Domingo, 3 de
setembro de 2017.
Evangelho de Mt
16,21-27
Jesus e seus
discípulos estão a caminho de Jerusalém. Jesus começa a mostrar para os
discípulos o Caminho da Cruz. Esse caminho é marcado pela necessidade de ir a Jerusalém sofrer, ser morto e ressuscitar. Jesus
tinha consciência que pelo seu modo de viver, de falar, de agir, de ensinar não
seria aceito pelas autoridades políticas e religiosas, mas corajosamente ele
não recua, Ele não volta atrás, segue em frente para Jerusalém onde assume
conscientemente os riscos da rejeição, do sofrimento e da morte por causa da
justiça do Reino.
No (v21) podemos
perceber quatro etapas do CAMINHO DA CRUZ quando Jesus disse: “que precisava ir a Jerusalém (1ª), sofrer
muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas
(2ª); seria morto (3ª), e ressuscitaria
ao terceiro dia”. (4ª)
A primeira etapa é ir a Jerusalém. Jesus
sai da Galileia e vai para a Judeia, onde vai encontrar resistência e oposição em sua força total. Ele sabe que vai encontrar as forças de oposição.
Oposição as suas palavras, aos seus ensinamentos, a sua pessoa, ao seu modo de
ser e de agir.
A segunda é a do sofrimento causado pelos anciãos, sumos sacerdotes e
doutores da Lei, todos eles membros do Sinédrio, o Tribunal Supremo (a sede da injustiça, pois governa,
age injustamente, escravizando o povo).
Os anciãos formavam a classe alta de
Jerusalém. Eram grandes latifundiários (donos de muitas terras). Representavam o poder do dinheiro. A maioria deles era do partido dos saduceus.
Os sumos sacerdotes eram a classe alta sacerdotal. Eles também pertenciam ao Sinédrio e
ao partido dos saduceus... Representavam o poder religioso.
Os doutores da lei formavam a classe intelectual. Era o terceiro
grupo do Sinédrio e, em sua maioria, pertenciam ao partido dos fariseus. Eram aqueles que tinham o
poder do saber, pois conheciam
as escrituras, as leis e ensinavam para os outros. Eles são os donos da verdade
e “formadores da opinião pública”. É nas mãos desse tribunal supremo que Jesus será morto para depois ressuscitar.
Jesus tem
consciência do enfrentamento do Sinédrio.
E começa a mostrar isso aos discípulos. Pedro por sua vez propõe outra
alternativa para Jesus, não quer que ele vá a Jerusalém para lá morrer. Porque
lá o Messias seria rejeitado, passaria pelo sofrimento e morte.
A reação de Jesus é
forte, diz palavras duras a Pedro. Ele rejeita Pedro como rejeitou Satanás no
episódio das tentações: “Vá para longe
Satanás”. Pedro é satanás e pedra de tropeço “porque não pensa como Deus e sim como os homens” (v23) Pedro quer
desviar Jesus da sua missão, não por mal, mas por não compreender a Missão de
Jesus.
Pedro descobrira
que Jesus é o Messias, porém não
aceita as consequências de ser o Messias servo sofredor. Não pensava um Messias
sofredor, rejeitado, cuspido, crucificado. O mesmo Jesus chamara Pedro de pedra
a qual a igreja estava sendo edificada, chama-o agora de “satanás”. Pedro não
está pensando as coisas de Deus e sim as coisas dos homens. O pensamento do
discípulo é do mundo, de gente que ainda não assimilou a mensagem de Jesus...
Ele tem que aprender que é preciso renunciar
a si mesmo, tomar a cruz e seguir Jesus
como discípulo.
Poderia ter passado
pela cabeça de Pedro: “Eu me encantei
com o Senhor, decidi segui-lo, esperei tanta coisa – esperou o quê, por
exemplo? Poder neste mundo, cargos importantes, vida boa, rica, glória? E o Senhor me oferece a cruz e a permanente
situação de discípulo, de aluno? Acho que fui enganado”!
A missão de Jesus não é do jeito que queremos, ao contrário, quer
que nós sejamos como Ele é. Jesus não combate a violência com violência, o mal
com o mal, Jesus usa uma luta pacífica, sua arma é o Amor. Jesus quer deixar
claro que o Messias não seria um rei glorioso que muitos esperavam. Um Messias
lutador, guerreiro que ia expulsar os Romanos de suas terras e ia governar com
poder e glória.
A salvação que Deus
oferece não coincide com os planos de grandeza humana. A felicidade consiste na
união com Deus e com os outros, e poderá exigir, e quase sempre exige o
sacrifício até mesmo da própria vida.
Jesus diz palavras duras a Pedro. A razão destas palavras era
porque se comportava como o tentador propondo-lhe o domínio material sobre
todos os reinos deste mundo.
Nós também pensamos
como Pedro, não é mesmo? O homem quer ter domínio sobre os outros; alcançar o
poder para ter mais coisas; agir com violência contra os que nos ofendem e nos
tratam mal ou nos prejudicam... Outras vezes chega fazer caridade esperando
tirar proveito ou vantagem pessoal. Ao contrário Jesus serve aos outros;
procura ser mais em qualidade; ensina a perdoar, a amar, a ser misericordioso,
solidário, partilhar nossos bens, nossas vidas... e assim apresenta as
condições pra segui-lo: negar-nos a nós
mesmos.
