura: 1 Coríntios 1, 26-31
Irmãos, 26Considerai a vossa vocação:
humanamente falando, não há entre vós muitos sábios, nem muitos poderosos, nem
muitos nobres. 27Mas o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para
confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para
confundir o que é forte. 28O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus
escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma
coisa. 29Assim, ninguém se pode vangloriar diante de Deus. 30É por Ele que vós
estais em Cristo Jesus, que se tornou para nós sabedoria que vem de Deus,
justiça, santificação e redenção, 31a fim de que, como diz a Escritura, aquele
que se gloria, glorie-se no Senhor.
Paulo convida os coríntios a olharem para a
sua comunidade, onde havia exemplos eloquentes da sabedoria e da loucura da
cruz. Com algumas excepções, a igreja de Corinto era formada por pessoas de
humilde condição social e de baixo nível cultural. Deus tem o gosto estranho de
preferir os pobres e os fracos aos ricos e poderosos. É a lógica coerente com o
que fez por meio do seu Filho crucificado. Ninguém pode presumir o que quer que
seja diante de Deus: «ninguém se pode vangloriar diante de Deus» (v. 29). A
grandeza do homem deriva unicamente do dom de Deus em Cristo. Temos o Cristo
todo (3, 21-23), e, tudo o que temos, recebemo-lo d´Ele (4, 6). Por isso, se
alguém pretende gloriar-se «glorie-se no Senhor» (v. 31).
Evangelho: Mateus 25, 14-30
1Naquele Tempo, disse Jesus aos seus
discípulos a seguinte parábola: 14«Será também como um homem que, ao partir
para fora, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens. 15A um deu cinco
talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme a sua capacidade; e
depois partiu. 16Aquele que recebeu cinco talentos negociou com eles e ganhou
outros cinco. 17Da mesma forma, aquele que recebeu dois ganhou outros dois.
18Mas aquele que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu o
dinheiro do seu senhor. 19Passado muito tempo, voltou o senhor daqueles servos
e pediu-lhes contas. 20Aquele que tinha recebido cinco talentos aproximou-se e
entregou-lhe outros cinco, dizendo: 'Senhor, confiaste-me cinco talentos; aqui
estão outros cinco que eu ganhei.' 21O senhor disse-lhe: 'Muito bem, servo bom
e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo
do teu senhor.' 22Veio, em seguida, o que tinha recebido dois talentos:
'Senhor, disse ele, confiaste-me dois talentos; aqui estão outros dois que eu
ganhei.' 23O senhor disse-lhe: 'Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em
coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor.'
24Veio, finalmente, o que tinha recebido um só talento: 'Senhor, disse ele,
sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde
não espalhaste. 25Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui
está o que te pertence.' 26O senhor respondeu-lhe: 'Servo mau e preguiçoso!
Sabias que eu ceifo onde não semeei e recolho onde não espalhei. 27Pois bem,
devias ter levado o meu dinheiro aos banqueiros e, no meu regresso, teria
levantado o meu dinheiro com juros.' 28'Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao
que tem dez talentos. 29Porque ao que tem será dado e terá em abundância; mas,
ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. 30A esse servo inútil, lançai-o
nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.'»
A espera de Cristo há-de ser dinâmica e
fecunda. Os talentos recebidos não podem ser enterrados, inutilizados. Hão-de
render. Estes talentos não são apenas os dotes naturais recebidos por cada um.
São, mais do que isso, a salvação, o amor do Pai, a vida em abundância, o
Espírito. São tesouros a multiplicar e a partilhar até ao seu regresso, ainda
que demore «muito tempo» (v. 19ª). Os dons também são responsabilidades de que
é preciso dar contas.
Na parábola, há dois «servos bons e fiéis» e um «servo mau». Os servos bons e
fiéis são louvados e premiados com a participação na alegria do senhor (vv.
20-23). O servo mau é severamente punido. A desculpa apresentada «Senhor,
sempre te conheci como homem duro» (v. 24), acaba por ser virada contra ele. A
atitude de escravo tímido assumida pelo servo mau «Aqui está o que te pertence»
(v.25), também não ajuda, mas complica. Para ele, talento não foi um dom
recebido, mas uma dívida contraída. Por isso, ao restituí-lo ao dono, não faz
um acto de justiça, mas um insulto. E recebe o castigo adequado: «Tirai-lhe o
talento, e dai-o ao que tem dez talentos... a esse servo inútil, lançai-o nas
trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes» (vv. 28-29).
