V DOMINGO DO TEMPO COMUM 04/02/2018
1ª Leitura Jó 7, 1-4. 6-7
Salmo 146/147,3ª “Ele cura os que
tem o coração ferido”
2ª Leitura 1 Cor 9, 16-19;22-23
Evangelho Marcos 1, 29-39
"A PERIGOSA FÉ DA
MAGIA..."
Gosto muito de ouvir histórias de
pessoas que montaram um pequeno negócio, e após muito esforço foram bem
sucedidas, tornando-se gestores de grandes empresas, agindo sempre com ética e
honestidade. O bom empreendedor é sempre ousado e pensa “grande”, tendo uma
visão audaciosa do futuro, atitude muitas vezes até criticada e questionada
pelos acomodados que pensam “pequeno”, porque têm medo de arriscar. Se o
empreendorismo é fator dos mais
importantes no desenvolvimento de uma nação, de uma empresa ou de qualquer
negócio, no reino de Deus não poderia ser diferente, porém, é preciso ter os
pés no chão, trabalhando a cada dia com vistas à grandiosidade que se
vislumbra, pois o homem de fé, mais do que ser otimista, já vai construindo no
hoje da história, o reino de Deus alicerçado pelo próprio Cristo.
No evangelho desse quinto domingo
do tempo comum, podemos perceber nitidamente essa diferença no modo de pensar e
agir, entre Jesus e os seus discípulos. Enquanto o mestre pensa em algo
grandioso, querendo expandir o projeto recém-iniciado, os discípulos estão
seguros de que já alcançaram o sucesso e demonstram grande interesse em montar
ali, na casa de Simão, uma “Tenda dos Milagres”, pois o carisma de Jesus já
tinha atraído uma grande e imensa clientela, ao curar os enfermos e expulsar os
demônios, por isso aonde ele ia, a multidão maravilhada com os sinais
prodigiosos, o seguia.
Há nesta fé da magia, a perspectiva
de um negócio altamente lucrativo em todos os sentidos, pois Jesus tem o perfil
do Messias esperado, poderia ser ele o salvador da pátria, capaz de dar a
grande virada na história de Israel, e um populismo assim, era tudo que eles
queriam para concretizar a libertação com que sonhavam. Não conseguiam
vislumbrar em Jesus algo além dos seus ideais humanos, que também eram
importantes e tinham o seu valor, mas Jesus não veio para ser o Rei dos
Milagreiros, nem para ser um libertador político, pensar assim é pensar
“pequeno”, ter uma fé com essa expectativa de um Cristo prodigioso, que
interfere com seu poder na vida das pessoas, quando essas fazem por merecer,
realizando milagres e curas inexplicáveis, é menosprezar toda a obra da
Salvação, é fazer da Igreja uma simples tenda dos milagres, é abusar de certos
carismas recebidos, explorando assim a boa-fé das pessoas, e Cristianismo não é
isso.
Curas de enfermidades o Cristo as
realizou ontem, e realiza também hoje, mas estas são simples sinais de algo
maior, de um empreendimento mais arrojado, com o qual todos têm de se
comprometer, acreditar, deixar de ser um torcedor para entrar em campo e “suar
a camisa” por aquilo em que se acredita. E como é que podemos, com nossas
limitações e fraquezas, sermos parceiros de Deus nesse projeto tão arrojado,
que plenifica e ao mesmo tempo transcende, qualquer empreendimento humano?
O evangelho responde em seu início,
logo que Jesus sai da sinagoga e vai á casa de Simão, onde os discípulos correm
para lhe falar que a sogra de Pedro estava acamada e com muita febre. Era uma
pessoa debilitada, entregue ao desânimo, que muitas vezes chega à vida de
alguém, que doença seria essa? O comodismo e o desânimo, o egocentrismo, a
indiferença na relação com as pessoas, nas comunidades cristãs há pessoas
assim, que precisam de ajuda, para cair na realidade. Jesus não diz uma só
palavra, mas apenas estende a mão e a ajuda a levantar-se do seu leito. Como é
bom quando sentimos que o outro nos estende a mão, em um grandioso gesto de
ajuda...
Como é bom agarrar com firmeza a
mão amiga, que nos permite levantar e dar a volta por cima, diante de tantas
situações difíceis da nossa vida. Amor que se traduz em gestos de
solidariedade, um toque de mão que transmite segurança, afeto, ânimo e
esperança, sem muito ritual pomposo, sem êxtases arrebatadores. Como resultado
desse gesto de ajuda, a mulher se levanta a febre a deixa e agora se põe a
servir a comunidade. É na oração íntima com Deus Pai, que Jesus de Nazaré
fortalece a sua missão, cumprindo a vontade daquele que o enviou, pois sem a
oração, a nossa igreja seria apenas um Posto de atendimento de serviço
religioso ou balcão de Sacramentos.
É na oração que acontece este
colóquio com o Pai, aonde vai se descortinando para nós a plenitude do Reino,
que humildemente vamos construindo com gestos simples como o de Jesus, capaz de
erguer as pessoas que estão ao nosso lado.
Os discípulos, encantados com o
carisma e o Poder do mestre, querem urgentemente abrir um “pequeno negócio”, um
salãozinho de fundo de quintal, onde eles teriam naturalmente o monopólio sobre
Jesus e seus milagres, mas o Mestre pensa grande, ele não veio para que as
pessoas o buscassem, mas para ir ao encontro delas, curando de suas
enfermidades e as libertando dos males físicos e espirituais, como um sinal da
libertação plena.
É esse o Cristo que devemos
anunciar como Igreja missionária, pois qualquer outra imagem diferente da que
nos apresenta o evangelho, seria apenas uma caricatura grotesca, uma cópia
falsificada de um mero “Salvador da pátria”, desses que vez ou outra, o povo
gosta de aclamar como Rei...( Diácono José da Cruz – E-mail jotacruz3051@gmail.com)
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