25 Janeiro 2018
Tempo Comum
– Anos Pares III Semana – Quinta-feira
Lectio
Primeira
leitura: 2 Samuel 7, 18-19.24-29
18Então,
David foi apresentar-se diante do Senhor e disse-lhe: «Quem sou eu, Senhor
Deus, e quem é a minha família, para que me tenhas conduzido até aqui? 19E,
como se isto fosse pouco para ti, Senhor Deus, Senhor Deus, fizeste também
promessas à família do teu servo para os tempos futuros! Porque esta é a lei do
homem, ó Senhor Deus! 24Estabeleceste solidamente o teu povo, Israel, para ser
eternamente o teu povo, e Tu, Senhor, seres o seu Deus. 25Agora, pois, Senhor
Deus, cumpre para sempre a promessa que fizeste ao teu servo e à sua casa e faz
como disseste. 26O teu nome será exaltado para sempre e dir-se-á: ‘O Senhor do
universo é o Deus de Israel. E permanecerá estável diante de ti a casa do teu
servo David. 27Porque Tu próprio, ó Senhor do universo, Deus de Israel, fizeste
ao teu servo esta revelação: ‘Eu te construirei uma casa.’ Por isso, o teu
servo se animou a dirigir-te esta prece. 28Agora, ó Senhor Deus, só Tu és Deus,
e as tuas palavras são a própria verdade. Já que prometeste ao teu servo estes
bens, 29abençoa, desde agora, a sua casa, para que ela subsista para sempre
diante de ti: porque Tu, Senhor Deus, falaste e, graças à tua bênção, a casa do
teu servo será abençoada eternamente.»
Depois das
promessas de Deus em relação a David, à sua descendência e a todo o povo (na
primeira parte de 2Sam 7), o rei toma a palavra e pronuncia uma oração de
louvor e de acção de graças. A oração é repetitiva e redundante: os conceitos
«casa», «Senhor Deus» (Adonai Yahveh), «servo», «falar», «palavra»
«eternamente», repetem-se várias vezes. Mas essa repetição acentua claramente
as ideias principais nela expressas. Entre elas sobressai o conceito de
«palavra»: promessa feita a David por meio de Natan; palavra eficaz e fonte de
esperança nos momentos difíceis da história. As razões pelas quais Deus recusa
a construção do templo por David não estão muito claras. Mas o rei aceita a
anulação dos seus projectos para que se realizem os de Deus: «Quem sou eu,
Senhor Deus, e quem é a minha família, para que me tenhas conduzido até aqui?».
Esta submissão e esta humildade aparecem nos relatos bíblicos de vocação (cf.
Ex 3, 11; Jz 6, 15; Jer 1, 6). A confiança de David apoia-se na memória das obras
de Deus em favor do seu povo. David põe-se em sintonia com a palavra do Senhor,
pedindo que ela se realize. Deus é fiel. É na fidelidade que se revela a sua
grandeza. Uma vez que o Senhor «falou», não há que hesitar: «a casa do teu
servo será abençoada eternamente», conclui David.
Evangelho:
Mc 4, 21-25
21Disse-lhes
ainda: «Põe-se, porventura, a candeia debaixo do alqueire ou debaixo da cama?
Não é para ser colocada no candelabro? 22Porque não há nada escondido que não
venha a descobrir-se, nem há nada oculto que não venha à luz. 23Se alguém tem
ouvidos para ouvir, oiça.» 24E prosseguiu: «Tomai sentido no que ouvis. Com a
medida que empregardes para medir é que sereis medidos, e ainda vos será
acrescentado. 25Pois àquele que tem, será dado; e ao que não tem, mesmo aquilo
que tem lhe será tirado.»
Depois da
parábola do semeador, Marcos apresenta-nos dois pares de breves sentenças. O
Evangelho é para todos na comunidade. Por isso, deve ser colocado «no
candelabro». Se alguém cair na tentação de o guardar ciosamente para si, então
ser-lhe-á tirado. A Sagrada Escritura não é privilégio só para alguns, mas é
para todos. Por isso, deve ser posta ao alcance de todos. A fé recebida por mim
deve ser posta ao serviço da minha comunidade e de todos os homens. No primeiro
par de sentenças, a imagem da lâmpada que deve ser exposta sobre o candelabro é
desenvolvida por duas antíteses paralelas: o que está escondido há-de ser
descoberto, o que está oculto há-de vir à luz. O Reino, ainda que, por
enquanto, seja anunciado em parábolas, depressa virá à luz na sua glória, e o
Evangelho será anunciado a todos os povos. No segundo par de sentenças, a
antítese volta-se para a condição interna da comunidade: a imagem da medida
insinua a proibição de julgar os outros; a segunda sentença está mais ligada à
parábola do semeador: «aquele que tem» corresponde à «boa terra», que acolhe a
palavra e lhe permite produzir fruto.