Meditatio
«Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor» (1
Cor 1, 31). Estas palavras lembram-nos a atitude de Maria, no Magnificat. Ao
fazer memória da sua vida, a Virgem reconhece-se feliz pelos maravilhosos dons
que Deus tinha semeado na sua humilde serva. Gloriando-se no Senhor, Maria
magnifica-O, isto é, torna-O grande. O Magnificat é um encontro entre
gratuidade pura e gratidão sincera.
O servo mau da parábola, pelo contrário, apoucou ao seu senhor. Ele mede e
julga o seu senhor com a medida da sua mesquinhez, com a tacanhez do seu
coração. Em vez de estar grato pelo talento recebido, em vez de agradecer a
ocasião, que lhe foi dada, para desenvolver as suas capacidades, fecha-se na
sua inércia, no seu medo, na sua tristeza. Vem-nos espontaneamente à memória um
outro homem, o primeiro homem. Quando Deus lhe pergunta: «Onde estás?»,
responde: «Tive medo... escondi-me» (Gn 3, 9s.). Não estará na raiz do pecado
uma suspeita mesquinha da imensa bondade de Deus? Deus ofereceu-nos generosamente
os seus dons, e nós podemos viver de coração dilatado pela alegria. Somos
pessoas amados por Deus, às quais deu muito. Só espera que voltemos para Ele
com o que soubemos ganhar, usando os seus dons. Quando realizámos tudo o que
podíamos para fazer render os dons de Deus, estamos verdadeiramente ricos, e
realizados, conforme o seu desejo. Podemos levar-Lhe uma vida cheia, que Ele
ainda enriquecerá mais.
Todos os cristãos têm dons e carismas para o serviço de Deus e dos irmãos. Os
consagrados têm dotes notáveis em determinadas áreas, que hão-de fazer render,
para serem fiéis à sua vocação e missão. Cada um, e cada instituição, hão-de
reconhecer esses dons, porque são talentos, que provêm do bom Deus, para bem de
toda a comunidade: «Todo o carisma, todo o dom perfeito provém do alto e desce
do Pai das luzes» (Tg 1, 17) e o superior, como bom pai da sua comunidade,
agradece ao Senhor por ter pessoas certas nos lugares certos.
Os carismas, que não são postos a render, tornam-se títulos de condenação para
quem os recebeu. Há pois que fazê-los rende
r. Lembram-nos as Constituições: «Como todo o carisma na Igreja, o nosso
carisma profético coloca-nos ao serviço da missão salvífica do Povo de Deus no
mundo de hoje (cf. LG 12) (Cst 27).
Oratio
Senhor, ensina-nos a glorificar o Pai como Tu
e como Maria, tua Mãe, O glorificaram. Ao veres os teus discípulos regressarem
da missão «cheios de alegria», porque puderam multiplicar os seus talentos, e
colher os frutos visíveis da sua actividade missionária, disseste ao Pai:
«Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas
aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque
assim foi do teu agrado» (Lc 10, 21). Contagiado pela alegria dos teus
discípulos, e movido pelo Espírito, também Tu exultaste. Contemplando a
grandeza do Pai e a sua ternura para com os pequenos e humildes, o teu coração
encheu-se de espanto, e a tua boca de belas palavras.
Deixa-nos, Jesus, comungar na tua oração de louvor, como nos deixas comungar na
oração do Pai nosso. Alegra-te também por nós, teus discípulos de hoje, quando,
por tua graça, conseguirmos fazer render os talentos que o Pai nos deu,
considerando-nos entre os pequenos pelos quais glorificaste o Pai. Amen.
Contemplatio
Nosso Senhor dá às almas consagradas ao seu
Coração dons especiais, mas pede também delas algumas virtudes especiais. Devem
também praticar as virtudes ordinárias segundo o seu estado e a sua vocação,
mas algumas virtudes devem brilhar especialmente nelas. A primeira, simbolizada
pelo ouro, é o amor puro, verdadeiro e sincero.
Nosso Senhor pede de nós o ouro do amor puro nas suas intenções, de uma fé viva
e de uma confiança filial inabalável. Quando o ouro é fino e puro, é possível
observar-se o traço do mínimo toque, um sopro enfraquece o seu brilho. É um
ouro puro que Nosso Senhor pede dos amigos do seu Coração. É um amor puro, fiel
e delicado. Esta perfeição não é demais para o dom a oferecer ao Rei dos
corações. Pode aí chegar-se cooperando fielmente com a graça divina que é dada
em abundância aos amigos do Sagrado Coração. (Pe. Dehon, OSP 3, p. 32).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor» (1 Cor 1, 31).
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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