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Fevereiro 2020
Lectio
Primeira leitura: Isaías 58, 1-9a
Eis o que diz o Senhor Deus: 1 Grita em voz
alta, sem te cansares. Levanta a tua voz como uma trombeta. Denuncia ao meu
povo as suas faltas, aos descendentes de Jacob, os seus pecados.2*Consultam-me
dia após dia, mostram desejos em conhecer o meu caminho, como se fosse um povo
que praticasse a justiça, e não abandonasse a lei de Deus. Pedem-me sentenças
justas, querem aproximar-se de Deus.3Dizemme: «Para quê jejuar, se vós não
fazeis caso? Para quê humilhar-nos, se não prestais atenção?» É porque no dia
do vosso jejum só cuidais dos vossos negócios, e oprimis todos os vossos
empregados.4Jejuais entre rixas e disputas, dando bofetadas sem dó nem piedade.
Não jejueis como tendes feito até hoje, se quereis que a vossa voz seja ouvida
no alto.5Acaso é esse o jejum que me agrada, no dia em que o homem se
mortifica? Curvar a cabeça como um junco, deitar-se sobre saco e cinza? Podeis
chamar a isto jejum e dia agradável ao Senhor? 60 jejum que me agrada é este:
libertar os que foram presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às
costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opressão,
7*repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa,
atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão.8*Então, a tua luz surgirá
como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se. A tua justiça
irá à tua frente, e a glória do Senhor atrás de ti.9Então invocarás o Senhor e
Ele te atenderá, pedirás auxílio e te dirá: «Aqui estou!»
Neste discurso, o profeta pretende alertar o
povo para a falta de autenticidade com que vive (vv. 1-3a), proclamar o
verdadeiro jejum (vv. 3b-7) e indicar as consequências positivas da ligação do
jejum à prática da justiça (vv. 8-12).
O povo tinha regressado do exílio cheio de
entusiasmo e de esperança. Mas as dificuldades eram grandes. Deus parecia surdo
e indiferente às súplicas e ao culto do seu povo. Mas o profeta alerta para a
prática de um jejum misturado com injustiças sociais, e condena-o. O culto deve
estar unido à solidariedade com os pobres. Caso contrário, não agrada a Deus e
é estéril. As manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na
caridade e na misericórdia para com os pobres e oprimidos. Isaías parece já ter
ouvido as palavras de Jesus: «Tinha fome e destes-me de comer ... (cf. Mt 25,
31-46). Mas afirmar que o verdadeiro jejum e o verdadeiro culto consistem na
caridade, não significa negar o valor dessas práticas, mas afirmar que elas têm
sentido e valor em vista da mesma caridade. O jejum tem sentido e valor quando
se torna expressão de amor a Deus e ao próximo. Por sua vez, o verdadeiro culto
é relação com Deus, sem individualismo e falsidade.
Evangelho: Mateus 9, 14-15
14*Naquele tempo, os discípulos de João
Baptista foram ter com Jesus e perguntaram-lhe: «Por que é que nós e os
fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?» 15*Jesus respondeu-lhes:
«Porventura podem os convidados para as núpcias estar tristes, enquanto o
esposo está com eles? Porém, hão-de vir dias em que lhes será tirado o esposo
e, então, vão jejuar.»
Os discípulos de Jesus são acusados de não
Jejuarem. Jesus responde dando a entender que, com Ele, começaram os tempos
messiânicos, o tempo das núpcias, o tempo escatológico anunciado pelos
profetas, tempo de alegria durante o qual não se jejua, pois o Esposo está
presente. Mas muitos não conseguem ver em Jesus o Messias esperado, e não
reconhecem que o Reino de Deus é festa, é pérola pela qual se está disposto a
deixar tudo com alegria. A renúncia, por Deus, não é um peso. Não há que ter
medo do rosto alegre do Senhor. O jejum cristão não consiste apenas em
abster-se de alimentos. Consiste, sobretudo, em desejar o encontro com Jesus
salvador.
O contexto deste evangelho ajuda-nos a
compreendê-lo. Nos versículos seguintes Jesus recorre a duas comparações:
«Ninguém põe um remendo de pano novo em roupa velha.. 17Nem se deita vinho novo
em odres velhos. »(vv. 16.17), que oferecem outra motivação em favor do
comportamento dos discípulos de Jesus. Com a vinda de Jesus, começou o tempo
novo do Reino em que já não se sentem prisioneiros do jejum ou de outras
práticas da Antiga Aliança. A novidade de Cristo não se limita a adaptar as
velhas formas: arranca o pano velho, rebenta os velhos odres. Há um novo
começo.
Meditatio
O jejum começa a reentrar na nossa cultura
actual por razões de dieta e de estética, ou aconselhado por certas formas de
religiosidade, com origem no Oriente. A Igreja, como sempre, também recomenda o
jejum, particularmente na Quaresma. Mas podemos entender mal as suas motivações
ou até cair no egoísmo e do orgulho. Por isso, a mesma Igreja, nos alerta para
duas dimensões essenciais do jejum: a sua referência a Cristo e a sua dimensão
de solidariedade.
Expliquemos: jejua-se porque Cristo, o Esposo,
ainda não está totalmente presente em cada um de nós nem na sociedade em que
vivemos. O Esposo está pronto. Mas nós não estamos prontos. Ainda não nos
deixamos invadir completamente pelo seu amor. Jejuamos para Lhe dar lugar em
nós, para que possa ocupar toda a nossa existência. Jejuamos para nos unirmos à
sua Paixão. Já no século II era recomendado aos fiéis que não jejuassem nos
mesmos dias em que jejuavam os judeus, mas sim na sexta-feira, em memória da
paixão de Jesus.
