quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Este é o meu Filho amado-Reflexão do falecido Padre Queiroz


Padre Queiroz 



Este é o meu Filho amado.
Hoje celebramos com alegria a festa da Transfiguração do Senhor. Ela aconteceu para animar os Apóstolos, cuja fé estava bastante abalada, devido à frustração deles em relação a Jesus como o Messias. Junto com o povo, eles também esperavam um Messias triunfante e vencedor, mas perceberam as coisas estavam caminhando na direção contrária: Jesus sendo cada vez mais rejeitado, perseguido e humanamente vencido. Se continuasse assim, não haveria nenhum Apóstolo ao pé da cruz. Vemos esta diferença de visão do Messias naquela cena em que Pedro se coloca na frente de Jesus e quer forçá-lo a voltar para trás (Mt 16,21-27).
Portanto, a Transfiguração aconteceu mais em função dos discípulos do que de Jesus. Foi por isso que ele escolheu os três Apóstolos que depois presenciariam a sua agonia no Getsêmani (Mt 26,37).
Cristo apresentou, como em um micro-filme, uma antecipação da sua glória como ressuscitado, que será também a glória de todos os seus discípulos e discípulas fiéis.
O centro da cena são as palavras de Deus Pai: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” Aí está também a identidade de Jesus: o Filho amado de Deus Pai.
No prefácio desta festa encontramos um resumo do seu objetivo: “Perante testemunhas escolhidas, Jesus manifestou sua glória e fez resplandecer seu corpo, igual ao nosso, para que os discípulos não se escandalizassem da cruz. Deste modo, como cabeça da Igreja, manifestou o esplendor que refulgiria em todos os cristãos”.
O Evangelho de hoje revela-nos a chave da fé. A voz do Pai convida-nos a escutar Jesus, seu Filho amado, e subir com ele a montanha, seja do calvário, seja da transfiguração. E também a estarmos com ele na planície, como o nosso caminho, verdade e vida. Afinal, só ele tem palavras de vida eterna.
Na Bíblia, o monte e o deserto têm um sentido teológico. Significam a nosso seguimento incondicional de Cristo (monte) e a vida de oração, penitência e silêncio que devemos assumir (deserto). Abraão subiu com o filho Isaac o monte Moriá; João Batista foi para o deserto. Foi no monte que Jesus nos deu as bem-aventuranças. Subir a montanha com Cristo é caminhar na obscuridade da fé. É deixar as nossas seguranças, renunciar e morrer para si mesmo, optando pela vida que nasce da morte.
Hoje, com tanto barulho, é difícil escutar o outro e até o nosso interior, no qual Deus nos fala. Muitos até se acostumam a viver no barulho e não suportam o silêncio. Tem sempre ao seu lado uma TV, um rádio, um aparelho de som... Entretanto, a paz é fruto do deserto e da montanha.
A transfiguração é uma meta possível para quem escuta Jesus. Transfiguração quer dizer transformação pessoal, por meio da conversão, a fim de caminhar com Cristo na entrega total a Deus e aos irmãos e irmãs, especialmente aos mais necessitados. Que o povo nos veja como pessoas transfiguradas, tão transfiguradas que nos tornemos luz para eles.
Certa vez, um príncipe se transformou em um burro. Coitado! E continuou vivendo no reino, como burro. Uma princesa ficou sabendo, foi lá e começou a amar aquele burro, dar-lhe carinho e afeto. Resultado: ele voltou a ser príncipe. O amor dela o transformou, fê-lo recuperar a dignidade que havia perdido. Na verdade, o amor da princesa não foi ao burro, mas ao príncipe escondido dentro dele. O mundo nos desfigura, mas Deus nos manda agentes de transfiguração que, através do amor, nos levam a nos levantarmos, sacudir a poeira e dar volta por cima.
Aquela princesa acreditava na força transfiguradora do amor. Que nós também acreditemos, pois o amor é capaz de nos levar a ver um príncipe em um burro. Assim, um dia seremos definitivamente transfigurados.
Maria Santíssima nunca foi desfigurada pelo pecado. E ela é, depois de Jesus, a maior agente de transfiguração do mundo. Santa Maria, rogai por nós!
Este é o meu Filho amado.

 

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