Irmãos e irmãs, o Evangelho próprio da liturgia da
Palavra de hoje, Jo 6,52-59, termina expressando: «Jesus falou estas coisas
ensinando, na sinagoga, em Cafarnaum» (v. 59). Quando alguém visita a atual
Cafarnaum, na Terra Santa, encontra uma grande placa ao passar por uma das
entradas daquela localidade, na qual se lê: “Cidade de Jesus”.
Assim Cafarnaum entrou para a história: o lugar
utilizado como uma espécie de “quartel general” de Cristo, pois de lá, muitas
vezes, Jesus partia e retornava das missões e se hospedava na casa da família
de Pedro. Também se encontram, ali, as ruínas da sinagoga frequentada por
Cristo e citada no Evangelho de hoje.
Neste
contexto material e geográfico, Jesus revela, surpreendentemente, um alimento
que não podia faltar naquela cidade, nos lares e na missão da Igreja: «Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue tem
a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia» (v. 54).
Um alimento
espiritual, sacramental e escatológico que se chama, antes de tudo, Jesus
Cristo! Jesus Eucarístico é o Pão Celestial! Ele estava em sua cidade e próximo
de lugares que O acolhiam, mas Ele quis mais… muito mais! Ele quis fazer morada
em nós e permanecer para sempre numa comunhão de vida eterna, por
fundamentar-se no amor eterno de Deus pela humanidade. Um Amor que se traduz em
entrega total e eucarística: “Quem se alimenta com a minha
carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele… Quem se alimenta com este
pão viverá para sempre” (v. 56.58).
Sabemos o que é entrar e sair de uma casa e
cidade, mas permanecer para sempre realmente é uma experiência que foge
completamente às capacidades puramente racionais, físicas e temporais. O
impacto do espaço e do tempo atualmente nos tomam, como um peixe tomado e
mergulhado na água. Mas fomos criados para águas mais puras, refrescantes,
cristalinas e incontamináveis, ou seja, no plano de Deus todo ser humano foi
criado para Ele. Por isso, Ele comunicou o Pão da Palavra e instituiu, na
Quinta-feira Santa, o Sacramento dos Sacramentos, o qual nos leva a exclamar:
“Graças e louvores se deem neste e em todo o momento ao Santíssimo Sacramento”.
Assim, podemos antecipar – como penhor – pelo Sacramento do Filho do Homem e
Filho de Deus, a participação na vida eterna.
Ainda que
seja um desafio para a nossa fé e humilhação às inteligências orgulhosas, o
Sacramento da Eucaristia pode e precisa ser acreditado, celebrado, comungado e
adorado para ficarmos, então, surpreendidos positivamente pelas promessas e
realizações do Senhor, diferentemente de muitos que O acompanhavam e O seguiam
com espírito cético e provocador: «Como é que ele pode dar a sua
carne a comer?» (v. 52). E o Pão da Vida não recuou e nem
contradisse as Suas palavras por medo de perder “público ou ibope”, muito pelo
contrário: fez questão de reforçar este dom e necessidade de cada um: «Em verdade, em verdade, voz digo: se não comerdes a carne do
Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós» (v.
53).
Mas eu não mereço tamanho dom de tomar, comer e
beber deste Cálice! Realmente, em cada Santa Missa, mirando o Corpo de Deus nas
mãos dos sacerdotes, precisamos, primeiramente, reconhecer a nossa indignidade:
“Senhor, eu não sou digo de que entreis em minha morada, mas dizei uma só
palavra e serei salvo”. Mas também não podemos deixar de ver, nesta insistência
de Cristo, uma grande manifestação da gratuidade divina.
O Papa
emérito Bento XVI, que hoje recorda o dia de sua eleição para ocupar a Cátedra
de Pedro, deixou claro esta graça que todos podem receber, ainda que exijam condições
básicas como o objetivo estado de graça: «Trata-se de um dom absolutamente
gratuito, devido apenas às promessas de Deus cumpridas para além de toda e
qualquer medida. A Igreja acolhe, celebra e adora este dom com fiel obediência.
O “mistério da fé” é mistério de amor trinitário, no qual, por graça, somos
chamados a participar» (BENTO XVI, Exort. Apost. Sacramentum Caritatis, nº
8).
Neste tempo pascal, a Igreja de Cristo convida-nos
a dar – pessoalmente e comunitariamente – nossa resposta perante o misterioso
Dom da Eucaristia, Pão da Vida que constrói moradas de Deus em meio e dentro
dos homens e mulheres. Pão da Cidade de Deus, capaz de dar sentido, alimentar e
transformar as cidades e lares dos homens. Pão que alimenta e santifica a Casa
de Deus no mundo, a Igreja, reanima a Igreja doméstica e encaminha para a nossa
Páscoa pessoal e eterna, ou seja, prepara-nos para morarmos para sempre na
verdadeira e permanente cidade de Jesus.
Padre Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova
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