Mas também jejuamos para nos tornarmos
sensíveis à fome e à sede de tantos irmãos e para assumirmos a nossa
responsabilidade na resolução dos problemas dos pobres e carenciados. A memória
da paixão de Jesus não é um simples ritual, mas um acto de misericórdia, no
sentido da palavra do Senhor: «Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (cf. Mt 9,
13). A sua paixão é obediência ao Pai, mas também um gesto de extrema caridade,
de
solidariedade com todos nós.
solidariedade com todos nós.
Tendo bem presentes estas dimensões,
entendemos melhor o sentido do jejum que nos é recomendado e pedido pela
Igreja, e mais facilmente evitamos cair na busca de uma perfeição
individualista e fechada, sem nos preocuparmos com os outros.
Deixemo-nos conduzir pelo Espírito nas formas
de ascese a escolher para vivermos proveitosamente a nossa Quaresma. E sucederá
connosco o que sucedeu com Jesus: "O Espírito do Senhor está sobre Mim -
diz Jesus na sinagoga de Nazaré - ... enviou-Me a anunciar a boa nova aos
pobres ... e a pregar um ano de graça do Senhor' (Lc 4,18-19; Cf. Cst 28). Amar
um pequeno, um pobre, é amar Jesus: "Todas as vezes que fizeste isto (as
obras de misericórdia) a um só destes meus irmãos mais pequenos, foi a Mim que
o fizestes" (Mt 25, 40; cf. Cst 28).
o tempo da Quaresma é propício a percorrermos
os diversos graus da caridade evangélica: "Ama o próximo como a ti
mesmo" (Mt 19, 19). É a regra de ouro que já foi proclamada no Antigo
Testamento e que Jesus faz Sua: não faças aos outros o que não queres que te
façam a ti (Cf. Mt 7,12); Lc 6,11; Lv 19,18; Tob 4,15). Este é o primeiro grau
da caridade. O segundo grau é: ama o próximo como amas a Jesus (Cf. Mt 25, 40;
cf. n. 28). O terceiro grau é amar o próximo como Jesus nos ama: "Este é o
Meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amel' (Jo 15,12). O
quarto grau, o mais perfeito, é revelado por Jesus em forma de oração: pede que
os seus discípulos se amem uns aos outros como as Três Pessoas da SS. Trindade
se amam: "Não rogo só por estes, mas também por aqueles que, graças à sua
palavra, hão-de acreditar em Mim, para que todos sejam um. Como Tu, ó Pai,
estás em Mim e Eu em Ti, sejam também eles uma só coisa, para que o mundo creia
que Tu Me enviaste" (Jo 17,20-21).
O fruto da caridade é Jesus presente no meio
de nós: "Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no
meio deles" (Mt 18, 20). Mas o preço da caridade é sempre a cruz, a
negação de nós mesmos, a superação do nosso egoísmo: "Se alguém quiser vir
após Mim, renegue a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-Me" (Lc 9,
23).
Oratio
Senhor Jesus, infunde em mim o teu Espírito,
que seja o meu guia neste tempo da Quaresma. Quero comungar no teu jejum para
estar unido a Ti, para Te experimentar como o Esposo desejado. Aumenta em mim o
sentido esponsal da vida cristã. Ensina-me a jejuar de quanto me faz esquecer
de Ti, de quanto me afasta da meditação da tua Palavra, de quanto me leva a
procurar outros «amantes» e a correr o perigo de Te ser infiel.
Que o meu jejum me abra também ao amor dos
irmãos e me faça percorrer o caminho da caridade até amar como Tu amas, até que
o meu amor pelos irmãos seja reflexo daquele amor que reina entre Ti, o Pai e o
Espírito. Amen.
Contemplatio
Jesus quis jejuar quarenta dias e quarenta
noites. Moisés e Elias tinham feito o mesmo antes de empreenderem a sua grande
missão perante o povo de Deus.
Nosso Senhor quis que este jejum absoluto e
miraculoso fosse algumas vezes reproduzido na Igreja. É atribuído a S. Simão, o
estilita, a Santa Catarina de Sena, etc.
O primeiro Adão tinha pecado por gula, o novo
Adão quis reparar pelo jejum.
Havia também a expiar toda a nossa
sensualidade, que é infinita.
Nosso Senhor quis também mostrar-nos como é
preciso combater as nossas más paixões. O nosso corpo é um inimigo que é
preciso enfraquecer e dominar, se não queremos que nos domine e que sujeite a
nossa alma.
«O jejum, diz S. Basílio, serve de asas à
oração para se elevar em altura e penetrar até aos céust.é também o guardião da
castidade».
O período de quarenta dias tem as suas
oportunidades misteriosas. É preciso sem dúvida este lapso de tempo para que a
penitência actue fortemente sobre a natureza. A Igreja pede-nos também quarenta
dias de um jejum relativo, para imitarmos o jejum absoluto de Nosso Senhor.
O jejum é o guardião da castidade para nós,
sobretudo neste período da primavera em que os sentidos estão mais excitados.
Dá asas à oração que a abundância de alimentos
torna pesada e sonolenta. Tenho aproveitado do exemplo de Nosso Senhor? Tenho
obedecido ao preceito da Igreja, na medida das minhas forças e da minha saúde?
Tenho feito durante quarenta dias uma penitência suficiente e verdadeiramente
eficaz? Tenho substituído por alguma outra mortificação o que não podia fazer?
Não desperdicei tantas graças que se me
ofereciam? (Leão Dehon, OSP 3, p. 223).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (cf. Mt 9, 13)
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