Muitas vezes somos “satanás” pra nossos irmãos quando queremos
desviá-los do caminho certo, dando conselhos que não estão de acordo com os
ensinamentos de Jesus, quando queremos atrapalhar os bons planos dos nossos
irmãos, quando desencorajamos nossos irmãos de fazer caridade, de fazer o bem
para o outro, desencorajamos as pessoas de trabalhar nos serviços da igreja, de
perdoar a quem nos ofendeu, de retribuir com o bem, o mal que nos fizeram, de
vingar, de dar o “troco” como costumamos dizer àqueles que nos ofenderam ou nos
prejudicaram.
Jesus repreende Pedro, e em seguida mostra aos discípulos as
condições para segui-Lo. Seguir a Jesus é adesão pessoal (se alguém quiser vir
comigo tome sua cruz e siga-me) isto requer renúncia, aceitação e compromisso. O destino do discípulo não pode ser diferente
do destino de Jesus. Para estar com Ele é exigido duas condições: renunciar a si mesmo e tomar a própria cruz.
Renunciar a
si mesmo é deixar de lado toda ambição pessoal, o comodismo, a vida errada,
a vida egoísta que só pensa em si. Renunciar a si mesmo quer dizer: que a
Salvação, a vida Nova de união com Deus e com os irmãos deve ser um grande
valor para nós. Renunciar a si mesmo é não pensar só em si, no seu bem estar,
mesmo que tudo indica que será um bem para nós, mas pensar também no bem do
outro e fazer tudo para o irmão ser feliz.
Cristo nos pede que nossas escolhas sejam determinadas pelas
necessidades dos irmãos. Todo o nosso agir seja gratuidade, isto é, sem esperar nada em troca e nossa vida seja
doação de nós mesmos. Aí sim devemos nos alegrar se nossa vida se transformar
em doação.
Carregar a
própria cruz é enfrentar, com as mesmas disposições de Jesus, o sofrimento,
perseguição e morte por causa da
justiça, por causa do Evangelho. Podemos aqui nos lembrar da última
bem-aventurança, a dos perseguidos por causa da justiça. Ser discípulos de Jesus, portanto, é reviver
a síntese das bem-aventuranças. Podemos nos lembrar de tantas pessoas
que morreram por defender os pobres, os sofridos, os excluídos, os
desprotegidos: padres, freiras, leigos etc.
Carregar a cruz vai além de suportar sofrimentos, dores, doenças,
desgraças, mortes, tragédias, desemprego, situação financeira difícil. Carregar a cruz é seguir o caminho que Jesus
percorreu, dar a vida pelos mesmos ideais, enfrentar, se necessário até
a perseguição e a morte por fidelidade ao Evangelho, como Jesus que deu a vida
por nós e foi perseguido porque não abriu mão de sua doutrina de amor.
Estamos percebendo as condições para seguir Jesus na vida de
comunidade, na vida de Igreja? Viver na igreja é viver em comunhão de vida com
o Pai e com os irmãos.
Finalmente, (v25-27) são apresentados três motivos que justificam
as duas condições que Jesus coloca para os discípulos de Renunciar-se a si mesmo e carregar a cruz.
Primeiro quem dá a vida não perde, mas a
ganha como a semente lançada na terra.
Segundo, a vida deste mundo passa
depressa, voa, é transitória, frágil, precária. Não vale a pena nos agarrarmos
a ela como se fosse um valor absoluto, eterno, inacabável. Esta vida aqui não é
definitiva, mas passageira.
Terceiro, será a recompensa final, a
glória eterna, o céu, pois a única coisa que o homem leva consigo é o amor dado
e recebido durante a vida. É a coerência de vida.
Ser cristão é entregar-se, confiar totalmente na pessoa de Jesus.
Isto é a maior sabedoria, o maior amor. Ser cristão é aceitar as palavras de
Jesus, suas ideias, como norma para nossa vida: é viver como ele viveu; é
segui-lo como seguimos a um guia de absoluta confiança, até as últimas
consequências. Cristo exige muito de nós, mas está exigindo o que Ele mesmo
fez.
Os discípulos tinham uma ideia errada da missão de Jesus e como
deveriam ser e como os seus discípulos deveriam se comportar. Jesus, portanto,
vai ao encontro da cruz para depois voltar em sua glória, ressuscitado,
vitorioso. Nós cristãos para ganharmos a vida eterna também teremos que
percorrer o caminho da cruz, pois Jesus retribuirá a cada um, de acordo com a
vida que levar aqui neste mundo, de acordo com a coerência de nossa vida.
O que poderemos levar conosco no fim de nossa vida? O dinheiro
acumulado, os prazeres que desfrutamos, as vitórias que alcançamos, a gratidão
dos outros, os títulos, as honras? Não!
A única coisa que nos restará será o amor que tivermos dado a Deus e aos
irmãos.
Abraços em Cristo!
Maria de Lourdes
Estimada Maria de Lourdes! Que reflexão profunda. Muito tocante e comprometedora. Nos questiona verdadeiramente se estamos sendo seguidores de Jesus ou dos fariseus... Deus lhe abençoe e ilumine cada vez mais. Pe. Dulcio
ResponderExcluirPadre Dúlcio,
ResponderExcluirObrigada pelo seu comentário, me estimula a estudar mais para escrever e ajudar quem se interessa.
Maria de Lourdes