Meditatio
As sentenças
de Jesus que Marcos nos apresenta hoje vêm logo depois da parábola do semeador,
e ajudam-nos a compreendê-la. A semente é, sem dúvida, a Palavra de Deus. Daí a
insistência de Jesus: «Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça»… «Tomai sentido
no que ouvis. » (cf. Mc 4, 23-24). Um bom acolhimento da Palavra, alcança
graças mais abundantes. David, ao acolher a Palavra do Senhor, alcança a bênção
e a promessa da estabilidade da sua casa: «Tu, Senhor Deus, falaste e, graças à
tua bênção, a casa do teu servo será abençoada eternamente» (2 Sam 7, 29). Esta
estabilidade não consiste tanto na glória ou no sucesso político da dinastia
davídica, mas mais na solidez na fé e na correspondência ao desígnio de Deus
sobre o seu povo. E isto é fruto de graça. David tinha um bom projecto, o
melhor que um homem pode conceber: construir um templo para Deus, isto é, ocupar-se
com a sua glória, esquecendo a si mesmo. A recusa de Deus poderia causar-lhe
desilusão. Mas, em vez disso, o jovem rei põe de parte o seu projecto e acolhe
a Palavra de Deus. Um belo exemplo para nós, mas difícil de seguir! Quantas
vezes nos agarramos a projectos que julgamos bons e até inspirados por Deus. E
que dramas, quando a vontade do Senhor se mostra diferente! David, não se deixa
cair na desilusão, no desânimo. Pelo contrário, pede a Deus que cumpra a sua
promessa: «Só Tu és Deus, e as tuas palavras são a própria verdade… Tu, Senhor
Deus, falaste e, graças à tua bênção, a casa do teu servo será abençoada
eternamente» (cf. 2 Sam 7, 28-29). Desde muito jovem, e ainda antes de entrar
no seminário, o Pe. Dehon dava grande importância à “escuta da Palavra”, como
testemunham os dois primeiros cadernos do seu “Diário”. Quase todos os
conteúdos das suas notas têm a sua raiz na Escritura. As citações são tomadas
sem qualquer diferença tanto do Antigo como do Novo Testamento. Em 138 páginas
manuscritas contamos 210 citações da Sagrada Escritura. A sua preferência vai
para S. João (57 vezes) e para S. Paulo (38 vezes). Preparado pela “escuta da
Palavra&rdquo ;, meditada e assimilada, Leão Dehon está preparado para
viver o espírito de abandono e de imolação que o caracteriza. Não hesita em pôr
de parte projectos e interesses pessoais, para fazer o que se lhe apresenta
como vontade de Deus. «Ecce venio», «Fiat» são seus motes preferidos. Como
Cristo, Leão Dehon não hesita em oferecer-se, em imolar-se por amor, chegando a
emitir o voto de vítima, para reviver o sacerdócio e o sacrifício de Cristo,
Vítima divina, e alargar o seu “Reino nas almas e na sociedade” (Cst 4).
Oratio
Senhor,
dá-me a graça de saber sempre renunciar corajosamente aos meus projectos, ainda
que os julgue bons, para acolher a tua vontade onde, como e quando se revelar.
Só o teu projecto é força de vida, é semente capaz de originar uma grande
árvore, enquanto os projectos humanos são efémeros. Enche-me de confiança em Ti
para realizar o que me pedires, sem me deixar tomar pela ansiedade e pela
angústia de não me sentir à altura dos projectos em que me queres envolver. Que
eu reconheça sempre a grandeza do teu Nome, e não me orgulhe pelas bênçãos com
que vais cumulando ao longo da vida. Amen.
Contemplatio
Jesus quis
ser o nosso modelo até nas tentações. Quis passar pelas diversas tentações que
podem assaltar a nossa alma. Satanás começa por lhe propor mudar pedras em pão,
para satisfazer o seu apetite… Jesus responde a esta tentação e às outras com
frases da Sagrada escritura. Indica-nos assim qual é o objecto das suas
meditações na solidão e como devemos procurar a nossa força na palavra de Deus.
Está escrito, responde, que o homem não vive só de pão, mas também da palavra
divina» (Dt 7, 3). Em toda a sua vida, Jesus abandonar-se-á à divina
Providência para tudo o que lhe concerne e não fará nenhuma concessão à
sensualidade. Oh! Quanto tenho a fazer a este respeito! Como sou fraco e
inclinado a procurar mil satisfações! O remédio está na união com Nosso Senhor,
na meditação assídua da sua palavra e dos seus mistérios. Enquanto o nosso
coração não estiver fortemente agarrado ao Coração de Jesus e bem apaixonado
pelo seu amor, deixar-se-á seduzir pelas satisfações sensuais (Leão Dehon, OSP
3, p. 225).
Actio
Repete
frequentemente e vive hoje a palavra: «Só Tu és Deus, e as tuas palavras são a
própria verdade» (cf. 2 Sam 7, 28).
| Fernando
Fonseca, scj |
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