domingo, 5 de janeiro de 2020

Como ovelhas sem pastor-Dehonianos


7 Janeiro 2020
Tempo do Natal – Terça-feira depois da Epifania
Lectio
Primeira leitura: 1 João 4, 7-10
7*Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. 8*Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. 9*E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. 10*É nisto que está o amor: não em termos sido nós a amar a Deus, mas em ser Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados.
João, que já falou sobre o amor, volta agora a falar dele numa perspectiva mais positiva (cf. 3, 11.15.22). O amor é necessário porque «o amor vem de Deus» (v. 7) e porque «Deus é amor» (v. 8). Porque a identidade de Deus é o amor, Deus ama, perdoa, dá-se em nós. Todo o autêntico amor humano encontra fundamento no amor de Deus. Quem ama é gerado por Deus e conhece-O (cf. v. 7).
Se o amor é a essência de Deus, só temos um caminho para chegar a Deus: amar. Mas não se trata de amar como pensavam os gnósticos ou os inimigos da comunidade joânica, que julgavam amar a Deus porque sentiam a necessidade de O conhecer. A natureza do amor, para João, consiste no facto de que Deus nos amou «por primeiro», por sua iniciativa gratuita. Este amor manifestou-se na Incarnação do Filho, sem a qual continuaríamos pobres e incapazes de conhecer o amor verdadeiro e de termos a vida (vv. 9-10; Rm 3, 25; 5, 8; 2 Cor 5, 21). O amor que Jesus mostrou por nós foi um amor concreto, desinteressado, dedicado e libertador. Chegou ao dom da própria vida. O nosso amor por Deus é sempre resposta a essa iniciativa do Pai. E, só conhece o Pai, aquele que percorre o caminho que leva ao amor do irmão (cf. Mc 12, 29-31): «Nisto reconhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35).
Evangelho: Marcos 6, 34-44
34Naqueke tempo: Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas. 35A hora já ia muito adiantada, quando os discípulos se aproximaram e disseram: «O lugar é deserto e a hora vai adiantada. 36Manda-os embora, para irem aos campos e aldeias comprar de comer.» 37* Jesus respondeu: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Eles disseram-lhe: «Vamos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?» 38Mas Ele perguntou: «Quantos pães tendes? Ide ver.» Depois de se informarem, responderam: «Cinco pães e dois peixes.» 39Ordenou-lhes que os fizessem sentar por grupos na erva verde. 40E sentaram-se, por grupos de cem e cinquenta. 41*Jesus tomou, então, os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e dava-os aos seus discípulos, para que eles os repartissem.
Dividiu também os dois peixes por todos. 42Comeram até ficar saciados. 43*E havia ainda doze cestos com os bocados de pão e os restos de peixe. 44*Ora os que tinham comido daqueles pães eram cinco mil homens.
Jesus é o Bom Pastor que se compadece da multidão, porque eram como ovelhas sem pastor (v. 34). Como novo Moisés, instrui aqueles que O rodeiam (a comunidade cristã) com a sua palavra (a Palavra de Deus) e alimenta-a multiplicando
o pão e os peixes (a Eucaristia). Em tudo isso envolve os discípulos (a Igreja): «Dailhes vós mesmos de comer» (v. 37). Toda esta cena descrita por Marcos tem como pano de fundo a assembleia dos filhos de Israel no deserto e a celebração eucarística dos primeiros discípulos de Jesus. Os vários pormenores da narrativa denunciam o tal pano de fundo teológico já referido: o lugar deserto, a erva verde, as pessoas sentadas em pequenos grupos (cf. Ex 18, 25); depois, o erguer dos olhos para o céu, a bênção, a fracção do pão, a distribuição do pão com a ajuda dos discípulos (cf. Jo 6, 1-13; 1 Cor 11, 23-34; Mt 26, 26-29; Mc 14, 22-25; Lc 22, 14-20). Os cinco mil homens comeram, ficaram saciados, e ainda sobejaram «doze cestos com os bocados de pão e os restos de peixe» (v. 43). Nada se deve perder da mesa de Cristo. O que mais espanta os discípulos não é tanto o poder de fazer milagres do Mestre, mas é, sobretudo, o poder de dar aos homens o necessário para viverem cada dia. As palavras e os actos de Jesus incidem no concreto da vida dos homens e na história, transformando-as e abrindo-as à comunhão com Deus.
Meditatio
O evangelho de hoje mostra-nos o amor, a ternura e a generosidade de Jesus. O Senhor comove-se diante da multidão que O seguiu, «porque eram como ovelhas sem pastor», e dá-lhes o pão: o pão da sua palavra («Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas»)e o pão material que é, acima de tudo, prefiguração da sua vontade em nos alimentar com o seu corpo e o seu sangue. O verdadeiro pão é Ele. Estamos perante um novo milagre do maná (cf. Ex 16), feito por Jesus, o novo Moisés, revelador escatológico e mediador dos sinais de Deus (cf. Ex 4, 1-9), num novo êxodo: é o símbolo da Eucaristia, verdadeiro alimento do povo de Deus. É preciso comer o pão vivo descido do céu para ter a vida e entrar em comunhão íntima com Jesus.
Estamos pera
nte a revelação do pão que é eficaz para comunicar a vida queperdura para além da morte. É Jesus, pão de vida, que dá a imortalidade a que se alimenta dele, a quem na fé interioriza a Palavra e assimila a sua vida. Escutar interiormente Jesus é alimentar-se do pão celeste e saciar a fome que há em nós. Como o Pai é fonte de vida para o Filho, também o Filho é fonte de vida para quem participa na Eucaristia. Jesus recebe a vida do Pai e dá-a ao crente, não só agora, mas para sempre. Dá-lhe a vida eterna que é amor, participação no mistério pascal de Cristo, no mistério de uma carne vivificada pelo Espírito, que permite um laço profundo com Deus, tal como o que existe entre o Pai e o Filho.
A primeira leitura fala-nos da ternura e da generosidade de Jesus como manifestação do amor do Pai. Deus, que é amor, enviou o seu Filho ao mundo para que tivéssemos a vida por Ele. Contemplemos esse amor do Pai e do Filho por nós. Correspondamos a esse amor com uma vida coerente com quanto Deus fez por nós. Partilhemo-lo com os irmãos. Amemos com Ele e como Ele. Isso é viver a nossa vocação oblativa.
De facto, a oblação, entendida como amor e imolação, compreendida e vivida na união à oblação de Cristo, exprime toda a nossa vida, como consagrada, no tempo e no espaço.
A oblação, entendida como “presença activa” do amor de Cristo em nós (Cst. 2) torna-se o respiração da alma, o ritmo próprio do amor de Cristo, activamente presenteno tempo e no decurso da nossa vida. É “um tempo para Deus no mundo” (Urs Von
Balthasar), para todos os homens, para toda a criação (cf. Cst nn. 19-22). Nesta perspectiva, a nossa oblação é redentora e reparadora: alarga-se no espaço a todos os homens e a “toda a criação” (n. 22; Cf. Rom 8, 19-25).
Para isto é que “Deus enviou o Seu Filho unigénito ao mundo” (1 Jo 4, 9), a fim de que “tivéssemos a vida por Ele” (1 Jo 4, 9).
Oratio
Senhor, como são numerosas e magníficas as provas de amor que nos deste: criaste o universo grande e maravilhoso, e deste-nos a vida e a inteligência para admirarmos as suas belezas. Mas, mais do que tudo isso, mostraste-te nosso Pai, dando-nos a maior prova do teu imenso amor, quando nos enviaste o teu Filho como Salvador.
É, na verdade, um Deus de amor! Por tua iniciativa, generosa e gratuita, fizeste tudo para que não permanecêssemos longe de Ti, teus inimigos. Selaste uma aliança com o teu povo eleito, apesar das suas muitas traições. Finalmente, deste-nos, pelo teu Filho, a Igreja como mãe e lugar de salvação. O teu Coração é realmente magnânimo. E, como se não bastasse tudo o que já tinhas feito por nós, saciaste-nos com o novo maná: o pão da Palavra e da Eucaristia, os sacramentos do teu amor. Preocupaste-te em saciar o homem nas suas necessidades materiais e espirituais, manifestando especial predilecção pelos que sofrem e pelos pobres.
Obrigado, Senhor, por tudo quanto fizeste e continuas a fazer por nós, revelando-nos a tua verdadeira identidade que é seres Amor. Amen.
Contemplatio
Jesus preparou-se desde a sua incarnação. Considerava-se como o pão da vida. A sua carne e o seu sangue eram destinados ao sacrifício. Ele era o cordeiro de Deus, votado à imolação.
Quando ia ao templo, nos dias de festa legal, pesava-lhe ver durarem as figuras ineficazes do sacrifício redentor. O seu Coração ardia de desejo de ver suceder a realidade à figura. Exprimia no Cenáculo este desejo de toda a sua vida: «Desejei comer esta páscoa convosco».
Preludia o sacrifício eucarístico pela mudança da água em vinho e pela multiplicação dos pães.
Fala disso longamente no belo discurso que S. João nos reporta no seu capítulo sexto. «Eu sou o pão da vida, diz. O maná não era senão uma figura, não dava a graça, a vida sobrenatural. Vós comereis o meu corpo e o meu sangue, eles alimentarão em vós a vida do espírito e vos hão-de preparar para a ressurreição…»
A preparação remota não é tudo; quando chega o momento de celebrar o sacrifício eucarístico e de instituir a comunhão, Jesus multiplica os actos de preparação próxima.
Pregou durante vários dias a penitência e os juízos de Deus aos seus discípulos. Propôs às suas meditações as parábolas das virgens e dos talentos e anuncia a destruição de Jerusalém e do último juízo. Ofereceu-lhes o exemplo da humilde penitência de Maria Madalena na refeição em casa de Simão.
Na última hora, mostra-lhes pela surpreendente cerimónia do lava-pés que pureza exige
a celebração da missa e da comunhão.
E nós, como nos preparamos? Quais são as nossas disposições remotas e próximas? Talvez, ai! A indiferença, a frieza, a distracção! (Leão Dehon, OSP 2, p. 606).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra: «Todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus, pois Deus é amor» (1 Jo 4, 7).



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